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Mostrando postagens de 2014

Resgatando Rascunhos: O Cerco da Violência

Alguns textos você não tem ideia do que é que se passou pela sua cabeça quando você escreveu. Em outros, você sabe exatamente. Esse aqui deveria ser uma coluna para o Centro Burnier de alguma coisa. Escrevi depois que, após algumas mudanças no bairro, a sensação de insegurança aumentou consideravelmente e um assalto passou a parecer uma questão de tempo. É até um bom texto, acho que não soube encerrá-lo. Mas, provavelmente, ele só ficou adormecido até hoje, desde o dia 16 de maio de 2013, porque eu me esqueci completamente de sua existência. Foi em algum dia do ano de 2001 que a vida do meu bairro mudou. O vizinho da casa de trás foi assaltado, rendido enquanto entrava em casa, trancado no banheiro e os assaltantes fugiram levando tudo o que coube no carro. A partir daí, acelerou-se os processos de precaução que já estavam sendo tomados. Se antes o portão só era trancado na hora de dormir, passou-se a trancá-lo o tempo todo, o carro sempre dentro de casa. Alguns meses depois, o viz

Weezer, Foo Fighters e Pink Floyd

Três bandas que estão entre as minhas favoritas - ou pelo menos entre as que eu mais escutei na minha vida, lançaram discos nesses últimos meses. Discos de qualidade diferente, com expectativas diferentes. O Weezer lançou Everything Will Be Alright In The End , nono disco da carreira. Um disco que recebi com pouca expectativa, porque não dá para ter muita expectativa com o Weezer do novo século. Ainda mais depois do péssimo Hurley e de uns flertes bizarros com o rap. Pois, Everything surpreende positivamente. Não há um hit como Porks and Beans e é claro que não é a mesma coisa dos dois primeiros discos. Mas, EWBAITE consegue se colocar ali no meio da tabela do Weezer, competindo com o disco verde e com Make Believe. Composições fáceis, guitarras pesadas e um outro momento marcante. Música no piloto automático, mas agradável. O Foo Fighters reaparece com Sonic Highways, seu oitavo disco. Depois do excepcional Wasting Light, o disco que fez com que o FF voltasse a valer a pena,

Sino Errado

Nas manhãs em que eu vou à academia, quase sempre passo pela escola da esquina no horário em que o sino está tocando, o sino que anuncia que a aula vai começar. Sempre saio de casa mais ou menos no mesmo horário, sempre passo mais ou menos por lá nessa hora. Hoje não foi diferente. Escutei aquele barulho familiar, mas, havia alguma coisa diferente. Ao contrário de outras oportunidades, em que a calçada estava cheia de alunos, assim como o pátio do colégio, hoje não havia ninguém por lá. Em um primeiro momento achei estranho, mas logo percebi que estamos no dia 17 de dezembro. Se estamos no dia 17 de dezembro, muito provavelmente estamos já no período das férias escolares. Por isso, não havia estudante nenhum no pátio do colégio, apenas um vigia de braços cruzados e aspecto enfadonho. Não faz o menor sentido que o sino do colégio toque em um dia em que não há sala de aula. Imaginei que isso acontece porquê o sinal deve ser pré-programado e que ninguém lembrou, ou ninguém sabe como f

Uma ode para Definitely Maybe

Oasis é aquela típica banda cuja apreciação só foi liberada após algum tempo. Logo ali, no auge do sucesso da banda, gostar de Oasis poderia soar como uma crime. Seja pela arrogância dos irmãos Gallagher (tão famosos como polêmicos), polêmicas relacionadas a plágios e principalmente, um sucesso enorme que atingiu várias camadas de público. Wonderwall tocou em novela e pode ser reconhecível até por fãs de Vítor e Léo, um crime. Após dois discos muito bons, a banda entrou numa espiral descendente, lançou discos medíocres enquanto a voz de Liam Gallagher se deteriorava, os shows ficavam cada vez mais frios e os críticos podiam rir da desgraça alheia. Foi só após o lançamento do ótimo Dig Out Your Soul , seguido pelo fim da banda, que o Oasis foi absolvido. Noel Gallagher lançou um bom disco solo e as pessoas puderam admitir sua genialidade. Vinte anos após seu lançamento, podemos ouvir Definitely Maybe sem culpa e escutar como é um disco excepcional. Uma das melhores estreias de

500 dias depois: Simulado contra desastres

(Talvez inspirada pela última crônica do Antônio Prata, começo essa nova série: "500 dias depois". Textos que mostram uma visão diferente sobre fatos que presenciei, mas que minha situação profissional me impedem de publicá-los imediatamente. Resolvi escrever esses textos e submetê-los a uma quarentena de 500 dias, até que eles vejam a luz do dia). A previsão era de que o Simulado contra desastres iria começar às 8h em ponto. Quando cheguei até o local, pontualmente atrasado em dois minutos, esperei que já veria pessoas correndo de um lado para o outro, fugindo da enchente imaginária que iria se abater sobre a Cohab São Gonçalo. Engano meu. Meus dois minutos atrasados foram suficientes para encontrar algumas pessoas sentadas sob uma tenda e alguns militares montando outras barracas. O pessoal da Defesa Civil chegou cinco minutos mais tarde. Sob um sol escaldante, começaram a organizar a tragédia. Já havia alguns representantes da imprensa no local, todos chegando por volt

Bernie Ecclestone e o seu umbigo

Não há como negar que a Fórmula 1 passa por uma crise. Crise de público, de audiência, crise financeira de equipes que cada vez mais sofrem para conseguir se manter disputando a temporada. O único que tenta negar isso é Bernie Ecclestone, o todo poderoso da categoria. Em entrevista recente para a imprensa alemã, Ecclestone disse que não via sentido em investir em jovens, porque os produtos que ele vende são para os mais velhos. Disse que não liga para as redes sociais, que a Fórmula 1 não precisa delas, assim como não precisa das equipes pequenas. Não há como negar que Bernie é o responsável por transformar a categoria na fábrica de dinheiro que ela é. Aliás, acho que inclusive, ele próprio é quem mais ganhou dinheiro nessa história. Só que sua visão não acompanha as mudanças do mundo e vai acabar por afundar a F1. Ao não investir na formação de um público novo, a tendência é a audiência só diminua, até o dia em que ela desaparecerá. E para trabalhar com esse novo público, é prec

A revolta dos cupins

Há um dia que se repete todo ano em Cuiabá. Talvez se repita em outra cidade de Mato Grosso, do Brasil, ou do mundo. Talvez no mundo inteiro exista esse dia. Não exatamente no mesmo dia cronológico, mas nos acontecimentos que acontecem ele. O dia é assim: amanhece nublado, depois de um longo período de calor. As nuvens cinzas e escuras se instalam sobre a cidade e logo começam a cair. Cai uma chuva de intensidade diferente ao longo do dia, deve ser assim que funciona em Londres. E então surgem os cupins. Eles começam a voar desvairadamente e desrespeitosamente pelo céu da cidade, batendo na cara das pessoas, nos carros, se afogando em poças d'água, piscinas e lagos. Você olhará pelo chão e verá uma pilha de asas de cupins que foram por aí. Todo ano esse dia acontece uma vez. Não sei quando. Tenho impressão de que às vezes é no fim do ano, mas talvez já tenha acontecido no começo, ou no meio. O fato é que sempre acontece. Todo ano acontece um ataque de cupins.

Uma certa decepção com o Silva

A primeira vez que eu ouvi falar em Silva, foi em meados de 2012, quando fui assistir um show dos Los Hermanos em Brasília. Alguém cantarolou um trecho de uma música e eu não dei a mínima, esses cantores com um nome só - como Cícero - me dão a impressão de fazer aquele sambinha indie indecente, ou um pop cafona com ares grandiloquentes. Um tempo depois, ele apareceu ao público com o clipe da música A Visita . E que grande música. Um pop perfeito, o violino no melhor estilo Stéphane Grappelli, a batida gostosa e uma letra interessante. O clipe bem feito completava o jogo. Baixei o seu EP e não há como negar que foi estranho. Não havia nenhuma música como A Visita naquelas cinco músicas. Era um disco, em boa parte, eletrônico. Mesmo susto quando ele lançou Claridão , seu primeiro disco. As batidas eletrônicas, sua voz que não chega a ser brilhante, letras no meio termo entre o inteligente e o pueril. Mas nada como A Visita . A culpa não chega a ser dele, é claro. Em suas entrevist

Conspiração do destino

Em 2012, pela primeira vez saí de férias com minha namorada. Me debrucei sobre opções, pesquiseis hotéis e passagens e enfim definimos tudo. Compramos as passagens com uns dois meses de antecedência, como manda o figurino, para conseguir preços melhores. Logo depois, quando tudo estava certo, Ben Kweller anunciou dois shows no Brasil. Seus dois primeiros shows no Brasil. Ben Kweller é um dos meus artistas favoritos e é praticamente desconhecido por aqui. Veio bancado pelos seus fãs e tocou no Rio de Janeiro e em São Paulo. Eu estava no Rio de Janeiro no dia em que ele tocou em São Paulo. E estava em São Paulo no dia em que ele tocou no Rio de Janeiro. No ano seguinte, novas férias, novas frustrações com shows não marcados. O Planeta Terra confirmou que teria seu melhor line-up da história, com Blur, Travis e Beck, um pouco depois que as passagens estavam compradas. Estávamos escutando muito o Apanhador Só, mas ele tocou em São Paulo uma semana depois de estarmos lá. Descobrimos o

Meu voto nulo

Ainda consigo me lembrar de todos os meus votos. Isso não significa lá muita coisa, já que o meu histórico eleitoral é recente, ainda não completou dez anos. Nesse tempo, minha relação com o voto e com os candidatos já mudou muito. Já fui mais adepto ao voto nulo, depois passei a tentar encontrar opções. Hoje, quando não vejo opções, digo que sofro um pouco por anular. Penso se não seria o caso de optar por uma política de redução de danos, mas ainda tento ter como lema que, se nenhum candidato me representa, nenhum deles merece meu voto. Comecei minha vida eleitoral anulando um voto. Foi naquele referendo sobre o desarmamento, quando eu tinha 18 anos e achei que era tudo uma palhaçada, uma tentativa de passar para a população uma decisão que já estava tomada e que, na prática, não ia alterar em nada a vida do cidadão normal. Nas eleições de 2006, minhas primeiras eleições de fato, meu único voto nulo é aquele do qual ainda me orgulho. Para deputado estadual, votei em Luis Soares

Centímetros e segundos

Nessa vida nós controlamos muita coisa, mas tenho certeza que não podemos calcular os centímetros e os segundos. Menos controle ainda temos sobre os milímetros e os milésimos. Aquele segundo em que achávamos que conseguiríamos pegar um objeto, que dava para atravessar a rua, a bola que bate no aro, que um segundo a mais ou amenos, por uns centímetros a mais ou a menos, tudo teria terminado bem. O acidente de Jules Bianchi no último Grande Prêmio do Japão foi um acidente de centímetros e segundos. A única imagem amadora do evento, mostra que o trator que estava retirando o carro de Adrian Sutil estava voltando para trás, quando repentinamente o carro de Bianchi surge rasgando tudo e se estraçalhando. Por poucos segundos, o caminhão estaria mais a frente e Bianchi se estatelaria contra o muro, ou contra a proteção de pneus sem maiores consequência. Por poucos centímetros, ele não bateu de traseira e saiu ileso do choque. Mas nos segundos e centímetros exatos, ele passou por debaixo

Sobre as eleições

As manifestações de junho do ano passado continuam sendo um fenômeno difícil de entender. Não existiu um objetivo comum, sequer um objetivo claro, mas o fato é que elas demonstraram insatisfações. A repercussão mudou bastante a avaliação pública sobre o cenário político até então. Dilma navegava em mares tranquilos para a reeleição e tinha um governo bem avaliado pelo povo. Sua aprovação era de 65% em março de 2013 e caiu para 30% no final de junho. Prova também de como nem sempre as pessoas sabem avaliar se o governo é bom ou ruim é o porquê. Outros governadores também sofreram com quedas drásticas de avaliação, sendo Sérgio Cabral no Rio de Janeiro o maior exemplo. Toda essa movimentação gerou uma expectativa para o resultado das eleições agora em 2014. A avaliação é de que poderíamos ter mudanças drásticas no Congresso Nacional (um dos maiores alvos do protesto) e nos executivos estaduais. Passada as eleições e com o povo escolhendo algumas velhas figurinhas carimbadas, a impres

Resgatando Rascunhos: Sobre as fotos

O Blogger é uma ferramenta que permite que você salve rascunhos de textos que pretende postar algum dia. Algo que é bem interessante, já que em modelos antigos você corria o risco de ver sua sessão expirando a internet caindo e o texto se esvaindo pelo ralo da nuvem. Mas, no caso desse blog aqui, o rascunho não serve para muita coisa. Geralmente posto textos mais espontâneos por aqui e se alguma coisa vai para o rascunho, para ser escrita depois, adeus. Ficara para sempre no limbo da rede mundial de computadores. É o caso desse texto abaixo, rascunho desde março de 2013. Sabe-se lá o que eu pensei na época, devia estar melancólico, vendo fotos antigas. Fotos antigas são sempre melancólicas. Ia filosofar mas devia estar com preguiça e a filosofia foi embora. Um pouco baseado naquele texto do CH3 que eu já fiz, certa vez. Só que aqui, o foco estará no fato de que as fotos digitais não tem a magia das fotos em papel. As fotos em papel capturavam um momento, uma espécie de cerimônia

Um corpo no asfalto

O congestionamento e as pessoas na calçada indicavam um acidente. Um carro com o para-brisa todo trincado mostrava que havia sido um atropelamento. O camburão do IML mostrava que o acidente havia sido fatal. Muitas vezes nós não temos noção da violência e da brutalidade de um atropelamento. Um impacto capaz de mutilar as vítimas, despedaçar ossos, numa morte horrível e dolorosa. Vi o cadáver, estirado no asfalto escaldante, rígidos e acidentados em frente ao Sesi Papa. Depois vi nos sites que a vítima se chamava Augusto Peixoto dos Santos e tinha 97 anos. Morava na região e costumava a caminhar por ali. Tentou atravessar a rua e foi atingido pelo carro. Viver 97 anos e morrer atropelado. O destino é cruel.

Regressiva dos candidatos a presidência

São onze candidatos a presidência. Falo sobre os 11 em ordem decrescente de preferência. 11 Pastor Everaldo: O pastor do Partido Social Cristão é de longe a pior opção para essas eleições. Suas propostas são baseadas numa teocracia antiquada, mas pior do que isso, é que ele não tem preparo nenhum. Diferente de outros nomes da direita evangélica, ele não consegue nem ser firme em suas opiniões, batendo na questão da família, segurança, corrupção. Mal dá pra se irritar com as besteiras que ele fala. Para piorar, Everaldo tenta incorporar um discurso de direita econômica, falando sobre Estado mínimo, iniciativa privada, privatizações, e claro, não tem o menor preparo para falar sobre isso. 10 Levy Fidélix : Fidélix parece ser uma voz perdida da antiga UDN. Com o curioso slogan de "vamos endireitar o Brasil", nessa eleição ele deixou de ser apenas o cara do aerotrem para adotar um discurso raivoso, citando o Foro de São Paulo (todo mundo que cita isso perde o meu respeito),

Cortar o cabelo

Às vezes, penso que uso o cabelo grande por preguiça de ir até um lugar para cortar o cabelo uma vez por mês. Corto o cabelo a cada quatro ou cinco, já é um tempo excessivo que gasto para isso. Ainda mais, porque ultimamente está sendo cada vez mais difícil cortar o cabelo. Antes, era simples ir lá e pedir para um cara passar uma máquina no cabelo. Depois, parecia fácil ir lá e falar para cortar uns dedos e aparar aqui ou ali. Hoje em dia, toda vez que vou cortar o cabelo me deparo com uma discussão técnico-filosófica sobre o corte. Se o cortador, ou cortadora, me faz uma pergunta se eu prefiro que atrás seja reto ou angulado, eu não tenho a menor ideia. Quer que corte em camadas? Eu quero apenas que corte, não tenho muita ideia. Certa vez, expliquei que queria tirar uns quatro dedos de cabelo e também o volume. A mulher ficou me olhando com uma cara séria, penteou pra cá e pra lá, pediu licença e então voltou com uma revista, pedindo que eu apontasse o corte que eu queria fazer.

A magia do quase gol

Acredito que a grande graça do futebol, em relação a outros esportes, é que nele, o que não aconteceu pode ser tão interessante quanto o que aconteceu. Veja o basquete, ou o vôlei. A graça está na concretização do ponto, o time que desperdiça essas oportunidades estará fatalmente condenado a derrota. No futebol, não. Os times que criam muitas oportunidades, e por vezes, perdem muitos gols, são mais festejados do que aqueles mortíferos, que atacam para fazer o gol, apenas. Um 4x0, construído em 4 chances de gol, terá menos charme, ou chamará menos a atenção do que um 3x1 em que o time teve 14 chances de balançar as redes. A bola na trave, o milagre do goleiro, aquela bola que passa em frente ao gol sem ninguém para empurrar... elas tem tanta graça quanto o gol. Principalmente a grande jogada que não entrou por um senão. Os quatro quase-gols antológicos que Pelé não marcou na Copa de 1970 são mais lembradas que os quatro gols que ele fez nessa Copa. O gol é o fato consumado do jogo,

A primeira vitória de uma geração

Voltamos ao Mundial de Basquete de 2002, realizado em Indianápolis, porque lá se consolidou a minha paixão por esse esporte - estranha paixão, maior pelos jogos de seleção do que pelos jogos da NBA. O Brasil vivia então os fragmentos da geração pós-Oscar. Um grupo com jogadores experientes como Helinho, Demétrius, Rogério, Sandro Varejão, que passavam longe de serem brilhantes. Um time que rodava a bola muitas vezes, estourava o seu limite de 24 segundos sem arremessar e dependia de Marcelinho Machado, o chutador que assumiu o trono de Oscar. O técnico Hélio Rubens também levou alguns jogadores jovens, que beiravam os 20 anos ou menos, como Leandrinho, Anderson Varejão, Guilherme Giovanoni, Thiago Splitter. Jogadores que precisaram assumir a bucha naquele time inconsistente, que sofreu para vencer Porto Rico, Angola e Turquia, foi massacrado por Espanha e Iugoslávia e perdeu para a Argentina no primeiro mata-mata, nas quartas de final. A Argentina, comandada por Ruben Magnano, era

Djokovic x Murray x Nadal x Federer

Enquanto Novak Djokovic e Andy Murray duelavam pelas quartas de final do US Open, na noite de ontem, em uma partida que tendia ao infinito, pude chegar a conclusão: Djokovic e Murray fazem os jogos mais enrolados do tênis mundial. Os dois primeiros sets de ontem foram iguais aos dois primeiros sets da final que eles fizeram em 2012 no US Open, ou no Australian Open em 2013. As razões para isso, é que Murray e Djokovic são versões semelhantes do mesmo jogador. Os dois podem ser considerados ótimos exemplos do Power Baseline: o modelo de jogador que desde Ivan Lendl domina o circuito, com um jogo muito forte do fundo da quadra, onde o jogador se estabelece e distribui pancadas sobre o rival. A quadra dura também é o habitat natural dos dois. Djoko e Murray vão um pouco além disso: são dois dos melhores defensores do circuito mundial. Correm de um lado para o outro, não se cansam e transformam winners adversários em devoluções mortais. É o típico jogo em que o saque não represe

O debate precisa mudar

Se há algo que este processo eleitoral deixa claro, é que os debates televisivos precisam mudar. Bem, na verdade essa é uma contestação que já vem de pelo menos oito anos, mas é sempre bom falar sobre isso. O debate não é uma espaço de confronto de ideias, no formato que as televisões seguem. Trinta segundos para pergunta, dois minutos para resposta, mais alguns segundos para réplicas ou tréplicas. O que dá para se discutir num tempo tão pequeno? Ainda com temas genéricos? Educação, é claro que todos querem que ela seja boa. Todo mundo quer que a saúde funcione. O debate é um show de "vamos fazer", "vamos construir", "o atual governo não fez". E o debate não deveria ser um confronto entre quantos leitos de UTI serão construídos. Há também, o espaço para os ataques pessoais. A hora mais esperada por todo mundo, a hora da baixaria, quando a falta de caráter alheia será discutida em público. Acrescenta pouca coisa. Penso que o debate poderia separar a

O Brasil e a maldição do lance livre

Às vezes é difícil de lembrar, mas o Brasil é bicampeão do mundo no basquete. Os títulos da brilhante geração de Wlamir Marques e Amaury Passos ficaram perdidos no tempo, lá atrás. A visão do basquete brasileiro atual é altamente influenciada pelo time de Oscar e Marcel. Um time que tinha um jogo de transição, que abusava dos arremessos, até porque tinha dois dos mais brilhantes chutadores da história. Um time que viveu um período no qual o Brasil começou a perder espaço no cenário mundial do basquete, não teve grandes resultados em mundiais e Olimpíadas. Mas que obteve uma vitória sensacional. Você com certeza já viu dezenas de vezes as imagens e a história da final do Pan-americano de 1987. Os norte-americanos jamais haviam perdido em seus domínios, terminaram o primeiro tempo com uma boa vantagem e acabaram atropelados pelo Brasil no segundo tempo. Uma vitória conquista nos chutes e choro de Oscar. Uma vitória que criou um paradigma no basquete brasileiro: é assim que se venc

RIP Seu Pedrinho

Seu Pedrinho era daqueles alcoólatras que não fazia mal para vida de ninguém, exceto a sua própria. Morava no fim da minha rua e ocupava aquele clássico posto de bêbado do fim da rua, acredito que todas tenham o seu. Muitas vezes, saia de manhã para ir para Academia e encontrava Seu Pedrinho já de pé. Ou melhor, ainda de pé, voltando para casa de alguma bebedeira nos bares da região. Sempre simpático, cumprimentava os outros. Era conhecida pela rua inteira, pelo bairro inteiro. Andava por aí acompanhado de seu cachorro, conhecido - talvez não oficialmente - como Barbosinha. Na sexta-feira da semana passada, como já era de costume, encontrei Seu Pedrinho ainda de pé, andando pela rua. Nesta sexta-feira de hoje, descubro que Seu Pedrinho morreu. Sumiu por alguns dias e algumas pessoas notaram sua ausência. Pularam o muro de sua casa e encontraram seu corpo já em estado de decomposição. Não se sabe se deixa família, se deixa herança. Seu corpo será levado ao IML e depois para um

Fragmentos

Quem já voou em um desses aviõezinhos, em um voo não comercial, sabe o medo. Conhece a sensação terrível que é passar pelas inúmeras turbulências que o caminho proporciona. Se um Boeing treme aqui e ali por conta de nuvens mais pesadas, o aviãozinho treme com qualquer rajada de vento, com as diferenças de temperatura no ar. É preciso ter estomago forte. Existem alguns outros detalhes também. A aterrissagem nesses aviões é feita de maneira visual. O piloto preciso encontrar a pista lá embaixo, na base do olho. E enquanto o avião desce e balança, o desafio é não vomitar. Os aviões menores podem ser comparados a folhas de papel no ar, balançando de um lado pro outro, ao ritmo do vento. Quando o avião finalmente chega no solo, o alívio é imenso. *** Todo acidente de avião é motivo para comoção nacional. De certa forma, mortes coletivas nos comovem. Acredito que é algo baseado na nossa crença sobre o destino, que tudo já esta escrito e é difícil entender porque 200 pessoas morrem junt

Jack White - Lazaretto

Fragmento de um texto que não saiu e que eu nunca vou conseguir terminar. A banda faz uma pequena parada, como se a música fosse terminar. A bateria retoma e um solo, ou um duelo de violinos - ou seriam violoncelos? - começa. É aquele momento em que você percebe que alguma coisa está acontecendo. É o gol do Van Persie contra a Espanha, quando você percebe que aquela Copa está sendo muito legal. É quando você percebe que esse disco do Jack White vai ser muito bom. Lazaretto não deixa de ser uma continuidade de Blunderbuss a estreia solo de White, aclamada pelo público e para mim é apenas morna. Jack é um músico criativo e que gosta de explorar sonoridades, mas que ao mesmo tempo se mantém fiel às suas tradições. Lazaretto bebe dá música tradicional americana, mais próximo ao folk do que ao blues. Mais próximo do Raconteurs do que dos White Stripes. Os seus solos estão lá, seu vocal dramático está lá. Mas não dá pra dizer que sua carreira solo seja igual as suas bandas. Ja

Sinceramente...

Sinceramente, música do Cachorro Grande, é um bom exemplo de como uma bela canção pode ser estragada por um ou dois versos terríveis. A balada, lançada no já distante ano de 2005, pode não ser a mais criativa de todos os tempos, com seu piano manjado e melodia doce. A letra é de Marcelo Gross e fala sobre a felicidade de se encontrar um amor. Uma letra simpática sobre "acertar o pulo quando te encontrei" e de como o mundo gira quando se encontra uma pessoa amada. O refrão é agradável, por mais que Beto Bruno dê uma forçada desnecessária na voz, naquele clichê de mostrar que isso é uma banda de Rock 'n' Roll. Os versos se repetem e tudo vai muito bem até que surge aquilo que chamamos como "pós-refrão". Gostei do seu charme e do seu groove Gostei do jeito como rola com você Gostei do seu papo e do seu perfume Gostei do jeito como eu rolo com você Oras, já é meio ridículo falar que você gostou do groove de alguém. O que raios é um groove?  Para pio

Dunga e a morte do futebol brasileiro

Os mensageiros do apocalipse. Se há uma verdade sobre uma tragédia, é que ela nunca acontece por um único motivo. Um conjunto de situações é que derruba um avião, faz dois carros baterem de frente ou um viaduto desabar. Assim, são diversos os fatores que contribuíram para que o Brasil fosse piedosamente derrotado pela Alemanha por 7x1. A palavra tragédia pode ser um pouco forte, mas, futebolisticamente, perder uma semifinal de Copa do Mundo em casa por 7x1 é o equivalente ao desabamento de um prédio na vida real. Naquele inesquecível dia 8 de julho vimos uma seleção com talentos limitados, desfalcada de suas duas principais lideranças técnicas, mal postada em campo, comandada por um treinador com visões ultrapassadas do futebol e sem capacidade para acompanhar a dinâmica do jogo. Seleção de poucos talentos, vítimas de uma péssima gestão do futebol nacional que utiliza a equipe para fazer propaganda e ganhar dinheiro com sua história vitoriosa. Não há futuro no futebol nacional e

Memória da Copa: A Tarde de Mondragón

A Copa de 1994 é a primeira da qual eu tenho algumas lembranças. Os jogos do Brasil, o gol do Branco, a seleção da Romênia, um Bulgária e México que assisti na casa da minha avó. Lembro também que nessa Copa tive o meu primeiro álbum de figurinhas e que nunca vinha uma única figurinha da Grécia. Entre os 528 jogadores que participaram daquela Copa estava o goleiro colombiano Faryd Mondragón. Mondragón era um discreto reserva daquele time, tinha 23 anos e provavelmente ninguém deve ter notado sua presença no time que decepcionou e foi eliminado da Copa ainda na primeira fase. Mondragón teve uma participação notável na Copa de 1998, quando ele era titular do gol colombiano e teve duas atuações espetaculares contra Romênia e Inglaterra. Seu time perdeu os dois jogos, mas o goleiro foi o responsável pelos placares apertados. Além disso, Mondragón tinha um nome sonoro, marcante. Quando um jogador, principalmente de time pequeno, se destaca em uma Copa do mundo, o fã de futebol aca

Memória da Copa: O último ato de Xavi e Iniesta

Quando o juiz apitou o final daquela partida entre Espanha e Holanda, com o tragicômico placar de 1x5, todos se apressaram para sepultar a seleção espanhola. Enterro que se confirmou em parte nos jogos seguintes, quando La Roja foi eliminada na primeira fase. A Seleção Espanhola tem uma incrível antipatia em solo brasileiro. Suas vitórias sempre são menosprezadas e creditadas a fraqueza alheia. Seu estilo vencedor de toques intermináveis virou símbolo de chacota e futebol chato. Não tenho como me aprofundar nas razões dessa antipatia, mas penso que a Espanha é tão odiada por aqui porque eles foram um pouco do que gostaríamos de ser. Uma seleção que não tinha camisa e que ganhou tudo o que queria e, não venham me dizer que a Copa das Confederações tem alguma importância. Uma seleção que venceu impondo seu estilo de jogo e contribuiu para colocar a posse de bola no centro das discussões futebolísticas. Mas, a Espanha não era apenas posse de bola. Era marcação, ocupação de espaços,

Balanço da Copa 2014: Os Piores

Aqueles que entram para a história pelo ralo. (Assim como na lista dos melhores, escolhi jogadores que tenham participado de pelo menos 3 jogos). Goleiro: Igor Akinfeev (Rússia) - O goleirão russo conseguiu tomar o grande e talvez único frango dessa Copa, entregando o empate para a Coreia do Sul - em um dia terrível, tomando choques da bola. Depois, Akinfeev ainda saiu mal do gol na jogada que deu o empate e a classificação para a Argélia e a consequente desclassificação russa. Lateral Direito: Brayan Beckeles (Honduras) - O mais fraco de um time fraco. Uma avenida que teve participação bizarra no único jogo em que os hondurenhos tiveram a chance de ganhar um ponto. Beckeles assistiu a bola passar a sua frente. Zagueiro pela direita: Geoff Cameron (Estados Unidos) - Eis um exemplo de jogador grosso. Falhou contra Portugal e no geral, as bolas teimavam em bater na sua perna e os espaços insistiam em aparecer nas suas costas. Zagueiro pela esquerda: Bruno Alves (Portugal) - Pesado e

Balanço da Copa 2014: Os Melhores

Seleção da decisão: Neuer; Lahm, Boateng, Garay, Blind; Mascherano, Schweinsteiger e Wijnaldum; Götze, Messi e Robben. Seleção da Copa: Goleiro: Manuel Neuer (Alemanha) - Após uma primeira fase sem muito trabalho, Neuer cresceu no mata-mata. Seja como líbero contra a Argélia, de defesa impressionante contra a França, ou aquele goleiro que mostrou que nenhuma bola iria entrar nos dois jogos finais. Completam o top 5: Keylor Navas (Costa Rica), Tim Howard (EUA), Guillermo Ochoa (México) e Raïs M'Bolhi (Argélia). Lateral Direito: Philipp Lahm (Alemanha) - Lahm começou a Copa no meio, perdendo muitas bolas. Foi para a lateral no segundo tempo das oitavas de final e cresceu de produção. Atuou sempre muito bem e deu vazão para os ataques germânicos. Completam o top 5: Dirk Kuyt (Holanda), Pablo Zabaleta (Argentina), Daryl Janmaat (Holanda) e Vasilis Torosidis (Grécia). Zagueiro pela direita: Jérôme Boateng (Alemanha) - Boateng começou a Copa pela lateral-direita, tomando muitas bola

Copa 2014: Final, Alemanha 1x0 Argentina

De certa forma, a impressão era de estar assistindo a final da Copa de 2010 novamente. Eis o grande duelo do futebol atual: Quem tem a bola x Quem não tem a bola. De qualquer forma, costuma a vencer quem sabe o que fazer quando tem a bola. A Alemanha tinha a bola, mas sofria contra a sólida defesa argentina. Méritos totais para Alejandro Sabella, que com zagueiros limitados montou um grande sistema defensivo. A Argentina não tinha a bola, mas era extremamente perigosa. Messi estava ligado na partida e mesmo sem ser brilhante ele criou as principais chances argentinas: bolas que cruzavam a área e encontravam o pé sempre certeiro de Boateng, em partida monstruosa. No entanto, a grande chance da partida foi criada por Toni Kroos. Recuou mal uma bola e deu um presente para Higuaín, que bateu de maneira bizonha na bola. Higuaín ainda fez um gol impedido, bem anulado. A Alemanha cresceu de produção após a entrada de Schürrle no lugar de Kramer, que sofreu uma pancada na cabeça e

Expectativa para a decisão

Alemanha e Argentina chegaram na final com filosofias de jogo diferentes. Talvez sejam as duas equipes com mais qualidades ofensivas em seu elenco, mas a Argentina tem uma postura visivelmente mais cautelosa. A defesa argentina, muito criticada antes da Copa - realmente tem zagueiros limitados - está funcionando muito bem, com destaque para Garay e a entrada de Demichelis. Na frente da zaga, Mascherano é um leão de guarda e ainda responde pelo início das jogadas. Eis uma diferença clara em relação a seleção brasileira: o Brasil tem dois ótimos zagueiros, em um esquema pífio. A Argentina tem dois zagueiros medianos em um bom esquema. A Alemanha deverá ficar mais com a bola, por mais que os argentinos não tenham total desprezo por ela. Schweinsteiger e Kroos tentarão criar os espaços e o camisa 7 alemão pode ser um jogador decisivo em campo.  Kroos e Khedira deverão bater de frente com Mascherano e Biglia. Lahm e Höwedes com Lavezzi e Enzo Pérez (ou Dí Maria) e Thomas Müller e Özi

Copa 2014: Decisão do 3º, Brasil 0x3 Holanda

A seleção brasileira terminou a Copa do jeito que jogou ela inteira. Ou melhor, do jeito que não jogou. Um time sem meio de campo, sem jogadas pelas laterais e com o atacante isolado, esperando o dia em que uma bola misericordiosamente cairia em seus pés. O último lance brasileira na Copa, um chute de Maicon que foi fora do estádio, foi o fechamento de ouro. A Holanda fez 2x0 com tranquilidade e ficou ali, cozinhando o jogo. Fez o terceiro no final, para dar aquele clima melancólico, necessário. Se Felipão tivesse um pouco de caráter, pediria demissão ao final da partida. No entanto, o ultrapassado treinador insiste em falar em boa campanha em em lapsos. O treinador que resgatou a seleção brasileira em 2002, está tratando de enterrá-la e afastá-la da população. Com cartolas incompetentes, treinador ruim e uma geração que não é das mais brilhantes, o futuro próximo da seleção brasileira parece terrível.