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Mostrando postagens de agosto, 2016

Para se lembrar

Olimpíadas sempre são inesquecíveis. É praticamente impossível que uma competição desse porte não tenha jogos marcantes, momentos de superação e histórias que serão lembradas para sempre. As Olimpíadas do Rio não foram diferentes, é claro. Por vezes, temos a impressão que jamais iremos nos esquecer das coisas, que as grandes lembranças ficarão em nossas retinas para sempre. De vez em quando é verdade, mas muitas vezes o tempo fragiliza as memórias. Escrevo abaixo coisas para se lembrar dessa competição. Se lembrar da cerimônia de abertura, que conseguiu ser Brasil como poucas vezes o Brasil foi. O voo de Santos Dumont, a mensagem ambiental, a emoção de Guga, Vanderlei Cordeiro de Lima acendendo a mais bela pira olímpica de todos os tempos. Se lembrar de Michael Phelps ganhando cinco medalhas de ouro, quando todos se perguntavam se ele ainda era o maior. Lembrar de sua atuação no revezamento 4x100 - a prova que menos tinha sua cara, quando ele deu a vitória para os Estados Unidos

A redenção do Big Star

Nas Olimpíadas de 2012 eu passei o olho pelos nomes dos cavalos, uma diversão de sempre nos jogos olímpicos, quando vi que Nick Skelton, britânico, montaria Big Star na competição de saltos do hipismo. Um nome aparentemente banal, acho que "Estrelão" é um nome que combina bastante com um cavalo. Pouco me importava, passei a acompanhar os resultados do jóquei e sua montaria que carregava o nome da banda de Alex Chilton e Chris Bell. Para melhorar, Big Star se mostrou um ótimo cavalo, tão bom quanto um Third/Sisters Lovers. Passou zerado em todas as fases preliminares, garantindo inclusive a medalha de ouro na competição por equipes. Zerou a primeira etapa da final e estava zerado na segundo etapa, prestes a vencer a competição quando derrubou o último obstáculo. Sua única falha na semana lhe derrubou para a quinta posição, uma vez que a final começava com todos zerados. Uma falha, o inferno. Um jóquei suíço que havia derrubado três obstáculos na semana acabou com o ouro. E

Lembranças de três títulos

A conquista da medalha de ouro no vôlei masculino brasileiro traz uma curiosidade: doze anos separam cada um deles, 1992, 2004 e 2016. Talvez por alguma dessas questões relacionadas a modernidade, a distância entre o primeiro e o segundo pareçam muito maior do que a entre o segundo ou o terceiro. Ou talvez seja o fato de que Bernardinho esteja lá esse tempo todo. Fato é que eu assisti todos eles e tenho lembranças das finais. Do primeiro lembro que foi provavelmente um dos primeiros jogo de vôlei que eu vi na minha vida, lembro de assistir aprendendo o que era aquele sistema de vantagens, o que eram os saques queimados, quem era o levantador. Me lembro bem mesmo é do saque final de Marcelo Negrão. Um pouco antes, se eu não me engano, o Tande tinha forçado o saque e mandado no meio da rede. Um time que depois aprendi como histórico e que entrou para a mitologia do esporte brasileiro. Em 2004 eu acompanhava vôlei bem, assisti praticamente todos os títulos do Brasil na Liga Mundia

Agonia Olímpica

O salto com vara sempre foi uma das minhas provas de campo favoritas no atletismo. Porque há um clímax, um desafio que deve ser transposto. A vara lá no alto, em uma altura absurda. Há um ritual de corrida, de movimentos, que resultarão na superação ou não do obstáculo. Além de ser um esporte curioso daqueles que você imagina como é que alguém teve a ideia de fazer isso. Os poucos segundos que se passam entre o encaixe da vara, o início da decolagem, o contorcionismo para superar a barra e o sucesso ou o fracasso durante a queda no colchão são de uma agonia extrema. Os movimentos para o sucesso são precisos. Qualquer leve esbarração em qualquer momento do movimento pode derrubar tudo. Thiago Braz escreveu uma história emocionante nesse esporte tão agoniante. A cada salto em que ele superava alturas inimagináveis, até a ousadia de pular para 5,03 metros e conseguir algo que nunca conseguiu na vida, deixando o francês paranoico. (De certa forma, digo que acho vaias em esportes indivi

Prata por se manter em pé

Quando Diego Hypólito começou sua apresentação na final olímpica do sol, juro que eu só torci para que ele não caísse no chão. Só isso já estaria bom. Diego não era mais favorito a nada, não era o melhor do mundo como era em 2008, ter chegado na final já era uma bom resultado. Que ele fizesse uma apresentação simples e terminasse em sexto. Mas que ele não caísse no chão. De certa forma, acho que ele talvez pedisse por isso. Imagino que ele deve viver atormentado pelas lembranças de Pequim, quando era favorito a medalha de ouro e caiu sentado no chão em seu último movimento. Chegou em Londres sem ser favorito, mas na briga, e desabou de cara no chão ao errar uma pirueta qualquer. Suficiente para virar motivo de chacota nacional, símbolo da falta de preparo mental dos atletas brasileiros. Somado a homossexualidade, Diego era uma piada fácil para todos, alguém simples de ser humilhado. Por isso, eu só esperava que ele não caísse de novo. Porque ninguém mereceria viver o que ele

Os mesmos 50 metros de sempre de Thiago Pereira

O ano era 2004 e Thiago Pereira fazia sua primeira final olímpica nos jogos de Atenas, nos 200 metros medley. O jovem de então 18 anos era mais um da nova geração de nadadores brasileiros que apareciam naquela competição, que se não rendeu medalhas, pelo menos rendeu resultados com alguma consistência. Thiago fez uma grande prova, virou os 150 metros na terceira colocação, brigando pelo segundo lugar. Não aguentou o ritmo no final, fez o pior 50 metros entre os oito competidores e terminou na quinta colocação. Todos lamentaram, mas celebraram aquela façanha. Nosso menino de 18 anos tinha um grande futuro pela frente. Virou o símbolo da nossa natação. Em 2007, durante os jogos Pan-Americanos do Rio de Janeiro, Thiago virou o querido da galera. Nadou oito provas, ganhou seis medalhas de ouro. Repetiu a façanha no Pan e 2011 também. Por uma dessas loucuras da mídia nacional, ele chegou a ser comparado com Michael Phelps e sua obsessão pelos oito ouros olímpicos. Porém, seus resultad

Phelps, eu vi

Entre as coisas que eu direi para meus filhos e netos se algum dia eles se interessarem por esportes, é que eu vi Michael Phelps. Seus números sempre parecerão impressionantes e a quem me perguntar, confirmarei que ele era um fenômeno. Não vi Michael Phelps com 15 anos em Sidney, porque ninguém sabia quem era garoto que bateu em quinto lugar nos 200 metros borboleta. Mas eu vi ele em 2004, quando entrou nos jogos de Atenas com o objetivo de conquistar oito medalhas de ouro e todos nos perguntávamos quem era aquele louco com esse objetivo insano, que o fazia até parecer um pouco babaca e quando ele deixou a competição com seis medalhas de ouro, de certa forma pareceu um fracasso. Também o vi em 2008, quando finalmente conquistou as oito medalhas de ouro. Vi todas as provas e aí já era impossível não admirar a obstinação desse cara e os lugares de onde ele tirou força para conseguir cumprir seu objetivo. Vi Phelps em 2012, com ares mais humanos sendo incrivelmente derrotado quand

Brasil x Espanha e uma vitória necessária no basquete

Brasil e Espanha fizeram uma partida emocionante ontem pelo basquete olímpico masculino. Pau Gasol desperdiçou dois lances livres a 23 segundos do fim, Marquinhos pegou um rebote e colocou o Brasil um ponto a frente quando faltavam apenas cinco segundos, os espanhóis ainda tiveram um ataque, mas a bola não caiu. Vitória brasileira contra o segundo melhor time do mundo dos últimos anos e não poderia ser mais emocionante. Foi um jogo que resumiu em seus 40 minutos corridos toda a emoção que o basquete pode ter, o quanto esse esporte é maravilhoso, tenso e capaz de prender a atenção. Jogo transmitido na TV aberta para tanta gente, com uma arquibancada lotada que vibrou insanamente com a equipe nacional. Um jogo para entender o que é o basquete. A vitória brasileira no final foi a consagração. Espero que tenha sido um jogo para formar uma nova base de fãs desse esporte, que ajude o basquete a se recuperar e se preparar para os próximos anos. O Brasil está no fim da sua geração q

Minhas 10 principais lembranças olímpicas

1) O Saque vencedor de Marcelo Negrão Brasil e Holanda disputavam a final olímpica do vôlei nas Olimpíadas de Barcelona em 1992. Era um tempo diferente, em que o jogo contava com um sistema de vantagens que proporcionava uma interminável troca de bolas sem que um ponto fosse efetivamente marcado. Restava apenas um ponto para o título e os times revezavam vantagens, jogadores forçando o saque para tentar o ponto final. Até que Marcelo Negrão, o destaque daquele time, pegasse o impulso e eu falasse “é agora”. Meu lado vidente se confirmou e eu, com cinco anos, tive certeza que minha palavra pesou para a medalha de ouro. Era dia dos pais. Abracei meu pai na comemoração. 2) Muhammad Ali acende a pira Abertura dos jogos de Atlanta, 1996. A tocha percorre o estádio olímpico na expectativa de quem será o responsável por acender a pira olímpica. Muhammad Ali. O maior boxeador de todos os tempos, medalhista olímpico que teve a sua medalha cassada por se recusar a lutar no Vietnã foi o respo

Diálogos perdidos

Enquanto molho a grama, escuto os pedreiros na casa da frente conversando sobre alguma coisa. Creio que é sobre novela. Creio que são três pedreiros. - Tá loco, na novela de ontem o gordinho beijou o polícia, mas beijou mesmo, até encostrou, cê tá louco. - Ah, num guento essas coisas não. - É igual aquela Liberdade, Liberdade. - Essa Liberdade, Liberdade aí é uma putaria só. - Tinha os caras se pegando esses dias, com aquele baixinho lá. - Mas diz que aquele outro lá é veado na vida real também né. Aquele Caio Blat. - Qual, o mais novinho? - Será? - Sei lá. - Por isso que eu digo, de televisão mesmo a única coisa que eu assisto é o jornal. Novela, programa de auditório, essas coisas aí eu não vejo nada não. Novela é só putaria. E após essa pequena discussão sobre vários aspectos da comunicação de massa, eles voltaram para assuntos obreiros, maquininhas, qualidade das intervenções e etc.