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Mostrando postagens de 2015

Grilo

O grilo, sempre simpático, sempre falante, apareceu na nossa sala, sobre o ventilador. Precisamos tirar esse grilo daí, ele precisa voltar para o jardim. Chegamos perto do ventilador e o grilo se virou para nós e levantou suas assas. Esse grilo não está para brincadeira. Ele seria capaz de matar uma pessoa. Muita sacanagem fez Deus a jogar milhares deles sobre o povo egípcio. Mas o grilo não pode ficar aí. Jogamos um pouco de veneno no grilo. Ele fica meio tonto e conseguimos jogá-lo para fora. Pouco depois vemos ele subindo a parede. Uma máquina. Uma máquina mortífera. Mais tarde vemos o grilo agonizando até a morte. O veneno não o mata instantaneamente, mas sim lentamente. Ele treme e pouco depois morre. Que morte horrível. Por que fizemos isso? Me sinto um ser humano predador da natureza e vou dormir com peso na consciência.

Museu da Língua Portuguesa

Em setembro de 2007 eu estava de férias em São Paulo e fui ao Museu da Língua Portuguesa com um tio e uma prima. Não sei se tinha muita expectativa em visitar aquele prédio histórico com um museu que homenageia algo tão intangível quanto uma língua. Sei que tive uma experiência moldadora de caráter lá dentro. Primeiro na exposição temporária, sobre Clarice Lispector, que me deixou espantado com dezenas de frases e me levou a comprar um livro dela que eu li com muito esforço. O impacto das frases de Clarice Lispector naqueles paredes permanece maior em mim do que qualquer livro ou post de Facebook. Descobri várias coisas lá dentro, naquele ambiente interativo. Uma visita ao Museu da Língua Portuguesa me valeu tanto conhecimento sobre o assunto quanto alguns anos de colégio. Deveria ser uma visita obrigatória para alunos de escolas públicas. Voltei até lá uma outra vez, em 2014. Antes de que o prédio fosse consumido pelas chamas. O prédio pode ser reconstruído, a maior parte de seu

Bwana

Bwana era uma Força da Natureza. Aquele pequeno filhote que chegou aqui em casa sem nome e que cabia em uma mão logo cresceu e passou a ser capaz de mover vasos, arrancar árvores, roer canos, mover o eixo do planeta. Bwana tinha força para atravessar a piscina, caçar folhas em poças de água, pular muros e portões, rastrear qualquer presença de pão de queijo em um raio de dois quilômetros. Aos poucos, a idade foi chegando e toda essa força foi se dissipando. Até que hoje sua energia terminou. Foram doze anos desde que Bwana chegou aqui em casa e desde então nossas vidas não foram mais as mesmas. Eu era um estudante de 2º ano do Ensino Médio, que nunca mais entrou na piscina sozinho. Entrei na faculdade, me formei, me casei. Mas Bwana foi uma presença tão forte por aqui, que parece que ela sempre existiu e sempre existirá, com seu melancólico, esperançoso e companheiro olhar de labrador.

Rogério Ceni

Como quase todo são-paulino, vivi uma relação de amor e ódio com Rogério Ceni até um certo dia de dezembro de 2005. Certo que qualquer resquício de ódio já havia desaparecido com a conquista da Libertadores e sua comemoração extasiada em campo, dizendo que poderia ir embora, que nada mais importava a partir daquele dia. Mas a final do mundial de 2015 foi marcante. Até então, Rogério Ceni era o goleiro artilheiro, de boas defesas, algumas falhas, muita marra e poucos títulos. O cara zoado por se ajoelhar em lances cara-a-cara com o adversário. Que viveu um mau momento ali em 2001/2002 - curiosamente quando fez parte do elenco campeão da Copa do Mundo, que falhou no jogo que eliminou o São Paulo contra o Once Caldas na semifinal da Libertadores de 2004. Era também o cara que fez milagres em alguns jogos do Campeonato Brasileiro de 1999 - contra Grêmio, Inter e Ponte Preta (na fase de classificação e também em um mata-mata surreal). Do gol de falta contra o Santos no Paulista de 2000.

Uma temporada que prometia e foi sofrível

Terminado o ano de 2015 para a Fórmula 1, só resta uma comemoração: a de que terminou. Escrevi após a primeira corrida do ano que a temporada prometia ser sofrível e a expectativa se confirmou com sobras. Creio que 2015 foi uma das piores temporadas da Fórmula 1 que eu já assisti. A Mercedes fez um carro amplamente superior a concorrência, como fizeram a Ferrari em 2004 e 2002, a Williams em 1992 e 1993 e a McLaren em 1988, ou mesmo a Red Bull de 2011 e 2013. Mas em 2002, 2004, 2011 e 2013 as outras equipes conseguiam incomodar em determinadas situações e não vimos em Rubens Barrichello e Mark Webber, pilotos comparáveis a Nico Rosberg, a facilidade para andar na frente do resto dos pilotos. Em 1992 e 1993 a Williams era muito superior e faria dobradinha em todas as 16 corridas da temporada, mas os carros sofriam mais com problemas mecânicos, possibilitando algumas zebras históricas e disputadas nas posições intermediárias. O atual domínio da Mercedes só é comparável a McLaren de 1

Dez anos de Ronaldinho - ou sem Ronaldinho

Os jornais não me deixam esquecer que foi em 19 de novembro de 2005 que Ronaldinho Gaúcho viveu sua maior atuação na história, uma das maiores de qualquer jogador em qualquer tempo. Uma lendária vitória do Barcelona sobre o Real Madrid, por 3x0, em pleno estádio Santiago Bernabeu, com dois gols do gaúcho. Volto para os 31 minutos e pouco daquele jogo que foi assistido pelo mundo. O placar já apontava 2x0 e todos ainda estavam maravilhados com o primeiro gol de Ronaldinho, quando ele recebeu a bola na intermediária. No momento em que a bola chegou até ele, todos sabiam que o gol iria sair. Os dois gols de Ronaldinho naquele jogo estão umbilicalmente ligados. O segundo provocou uma enorme sensação de Deja Vu, com sua arrancada pela meia esquerda, cortando zagueiros rumo ao gol. Foram duas jogadas em que o R10 arrancou para o gol como se fosse um míssil teleguiado. O gol era o seu destino final e nada seria capaz de interceptá-lo. O segundo gol de Ronaldinho era óbvio, porque era uma

Sexta-feira 13

Sob a sombra de uma árvore, um gato preto enterrava suas necessidades no gramado do Palácio Paiaguás. Satisfeito, ele saiu correndo e só não passou pela minha frente porque eu cheguei antes ao espaço pelo qual ele pretendia passar. Para os supersticiosos, um preságio de azar. No meu caso, apenas o preságio de um almoço muito ruim. Mais tarde, atiradores e homens bomba matariam mais de 150 pessoas em Paris numa série de ataques terroristas coordenados. Os corpos ainda estavam quentes quando a internet começou a ser inundada por comentários preconceituosos e xenófobos, de pessoas que não tem o mínimo de compaixão. O Brasil ainda se recupera do mar de lama tóxica que invade Minas Gerais e o Espírito Santo, devastando toda forma de vida pela frente, quando um terremoto atinge o Japão e passa desapercebido pela situação francesa. Enquanto isso, em Cuiabá, Jair Bolsonaro desfila seu discurso de ódio em uma palestra sobre Direitos Humanos em um evento de produtores de calcário. Pode não

Coisas que já não são a mesma coisa

Ter a ESPN Brasil como seu canal de esportes favoritos não era uma preferência, mas uma opção de vida. De um lado estavam os programas puxa-sacos, cheio de celebridades dos comentários, ex-jogadores sem nada a dizer e polêmicas baratas. Do outro estava o trabalho sério, as opiniões fortes e o compromisso com a verdade - a ESPN. Mas as coisas mudaram, ah como mudaram. A ESPN não é mais aquele canal apaixonante que era lá pelos idos de 2005, 2006, até mais recentemente, talvez. Não me lembro bem quando foi que o José Trajano deixou o comando do canal, que passou a ser do João Palomino. Seguiu-se com a polêmica no caso Flávio Gomes e Arnaldo Ribeiro e uma busca cada vez maior pela audiência, ao invés da informação pura e simples. Os programas foram sendo remodelados incessantemente, o bate-bola mudou de cenário umas 14 vezes até se chegar aonde está hoje. PVC, símbolo do canal, foi embora. As transmissões dos programas agora estão cheias de ex-jogadores de futebol, numa fórmula que

O Bar mais sinistro do mundo

Promoção Um Baguncinha R$ 6,00 2 Baguncinha R$ 10,00 O cartaz me chamou a atenção e não tenho dúvida de que foi uma boa estratégia de marketing. Nesse mundo moderno e hiperinflacionado, é difícil encontrar um baguncinha por um preço justo e competitivo. A promoção é importante para chamar a atenção em uma rua cheia de bares, pequenos bares. Quem não é de Cuiabá não deve estar acostumado com o que é um baguncinha: um pequeno sanduíche que comporta tudo o que a mente humana imaginar. Não existe receita para o baguncinha. O bom baguncinha é aquele que utiliza todos os ingredientes possíveis. Nos áureos tempos ele chegou a custar um mísero real, mas estes eram outros tempos e pouco importa. Esse texto não é sobre baguncinhas. É sobre o bar que realiza essa promoção. Ele está localizado no novo bairro onde agora moro. Na avenida principal desse bairro. Passo em frente a ele  todos os dias quando vou para a minha nova academia e em um desses dias prestei atenção no cartaz. Pensei com

Este pequeno latifúndio, meu mundo

Sua figura é marcante e inesquecível. Impossível não notar aquela senhora com uma barriga tão avantajada que parece uma corcunda invertida em seu uniforme azul. Impossível não pensar que quando ela senta, aquela barriga sólida e compacta seria capaz de segurar um prato, um copo, quem sabe uma bigorna. Impossível não reparar nessa figura mal-humorada que carrega um cigarro numa mão e uma pá e uma vassoura na outra. Cigarro fumado com força, que fica preso apenas nos lábios nos momentos em que ela varre o chão. Nos pés, uma sandália havaiana cor de rosa, com miçangas enfeitando suas alças. Seu trabalho é varrer a calçada da loja da Mitsubishi, retirar as folhas que teimam em cair no chão e se alojar naquela calçada. Cada movimento da vassoura é repleto de raiva. Cada interrupção é motivo para que ela pragueje, contra os carros que manobram na calçada e interrompam seu trabalho. Sua figura inspira medo, o medo de passar na calçada que ela limpa com tanto carinho e que as pessoas sujam

Novos Walters

Fomos bons amigos pelo tempo em que vivemos juntos. Nossa amizade deve ter durado bem entre a oitava série e o fim do segundo grau, tempo em que convivíamos diariamente, fazíamos trabalhos em dupla e em grupos. Éramos um grupo feliz nas nossas ideias, dúvidas, capacidades e incapacidades. O segundo grau terminou e começamos a nos afastar, como eu sempre me afasto das pessoas com quem não tenho convívio diário. Nunca sei se isso ocorre por minha culpa, por culpa das pessoas, de todos nós, ou se o mundo é que assim. Mas ainda nos encontrávamos com alguma frequência, para jogar bola, sinuca, visitar um amigo doente ou em alguma festa. Compartilhávamos algumas conquistas comuns a nossa idade, como a carteira de motorista. Lembrávamos do que vivemos juntos, as bebidas e as festas que nunca mais são iguais as que fazíamos quando tínhamos 16 anos. Ele foi na minha formatura, eu fui na sua e então não sei mais. O tempo passou e já não saberia dizer quando foi a última vez que eu o vi,

O Brasil nas Olimpíadas

Faltando menos de um ano para os jogos olímpicos do Rio de Janeiro, o Comitê Olímpico Brasileiro trabalha com a expectativa de que o Brasil tenha o seu melhor desempenho na história no quadro de medalhas, tanto no número de medalhas de ouro, no número total de medalhas e na posição geral. A expectativa do COB é que o Brasil termine entre os dez primeiros colocados. Uma meta ousada. Se formos ver os quadros de medalhas das últimas Olimpíadas, perceberemos que para chegar lá o Brasil precisará de pelo menos sete ou oito medalhas de ouro (seria um recorde) e mais um punhado de pratas. Os melhores desempenhos do Brasil aconteceram em 1920, com o 15º lugar geral, em 2004 com cinco medalhas de ouro e em 2012 com 17 medalhas no total. Desde os jogos de Moscou, em 1980, o Brasil vem patinando entre a 17ª e a 25ª colocação, exceção feita aos jogos de 2000, quando amargamos um 53º lugar, sem nenhuma medalha de ouro. Para conseguir oito medalhas de ouro, mais de vinte medalhas no total e alca

Usain Bolt

Usain Bolt é provavelmente o maior atletas de todos os tempos. Atleta eu digo entre aqueles que praticam o atletismo, sem um sentido amplo que englobe os praticantes de qualquer modalidade esportiva. Mas, eu não estaria exagerando se falasse que nunca existiu um esportista como ele. Bolt conseguiu transformar as provas de 100 metros em um acontecimento ainda mais especial. A prova mais rápida do mundo, que define o homem mais rápido do mundo, sempre foi charmosa, o momento máximo do atletismo. Parávamos para ver aquela disputa de dez segundo em que tudo poderia acontecer. Hoje, nós paramos para ver Bolt correr. Para ver Bolt correr durante menos de dez segundo em que sabemos que ele vai vencer, não importa o que aconteça. Pense em quantos esportistas nos motivávamos a ver um jogo apenas por ele. Pelé, Messi, Michael Jordan, Roger Federer, são poucos, que geralmente dominam esportes mais artísticos, que combinam força física, inteligência tática e habilidade extrema. Bolt faz isso e

Decepções na natação

Sempre gostei das provas de natação. Não sei a razão. Talvez por ter nadado na infância, mas acho que vai além disso. Sempre gostei de acompanhar as provas em Olimpíadas, Pan-Americanos, Mundiais. Acompanho com alguma frequência como estão os tempos, vejo os resultados. Confesso que sou um iludido. Sempre fico na expectativa por um bom resultado brasileiro em alguma competição mundial, mas dificilmente ela vem. Quando vem, geralmente é em alguma prova não olímpica. Ou nos menos importantes jogos pan-americanos, quando os atletas parecem se dedicar mais. Vejo que Felipe França nadou para 59,21 no Pan. Se melhorar um pouco ele pode beliscar uma medalha no Mundial, duas semanas depois. No entanto, ele força demais o ritmo tentando acompanhar o recordista mundial e não aguenta, fica de fora até da final. Vejo o revezamento feminino fazendo um bom tempo no Pan, mas na hora do mundial o tempo é 3 segundos mais alto. Como que você nada em quase 56 segundos, Graciele Herrmann? Ok, ok, qu

A Northern Soul - o grande disco do Verve

Quando o The Verve estourou nas paradas mundiais com o hit Bittersweet Symphony , em 1997, pouca gente sabia da história da banda até então. Pouca gente conhecia os tumultos em hotel, as brigas, a vida louca que tornava o Verve uma espécie de sobrevivente de sua época. Urban Hymns , o disco que da já citada BSS, continha ainda outros três singles poderosos - Sonnet, The Drugs Don't Work e Lucky Man , além de mais um punhado de belas canções. Não é a toa que fez sucesso e que ainda hoje muita gente acredite que este é o único disco do Verve. Mesmo assim, não é por síndrome de underground que acredito que este não é o melhor disco do The Verve. Urban Hymns é muito mais um disco de Richard Ashcroft, do que um trabalho do grupo. Formado no início da década de 90, ainda como apenas 'Verve', a força do grupo sempre esteve no equilíbrio entre a guitarra cósmica de Nick McCabe e as interpretações fortes e letras profundas de Richard Ashcroft. O grupo lançou três singles, pérola

O Pan para quem merece

Os jogos Pan Americanos não são uma grande competição mundial. Por mais que por vezes a mídia tente dizer o contrário, o torneio reúne pouquíssimos atletas de nível mundial. Os Estados Unidos enviam poucos grandes atletas, o Canadá caprichou nesta edição por estar disputando em casa, Cuba envia seus principais atletas mas está em um momento decadente. Sobre o Brasil com vários dos seus melhores atletas contra outros países inexpressivos. A imprensa parece que já está aprendendo a colocar o Pan em seu devido lugar, apesar de ainda dar um destaque maior do que o esperado para a competição. Os cartolas não. Comemoram as 40 e tantas medalhas como o símbolo do Brasil Olímpico, por mais que tenhamos apenas meia dúzia de esportes que realizem um bom trabalho, ou pelo menos um trabalho na formação de atletas - poderia ser tema de outro post. Mas, pouco importa o que dizem os cartolas. O Pan vale pelos atletas. Tantos ali que vivem sua vida por isso, sem nenhuma grande remuneração financeir

Bianchi

Quase uma semana depois ainda é difícil acreditar. Ainda não caiu a ficha que a lista de acidentes fatais da Fórmula 1, inalterada nos últimos 20 anos, ganhou mais um nome: Jules Bianchi. Nos meus 28 anos eu só havia presenciado dois acidentes fatais, em dois dias seguidos de 1994, época em que a Fórmula 1 já completava uma década sem mortes e parecia infalível. Mas tanto Ratzenberger, quanto Senna, morreram poucas horas após o acidente. Já li sobre e já vi vários dos acidentes fatais da Fórmula 1. Difícil não se chocar com Lorenzo Bandini se estatelando em chamas no cais do Mônaco, Gilles Villeneuve voando contra as grades, amarrado em sua cadeira, Roger Williamson queimando até a morte diante da passividade dos fiscais, ou Tom Pryce estraçalhando um fiscal e arrebentando a cabeça em seu extintor de incêndio. Em todos os casos, as mortes na competição são praticamente instantâneas. Bandini demorou dois dias, Ronnie Peterson também, até um fragmento de osso entrar em sua corrente s

Novas palavras

Ali na avenida do bairro. Surgiu um muro pintado em cores claras, acompanhado de um desenho diferente, um desenho marcante mas que não ficou gravado na minha cabeça. Olhei aquele muro azul, azul da cor da bandeira de Bahamas. Tive a impressão de que era a primeira vez que aquele muro estava pintado daquele jeito, que até então ele sempre foi cinza da cor do cimento. Mas, não tive certeza. Uma esquina depois estava lá a pichação, com uma hashtag que dimensionava o amor diante da culinária. Tive certeza que aquela pichação era nova. Passo por aquele muro todo dia e era impossível que essas palavras já estivessem ali. Comecei a ver os anúncios dos mais variados serviços espalhados em muros, postes e portões pelo caminho e estava convicto que todos surgiram nesse dia. Estávamos no dia 16 de julho, eu completava 28 anos e até o dia anterior o mundo não tinha tantas palavras impressas e expressa por aí. Era um novo mundo.

Os Segredos de uma Geração

Ontem a seleção chilena ganhou o primeiro título de sua história, ao bater a Argentina nos pênaltis, na final da Copa América. Um título que coroa àquela que é apontada por muitos como a maior geração chilena da história. De fato, é difícil discordar. Esse time do Chile não tem uma dupla de ataque antológica, como Marcelo Salas e Ivan Zamorano, mas tem um punhado de bons jogadores, com algum destaque em suas equipes. De fato, uma geração. Acho curioso perceber essa noção de geração no futebol. Existem muitos países que conseguem, repentinamente, encontrar uma geração brilhante. Seria preciso se aprofundar para descobrir as razões. Do time chileno que levantou a Copa América, oito jogadores nasceram entre 1986 e 1989. Mais de um terço dos jogadores nascidos em quatro singelos anos. Mais do que isso, os principais jogadores da seleção. Arturo Vidal, coração da equipe é de 1987, assim como Gary Medel, o leão da defesa. Aléxis Sanchez, principal atacante da equipe é de 88, assim

Vinte anos de um jogo inesquecível

Sou torcedor do São Paulo, enquanto meu pai torce para o Fluminense. As razões que me levaram a não seguir o time do meu pai já devem ter sido explicadas em algum post perdido por aí, assim como já falei que sempre tive grande simpatia pelo tricolor carioca. É o meu segundo time. Suas vitorias fazem meu pai feliz e consequentemente me fazem feliz também. Em 1995 o Fluminense completaria 10 anos sem conquistar nenhum título e vinha de uma sequência de fracassos no campeonato carioca, que então era bem mais importante do que é hoje. Era o ano do centenário do Flamengo, que repatriou Romário e ameaçava formar o melhor ataque do mundo, junto com Sávio e Edmundo. O Fluminense tinha como seu grande astro o folclórico Renato Gaúcho. Não sei exatamente como é que aquele campeonato transcorreu, já que aqueles eram tempos em que não havia internet e o andamento do campeonato era conhecido por meio das tabelas de classificação publicadas nos jornais e dos gols exibidos no glorioso domingo da

Misteriosa Figura

Vejo ele quase todos os dias. No começo achei que era alguém que também esperava para atravessar a rua quando o sinal ficasse vermelho para os carros. Até que reparei que ele não atravessava a rua. Aliás, ele fica numa posição de quem não atravessa a rua, no gramado, ao invés de ficar próximo a faixa de pedestres. Buscando pela memória, tenho dúvidas se ele usa uma pochete ou se é apenas uma barriga protuberante. Ele usa boné e alguma corrente e está sempre lá. Cheguei a imaginar que ele é um desses caras que entregam jornais ou outros panfletos em semáforos. Mas ele não carrega nada. Só sei que ele está sempre lá. O semáforo fecha, ele se aproxima do meio fio, faz que irá gesticular com alguém do outro lado, mas não há ninguém lá. Um agente secreto? Um fugitivo do hospital psiquiátrico que fica a poucos metros dali? Jamais saberei.

Oasis, Coldplay, Foo Fighters, White Stripes e lembranças musicais de dez anos atrás

O ano de 2005 foi um ano diferente para a minha relação com a música e imagino que para a relação de muita gente. Foi nesse ano que os sites de compartilhamento de arquivos começaram a se popularizar. Lembro do lendário Yousendit e principalmente do Rapidshare. Sites que nos livraram do Emule, Kazaa e outros programas similares que nos enchiam de MP3s e vírus, na mesma proporção. Com uma facilidade maior para baixar discos inteiros de uma vez, incorporei um novo hábito: escutar discos em mp3 antes de eles saírem em seus formatos físicos. Isso não chegava a ser uma novidade em 2005, mas ainda era um hábito pouco comum. Pense você que até então nós íamos as lojas para comprar um disco que escutaríamos pela vez. Exatamente por esta época 10 anos atrás, eu tive uma experiência forte com isso. Quatro bandas que eu gostava, ou acompanhava, lançaram discos em um período de quinze dias. Oasis, Coldplay, White Stripes e Foo Fighters lançaram singles, clipes e discos em um período bem próxi

Lembranças de um ano da Copa

Há um ano atrás eu confessor que fui dormir ansioso. O dia seguinte, 12 de junho, era o Dia dos Namorados, mas era o dia em que começava a Copa do Mundo. Poucas coisas no mundo podem ser mais legais do que uma Copa do Mundo. Menos ainda quando a Copa do Mundo é no seu país e sua cidade será sede dos jogos. É difícil explicar a excitação por assistir Camarões x México em uma tarde de sexta-feira e constatar que foi um jogo muito legal. Acompanhar as notícias sobre os jogos, os jogadores, o extra-campo. A ansiedade com o início da transmissão direto do estádio, os jogadores subindo para o aquecimento. A preparação para a entrada final, os jogadores no túnel. A música da FIFA, a entrada no gramado, os jogadores perfilados e o hino nacional. O hino nacional é um momento sublime da Copa do Mundo e vê-los cantados por seus torcedores é sensacional. As escalações, o apito inicial. Lembranças daquele 12 de junho, o gol contra do Marcelo, o pênalti fajuto sobre o Fred, mostrando que as cois

Agora sim, o último ato

Um ano atrás, após a eliminação espanhola na Copa do Mundo escrevi sobre o último ato da dupla Xavi e Iniesta, na melancólica derrota por 5x1 para a seleção holandesa. Ao que tudo indicava então, Xavi abandonaria a seleção espanhola e deixaria o Barcelona para entrar na história e em algum clube do mundo árabe. Lamentei que a última atuação da dupla fosse em um vexame, um triste fim para uma dupla que conquistou tudo o que poderia, uma das maiores da história do futebol. Mas, a história foi bondosa com Xavi e Iniesta. O camisa 6 permaneceu por mais um ano no Barcelona e ganhou uma nova oportunidade para um novo fim. Fim agora sim sacramentado, com a ida de Xavi para o Qatar e um belo fim com a conquista de uma nova tríplice coroa. Seria difícil saber qual foi a última tabela entre os dois, já que eles pouco atuaram juntos neste último ano. Com os dois avançando os trinta anos e com as condições físicas de Xavi se deteriorando, ele virou o reserva de Iniesta. Os dois não consegui

500 dias depois: Santa Cruz do Xingu

Para chegar em Santa Cruz do Xingu, você precisa passar por uma longa estrada de terra que a cada quilômetro fica pior. Bem, na verdade você tem a impressão de que se distância da civilização. No caminho, você cruza com mais tatus do que com outros carros. Almoçamos em um posto de gasolina no meio do nada, com aquela estranha sensação que temos quando encontramos pessoas no meio do nada. Nunca tenho coragem de comer carne nesses lugares. Acho que pode ser uma das vacas que eu vi pelo caminho. Quero ter uma relação profissional com minha comida, mas acho que fiquei impactado com a cena de um bezerro atropelado e uma vaca olhando o cadáver com uma dor materna. Pegamos um caminho errado e andamos por estradas secundárias, com a impressão de que a qualquer momento uma onça ou um índio invadiriam a pista. Santa Cruz tem menos de 2 mil habitantes. Uma rua principal asfaltada, cercada de muitas ruas de um barro úmido, impregnados pela escuridão.  Existem apenas dois hotéis na c

O vai e vem do melhor do mundo

Eu lembro que estava aqui no meu quarto assistindo Lionel Messi marcar seu primeiro gol pelo Barcelona em uma partida contra o Albacete. Um golaço, de cobertura. Lembro que o argentino franzino já era, àquela altura, tratado como um futuro craque, entrava aqui e ali em um ou outro jogo. Também lembro da primeira vez que eu reparei na existência de Cristiano Ronaldo. Campeonato inglês da temporada 2003-2004, o Arsenal era o atual campeão (invicto) e tinha um time histórico, com um contra golpe mortal e que carregava impressionantes 49 jogos de invencibilidade. Os londrinos perderam para o Manchester United (uma derrota aliás, que derrubou o Arsenal que nunca mais foi o time que era até então), em grande atuação do jovem Rooney, de 19 anos. Mas me lembro que Cristiano Ronaldo chamou minha atenção. Messi e Cristiano Ronaldo eram os dois jovens brilhantes que apareciam no futebol, ainda dominado por Ronaldinho, Kaká, Shevchenko, em um mundo pós-Zidane, Ronaldo e Figo. Messi já brilha

Toda a Força que já esteve ali

Bwana era uma força da natureza. A energia de um labrador é amplamente divulgada por aí, mas só quem teve um sabe do que eu estou falando. Das plantas que ela arrancava pela raiz, dos pesos que ela carregava nos dentes, dos muros que ela pulava sem cerimônia, a eternidade pela qual ela poderia correr e nadar. A força de um labrador não é brincadeira. São seis, sete anos, em que o animal é praticamente incontrolável. Depois ele acalma um pouco, a idade chega. E como chega. Hoje, ao sair de casa me deparo com Bwana deitada ao lado do portão. Ela precisa sair dali, para que eu possa passar com o carro. Chamo-a e ela não se move. Preciso levantá-la e ela anda devagar, para no caminho. Se falasse, diria para que eu a deixasse ali, que desistisse de sair. A cena ocorreu também na semana passada e ainda vai se repetir algumas vezes, imagino que não muitas porque o tempo é cruel. Bwana é um labrador caminhando para seus 12 anos. Seu corpo cansado tem pouca força, um pouco de toda a f

Gerrard: a despedida de um de nós

Dizem que é apenas futebol, que futebol é apenas um jogo. Onze caras em campo correndo atrás de uma bola. Mas, futebol não é só isso, é muito mais do que isso. É algo que não dá para explicar. Não dá para explicar todas aquelas pessoas com seus cachecóis vermelhos cantando "You'll Neve Walk Alone" como se fosse a última vez. Porque era a última vez. Steven Gerrard, quase 35 anos, entrava pela última vez em Anfield Road como jogador de futebol. Ele que chegou ao Liverpool aos 7 anos. Que estreou profissionalmente em 1998. Que é um dos maiores, se não o maior ídolo da história da equipe. Volte dez anos no tempo, até 25 de Maio de 2005. Naquele dia, Milan e Liverpool se enfrentavam na final da Champions League em Istambul. O Milan era o claro favorito ao título. Era uma das maiores equipes do mundo, havia sido campeã do mesmo torneio dois anos antes. Tinha Kaká, tinha Seedorf, Tinha Shevchenko, Pirlo, Maldini. Era um timaço. O Liverpool era a zebra. Já estava há anos

Cristiano Ronaldo faz gols, Messi faz mágica

Cristiano Ronaldo faz gols de todas as maneiras possíveis. Ele é o mais perfeito jogador de International Superstar Soccer. Corre muito, finaliza bem com as duas pernas, cabeceia bem, bate faltas, tem explosão muscular e drible. Mas ele não faz mágica. Messi faz mágica. Faz tantos gols quanto, mas alguns deles tem esse elemento da mágica, do Boateng caído no chão, de tantos adversários que foram iludidos pela sua movimentação e não acreditaram no que iria acontecer. E é isso.

Resgatando Rascunhos: Ponte sobre o Cerrado

O ano era 2013 e eis que uma ponte surge na rua ao lado da minha casa. A partir de então, eu poderia passar por cima daquele que sempre foi o limite natural do meu bairro e da minha imaginação infantil. E não é qualquer ponte: é uma ponte alta, que passa por cima das copas das árvores. A nova experiência me faz pensar na beleza daquelas árvores e de como o cerrado pode ser belo, apesar de desprezado. Me encho de inspiração, mas ela nunca vai a lugar nenhum. Esse rascunho de texto permanece esquecido por aqui desde outubro de 2013. Termina sem pontos e para nada. O Rio Coxipó sempre esteve no final da minha rua. Apesar da proximidade, nunca olhei para o rio pensando em diversão, porque ele sempre esteve poluído. Até me admirava com as pessoas que passavam a tarde tomando banho nele, mesmo com o esgoto que escorria pelas manilhas. Para mim, o rio sempre foi o limite natural da minha rua e do meu bairro. Tudo acabava no rio. Quando criança, por vezes eu descia até a beira do rio e ima

Carolina, completamente perdida

O som do meu carro tocava uma música de Josh Rouse, chamada "Caroliña" no exato momento em que eu cheguei para deixar meu carro na revisão. Curiosamente, seria atendido por uma funcionária chamada Carolina. A música de Josh Rouse fala que Carolina se sente muito feliz do lado de fora e acredito que a Carolina da concessionária também se sentiria mais feliz em outro lugar. Tinha olhos tristes e sotaque mineiro. Não me avisou, mas era fácil perceber que estava começando a trabalhar ali. Carolina não entendia o complexo funcionamento do complexo sistema da Nissan e precisava da ajuda do seu colega de lado para realizar todos os procedimentos. E realmente, ao que eu percebi, são vários procedimentos. Abertura e fechamentos de abas, cliques em mãozinhas, em sinais verdes, ligações para liberação de valores, consultas, fichas e meu deus. Pobre Carolina. Esperei 25 minutos para ser atendido e o atendimento em si deve ter demorado outros 25. Chegou aquele ponto em que o at

Nossos comentaristas

O futebol brasileiro está em crise. Nossa seleção não é mais um selecionado de craques, não temos um punhado de atacantes e meias brilhando no futebol europeu, os campeonatos locais não são um primor técnico. E os nossos técnicos? Não fazem parte do primeiro escalão mundial. Tem ali o Tite, mas no geral quando assistimos qualquer time brasileiro contra qualquer time sul-americano de segunda categoria, a impressão é que o estrangeiro tem muito mais padrão tático. Sim, as coisas não vão bem dentro de campo. E fora? Nossos dirigentes são uma reprodução fiel do que é a política local, as federações são um paraíso fisiologista com cartolas que se perpetuam por décadas no poder. As arquibancadas dos estádios, os velhos e os novos, estão geralmente mais vazias do que cheias. E temos os nossos comentaristas. Ah, os nossos comentaristas, que show de horrores. Estamos cheios de comentaristas que comentam o óbvio e não contribuem nada para que o futebol dentro e fora de campo melhore. Na qu

Galeano

Um dia um amigo do meu pai veio passar uns dias aqui em Cuiabá. Ele vinha de Campinas e trouxe um livro de lembrança para mim, comprado no aeroporto mesmo, acredito. O livro era "Futebol ao Sol e a Sombra" de Eduardo Galeano. Eu tinha 15 anos, no máximo. Não li o livro ali, dei uma enrolada pelas páginas e seus textos curtos. Anos depois esse livro me ajudou na minha monografia. Depois, o li hipnotizado. Hoje só tenho a agradecer. Ao Galeano, e ao amigo do meu pai.

Os tipos de chuva

Os dias são, em sua maior parte, secos. O céu permanece nublado, com nuvens distantes que parecem mais feitas de algodão do que de água. A chuva chega repentinamente, sem hora marcada, em qualquer momento do dia. Em poucos minutos o céu fica negro e a água começa a cair, mas não cai de uma maneira normal. Não são gotas esparsas que molham o chão de maneira uniforme. A chuva caí com tanta força e intensidade que sempre parece atingir proporções bíblicas. As gotas formam uma densa cortina, que impede a visão do horizonte e as ruas logo se convertem em cachoeiras. Chove tanto, que a impressão é de que nunca antes na história da humanidade uma chuva assim caiu sobre o solo. Impressão que aparece todo dia, numa espécie de Déjà-vu aquático. A chuva acaba e em poucos minutos o céu volta a ficar azul com suas nuvens distantes e inofensivas. O dia que parecia fadado as sombras, logo se mostra surpreendentemente ensolarado e a chuva parece ter sido apenas uma delírio coletivo.

Uma temporada que promete ser sofrível

Tá certo, foi apenas uma corrida, um final de semana de disputa. Mas, já deu para perceber que a temporada de 2015 tem tudo para ser uma das piores da história da Fórmula 1. A Mercedes, por méritos próprios, fez um carro disparadamente melhor do que os outros. Não vai dar tempo de nenhuma equipe reduzir essa distância e a Mercedes só não ganhará todas as corridas do ano por conta de algum problema mecânico, ou uma corrida maluca qualquer. Ok, em 1988 a McLaren vivia exatamente na mesma situação e essa foi uma das melhores temporadas de todos os tempos. Naquele ano, a McLaren tinha dois grandes pilotos que promoveram um grande duelo na pista. Isso não deve acontecer agora. Lewis Hamilton é muito mais piloto do que Nico Rosberg. E agora, sem a pressão pelo título e para confirmar sua superioridade e com Nico levemente abatido pelo último vice-campeonato, Hamilton deve subjugar o companheiro. O britânico é, desde já, favorito a bater recordes de vitórias na temporada. A última tem