Chego em casa e ligo a TV. Minha aula havia acabado às 11h30 e eu voltava a pé para casa pelo trajeto de 1,5 km. Entre o tempo da caminhada, chegar em casa, pegar um copo de guaraná e ligar a TV não se passaram mais do que 25 minutos. Não devia ser mais do que 11h55 quando, para minha surpresa, a televisão não mostrava o Globo Esporte e sim a imagem de um prédio em chamas.
Já haviam se passado mais de duas horas desde que os terroristas chocaram dois aviões contra o maior prédio de Nova York e eu incrivelmente não sabia de nada. Nem eu, nem nenhum dos meus colegas de sala, meus professores. Poucos tínhamos celulares, nenhum com qualquer acesso a internet. Quinze anos não parece tanto tempo assim, mas para quem estava lá parece inacreditável que um fato dessa magnitude, ocorrido durante a hora do recreio permanecesse tanto tempo desconhecido para tantas pessoas. Não duvido que muitas pessoas só souberam do atentado quando chegaram em casa a noite. Se foram dormir sem assistir o jornal, talvez só souberam no dia seguinte.
O mundo mudou muito nesses 15 anos.
***
Meu pai me liga com uma voz de enterro. Três dias depois, na sexta-feira, nós iríamos viajar para Barcelona. Meu pai participaria de um congresso de saúde e eu iria junto, aproveitando umas economias de alguns anos.
Ele estava imprimindo o banner de sua apresentação, quando viu na TV as imagens dos prédios em chamas, a confusão total, as pessoas se jogando. Meu pai sempre tenta manter a calma nesses momentos, enquanto por dentro não sabe o que fazer. Seu pessimismo, hereditário, calcula que tudo deve ter acabado. Que não haveria viagem. De certa forma, a sensação era a de que o mundo iria acabar nos próximos dias.
E isso porque nem havia Whatsapp naquela época.
***
Em 2001 eu estava na 8ª Série do Ensino Fundamental, que provavelmente hoje é conhecida com outra terminologia. Dentro do ciclo de ensino de História, chegávamos à história contemporânea. Depois de passar pela pré-história, gregos, romanos, idade média, conquista da América, independência do Brasil, unificação germânica, revolução industrial, duas guerras mundiais, Getúlio Vargas, ditadura militar, chegávamos a redemocratização do Brasil, Glasnost, Perestroika.
Em pouco tempo chegaríamos até a queda do Muro de Berlim - como eu gostava muito de história, sempre folheava os livros até o final para saber o que vinha pela frente. Naquela época, a queda do muro de Berlim parecia o último grande acontecimento da história. O último momento chave que a humanidade enfrentou. Acho que vivemos sempre com a sensação de que a história nunca ganhará novos fatos e ainda mais hoje em dia, banalizados pelo excesso de informação, com a sensação de que nada merece realmente entrar para História com H maiúsculo.
Em 2001 nem eu nem nenhum dos meus colegas havíamos presenciado a queda do Muro de Berlim. Éramos novos demais para se lembrar daquele acontecimento ocorrido quando tínhamos dois anos de vida. Aquele distante acontecimento de doze anos antes, que foi gravado nos livros de História assim que ocorreu.
Os atentados de 11 de setembro já completaram 15 anos. Creio que na época, nós não percebemos como aquele era um fato histórico, da História mesmo.
Lembro das discussões do dia seguinte, sobre a relevância daquilo. Vivíamos então com um grande sentimento anti-americano, de certa forma reforçado com George W. Bush. Muita gente via naquilo uma farsa, muita gente estava chocada. A história ainda não havia sido escrita, com seu ar oficial.
Tenho curiosidade para saber o que os jovens que estudam história hoje aprendem sobre o tema. Eles, que ou eram muito novos ou sequer haviam nascido quando os aviões se chocaram contra as torres gêmeas, para a perplexidade de Carlos Nascimento e todos os âncoras de televisão.
Qual será a narrativa histórica do 11 de setembro? O que entra para a História, dos acontecimentos que nós vivemos?
***
Quinze anos depois, mesmo parecendo tão recente, não dá pra negar que o mundo mudou muito. Uma parte pela revolução tecnológica que faria impossível não tomarmos conhecimento de um fato tão marcante em muito menos tempo. Soubemos dos ataques em Paris quase instantaneamente.
Mas, o 11 de setembro realmente trouxe o terror para o cotidiano da humanidade. Mudou a maneira como nós viajamos de avião e tem mudado tantos outros aspectos do cotidiano, principalmente nas grandes metrópoles, pelo medo de que um maluco armado resolva dizimar a população presente.
Já se passaram 15 anos.
Já haviam se passado mais de duas horas desde que os terroristas chocaram dois aviões contra o maior prédio de Nova York e eu incrivelmente não sabia de nada. Nem eu, nem nenhum dos meus colegas de sala, meus professores. Poucos tínhamos celulares, nenhum com qualquer acesso a internet. Quinze anos não parece tanto tempo assim, mas para quem estava lá parece inacreditável que um fato dessa magnitude, ocorrido durante a hora do recreio permanecesse tanto tempo desconhecido para tantas pessoas. Não duvido que muitas pessoas só souberam do atentado quando chegaram em casa a noite. Se foram dormir sem assistir o jornal, talvez só souberam no dia seguinte.
O mundo mudou muito nesses 15 anos.
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Meu pai me liga com uma voz de enterro. Três dias depois, na sexta-feira, nós iríamos viajar para Barcelona. Meu pai participaria de um congresso de saúde e eu iria junto, aproveitando umas economias de alguns anos.
Ele estava imprimindo o banner de sua apresentação, quando viu na TV as imagens dos prédios em chamas, a confusão total, as pessoas se jogando. Meu pai sempre tenta manter a calma nesses momentos, enquanto por dentro não sabe o que fazer. Seu pessimismo, hereditário, calcula que tudo deve ter acabado. Que não haveria viagem. De certa forma, a sensação era a de que o mundo iria acabar nos próximos dias.
E isso porque nem havia Whatsapp naquela época.
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Em 2001 eu estava na 8ª Série do Ensino Fundamental, que provavelmente hoje é conhecida com outra terminologia. Dentro do ciclo de ensino de História, chegávamos à história contemporânea. Depois de passar pela pré-história, gregos, romanos, idade média, conquista da América, independência do Brasil, unificação germânica, revolução industrial, duas guerras mundiais, Getúlio Vargas, ditadura militar, chegávamos a redemocratização do Brasil, Glasnost, Perestroika.
Em pouco tempo chegaríamos até a queda do Muro de Berlim - como eu gostava muito de história, sempre folheava os livros até o final para saber o que vinha pela frente. Naquela época, a queda do muro de Berlim parecia o último grande acontecimento da história. O último momento chave que a humanidade enfrentou. Acho que vivemos sempre com a sensação de que a história nunca ganhará novos fatos e ainda mais hoje em dia, banalizados pelo excesso de informação, com a sensação de que nada merece realmente entrar para História com H maiúsculo.
Em 2001 nem eu nem nenhum dos meus colegas havíamos presenciado a queda do Muro de Berlim. Éramos novos demais para se lembrar daquele acontecimento ocorrido quando tínhamos dois anos de vida. Aquele distante acontecimento de doze anos antes, que foi gravado nos livros de História assim que ocorreu.
Os atentados de 11 de setembro já completaram 15 anos. Creio que na época, nós não percebemos como aquele era um fato histórico, da História mesmo.
Lembro das discussões do dia seguinte, sobre a relevância daquilo. Vivíamos então com um grande sentimento anti-americano, de certa forma reforçado com George W. Bush. Muita gente via naquilo uma farsa, muita gente estava chocada. A história ainda não havia sido escrita, com seu ar oficial.
Tenho curiosidade para saber o que os jovens que estudam história hoje aprendem sobre o tema. Eles, que ou eram muito novos ou sequer haviam nascido quando os aviões se chocaram contra as torres gêmeas, para a perplexidade de Carlos Nascimento e todos os âncoras de televisão.
Qual será a narrativa histórica do 11 de setembro? O que entra para a História, dos acontecimentos que nós vivemos?
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Quinze anos depois, mesmo parecendo tão recente, não dá pra negar que o mundo mudou muito. Uma parte pela revolução tecnológica que faria impossível não tomarmos conhecimento de um fato tão marcante em muito menos tempo. Soubemos dos ataques em Paris quase instantaneamente.
Mas, o 11 de setembro realmente trouxe o terror para o cotidiano da humanidade. Mudou a maneira como nós viajamos de avião e tem mudado tantos outros aspectos do cotidiano, principalmente nas grandes metrópoles, pelo medo de que um maluco armado resolva dizimar a população presente.
Já se passaram 15 anos.
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