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Mostrando postagens de 2016

Em 2016

Em 2016 pela primeira vez eu estive em um bloco de carnaval. Se eu pensar friamente no meu ano, este é certamente o fato mais inesperado. Em 2016 eu paguei a conta de restaurante mais cara da minha vida, mas passei a maior parte do ano comendo no restaurante mais barato que eu conheço. Comi a melhor pizza da minha vida e também a pior. Aprendi a fazer mojitos e molho gorgonzola. Conheci uma cidade que eu não conhecia. Voltei em outras que já conhecia. Subi no Pão de Açúcar depois de 18 anos. Subi no Morro da Igreja e não vi nada. Entrei no mar e perdi minha aliança no fundo dele. Encontrei a maior parte das pessoas com quem eu me importo neste mundo e tomei vinho com quase todas elas. Talvez quisesse as ter encontrado mais. Percebi que muitas vezes a distância geográfica pode aproximar. Passei o ano inteiro ao lado de uma pessoa. Ri muito com ela e tentei animá-la nos momentos de chorar. Discutimos a localização de Sevilha, alugamos um bug e o devolvemos poucas horas depois.

Fragmentos de uma tragédia

Um dia em meado de outubro e eu estou no aeroporto de Guarulhos. Estava no meio de umas férias, talvez no final, em uma dessas tantas conexões que sempre tem Guarulhos como eixo central. Na espera para meu voo, vejo passar a delegação da Chapecoense. Não lembro o dia, mas sei que era uma segunda-feira. A equipe podia estar voltando para Chapecó após uma partida no domingo, ou partindo de Chapecó para algum lugar no mundo. Pouco mais de um mês depois, estão todos mortos. *** Especialistas, sempre eles, falam que tragédias, mortes em acidentes durante viagens estão entre as mais traumáticas que familiares e amigos podem enfrentar. Isso porque, há a lembrança da partida tranquila e não há a volta. Há essa angustia do ente que foi e que não voltou, do avião que nunca chegou, do carro que se perdeu em algum lugar do longo caminho. O saguão do aeroporto sem as pessoas que deviam estar lá, as esteiras das bagagens em uma eterna espera pelas malas que jamais vão chegar. *** Chapecoense, de

O fim de uma era no tênis?

A temporada de 2016 do tênis acabou com Andy Murray alcançado o improvável posto de número 1 do mundo, marca ainda mais impressionante se pensarmos que em maio ele estava 8.000 pontos atrás de Novak Djokovic no ranking. Um segundo semestre perfeito, associado ao baixo rendimento do sérvio, principalmente nos torneios menores, levou o escocês ao posto que ele sempre sonhou, mas que sempre foi impedido pelo azar de viver na era mais espetacular do tênis. Mas a pergunta que fica é: será que esta grande era está chegando no fim? Roger Federer, o maior de todos, sofreu com uma rara lesão e terminou o ano em maio, sem conquistar nenhum título, encerrando um ciclo de 16 anos seguidos com conquistas. Mais do que nunca, restam dúvidas se aos 36 anos ele ainda conseguirá voltar a jogar em alto nível. Rafael Nadal chegou a parecer forte na temporada de saibro européia, mas terminou o ano também em baixa, com mais uma série de lesões e não conseguiu avançar da quarta rodada em nenhum Grand S

Dez anos de piauí

Lembro-me bem do dia em que eu conheci a revista piauí: 29 de novembro de 2006. Era aniversário de um tio e em sua sala estavam dispostas as duas primeiras edições daquela revista grande, com capas curiosas que eu já havia visto no programa Pontapé Inicial, da ESPN Brasil. Entre uma folheada e outra, me peguei hipnotizado na matéria de Antônio Prata, How do you do, Dutra? Também não consegui me desvencilhar de uma matéria da Vanessa Bárbara sobre os palíndromos. Devo ter sido bem antissocial naquela noite, mas só sei que no mês seguinte eu estava na banca de jornal comprando aquela revista grande e assim o fiz desde então (exceção feita a um breve período em que fui assinante). Dez anos já passaram e nesse tempo piauí me apresentou alguns dos meus autores favoritos (David Foster Wallace, Daniel Galera), me fez comprar livros, me mostrou que um olhar aprofundado pode mostrar que nem tudo é como parece ser, me fez entender as causas dos acidentes aéreos nacionais, conhecer os vultos da

O tempo em que nós vivemos

Na sala de espera de fisioterapia, aguardo pela sessão de choques em um pé que torci brutalmente durante minhas férias. Não sei se todos se sentem assim, mas nós estamos no dia seguinte ao em que Donald Trump foi eleito presidente dos Estados Unidos. No começo parecia uma piada, depois foi virando uma ameaça, mas de certa forma parecia que nunca ia se concretizar. Esse cara é louco, é misógino, é xenófobo. As pessoas vão se mobilizar para não deixar que ele chegue até a casa branca com toda sua dose de insanidade. Isso não aconteceu. Os votos ainda não terminaram de ser apurados, mas, ao que tudo indica, Trump terá menos votos do que Hillary Clinton e será eleito, tal qual George W. Bush, pelo sistema de colégios eleitorais norte-americanos. Mas o que me chama mais a atenção é que dificilmente Trump conseguirá alcançar os 62 milhões de votos que Mitt Romney, o republicano derrotado de 2012 conseguiu. Talvez o magnata-presidente consiga chegar aos 60 milhões, iguale o que John McCai

No fundo do mar

O mar da praia da Ferradura, em Búzios, levou minha aliança de casamento. Não houve um aviso prévio, uma sensação de que algo poderia ocorrer. A aliança simplesmente escorregou e se alojou no fundo do mar. Tentei tatear a areia em busca de um reencontro improvável, que obviamente não ocorreu. Aquele pequeno anel, que pesa apenas quatro gramas, ficará perdido para sempre por ali. Ou não. Pensei nos movimentos da água e da areia que é arrastada de um lado para o outro. Se esses movimentos farão com que minha aliança fique para sempre enterrada por ali, no meio da praia da Ferradura, se oxidando lentamente. Se um dia será acidentalmente engolida por algum peixe, que poderá quem sabe ser pescado e essa aliança poderia aparecer misteriosamente no prato preparado por alguém. Se esses movimentos todos farão com que um dia o anel apareça na areia e seja eventualmente encontrada por alguém. No vai e vem das ondas ela poderia ser arrastada para outra praia, para outro ilha. Junto com o len

Tempo perdido

Não me lembro exatamente quando foi que eu baixei pela primeira vez o Mozilla Firefox. Sempre havia usado o Internet Explorer, nunca tinha me preocupado com essas coisas, até que um dia meu computador passou a travar um pouco e todos me indicaram usar o Mozilla. Que revolução. No momento em que eu baixei o Mozilla eu senti uma espécie de arrependimento passado, por todo o tempo perdido utilizando o IE. Quanta coisa eu poderia ter feito, quantos segundos acumulados em minutos, em horas, perdidos no carregamento lento das páginas. Eu perdi muita coisa na vida e não havia nada que eu pudesse fazer para recuperar esse tempo perdido. Fui acometido pela mesma sensação ontem, enquanto o Brasil jogava contra a Bolívia pelas Eliminatórias da Copa. Quanto tempo nós perdemos com o Dunga? Ok, era a Bolívia, mas em quantos jogos recentes contra seleções mais fracas não vimos o Brasil sofrendo com o 0 no placar, buscando um gol solitário em uma bola parada e sofrendo uma pressão desnecessári

ESPN sem Trajano - ou um canal que já não é mais

Talvez eu exagerasse se falasse que fiz jornalismo por conta da ESPN Brasil, mas eles têm lá sua parcela de culpa. Nos meus anos finais de colégio a ESPN era o único canal esportivo sintonizado pela antiga DirecTV e eu não poderia reclamar. Não tinha o campeonato brasileiro, mas tinha opinião, informação. Acompanhei a Copa de 2002, que eles não transmitiram, com os seus comentários e o sempre histórico Linha de Passe. No meu sonho adolescente eu devia pensar em um dia participar do Linha de Passe. No começo da faculdade, também só dava ESPN. Assistia todos os bate-bolas possíveis, o Sportscenter. Me sentia amigo dos comentaristas e apresentadores. Se os encontrasse na padaria do lado do canal, no Sumaré, talvez conversasse com eles como se eles me conhecessem. Apenas em 2007, quando a Sky comprou a DirecTV, passamos a assistir o Sportv e isso só serviu para que eu reafirmasse ainda mais meu compromisso com a ESPN. O canal era a voz da sensatez. Assistia os grandes eventos sempre

Sem mais Strike

Nos anos 90 o Brasil foi repentinamente tomado por uma febre do boliche. De uma hora para a outra, passou a ser um programa bem interessante para os jovens, irem até um lugar em que eles jogassem boliche. Não sei explicar, os motivos, só sei que aconteceu. Em Cuiabá não foi diferente e o nosso primeiro boliche foi o lendário Fred's Bowling no Shopping Goiabeiras. Fui lá apenas umas duas vezes e confesso que não sei quando é que ele encerrou suas atividades. Diferente era o Strike Boliche, que surgiu um pouco depois. Localizado na Avenida Fernando Corrêa, era perto da faculdade e relativamente perto da minha casa e da casa de vários dos meus amigos. Além do boliche, o Strike ainda tinha suas mesas de sinuca, videokê, um monte desses jogos de salão que eu não sei o nome, aquele negócio em que as pessoas tinha que apertar botões com os pés enquanto dançavam uma música. Diversas e variadas opções de lazer para todos os gostos. Fui lá quando era estudante do colégio, quando es

11 de setembro, 15 anos depois e a história

Chego em casa e ligo a TV. Minha aula havia acabado às 11h30 e eu voltava a pé para casa pelo trajeto de 1,5 km. Entre o tempo da caminhada, chegar em casa, pegar um copo de guaraná e ligar a TV não se passaram mais do que 25 minutos. Não devia ser mais do que 11h55 quando, para minha surpresa, a televisão não mostrava o Globo Esporte e sim a imagem de um prédio em chamas. Já haviam se passado mais de duas horas desde que os terroristas chocaram dois aviões contra o maior prédio de Nova York e eu incrivelmente não sabia de nada. Nem eu, nem nenhum dos meus colegas de sala, meus professores. Poucos tínhamos celulares, nenhum com qualquer acesso a internet. Quinze anos não parece tanto tempo assim, mas para quem estava lá parece inacreditável que um fato dessa magnitude, ocorrido durante a hora do recreio permanecesse tanto tempo desconhecido para tantas pessoas. Não duvido que muitas pessoas só souberam do atentado quando chegaram em casa a noite. Se foram dormir sem assistir o jornal

Para se lembrar

Olimpíadas sempre são inesquecíveis. É praticamente impossível que uma competição desse porte não tenha jogos marcantes, momentos de superação e histórias que serão lembradas para sempre. As Olimpíadas do Rio não foram diferentes, é claro. Por vezes, temos a impressão que jamais iremos nos esquecer das coisas, que as grandes lembranças ficarão em nossas retinas para sempre. De vez em quando é verdade, mas muitas vezes o tempo fragiliza as memórias. Escrevo abaixo coisas para se lembrar dessa competição. Se lembrar da cerimônia de abertura, que conseguiu ser Brasil como poucas vezes o Brasil foi. O voo de Santos Dumont, a mensagem ambiental, a emoção de Guga, Vanderlei Cordeiro de Lima acendendo a mais bela pira olímpica de todos os tempos. Se lembrar de Michael Phelps ganhando cinco medalhas de ouro, quando todos se perguntavam se ele ainda era o maior. Lembrar de sua atuação no revezamento 4x100 - a prova que menos tinha sua cara, quando ele deu a vitória para os Estados Unidos

A redenção do Big Star

Nas Olimpíadas de 2012 eu passei o olho pelos nomes dos cavalos, uma diversão de sempre nos jogos olímpicos, quando vi que Nick Skelton, britânico, montaria Big Star na competição de saltos do hipismo. Um nome aparentemente banal, acho que "Estrelão" é um nome que combina bastante com um cavalo. Pouco me importava, passei a acompanhar os resultados do jóquei e sua montaria que carregava o nome da banda de Alex Chilton e Chris Bell. Para melhorar, Big Star se mostrou um ótimo cavalo, tão bom quanto um Third/Sisters Lovers. Passou zerado em todas as fases preliminares, garantindo inclusive a medalha de ouro na competição por equipes. Zerou a primeira etapa da final e estava zerado na segundo etapa, prestes a vencer a competição quando derrubou o último obstáculo. Sua única falha na semana lhe derrubou para a quinta posição, uma vez que a final começava com todos zerados. Uma falha, o inferno. Um jóquei suíço que havia derrubado três obstáculos na semana acabou com o ouro. E

Lembranças de três títulos

A conquista da medalha de ouro no vôlei masculino brasileiro traz uma curiosidade: doze anos separam cada um deles, 1992, 2004 e 2016. Talvez por alguma dessas questões relacionadas a modernidade, a distância entre o primeiro e o segundo pareçam muito maior do que a entre o segundo ou o terceiro. Ou talvez seja o fato de que Bernardinho esteja lá esse tempo todo. Fato é que eu assisti todos eles e tenho lembranças das finais. Do primeiro lembro que foi provavelmente um dos primeiros jogo de vôlei que eu vi na minha vida, lembro de assistir aprendendo o que era aquele sistema de vantagens, o que eram os saques queimados, quem era o levantador. Me lembro bem mesmo é do saque final de Marcelo Negrão. Um pouco antes, se eu não me engano, o Tande tinha forçado o saque e mandado no meio da rede. Um time que depois aprendi como histórico e que entrou para a mitologia do esporte brasileiro. Em 2004 eu acompanhava vôlei bem, assisti praticamente todos os títulos do Brasil na Liga Mundia

Agonia Olímpica

O salto com vara sempre foi uma das minhas provas de campo favoritas no atletismo. Porque há um clímax, um desafio que deve ser transposto. A vara lá no alto, em uma altura absurda. Há um ritual de corrida, de movimentos, que resultarão na superação ou não do obstáculo. Além de ser um esporte curioso daqueles que você imagina como é que alguém teve a ideia de fazer isso. Os poucos segundos que se passam entre o encaixe da vara, o início da decolagem, o contorcionismo para superar a barra e o sucesso ou o fracasso durante a queda no colchão são de uma agonia extrema. Os movimentos para o sucesso são precisos. Qualquer leve esbarração em qualquer momento do movimento pode derrubar tudo. Thiago Braz escreveu uma história emocionante nesse esporte tão agoniante. A cada salto em que ele superava alturas inimagináveis, até a ousadia de pular para 5,03 metros e conseguir algo que nunca conseguiu na vida, deixando o francês paranoico. (De certa forma, digo que acho vaias em esportes indivi

Prata por se manter em pé

Quando Diego Hypólito começou sua apresentação na final olímpica do sol, juro que eu só torci para que ele não caísse no chão. Só isso já estaria bom. Diego não era mais favorito a nada, não era o melhor do mundo como era em 2008, ter chegado na final já era uma bom resultado. Que ele fizesse uma apresentação simples e terminasse em sexto. Mas que ele não caísse no chão. De certa forma, acho que ele talvez pedisse por isso. Imagino que ele deve viver atormentado pelas lembranças de Pequim, quando era favorito a medalha de ouro e caiu sentado no chão em seu último movimento. Chegou em Londres sem ser favorito, mas na briga, e desabou de cara no chão ao errar uma pirueta qualquer. Suficiente para virar motivo de chacota nacional, símbolo da falta de preparo mental dos atletas brasileiros. Somado a homossexualidade, Diego era uma piada fácil para todos, alguém simples de ser humilhado. Por isso, eu só esperava que ele não caísse de novo. Porque ninguém mereceria viver o que ele

Os mesmos 50 metros de sempre de Thiago Pereira

O ano era 2004 e Thiago Pereira fazia sua primeira final olímpica nos jogos de Atenas, nos 200 metros medley. O jovem de então 18 anos era mais um da nova geração de nadadores brasileiros que apareciam naquela competição, que se não rendeu medalhas, pelo menos rendeu resultados com alguma consistência. Thiago fez uma grande prova, virou os 150 metros na terceira colocação, brigando pelo segundo lugar. Não aguentou o ritmo no final, fez o pior 50 metros entre os oito competidores e terminou na quinta colocação. Todos lamentaram, mas celebraram aquela façanha. Nosso menino de 18 anos tinha um grande futuro pela frente. Virou o símbolo da nossa natação. Em 2007, durante os jogos Pan-Americanos do Rio de Janeiro, Thiago virou o querido da galera. Nadou oito provas, ganhou seis medalhas de ouro. Repetiu a façanha no Pan e 2011 também. Por uma dessas loucuras da mídia nacional, ele chegou a ser comparado com Michael Phelps e sua obsessão pelos oito ouros olímpicos. Porém, seus resultad

Phelps, eu vi

Entre as coisas que eu direi para meus filhos e netos se algum dia eles se interessarem por esportes, é que eu vi Michael Phelps. Seus números sempre parecerão impressionantes e a quem me perguntar, confirmarei que ele era um fenômeno. Não vi Michael Phelps com 15 anos em Sidney, porque ninguém sabia quem era garoto que bateu em quinto lugar nos 200 metros borboleta. Mas eu vi ele em 2004, quando entrou nos jogos de Atenas com o objetivo de conquistar oito medalhas de ouro e todos nos perguntávamos quem era aquele louco com esse objetivo insano, que o fazia até parecer um pouco babaca e quando ele deixou a competição com seis medalhas de ouro, de certa forma pareceu um fracasso. Também o vi em 2008, quando finalmente conquistou as oito medalhas de ouro. Vi todas as provas e aí já era impossível não admirar a obstinação desse cara e os lugares de onde ele tirou força para conseguir cumprir seu objetivo. Vi Phelps em 2012, com ares mais humanos sendo incrivelmente derrotado quand

Brasil x Espanha e uma vitória necessária no basquete

Brasil e Espanha fizeram uma partida emocionante ontem pelo basquete olímpico masculino. Pau Gasol desperdiçou dois lances livres a 23 segundos do fim, Marquinhos pegou um rebote e colocou o Brasil um ponto a frente quando faltavam apenas cinco segundos, os espanhóis ainda tiveram um ataque, mas a bola não caiu. Vitória brasileira contra o segundo melhor time do mundo dos últimos anos e não poderia ser mais emocionante. Foi um jogo que resumiu em seus 40 minutos corridos toda a emoção que o basquete pode ter, o quanto esse esporte é maravilhoso, tenso e capaz de prender a atenção. Jogo transmitido na TV aberta para tanta gente, com uma arquibancada lotada que vibrou insanamente com a equipe nacional. Um jogo para entender o que é o basquete. A vitória brasileira no final foi a consagração. Espero que tenha sido um jogo para formar uma nova base de fãs desse esporte, que ajude o basquete a se recuperar e se preparar para os próximos anos. O Brasil está no fim da sua geração q

Minhas 10 principais lembranças olímpicas

1) O Saque vencedor de Marcelo Negrão Brasil e Holanda disputavam a final olímpica do vôlei nas Olimpíadas de Barcelona em 1992. Era um tempo diferente, em que o jogo contava com um sistema de vantagens que proporcionava uma interminável troca de bolas sem que um ponto fosse efetivamente marcado. Restava apenas um ponto para o título e os times revezavam vantagens, jogadores forçando o saque para tentar o ponto final. Até que Marcelo Negrão, o destaque daquele time, pegasse o impulso e eu falasse “é agora”. Meu lado vidente se confirmou e eu, com cinco anos, tive certeza que minha palavra pesou para a medalha de ouro. Era dia dos pais. Abracei meu pai na comemoração. 2) Muhammad Ali acende a pira Abertura dos jogos de Atlanta, 1996. A tocha percorre o estádio olímpico na expectativa de quem será o responsável por acender a pira olímpica. Muhammad Ali. O maior boxeador de todos os tempos, medalhista olímpico que teve a sua medalha cassada por se recusar a lutar no Vietnã foi o respo

Diálogos perdidos

Enquanto molho a grama, escuto os pedreiros na casa da frente conversando sobre alguma coisa. Creio que é sobre novela. Creio que são três pedreiros. - Tá loco, na novela de ontem o gordinho beijou o polícia, mas beijou mesmo, até encostrou, cê tá louco. - Ah, num guento essas coisas não. - É igual aquela Liberdade, Liberdade. - Essa Liberdade, Liberdade aí é uma putaria só. - Tinha os caras se pegando esses dias, com aquele baixinho lá. - Mas diz que aquele outro lá é veado na vida real também né. Aquele Caio Blat. - Qual, o mais novinho? - Será? - Sei lá. - Por isso que eu digo, de televisão mesmo a única coisa que eu assisto é o jornal. Novela, programa de auditório, essas coisas aí eu não vejo nada não. Novela é só putaria. E após essa pequena discussão sobre vários aspectos da comunicação de massa, eles voltaram para assuntos obreiros, maquininhas, qualidade das intervenções e etc.

Pesadelo com Eri Johnson

Não sei dizer ao certo como eu cheguei lá, mas o fato é que eu estava no mesmo ambiente que o Eri Johnson. Se eu não me engano, ele foi o jurado de um concurso de humor que eu assisti e por alguma razão ao fim das apresentações Eri Johnson chegou até mim e começou a comentar sobre os participantes. Lá estava eu conversando com o Eri Johnson. Eu queria encerrar a conversa, mas não conseguia. Estava preso em uma conversa chata com Eri Johnson no que deve ser até hoje o pesadelo mais bizarro que eu já tive. Situação que eu teria esquecido e jamais me lembraria, entre tantos sonhos que desaparecem com a luz do sol. Mas de manhã, ao voltar da cozinha a TV ligada me informou que Eri Johnson participava do programa da Ana Maria Braga, cozinhando. E meu pesadelo voltou as minhas retinas.

Breve balanço da Eurocopa

Havia alguma expectativa para a realização do torneio na França. Geralmente a Eurocopa e Copa do Mundo seguem uma tendência de bom ou mau futebol. Exemplo: depois da arrastada Copa de 94, veio uma péssima Eurocopa em 96. A boa Copa de 98 foi sucedida pela eletrizante Euro de 2000. A chata e cheia de zebras Copa de 2002 teve como sucessora a igualmente chata e cheia de zebras Euro 2004 e por aí vai. Portanto, depois de uma interessante Euro em 2012, uma Copa emocionante em 2014, a expectativa era pelo ótimo futebol no torneio francês. Mas isso não aconteceu. Difícil será apontar para posteridade alguma grande partida disputada no verão francês de 2016. Pode ter sido culpa do aumento dos times que acrescentou seleções pouco expressivas na fase de grupos? O regulamento que garantia avanço de alguns terceiros colocados, transformando o empate em sempre um grande resultado? Alguma seleções tiveram bons momentos: A Itália jogou muito bem contra a Espanha, que havia feito ótima partida

Favoritos para a Eurocopa

Começa hoje o segundo torneio de seleções mais legais do mundo. Uma avaliação pessoal sobre os favoritos para o título. A Grande Favorita 1) França : Os franceses jogam em casa e tem uma geração muito talentosa do meio campo pra frente, mesmo com a ausência de Benzema. Pogba, Griezmann, Payet, Kanté, Matuidi no time titular. Opções jovens como Coman e Martial no banco. A seleção francesa tem muito talento prestes a explodir. Com um grupo acessível e uma chave também acessível até as semifinais, os franceses tem tudo para crescer na competição e buscar o título doméstico. Os também favoritos 2)Alemanha : Uma seleção muito forte, com grandes nomes e boa base campeã no mundo em 2014. O problema é que a Alemanha foi muito inconsistente desde a glória do tetra campeonato mundial e alguns dos seus craques passaram um pouco do ponto, muitos são inexperientes e para variar há o problema das contusões que afastam alguns dos seus melhores jogadores, como Reus e Gundogan. Mesmo assim, não d

Muhammad Ali

Eu me lembro muito bem da primeira vez em que vi Muhammad Ali. Abertura dos Jogos Olímpicos de 1996 em Atlanta. Sempre há uma expectativa por saber quem será o responsável por acender a pira olímpica e após idas e vindas a tocha chega as mãos de um senhor negro rechonchudo que tremia muito: coube a ele a honra de acender o símbolo máximo das Olimpíadas e naquele mesmo momento eu fiquei sabendo da existência de Muhammad Ali e do Mal de Parkinson. Dos meus recém completados nove anos, pude perceber a emoção em meu pai que assistia a cerimônia, na voz do Galvão Bueno. Com o passar dos anos eu passei a entender a figura e a entender a comoção que aquele ato representou. Digo até que vinte anos depois sou capaz de me sentir emocionado em compreender aquele momento. Que Muhammad Ali foi o maior boxeador de todos os tempos. Não só o rei das pancadas, um touro assassino como outros campeões, mas alguém capaz de transformar a pancadaria em arte, com seu jogo de pernas, suas provocações. Alg

Dramatização do cotidiano

A espera pela mala na esteira do aeroporto é sempre tensa para os passageiros. Há uma expectativa terrível de que a sua bagagem não irá chegar ali, de que ela misteriosamente e malditamente foi extraviada e está agora em Bangkok. Existem muitos momentos em que a bagagem pode se perder pelo caminho. Uma etiqueta errada no embarque, uma falha humana nas várias etapas do processo de transferência, do balcão para o depósito, do depósito para o avião, do avião para o carrinho, do carrinho para a esteira. Se a sua mala não chegar, ela pode estar perdida em qualquer aeroporto, ou dentro de um voo com direção a qualquer lugar do planeta. Uma única e mísera falha humana pode perder sua mala para todo o sempre. Nos grandes aeroportos, o processo de entrega das malas para as esteiras é cada vez mais mecânico. A mala surge por trás de biombos, do subterrâneo, despenca na esteira e gira, gira a espera de seu dono. Em Cuiabá não é assim. No nosso velho aeroporto Marechal Rondon podemos ve

Favoritos para Roland Garros

Único Grand Slam do Tênis disputado no saibro, Roland Garros durante muito tempo funcionou como uma espécie de mundo paralelo do restante da turnê do tênis. Em suas quadras lentas, diferentes das quadras rápidas em que são disputadas a maioria dos grandes torneios, líderes do ranking mundial sofriam diante de espanhóis desconhecidos que tinham como grande tática jogar a bola para o outro lado e correr de maneira alucinada. Os tempos hoje são outros, mas Roland Garros ainda é um torneio diferente. Abaixo, uma lista dos 10 favoritos para o torneio masculino, numa opinião pessoal e baseada em resultados recentes. 1) Novak Djokovic: O sérvio nunca ganhou no saibro francês. Sua temporada no saibro europeu também não foi das mais empolgantes: título em Roma, derrota bizarra em Monte Carlo e vice-campeonato em Madrid, jogando muito mal. Mesmo assim, ele é Novak Djokovic, líder do ranking mundial, que tem como maior motivação no momento conquistar o grande título que lhe falta. Costuma a ser

Lembranças mortais

Quando a bola foi em direção a mão do Maicon, ou do Bruno, confesso que não sei direito, aos 50 minutos do segundo tempo as piores lembranças possíveis vieram à minha cabeça. Perder um jogo de futebol nunca é bom, mas entre todas as derrotas possíveis, aquela com um gol marcado no último minuto é a pior. A intensidade da dor de um gol sofrido aumenta em progressão geométrica a cada segundo que passa. O torcedor sãopaulino tem duas péssimas lembranças, duas experiências traumáticas que envolvem gols sofridos no último instante possível da partida. Quase 50 minutos e a falta a dois passos da área. No gol o inseguro Dênis. Se a bola entra, acabou, não há mais tempo nem para recomeçar a partida. Como não lembrar de Washington aos 46'19 do segundo tempo fazendo o gol que eliminou o São Paulo da Libertadores em 2008. Pior ainda, o gol de Geovanni aos 45 do segundo tempo na final da Copa do Brasil em 2000. Numa falta, também em Belo Horizonte. Jogo controlado, uma bola recuado equ

Lembranças do São Paulo na Libertadores

Puxo pela cabeça os mata-matas que o São Paulo disputou na Libertadores desde 2004. 2004 OF: Rosario Central, se classificou decidindo em casa. QF: Deportivo Tachira, se classificou decidindo fora. SF: Once Caldas, decidindo jogando fora. 2005 OF: Palmeiras, se classificou decidindo em casa. QF: Tigres, se classificou decidindo fora. SF: River Plate, se classificou decidindo fora. Final: Atlético-PR, ganhou decidindo em casa. 2006 OF: Palmeiras, se classificou decidindo em casa. QF: Estudiantes, se classificou decidindo em casa. SF: Chivas, se classificou decidindo em casa. Final: Internacional, perdeu decidindo fora. 2007 OF: Grêmio, eliminado jogando fora. 2008 OF: Nacional do Uruguai, se classificou decidindo em casa. QF: Fluminense, eliminado jogando fora. 2009 QF: Cruzeiro, eliminado decidindo em casa. 2010 OF: Universitario, se classificou decidindo em casa QF: Cruzeiro, se classificou decidindo em casa. SF: Internacional, eliminado decidindo em ca

Somos todos Leicester

O que era inacreditável, o que parecia impossível agora é verdade. O Leicester é o campeão inglês da temporada 2015-16. Incrível que o título tenha vindo de maneira até confortável, com duas rodadas de antecedência. Incrível que mesmo com a folga na tabela e a liderança estável nas últimas rodadas, era impossível acreditar que o título realmente viria. Parecia que a qualquer momento os Foxes poderiam desabar. O que mais falar sobre esse time? Formado por uma série de refugos, jovens que jamais explodiram, uma ou outra promessa. Filho de goleiro, zagueiro jamaicano e zagueiro alemão grosso, atacante japonês, atacante que até outro dia jogava no futebol amador. Não há nada parecido com o que Leicester fez nesse ano na história do futebol. Talvez na história do esporte. O título do Leicester é uma das maiores façanhas da história da humanidade. Não há o que falar, o que teorizar. Só resta olhar esse momento histórico e aceitar que às vezes o impossível acontece. Que realmente nada é i

Rosberg no caminho inevitável da história

Em todas as 66 temporadas da Fórmula 1, poucas vezes um piloto conseguiu vencer as três primeiras corridas. Nessas poucas vezes, o autor da façanha acabou se tornando campeão do mundo. Na 67ª temporada da Fórmula 1, Nico Rosberg conseguiu vencer as três primeiras corridas. O que acontecer de agora em diante entrará inevitavelmente para a história. Se for campeão, Nico será o segundo filho de campeão a repetir a façanha do pai. O segundo piloto a conquistar o título após dois vice-campeonatos em sequência (Prost foi o primeiro) e talvez a estatística mais impressionante: o piloto que precisou correr mais corridas para ser campeão pela primeira vez. Nigel Mansell é o atual recordista com 176 corridas antes de conquistar o título e Rosberg já largou 188 vezes. Nico não será o campeão mais brilhante de todos os tempos. Aproveita-se de um carro muito superior em relação a concorrência e mantém a calma enquanto Lewis Hamilton mantém o hábito de entrar em combustão espontânea ainda nas pr

A Pampa das múltiplas interpretações

Após o quebra-mola me aproximo de uma Pampa preta, caindo aos pedaços como era de se esperar, que se arrastava pela Avenida das Torres. Carregava alguns equipamentos, alguns canos, como também era de se esperar. Quando chego mais perto, vejo a escrita na tampa traseira, que parecia feita de Errorex. "Fora Dilma". Penso em um instante que uma foto desse caro seria daquelas que faria sucesso em páginas do Facebook como a do Movimento Brasil Livre, mostrando que o pedido de impeachment não é um desejo apenas das elites, é uma vontade enraizada na sociedade brasileira. Que até aquele pobre cidadão, sofrido em sua Pampa preta está comungando nessa corrente para frente, ou para fora. Antes que concluísse os pensamentos vejo que um pouco a baixo, de maneira não muito simétrica, está o complemento ao "Fora Dilma": "Sua Vadia". Penso então que a foto faria sucesso nas páginas da socialista morena, mostrando o machismo que existe por trás do impeachment, de como

Cruyff

O ano, se eu não me engano, era 1999. A revista placar publicou uma série de edições especiais e uma delas continha a sempre pretensiosa e polêmica listagem: os 100 maiores jogadores de todos os tempos. Como era uma espécie de consenso naqueles tempos, Pelé aparecia em primeiro lugar e Maradona em segundo. A partir daí é que a polêmica sempre aumentava e o terceiro lugar era ocupado por Johan Cruyff. Lembro de ter ficado fascinado com aquele holandês magrelo que na foto aparecia sentado sobre a bola, envergando a diferente, mas sempre bela camisa do Ajax. Magro, cabelos longos, parecia até um pouco desengonçado. Não parecia um atleta. O texto colaborava com essa impressão. Cruyff era filho de uma faxineira do clube e passou a treinar futebol por incentivo da mãe, para ver se ele conseguia superar uma má-formação em seus pés. Johan também fumava de maneira alucinada, incluindo um cigarro no intervalo dos jogos. Mesmo assim era o terceiro maior jogador da história. Poucos jogadores

Leicester rumo ao improvável

Neste momento a humanidade inteira pode ser dividida em dois grupos: de um lado estão aqueles que torcem para que o Leicester FC seja o campeão inglês desta temporada. Do outro lado estão as pessoas ruins, sem coração, pessoas desprezíveis que não merecem nenhuma felicidade na vida. Nesses meus 28 anos de vida eu nunca vi nada parecido com o que o Leicester vem fazendo na atual temporada e imagino que algumas outras pessoas mais velhas jamais tenham visto. No futebol existem zebras, é claro, mas não vejo nenhuma que se compare ao que o time azul do norte de Londres está fazendo. O Blackburn foi campeão inglês em 1995. Mas o Blackburn recebeu um grande investimento, tinha Alan Shearer no comando de ataque, Kenny Dalglish no banco de reservas, e vinha realizando boas campanhas no campeonato inglês. Derby County, Ipswich, Burnley, vários outros times menores foram campeões nos anos 60 e 70, mas eram tempos diferentes, o campeonato inglês não era milionário e sempre foi marcado pelo eq

Mercedes: o maior domínio da história?

Muitas temporadas da história da Fórmula 1 ficaram marcadas pelo domínio absoluto de uma equipe sobre as adversárias. Mas, ao que tudo indica, a Mercedes atual está prestes a estabelecer o maior domínio que uma equipe conseguiu exercer ao longo da história da categoria. A equipe e seus dois pilotos, Lewis Hamilton e Nico Rosberg, partem para o terceiro ano seguido conquistando a dobradinha no campeonato, o que seria um fato inédito. Mas há mais razões para afirmar que esse seria o maior domínio da história. Vamos a eles. Foi só a partir dos anos 70 em que a Fórmula 1 passou a adotar o padrão de dois carros por equipe. Desde então é possível lembrar de alguns carros históricos, algumas grandes equipes, mas nenhuma delas conseguiu fazer o que a Mercedes faz agora. Recentemente, a Red Bull conquistou quatro títulos seguidos com Sebastian Vettel. Dois títulos foram conquistados no sufoco da última corrida e dois foram bem fáceis, com ampla superioridade e recorde de vitórias, em 201