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Mostrando postagens de 2017

2017 - o ano que parecia que não ia existir

Para mim, 2017 parecia ser o ano que nunca iria existir. Falávamos tanto sobre a Copa de 2014 e as Olimpíadas de 2016, que parecia que quando esses grandes eventos terminassem, o mundo iria acabar junto. Às vezes, sem perceber me pego chamando 2017 de 2018. Completei 30 anos em 2017 e não vi muita diferença. Finalmente tirei do papel uma viagem que planejava faz algum tempo e poderia aqui contar em detalhes as maravilhas da torta de maçã de Amsterdã, ou sobre toda a carga histórica que senti ao ver o Muro de Berlim, a estação de Grunewald ou a Casa de Anne Frank. De como é impressionante ver as pinturas de Van Gogh (o maior perdedor da história) e Monet, ou como a Mona Lisa é superestimada. Ou ainda sobre meu amor por Barcelona, mesmo tendo sido pela primeira e pela segunda vez na minha vida (com uma diferença de apenas dois dias) atingido por fezes de pombos enquanto eu estava lá. O ano foi terrível no meu trabalho, com um ambiente completamente destruído pela presença de um líder

Ta lá o corpo estendido no chão

Saio para correr de manhã e na primeira subida, vejo que ocorreu um acidente no primeiro cruzamento. Há um Honda Civic parado bem no meio do cruzamento, a ponta do carro invadindo a pista, um senhor mexe no carro, uma mulher de calça de ginástica e tênis está em pé na calçada utilizando chapéu, uma criança de sete anos sentada na posição de buda no chão da calçada, um homem sentado no asfalto, encostado em sua moto. No chão há uma peça que parece um vidro lateral estourado e duas peças que não consigo identificar, mas que se parecem com apêndices da motocicleta que se perderam durante o impacto. Faço o contorno lá em cima, começo a descer e vejo novamente a cena, que permanece aparentemente imóvel, exceção feita a criança, que parece sentada virada para outro lado e a ao homem que já não está no carro, mas parado na calçada olhando tudo aquilo. Enquanto desço, faço uma espécie de reconstituição mental do lance e penso que o carro avançou o cruzamento sem perceber a aproximação da

Pesquisa Datafolha

Fui olhar a planilha da última pesquisa do Datafolha para a eleição presidencial do ano que vem, sempre naquela tentativa de entender na segmentação o que os dados gerais omitem. Certo que a situação é muito incerta, uma vez que o líder das pesquisas pode ser impedido judicialmente de concorrer e muitos dos cenários não traziam Marina Silva, que decidiu anunciou oficialmente ser candidata depois que a pesquisa já havia sido divulgada. Além disso, há uma série de nomes que é difícil acreditar que realmente irão para a disputa, como Álvaro Dias, Manuela D'Ávila, Guilherme Boulos e o Paulo Rabello de Castro. Impressiona nos dados como realmente Lula é uma fortaleza no nordeste. Votação expressiva, tão expressiva, que os cenários sem ele trazem 40% de votos branco, nulos o indecisos na região. Todos candidatos são mais desconhecidos no nordeste do que nas outras regiões, exceção feita ao Lula: 100% da população local o conhece. As simulações de segundo turno são todas um massacre n

O Instant Karma de Rodrigo

O quanto o resultado de uma ação é importante para julgarmos se ela foi correta ou não? Penso nisso lembrando do zagueiro Rodrigo, que foi expulso de campo no domingo depois de ter dado uma dedada no ânus do atacante argentino Trellez do Vitória. Sua expulsão mudou completamente o rumo da partida, uma vez que o seu time, a Ponte Preta, levou a virada após abrir 2x0 em 15 minutos de jogos e acabou rebaixada para a segunda divisão, revoltando a torcida que quebrou o estádio. Rodrigo foi devidamente massacrado e demonizado por seu gesto obsceno e violento. De fato, não dá pra defender um sujeito que resolve enfiar o dedo na cavidade anal alheia e não cabe nenhum discurso de defesa sobre a provocação no futebol, malandragem ou qualquer coisa do tipo. Nenhuma violência é justificável, não importa o seu objetivo. No entanto, é extremamente fácil massacrar o zagueiro, uma vez que sua atitude foi corretamente observada e julgada pelo árbitro, resultando em sua expulsão e na consequente

Já podemos falar de Felipe Massa

Ao que tudo indica, ontem a carreira de Felipe Massa chegou ao fim com a 10ª colocação no GP de Abu Dhabi. Acredito que é um bom momento para se encerrar a carreira, quando ele mostra que ainda teria mais algum gás para queimar, mas que não era tanto gás assim. Sai de cena antes de virar uma piada ,e ao que parece, mais tranquilo do que os comentaristas do SporTV com a situação. Felipe já parecia desmotivado nesse ano e sem fazer muita coisa de especial em boa parte da temporada. Uma boa aposentadoria, porquê ele definitivamente não tinha muito mais o que fazer na carreira. Depois de um surpreendente ressurgimento em 2014, a Williams vem em uma espiral de decadência e é um tanto quanto melancólico que um piloto passe os últimos dias de sua carreira se arrastando no fim do grid, que saia de cena como um Jarno Trulli. A nova aposentadoria de Felipe abre espaço para as homenagens e para os massacres. Pelo lado dos massacres, há a acusação de que ele não foi o que se esperava que pode

Vencedores do fundo do Grid

A estatística me apareceu no Twitter após a vitória de Lewis Hamilton no Grande Prêmio de Cingapura. Aquela era a segunda vez que o britânico vencia uma corrida sem largar nas duas primeiras filas. O dado me pareceu impressionante. Pensei "só isso?". Fui atrás e confirmei a informação: a única outra vez em que Hamilton venceu uma corrida nessa condição foi na Inglaterra em 2014, quando ele largou em 6º lugar. As vitórias de pilotos que vem do fundo do Grid sempre nos marcam e aparecem como uma prova da qualidade do piloto. Mas, uma olhada nos dados mostra que que essas vitórias são justamente marcantes porque são raras. Descontando as 11 edições das 500 milhas de Indianápolis que foram disputadas dentro do Mundial de F1 (por suas particularidades), até hoje foram disputadas 963 corridas no campeonato. Em 148 oportunidades o vencedor veio de trás das duas primeiras filas, o que dá uma vez a cada 6,5 corridas. Acontece duas, ou três vezes por temporada. Até hoje 59 pilotos

Menino Lobo

Vou dizer que eu sei até a data, porque minha memória costuma a associar fatos cotidianos com eventos esportivos. Portanto, foi na madrugada do sábado, 05 de março, para o domingo, 06 de março de 2005. Nesse dia era disputado o Grande Prêmio da Austrália de Fórmula 1, prova que abria aquela temporada. Temporada de mudança, com a expectativa de que a Renault havia construído um bom carro e seria capaz de terminar com a hegemonia da Ferrari. Expectativa que se confirmou naquele dia com a vitória do improvável Giancarlo Fisichella e no fim do ano com o título de Fernando Alonso. Vivia eu também uma época de mudanças, já que mais ou menos um mês depois eu começaria a faculdade. No entanto, devido aos ajustes de semestre da UFMT, nesse momento eu era um desocupado meio perdido na vida. Mas, enfim, foi nesse dia, nessa madrugada que a Kinu atacou o Mogli. Kinu era uma boxer que minha tia adquiriu uns quatro anos antes e que sempre teve um comportamento arredio com os outros cães. Depois

Topografia do Terror. Sim o terror existe e é real

Há em Berlim um lugar chamado Topografia do Terror, que é mais um dos memoriais que os alemães mantém para lembrar a população dos horrores da guerra. Afinal, a Alemanha foi protagonista das duas guerras mundiais - sempre do lado perdedor, foi sede de um governo genocida e depois foi dividida em duas por mais de 40 anos, com um muro separando sua capital. Sim, Berlim é um cidade com prédios muito bonitos, mas com um clima um pouco melancólico, porque suas ruas já protagonizaram muitas tragédias e não podemos nos esquecer delas, para que elas não se repitam. Há o Memorial do Muro de Berlim, há o Palácio das Lágrimas, a Estação de Grunewald (local em que os judeus eram enviados para campos de concentração), o Memorial dos Judeus Mortos, o Checkpoint Charlie, pedras nas calçadas em frente as casas que pertenciam a judeus assassinados no holocausto e, enfim, há a Topografia do Terror. Este museu/memorial/arquivo é focados na ascensão do Partido Nazista ao poder na Alemanha. Há claro a

Roupas velhas

Pelas razões que sejam, duas amigas minhas do Facebook estão se desfazendo de itens pessoais, colocando-os a venda. Itens de decoração, livros (seriam livros igualmente itens de decoração?) e roupas. As roupas me impressionam. Certo que mulheres gastam mais com roupa (em quantidade e qualidade) e por isso tem alguma oportunidade de vender algo que não vão mais usar. Mas, penso no meu caso. Se eu precisasse passar por uma situação assim. Olho para meus livros e penso que sim, pessoas se interessariam por eles, dependendo do preço que eu definisse. Dois quadrinhos que eu tenho podem interessar alguém. Mas, as roupas, uau, se eu precisasse me desfazer delas duvido que uma pessoa em sã consciência se dispusesse a pagar que valor que seja numa camiseta comprada na Riachuelo uns 10 anos atrás. Talvez um mendigo? Isso, talvez eu devesse procurar mendigos na rua e perguntar se eles aceitariam as roupas e humilhados pela falta de oportunidades aceitariam. Ou talvez algum lugar que re

Uma coisa não exclui a outra

Uma coisa não exclui a outra. Nesses tempos de polarização e ódio, me parece que esse é o grande exercício diário de sabedoria, o grande esforço de compreensão que é preciso empreender. Um fato não anula o outro. Sempre posso citar o caso do Lula, a grande figura da polêmica nacional. É possível aceitar que seu governo proporcionou avanços sociais? Sim. Dá pra dizer que há uma perseguição, ou um superdimensionamento dos fatos relacionados ao ex-presidente na chamada grande mídia, e que mesmo o juiz Sérgio Moro e os procuradores de Curitiba tem atuações muitas vezes partidárias contra ele? Sim. Mas isso não exclui o fato de que, ao que tudo indica, Lula se apoderou de dinheiro público em causa própria, que praticou tráfico de influência, enfim, utilizou o poder em benefício próprio. Mas, geralmente ou se está de um lado ou se está de outro. O mesmo pode ser dito em relação ao Moro. Errou e agiu de maneira política em alguns casos - vide vazamento de grampos feitos fora do horário de

Drivin' is a gas it ain't gonna last

Uma manhã estranha, tudo parece estranho. Entro no meu carro, um pequeno carro preto e o som começa a tocar Big Black Car do Big Star. Mais uma música tão triste dessa banda tão melancólica. Os arranjos distantes, a voz distante. "Driving in my big black car, nothing can go wrong, I'm going and I don't know how far. So, so long". Estou no meu pequeno carro e tudo parece que não vai dar errado. Olho para o céu, enquanto passo por um quebra-molas e vejo um pássaro qualquer batendo asas e ele parece voar no ritmo do piano desconexo no fundo da música. "Nothing can hurt me. Nothing, can touch me". Nada, nada. Ali dentro nada pode acontecer. Penso em não sair mais do meu carro. Why Should I Care? Drivin' is a gas it ain't gonna last. Não vai durar. A manhã seguirá estranha. Tudo continuará estranho.

A despedida de Bolt

Foi o maior anticlímax da história. Já havia sido um pouco decepcionante ver Usain Bolt conquistar o bronze nos 100 metros rasos, no fim de semana passado. Desde as Olimpíadas de 2008 nos acostumamos com um Bolt invencível, um fenômeno da velocidade incapaz de ser derrotado. Acabou sendo, ficou em terceiro. Um sinal de que a idade, ou mais do que a idade, o desgaste físico e a perda de rendimento chega para todos. Que Bolt, por mais que não pareça, é apenas um ser humano com incríveis capacidades musculares e motoras. No entanto, ainda haveria uma última corrida. A final do revezamento 4x100, prova que a Jamaica dominou nos últimos anos, mas que estava longe de ser a favorita dessa vez. Mesmo sem o ouro e com Bolt já dentro de sua nova dimensão humana, seria pelo menos a oportunidade de vê-lo correndo por uma última vez. Em uma prova de revezamento, e sendo Bolt o último a correr a esperança é de que ninguém fizesse nenhuma besteira antes, que o bastão não ficasse pelo meio do ca

Duas Araras

Molhando a grama em uma manhã ensolarada de quarta-feira, um dia de inverno extremamente seco. O calor do sol já espantou o frio da madrugada. Céu extremamente azul, com aquela névoa seca que caracteriza o nosso inverno. Escuto um barulho que já escutei outra vez pelos céus sobre minha casa. São araras. Já vi araras-azuis voando sobre minha casa em fins de tarde em outras ocasiões. O barulho é igual, mas desta vez as araras são vermelhas. Duas. Um casal, pai e filho, duas amigas, não sei. Voam de maneira meio descoordenada e fazendo muito barulho. Penso naqueles clichês sobre Mato Grosso, de onças e jacarés da rua, do destino selvagem que parecemos ser diante do mundo e nesse instante tudo faz sentido. Somos o destino inalcançável, o lugar por onde araras passam por sobre nossas cabeças como se fosse mais um dia normal. O barulho aumenta e percebo que as araras retornaram, voando no sentido contrário, para onde elas originalmente vieram. Escuto seus gritos e as observo indo cada

As instituições estão funcionando

As instituições estão funcionando, elas estão funcionando, esse é o mantra repetido por autoridades, especialistas, comentaristas, para dizer que está tudo bem. Como se fossem aquele meme do cachorro dizendo que está tudo bem enquanto tudo ao seu redor pega fogo. As instituições estão funcionando, temos um vice-presidente eleito e que assumiu dentro do que é previsto pela constituição, o legislativo segue legislando e o judiciário continua julgando. Teoricamente, a democracia prevê a existência de três poderes harmônicos e independentes entre si. No entanto, o que vemos atualmente é um Poder Executivo acuado diante dos outros dois. Ok, podemos dizer que o Executivo fez por merecer e tem sido ineficiente nos últimos anos. Mas, o que os outros fizeram para não serem tão atingidos pela crise representativa nacional? Acredito que foi o Cássio Cunha Lima - melhor analista do que senador - que afirmou que o Brasil vive em um momento de parlamentarismo improvisado. O centro nervoso de dec

Imagens da morte

Quando aquela noiva morreu no fim do ano passado, ou no começo deste ano, não sei direito, todos nós ficamos chocados. Claro que não há um bom dia para morrer, mas existem dias que são piores do que os outros. Ninguém deveria morrer no dia do casamento, no dia do aniversário. Aliás, ninguém tem o direito de ter qualquer sofrimento nestes dias, em que desejamos tanta felicidade para os envolvidos. Assim sendo, uma noiva morrer no dia do casamento, enquanto ia para o casamento e os convidados e o noivo a esperavam, isso é o horror. Certamente terrível para a pessoa que morreu, mas ainda pior para os que ficaram aqui e vão viver os restos de suas vidas com estas lembranças traumáticas. Agora, ficamos todos chocados novamente com as imagens do acidente. A fotógrafa que acompanhava a noiva filmou todo o trajeto fatal, provavelmente para registrar essas imagens da aventura da noiva, que iria fazer uma surpresa para o seu futuro marido que não sabia que ela desceria de helicóptero no local

Pequenas histórias

Em um primeiro momento, o Celso parecia o chefe louco que veio de algum lugar para aterrorizar nossas vidas. Afinal, tinha um personalidade forte e algo extravagante, falava alto como os cariocas, fumava alucinadamente e não fugia de uma briga. Ninguém sabia de suas origens, o que em Cuiabá sempre pode parecer um crime.  Ao longo do tempo foi possível ver que sua personalidade era tão polêmica quanto parecia ser, o que afugentou e provocou ojeriza de muita gente. Não é a toa que ao final da sua passagem pela Secom-MT, ele foi vítima de uma das maiores sacanagens que já presenciei, tudo por conta da briga pelo poder. Pois bem, o Celso de Castro Barbosa morreu ontem, me informou o Facebook. Perdi algum tempo lendo as lembranças dos amigos, sempre tão saudosas (provavelmente, ele foi meu primeiro contato do Facebook a morrer). Convivi com o Celso durante dois anos, período em que no fim tivemos uma boa relação, em que ele confiou no meu trabalho. Lembro sempre de que no dia do meu casam

Conversa com Darwin

Meus vizinhos tem um cachorro chamado Darwin, que ao que tudo indica, faz coisas que cachorros normalmente fazem: corre alucinadamente, pula incontrolavelmente, destrói alguns objetos e por vezes provoca intervenções paisagísticas dramáticas. Por fazer coisas que cachorros geralmente fazem, no caso de Darwin, um labrador branco, essa coisa pode ser sua simples existência, meus vizinhos parecem gostar muito de seu animal. No entanto, essas outras coisas de cachorro, essa parte que envolve destruição e roubo de objetos, não deixam meus vizinhos tão felizes assim. Nesses dias, eles brigam com o Darwin. Não sei como é a casa do meu vizinho e por isso não posso dizer exatamente como a cena se desenvolve, mas sei que dia desses ele mexeu no lixo. Sim, o lixo, principalmente quando contém objetos orgânicos em estado de decomposição, pode ser um tanto quanto irresistível para um cão. Por outro lado, este objeto de fascínio canino é bastante repugnante para o ser humano. Essa é uma contra

Lua Sorridente

No alto do céu, a lua parecia um enorme sorriso. Uma lua enorme, talvez uma super-lua. A porção iluminada da lua era ínfima, um simples risco e a posição da lua no céu nos fazia entender exatamente o seu movimento em relação ao sol. Quem brilhava não era o lado esquerdo ou diretio da lua, mas sim sua porção inferior. Pensando uma um pouco, era possível imaginar o sol escondido depois da curva do planeta e sua luz refletindo naquele pequeno pedaço do nosso satélite. Um sorriso como o do gato de Alice n país das maravilhas. Um fiapo de sorriso, mas um sorriso perfeito e absolutamente simétrico. Tão enorme, que era impossível manter a atenção no que acontecia na terra.

Os 30 anos de Lionel Messi

Foi no dia 06 de Abril de 2010. Não havia uma pessoa no mundo que acompanhasse o futebol que não estivesse espantada com o que Lionel Messi havia acabado de fazer. Pelas quartas-de-final da Champions League, o Barcelona venceu o Arsenal por 4x1, de virada, com quatro gols do argentino. Quatro golaços, que transformaram um jogo complicado em um passeio. Depois da partida, um embasbacado Arsene Wenger declarou que Messi era um jogador de videogame. Duas semanas antes, Messi havia dado outra demonstração de poderes sobrenaturais, durante a vitória por 4x2 contra o Zaragoza. Três gols, sendo que o segundo foi uma demonstração de luta e técnica poucas vezes vista. Naquele momento, estávamos todos encantados com Messi. Ele já era o cara que tinha feito um gol antológico contra o Getafe, marcado três gols no clássico contra o Real Madrid, já era o melhor do mundo eleito pela Fifa. Mas aqueles dias foram decisivos para percebermos que ele não era apenas um grande jogador. Era algo mais, al

Vinte anos do Guga

As manchetes dos sites esportivos e o vasto material divulgado nos últimos dias fazem questão de nos lembrar: faz 20 anos que Gustavo Kuerten despontou no cenário do esporte mundial ao conquistar o titulo de Roland Garros pela primeira. Foi em um dia 8 de junho, de 1997, que Guga derrotou Sergi Brugera por 3x0 na final do Grand Slam francês. Tenho na memória um pouco desse dia. Acordei cedo na manhã de domingo, esse era um costume lá em casa por conta das corridas Fórmula 1. Naquele domingo não havia corrida, mas encontrei meu pai na frente da TV assistindo um esporte diferente. Era a TV Manchete que exibia a final do jogo de tênis. Meu pai fez um breve apanhado sobre a situação, explicou que um brasileiro estava jogando a final de um dos torneios mais importantes do mundo, que era um jovem, falou algo sobre suas roupas diferentes e enfim. Acompanhei provavelmente um parte do terceiro set, sem entender nada daquele sistema de pontuação maluco. Fiquei feliz quando Guga venceu, afina

Alternativas temerárias

Diante da atual situação de instabilidade política e todas as alternativas para o futuro do país, tenho que dizer que praticamente todas elas me assustam. A primeira alternativa seria a manutenção de Michel Temer no poder. Não é preciso dizer o quanto isso seria ruim e como a permanência do atual presidente no poder é imoral. Temer chegou ao poder por linhas tortas, está tentando implantar uma série de reformas que não receberam chancela popular nas urnas e não tem integridade moral para exercer o cargo. Todos os indícios demonstram que ele navega muito bem pelos mares de lama de corrupção e que sua presença no Palácio do Planalto é uma vergonha. A alternativa constitucional caso se arrume alguma maneira de desalojar Temer do poder, é a convocação de eleições indiretas. Sim, não há como não ter medo da escolha que um Congresso amedrontado e acuado e ainda envolvido em denúncias de corrupção iria tomar. O atual presidente da casa, Rodrigo Maia, surgiria como um dos favoritos e, cara

Desimportância de tudo

Sempre que alguma dessas correntes se populariza no Facebook e acaba sendo compartilhada por milhares de pessoas, surge uma espécie de contracorrente, com outros cidadãos incomodados com aquela situação e que acabam por questionar a importância de sua divulgação. Lembro que isso aconteceu bem recentemente com a de verdades e mentiras ("nossa, eu realmente queria saber isso sobre a vida de vocês), mas o fenômeno também foi registrado em tantos testes de Facebook, no "Diferentona", no "Esse é fulano". Sim, é praticamente irresistível falar mal de algo com o qual nos importamos, inclusive porque, a amargura e a ironia são fatores que geram likes no Facebook e é aí que eu quero chegar, o que importa no Facebook são apenas os likes, porque absolutamente nada no Facebook é importante para a vida de ninguém. Tudo bem, posso exagerar um pouco. Jogando pra cima, uns 5% de tudo o que é produzido na rede social pode ter alguma relevância para a vida de algumas pessoas.

Amortização

A impressão que eu tenho disso tudo é que ficamos tão amortecidos com a vida, em geral, que nada mais é capaz de nos impressionar. Vale inclusive para o presidente da República, que depois de ter um áudio vazado em que ele escuta uma pessoa explanando sobre tentativas de corromper o judiciário e indica uma pessoa para tratar com o interlocutor, e essa pessoa indicada recebe alguns milhares de reais em dinheiro vivo, enfim, depois disso tudo o presidente fica aliviado com o conteúdo da gravação. Vai saber o que é que ele temia que pudesse estar em um áudio desse tipo. Vejo nos Estados Unidos a polêmica que foi criada quando uma Secretária de Estado utilizou um e-mail pessoal para falar de assuntos de trabalho, situação que provocou desgaste em sua imagem pública e ajudou a eleger Donald Trump, que agora passa por uma crise por ter vazado informações confidenciais para um diplomata russo. Lembro da Coreia do Sul, que recentemente viu o impeachment da sua presidente, por conta de uma

Tortura são-paulina

Houve um tempo em que o São Paulo era a pátria do virtuosismo inútil. No período da virada do século montamos algumas equipes com futebol vistoso, mas que conseguiram poucos resultados expressivos. Lembro-me da avassaladora dupla Dodô e Aristizábal, vice-campeã paulista em 97, o time de Denílson e França, campeão paulista de 98, mas que sucumbiu no segundo semestre. O time campeão paulista e vice da Copa do Brasil de 2000 teve momentos encantadores. Mesmo a equipe da reta final do Brasileirão de 2001 brilhou em alguns momentos. O ápice desde estilo sem dúvida foi em 2002: sete vitórias por goleada no Rio-São Paulo, dez vitórias consecutivas no Brasileirão, mas fraquejando diante dos rivais, nenhum título no ano. Depois de repetir a rotina no campeonato paulista de 2003, as coisas mudaram. Com Rojas no comando, o São Paulo passou a se transformar na pátria do pragmatismo convicente, sofrendo contra todos e conseguindo resultados necessários para voltar à Libertadores após 10 anos.

Uma lembrança de Tia Iracy

Em 2007, pela primeira vez eu viajei sozinho para Petrópolis, minha cidade natal. Em uma tarde peguei o ônibus e fui visitar minha tia-avó Iracy. Durante o caminho até Cascatinha, pensei que seria uma visita breve, uma vez que as passagens pela sua casa costumavam a ser rápidas. Tia Iracy gostava de ficar sozinha. Me surpreendi então quando deixei a sua casa, quando o dia anoitecia, após uma tarde em que não vi a hora passar. Conversei com Tia Iracy sobre todos os aspectos do mundo, ela lia O Globo inteiro, todos os dias, e os jornais iam se empilhando ao lado da poltrona em que ela passava a maior parte do tempo. Também devorava as revistas de palavras-cruzadas, igualmente empilhadas. Fazia isso para exercitar a cabeça, me disse. Reclamava da política atual e de vários aspectos do mundo moderno, principalmente da mania que nós temos de esconder fios e canos, o que é um problema enorme quando eles precisam passar por manutenção. Reclamava da perna, cada vez pior, mas não da vida co

A lógica de mercado e a oportunidade política

Ao que tudo indica, a Polícia Federal cometeu alguns equívocos na divulgação dos resultados da Operação Carne Fraca. Não é nenhuma novidade, uma vez que os órgãos fiscalizadores costumam a superdimensionar suas operações e encontram na mídia um ótimo caminho de difundir a informação muitas vezes equivocadas. Parece que houve um grande equívoco na história do papelão, por exemplo. Mas, também parece certo dizer que foram cometidas irregularidades na fiscalização de frigoríficos, exatamente 21. Não sei dizer ao certo o quanto de carne foi produzida nesses estabelecimentos e parece difícil dimensionar o quanto de carne foi adulterada e quantas pessoas foram atingidas por essa fraude. São dois fatos que me parecem consumados e um não invalida o outro. Depois de um breve baque inicial com a denúncia da fraude que envolve 21 frigoríficos e 30 e poucos funcionários do setor de fiscalização da Ministério da Agricultura, o Governo fez uma contraofensiva intensa contra a operação, com o pr

Mendigando emoções

Depois que a Mercedes estabeleceu o maior domínio da história da Fórmula 1 - nunca ninguém havia ganho tanto em um período de três anos - qualquer coisa que não fosse uma dobradinha prateada no Grande Prêmio da Austrália já deixaria os telespectadores felizes. De fato, isso aconteceu com a vitória estratégica de Sebastian Vettel, que indica que nesse ano poderemos ter alguma disputa pelo título. Mas foi só. A corrida australiana foi uma entendiante abertura de campeonato, igual as que vimos nos últimos três anos - desde 2013 não temos uma corrida de abertura minimamente interessante. Ao que tudo indica, essa temporada de 2017 será uma temporada de ultrapassagens miseráveis e corridas definidas na estratégia. Talvez lembre a temporada 2007, disputa emocionante em corridas chatas. A transmissão foi um horror e parecia feita por um pessoal que nunca tinha trabalhado no assunto - o que foi colocar o Kvyat na disputa pelo segundo lugar, 40 segundos atrás e com uma parada a menos? Além

Federer, novamente uma experiência religiosa

O falecido escritor norte-americano David Foster Wallace era um aficionado por tênis e provavelmente seu maior texto sobre o assunto foi o ensaio "Federer como experiência religiosa". Escrito em 2006, auge (será?) do suíço enquanto tenista, Wallace faz uma longa contextualização sobre a evolução do jogo, dos estilos de jogo, até chegar em Federer, um desses raros casos de esportistas sobre os quais as leis da física não se aplicam. É notória a sua descrição sobre os momentos Federer, os golpes aplicados pelo suíço que deixam os espectadores impressionados, sobretudo, pela facilidade com a qual ele bateu na bola. No seu auge Federer era exatamente isso, um cara que fazia mágica sem fazer esforço. O ápice deve ter sido aquela final de US Open contra Lleyton Hewitt na qual Federer se sagrou campeão com um sobrenatural 6/0-7/6-6/0. Claro que surgiu Rafael Nadal, incansável, canhoto com um forehand potente e que conseguia sempre levar o jogo ao limite, saindo das questões mera

Dória, presidente?

Parafraseando Michael Moore, eu gostaria de estar errado, mas tenho a impressão de que João Dória será o próximo presidente do Brasil. Alguns fatores provocam esta minha impressão. Algumas pesquisas recentes demonstram um cenário confuso para a eleição do ano que vem. O perfil desejado pela maior parte da população é o de alguém de fora do establishment político, ou outsider, mas que tenha alguma experiência de gestão. Uma figura que não existe, ou que ainda não existia. Apesar de suas profundas raízes entre o meio político e de ter algum histórico no setor, João Dória passa a imagem de uma pessoa que veio de fora e, exatamente, se elegeu se vendendo como o gestor. Seu um ano e meio a frente da prefeitura de São Paulo podem colaborar ainda mais para reforçar seu perfil. Há também a operação Lava Jato que está dragando praticamente todos os nomes de peso da política nacional, inclusive seus correligionários do PSDB. Geraldo Alckmin parecia ser o último colega da linha de frente do

Sobre perseverança, desistência e como as coisas simplesmente acontecem

Na última quarta-feira, dia 08 de março de 2017, o Barcelona conseguiu uma das maiores façanhas futebolísticas de todos os tempos ao conseguir vencer o Paris Saint-Germain por 6x1 e reverter a derrota de 4x0 na partida de ida das oitavas de final da Champions League. O que impressionou ainda mais nesta vitória já impressionante, foram os três gols nos oito minutos finais, exterminando a folga no placar que o PSG tinha e a classificação escorreu pelas mãos dos franceses. Claro que é preciso fazer um adendo nessa epopeia para falar da arbitragem, principalmente pelo quinto gol barcelonista, um pênalti inventado desses que chegam a ser constrangedores. Houve ainda outro gol de pênalti, marcação discutível e é justo dizer que se não fosse pela interferência do juiz, o PSG teria se classificado. Mas também é justo dizer que uma equipe que vence uma partida de ida por 4x0, não pode se colocar na dependência da arbitragem para conseguir a classificação. Ninguém pode sofrer seis gols num jog

Top 8 - Músicas cantadas por mulheres

8 Joni Mitchell - In France They Kiss on Main Street Canção que abre o meu disco favorito da Joni Mithcell, The Hissing of Summer Lawns, de 1975 - muito provavelmente o meu favorito por esta canção de abertura. Uma música sobre andar pelo centro de uma cidade desconhecida, conhecer os seus hábitos. "I said, take me to the dance, do you want to dance? I love to dance".Como resistir a pergunta irresistível feita por Mitchell? 7 Pato Fu - Canção pra você viver mais Fernanda Takai extrai toda a sensibilidade de sua voz nesta música sobre a morte do seu pai. Fora do drama pessoal, a letra tem uma beleza universal, afinal, todo mundo gostaria de fazer uma canção para que alguém vivesse mais, fazer alguma coisa que está ao seu alcance para que algo dure mais. 6 Pretenders - Brass in Pocket Música extremamente sensual de uma mulher que quer de alguma forma mostrar para o seu amante que não há ninguém no mundo que seja igual ela. Não sei quem era este homem, mas espero que ele

Dória, o prefeito dos nossos tempos

João Dória foi o grande fenômeno das últimas eleições municipais. Ganhou a prefeitura de São Paulo no primeiro turno, em uma cidade que nunca antes havia ficado em casa em um dia de segundo turno. Empresário com múltiplas atuações, nenhuma delas claramente explicável, Dória ganhou a eleição aproveitando o enorme antipetismo da capital paulista e também o sentimento antipolítico que ganhou força neste Brasil pós-Lava Jato. Nos seus 45 primeiros dias enquanto prefeito da maior cidade brasileira, Dória se notabilizou pela aposta no marketing, em ações de efeito imediato, pelas parcerias com empresas privadas, se envolveu em uma polêmica com grafiteiros e se fantasiou de gari, pedreiro e de tantas outras funções desempenhadas por servidores de uma Secretaria de Serviços Urbanos. A imagem de Dória vestido de gari, em seu primeiro dia de mandato, ao lado de todos os seus secretários municipais, pode parecer extremamente ridícula para mim e para um eleitorado mais a esquerda. No entanto,