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Mostrando postagens de março, 2015

Os tipos de chuva

Os dias são, em sua maior parte, secos. O céu permanece nublado, com nuvens distantes que parecem mais feitas de algodão do que de água. A chuva chega repentinamente, sem hora marcada, em qualquer momento do dia. Em poucos minutos o céu fica negro e a água começa a cair, mas não cai de uma maneira normal. Não são gotas esparsas que molham o chão de maneira uniforme. A chuva caí com tanta força e intensidade que sempre parece atingir proporções bíblicas. As gotas formam uma densa cortina, que impede a visão do horizonte e as ruas logo se convertem em cachoeiras. Chove tanto, que a impressão é de que nunca antes na história da humanidade uma chuva assim caiu sobre o solo. Impressão que aparece todo dia, numa espécie de Déjà-vu aquático. A chuva acaba e em poucos minutos o céu volta a ficar azul com suas nuvens distantes e inofensivas. O dia que parecia fadado as sombras, logo se mostra surpreendentemente ensolarado e a chuva parece ter sido apenas uma delírio coletivo.

Uma temporada que promete ser sofrível

Tá certo, foi apenas uma corrida, um final de semana de disputa. Mas, já deu para perceber que a temporada de 2015 tem tudo para ser uma das piores da história da Fórmula 1. A Mercedes, por méritos próprios, fez um carro disparadamente melhor do que os outros. Não vai dar tempo de nenhuma equipe reduzir essa distância e a Mercedes só não ganhará todas as corridas do ano por conta de algum problema mecânico, ou uma corrida maluca qualquer. Ok, em 1988 a McLaren vivia exatamente na mesma situação e essa foi uma das melhores temporadas de todos os tempos. Naquele ano, a McLaren tinha dois grandes pilotos que promoveram um grande duelo na pista. Isso não deve acontecer agora. Lewis Hamilton é muito mais piloto do que Nico Rosberg. E agora, sem a pressão pelo título e para confirmar sua superioridade e com Nico levemente abatido pelo último vice-campeonato, Hamilton deve subjugar o companheiro. O britânico é, desde já, favorito a bater recordes de vitórias na temporada. A última tem

Akira

Sempre me lembrarei do dia em que fui conhecer a casa da minha tia em Florianópolis e reencontrei os cachorros da minha tia após seis meses. Em outros tempos eu via os cachorros diariamente e eles sempre pulavam em mim. Akira era o mais bobo de todos e sempre ia correndo em minha direção, quando eu abria o portão. Chegava arfando, de uma maneira que lembrava um dinossauro, diziam amigos meus. Chorava e me sujava com sua baba volumosa. Um dia, Akira entrou em um carro e foi para Florianópolis junto com a família. Dizem que cães não tem memória muito privilegiada, nem noção do tempo. Mas, naquele dia em Florianópolis, seis meses e dois mil quilômetros depois, Akira me reconheceu. Se levantou com toda a dificuldade que a idade já lhe impunha e se arrastou na tentativa de subir uma escada até onde eu estava, chorando como sempre. Obrigado Akira e bom descanso.

O dia em que tudo aquilo se realizou para o Athletic de Bilbao

Quem gosta de futebol geralmente tem um time pelo qual ele torce em toda e qualquer oportunidade. Os outros times podem ser mais ou menos odiados de acordo com uma série de fatores. E existem aqueles times contra os quais ninguém consegue ser contra. Nada é pior do que não ser odiado no futebol. Só não é odiado quem não ganha, quem não levanta taças, quem é um mero coadjuvante para conquistas alheias. Isso dói para o torcedor e deve doer ainda mais para aqueles que poderiam ser grandes, mas acabaram não sendo. Existem alguns times espalhados pelo mundo que poderiam ter se tornado alguma coisa, chegaram a ser alguma coisa mas em determinado momento da história se perderam. Viram seus adversários continuarem crescendo, enquanto ele permanecia estagnado. Passaram a viver de glórias esporádicas enquanto os adversários conquistam o mundo. A Portuguesa em São Paulo, o América no Rio de Janeiro, Minas Gerais e Pernambuco, o Ypiranga da Bahia, Tuna Luso do Pará, Ferroviário do Ceará. Div

Eu não queria ser Jakob Dylan

Eu não queria ser Jakob Dylan. Existem diversos motivos para não se querer ser Jakob Dylan. Não deve ser fácil ser filho do Bob Dylan. Não deve ser fácil porque as mais diversas fontes informam que o velho Bob não é das pessoas mais fáceis do mundo. Difícil saber se ele foi um pai presente ou não, mas é fato que escreveu Forever Young para Jakob, o que já não deixa de ser interessante. Mas se a história de Bob já é fascinante, com suas conversões e indas e vindas, acompanhar isso dentro de casa deve ser estranho. Mas ainda pior é ser filho de Bob Dylan e virar músico. Porque jamais haverá outro músico como Bob Dylan e a pressão deve ser terrível Sim, ser filho de Bob Dylan tem lá sua vantagem, de chamar a atenção da indústria. Um disco do filho do Bob Dylan por si só já é um acontecimento e desperta interesse, mesmo se o disco for uma porcaria. Mas, mesmo se for bom, muita gente jamais vai reconhecer méritos e ver apenas o nome como motivo para o interesse. Acontece isso com os

Birdman

Birdman, o filme ganhador do Oscar desse ano, é antes de mais nada, uma grande tiração de sarro com a indústria de Hollywood. Sobre o ridículo de filmes de super-heróis, as cifras milionárias pagas aos artistas, a idolatria besta. E não deixa de ser uma tiração de sarro do mundo do teatro. Com seus clichês, seus artistas que acreditam estar em um plano superior, os críticos que detonam peças sem ver. Uma tiração de sarro com o mundo atual, os Trend Topics, os "virais". Mas, além disso, Birdman é um filme sobre a tentativa de fazer sentido. Do artista rico e famoso, mas que quer provar que é um bom ator. As atrizes coadjuvantes realizando os seus sonhos. A filha que tenta escapar das drogas. Todos eles querem ser relevantes, mas 80% do mundo jamais vai conseguir ser relevante. Tudo isso filmado em um plano sequência eterno (se eu não me engano são apenas dois cortes de imagem no filme inteiro), boas atuações e muita piração. O final não deixa de ser surpreendente também e