Pular para o conteúdo principal

Postagens

Mostrando postagens de agosto, 2010

Andei Escutando (13)

Donovan – Mellow Yellow (1967): Entre as cítaras sonolentas do disco anterior ( Sunshine Superman ) e o som alegre do posterior ( A gift from a flower to a garden ) esse disco fico no meio do caminho. É um Folk com fortes influências de Jazz. Nenhuma faixa chama muito a atenção e nenhuma é insuportável. Melhores: Mellow Yellow e Bleak City Woman . Flamin’ Groovies – Teenage Head (1971): Um som tosco e enérgico. A qualidade da gravação é bem ruim, talvez para passar espontaneidade. Um blues bem tosco, parece gravado ao vivo. As primeiras 4 faixas são sensacionais, as últimas 5 já são cansativas. Melhores: Yesterday’s Numbers e Have you seen my baby ? Rufus Wainwright (1998): Disco de estréia do cantor, é o que mais tem arranjos de música clássica. É o mais chato também, pelo menos aos meus ouvidos. Melhores: Barcelona e April Fools . Steely Dan – Can’t Buy a Thrill (1972): O Rock progressivo pode ser algo realmente detestável. Sintetizadores, saxofones e teclados usados para o

O fim do Jornal do Brasil

Sou de uma geração que não conheceu o Jornal do Brasil. Cresci acostumado com a Folha de São Paulo, com o Estadão e com o Globo. Só fui descobrir o jornal na faculdade, nas aulas sobre a história da imprensa e nos livros que li. Até meio surpreendido em constatar a importância histórica do JB. Uma história bonita, do jornal de oposição, considerado o jornal dos comunistas pelos conservadores, como minha avó era. Jornal que lançou tendências, novas idéias, dando espaço para jovens jornalistas que se consagraram. Fico triste pelo fim do JB, e receoso com o destino dos jornais. Transcrevo uma frase do livro "Notícias do Planalto" de Mario Sergio Conti, que ajuda a explicar porque era tão admirado. "Nenhuma mudança do Jornal do Brasil teve tanta influência quanto a maneira como cobriu e fomentou o movimento cultural. Sem o Jornal do Brasil, nem a poesia concreta nem o Cinema Novo teriam o impacto que tiveram".

Cidades que conheci

Um dia escrevo um livro Paraty: Lugar poético, de ruazinhas estreitas de pedras desniveladas. Casas com paredes brancas e portas azuis ou amarelas. Lugar em que dói a batata da perna de tanto desnível. Come-se peixe, passeia-se tranquilamente a beira do mangue. Noites frias e montanhas com florestas. Cachorros em praias sujas. Ruas (todas iguais) que formam um labirinto. Um desafio para o seu senso de direção. Alto Caparaó: Um lugar de nuvens incertas. Elas vão e vem. O céu completamente azul logo vira um céu carregado de nuvens e nada impede que logo ele fique estrelado. E que as nuvens se abaixem, encubram as montanhas. A cidade é uma ladeira, cheia de igrejas. Há mais igrejas que habitantes. O carro de som anuncia a candidato de José dos Santos, o Zezinho e Delvira para vice. É o 12 para mudar, informa o pior jingle político que já escutei. Petrópolis: Eu olho pela janela e vejo a chuva a na cidade em que nasci. E sempre chove. Uma chuva silenciosa de pingos que caem tão lentamen

Um texto fracassado sobre o Cromo

É normal que você, enquanto jornalista e pessoa que goste de escrever, tenha o sonho de sair escrevendo por aí, sobre qualquer assunto. Tentar perceber o interesse oculto na mais simples possibilidade. Eu já fui assim (às vezes sou) e já pensei em utilizar esse blog como um espaço para fazer isso. Seja por preguiça, falta de qualidade ou o que quer que seja, nunca pus em prática. Uma dessas vezes foi em um dia remoto no fim do ano passado. Fui com meu pai procurar um lugar que cromasse um para-choque de um carro. Esse local ficava próximo ao Atacadão do Tijucal. Um lugar cheio de carrinhos de supermercado na porta (eles eram reformados ali). No fundo da loja é que as coisas eram cromadas. Fiquei por dentro do processo. Um lugar diferente, uma atividade diferente. Parecia perfeito. E então comecei. O cromo é o elemento de número 24 na tabela periódica. Isso significa que ele tem 24 prótons, 24 elétrons e é considerado um metal de transição. A principal utilização do cromo no mundo atual

Troca de papéis

Estava no semáforo quando um cara se aproximou. Me entregou três papéis de propaganda, não eleitoral, um restaurante (Fornello, acho) - comida italiana, pizzas e similares. Me entregou três papéis, não sei porque. Talvez ele tenha achado que eu tinha o perfil de freqüentador do restaurante - por mais que duvide que ele próprio saiba onde fica. Parei em um próximo semáforo e lá estava outro entregador de papéis. Aproximou-se do meu carro e esticou a mão com um papel. Retribuí entregando-lhe um papel do Fornello. Não, eu não tinha intenção de ter uma fonte de renda alternativa. Ele achou estranho e eu lhe disse "vamos fazer uma troca, só pego o seu papel se você pegar o meu". Feito. Saí com uma promoção de sapatos e mal-esperando a hora de chegar ao próximo semáforo para ver que papéis me aguardavam, que propagandas eu trocaria. Pensei logo no começo de uma revolução, uma troca de folders, tal qual acontece com figurinhas e selos postais. Parte deste texto não aconteceu, mas se

O dia limite

Nós, que vivemos em Cuiabá, somos acostumados com o calor. Armamos-nos com ar-condicionado e rimos daqueles que se espantam com 36º, como se disséssemos "isso não é nada". Tratamos os 40º com normalidade e colocamos mangas compridas em qualquer dia mais ou menos dublado. Somos acostumados com o sol, enfrentamos o sol pelas ruas em que andamos, usamos óculos escuros. Mas há uma época por ano em que nós, que vivemos em Cuiabá, pensamos em desistir de tudo. Se pudéssemos, correríamos para longe. Essa época começa por agora e tem tempo indeterminado, vai até o dia em que uma chuva resolva cair. Somos enganados, em um primeiro momento pensamos que o céu está nublado, mas não está. É fumaça. Muita fumaça. O sol não consegue aparecer por trás dessa camada cinza. O horizonte fica invisível, por trás da neblina. O cheiro da fuligem logo se agarra nas nossas narinas e até deixamos de o estranhar. A garganta seca e arranhada, os olhos irritados e as notícias de que as queimadas não para

Santinhos

Um pedaço de papel com foto de político não poderia ser chamado de santinho. Quando era mais novo eu fazia uma coleção de santinhos. Era sempre divertido adulterar os políticos, desenhá-los bigodes, barbas e monocelhas. Poderia ser feito um álbum de figurinhas de santinhos. Colecione os candidatos. E os santinhos também poderiam ir para o museu. Acompanhar a evolução de um político através dos anos. A evolução do photoshop. Ver Carlos Bezerra, com seus cabelos deixando de ser branco e o seu rosto perdendo as rugas, através dos séculos.