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Mostrando postagens de 2012

Há 10 anos...

Dez anos é um tempo razoável na vida de uma pessoa. Tempo para se transformar em outra pessoa, viver em um outro mundo. Tempo razoável para mudar de opinião sobre várias coisas. Há dez anos que eu comecei a prestar atenção em música, escutando os discos disponibilizados para streaming, assistir MTV no período da tarde e a conhecer minhas primeiras bandas. Faço abaixo uma análise sobre quatro lançamentos daquele ano, que eu tive a oportunidade de escutar naquele ano e o que mudou na minha percepção daquela época. Não irei falar de discos como Yankee Hotel Foxtrot, Sha Sha ou Songs for the Deaf, porque eu simplesmente não os escutei naquela época. Oasis - Heathen Chemistry O que se falava: Os irmãos Gallagher, famosos por sua polêmica e pela música, lançam um novo disco, calcado na tradição do rock britânico e chupando Beatles até a medula. O que eu pensava: que os irmãos Gallaghers eram deuses e tinham lançado uma obra prima. Ou talvez nem tanto, porque eu já achava as

A batalha do livro

Ler um livro é uma batalha. Ao contrário de outras expressões artísticas populares, a literatura demanda algum tempo da sua vida. Um filme lhe custa duas horas da sua vida, um disco menos de uma. Um livro vai lhe custar alguns dias, mais de um mês às vezes. Vai lhe tomar um tempo da sua vida. Um filme bom irá te prender por algumas horas após o seu fim, mas a reflexão ainda passa. Uma boa música também, mas nos tempos modernos, você pode carregar ela com você. O bom livro irá lhe custar mais. No começo, você estuda o seu oponente. Lê com calma, sem saber aonde é que isso vai dar. Em algum momento, é provável que você possa desistir, olhando o longo caminho que ainda irá percorrer. Até que há um estalo. Aquele momento que você entra em um túnel, um estalo que te coloca em concentração total e você passa a ler cada página do livro como se sua vida dependesse disso. E é custoso interromper esse processo, porque há outras coisas que precisam ser feitas. Você passa o dia na expectativ

Os barcos e as palavras

E de repente lá estavam aquelas duas mulheres, remando em um barco, fugindo do quadro. Estavam lá mudando a minha experiência com museus. Nunca fui exatamente um fã de museus. Por mais que minha experiência com grandes museus esteja resumida ao Museu Imperial de Petrópolis. Talvez por isso, porque nunca fui exatamente um fã, um apreciador em observar mobílias antigas, por mais histórias que elas carreguem. Confesso também, que nunca me senti tentado a ver a Mona Lisa de perto. Museus também me trazem memórias modorrentas de viagens em família. De quando se para naquela cidade minúscula, na qual não se sabe o que fazer, até que se descobre que lá há um museu. Chega-se ao local para observar uma pequena coleção de roupas velhas e papéis que não dizem nada. Minha experiência com museus mudou para melhor quando conheci o Museu da Língua Portuguesa, em 2008. Uma ideia fascinante, um museu de palavras, elas, tão difíceis de explicar, que falamos sem conhecer sua origem, tão íntimas e t

Memória Futebolística

No dia 13 de dezembro de 1992, há 20 anos, o São Paulo conquistava seu primeiro título mundial. Vitória contra o grande time de Barcelona de então, de Stoichkov, Laudrup. Os gols de Raí se repetem em looping hoje na televisão, o primeiro com a grande jogada de Muller, o segundo em uma cobrança surpreendente de falta. O São Paulo tinha então um grande time. Não saberia dizer qual foi a data do jogo sem consultar em um livro ou na internet. Mas, trata-se de um dos jogos mais antigos que eu me lembro de estar assistindo. Me lembro de pouca coisa do título da Libertadores daquele ano. Sei que assisti os jogos e tinha noção do que acontecia, mas não me lembro do jogo em si. Lembro de alguns jogos do campeonato brasileiro de 1992, de uma derrota para o Vasco, ou do jogo final, mais pela que da arquibancada do Maracanã. (O jogo mais antigo que me lembro foi a final do Campeonato Carioca de 1991, Flamengo 4x2 Fluminense, com Super Ézio abrindo o placar e depois com Júnior acabando com o jo

Andei Escutando (40)

Badfinger – Airwaves (1979) : Imagine que o principal compositor da sua banda cometeu suicídio. Você seguiria o trabalho? Não, né? Pois o Badfinger resolveu lançar discos sem Pete Ham. Somado ao futuro suicídio de Tom Evans, isso me faz acreditar que Joey Molland é dos piores seres vivos do planeta. O disco em si, é fraco e mais uma razão para respeitarem o suicídio alheio. Melhores: Lost Inside Your Love e Love is Gonna Come At Last. Bert Jansch – When Circus Comes to Town (1995): O que mais me chama a atenção neste simpático disco é que a voz de Bert permanece praticamente a mesma de 30 anos antes, quando ele estreou. Melhores: Back Home e Morning Brings Peace of Mind . Joni Mitchell – Blue (1971): Não vou mentir: você precisa de um pouco de coragem e insistência para se acostumar com a voz aguda de Mitchell. Melhores: All I Want e Little Green . Moby Grape – 20 Granite Creek (1971): Mais ou menos. Melhores: Gypsy Wedding e Road to the Sun . Pearl Jam – Vita

Niemeyer

Não é preciso gostar de alguma coisa, para entender sua importância. Pode parecer piegas, mas é verdade. Posso não gostar de Picasso e de suas linhas inexplicáveis, mas admiro enquanto obra de arte. Entendo a complexidade de um quadro como guernica. Não era fã de Niemeyer e seus prédios abstratos de concreto. Acho Brasília monótona com seu excesso de concreto, sua igreja sonolenta. Gosto menos ainda dos prédios seguintes, inspirados em seu concreto armado. Não vejo graça na Pampulha. Mas, é difícil não reconhecer sua importância. A beleza do processo criativo em si. Sua criação a partir do nada. Assim como seu trabalho. De suas idas aos canteiros de obras mesmo após seu centenário. Não há como não admirar alguém que tem uma obra, construída em um século. Nada mal paragem comunista ateu, heim.

Balanço da Temporada 2012 da Fórmula 1

A última corrida da melhor temporada que eu vi da Fórmula 1, confirma este fato. A melhor temporada que eu já vi. Interlagos viu uma corrida maluca, cheia de alternativas. Vettel teve todo o azar do mundo: largada ruim, espremido pelo companheiro de equipe, atingido por Bruno Senna na primeira volta, caiu para o último lugar. Fechou a primeira volta na 22ª colocação e no final da sétima volta já era o sexto colocado. Ganhou 16 posições em 6 voltas, um feito impressionante no sabão que estava a pista de Interlagos, durante aquele chove não molha. Daí para a frente, ele contou com a chuva, com ataques de Kobayashi um pit stop completamente equivocada da Red Bull e outra troca de pneus demorada, que o fez cair para a 11ª posição. Teve que ultrapassar Kobayashi e Schumacher com a pista escorregadia para alcançar a sexta posição que lhe daria o título. Atuação sensacional contra um também sensacional Fernando Alonso. Mas, farei aqui uma avaliação da atuação de cada piloto ao longo desta

A melhor temporada da Fórmula 1?

Acompanho Fórmula 1 desde 1991, quando fiz 4 anos e ganhei um quadro com o calendário e os pilotos da temporada. Anoitei os vencedores e tenho o quadro afixado na minha parede até hoje. Nos últimos tempos tem ganhado força a teoria de que o campeonato de 2012 tenha sido o melhor de todos os tempos. Existem vários tipos de campeonatos. Existem aqueles em que o piloto corre sozinho para o título, como Mansell em 92, Prost em 93, Schumacher em 95, 2001, 2002 e 2004 ou Vettel em 2011. Existem aqueles em que o piloto abre uma vantagem no começo e passa o resto do ano administrando, como Senna em 91, Hill em 96, Alonso em 2005 ou Button em 2009. E existem aqueles campeonatos absolutamente disputados, são os melhores campeonatos. E é deles, os que eu acompanhei, que tentarei me lembrar aqui, divagando sobre a melhor temporada que já vi. 1994: Foi um ano confuso. Tudo desenhava para um embate épico entre Senna, na Williams, e Schumacher na Benneton, interrompido pelo acidente fatal do bras

As opções pós-Mano

Mano Menezes não é mais o técnico da seleção brasileira. Seu trabalho foi mediano, mas é difícil saber quem poderia ter feito melhor. O problema maior é com o material de trabalho. Enfim, quem poderia substituir Mano na seleção? Quem são os sete ou oito nomes falados por Andres Sanchez? Tite: O técnico do Corinthians está entre os nomes mais lembrados. Realiza atualmente o melhor trabalho no futebol brasileiro e seria aparentemente o melhor nome para dirigir a seleção. No entanto, seria louco em trocar um grande momento no Corinthians para entrar na fogueira da seleção brasileira. Além disso, Tite é famoso por fazer trabalhos de longo prazo, até implantar sua metodologia. Não seria um nome indicado para treinar um grupo uma vez por mês. Abel Braga: Atual técnico campeão brasileiro, talvez tivesse o perfil para trabalhar em uma seleção. No entanto, está prestes a encarar uma Libertadores com um elenco forte, brigando para ser campeão. É outro para quem não valeria a pena trocar um g

Andei Escutando (39)

Bert Jansch – Birthday Blues (1969): Arrastado. Melhores : Come Sing me a Happy Song e Promised Land . Blur – Think Tank (2003): Há algo de diferente em um disco do Blur. Quando você escuta, percebe que é o disco de uma grande banda. Mesmo tendo canções arrastadas, irritantes, há uma busca pelo diferente, pela construção do grandioso por vias incomuns, há um brilho que faz com que o disco seja agradável. Por mais que os discos da época de ouro do Britpop tenham feito mais sucesso, não tenho dúvida que essa busca alternativa dos últimos três trabalhos é que tornou o Blur uma banda respeitada. Melhores: Good Song e Sweet Song . Donovan – Fairytale (1965): Disco folk bacaninha. Melhores: To Try For the Sun e Oh Deed I Do. Elton John – Madmand Across the Water (1971): A música de Elton John sempre soa fora de tempo, escutada nos tempos atuais. Um rock com pianos, um pop com guitarras? Se fosse lançado em 2012, que público ele atingiria? Melhores : Levon e Tiny Dance

O rebaixamento do Palmeiras

O rebaixamento do Palmeiras, ontem, teve um quê de patético, como diria Nelson Rodrigues. O time foi rebaixado dentro de um ônibus. O drama palmeirense não teve um lugar. Não foi em Salvador, Belo Horizonte ou Porto Alegre. Foi em um ônibus nas proximidades de Itatiaia. O rebaixamento não foi em Volta Redonda, local do jogo contra o Flamengo. Quando a partida terminou empatada, o resultado praticamente decretava a queda, mas faltavam os acertos matemáticos, que só vieram com o empate da Portuguesa, quando o time estava dentro do ônibus. A falta de definição deixou o fim da partida ainda mais patético. Não vimos jogadores estirados no gramado, desejando a morte. Sem a imagens de crianças chorando, torcedores desesperados querendo arrancar o próprio intestino para se enforcar com eles. A imagem era de desolação, de não saber o que fazer. O rebaixamento do Palmeiras não teve drama, sofrimento transmitido pela TV. Tudo aconteceu dentro de um ônibus no meio da Dutra.

Sobre Lance Armstrong

(Será que algum jornal deu a manchete Lance Ilegal?) Pensei comigo mesmo: acho que Lance Armstrong deveria ser preso, se confirmada a sua farsa. O ciclista norte-americano era um dos maiores nomes do Esporte, de qualquer modalidade. Superou uma doença terrível, um câncer nos testículos, para vencer a Volta da França, principal competição da categoria por sete vezes, um recorde. Tratava-se da maior história do esporte mundial. Um dos maiores vencedores de sua modalidade com a mais incrível das superações. Some-se a isso, que o ciclismo é um esporte manchado pelo doping, talvez o esporte que mais sofra com o uso de substâncias ilegais. Nesse cenário, Armstrong era praticamente um superhumano, um superatleta. Estátuas suas deveriam ser erguidas em todas as praças públicas do mundo. Eis que toda a história foi por água abaixo, com a descoberta de que ele se dopava. Sim, e mais do que isso, que ele montou uma grande rede para fraudar os resultados dos exames antidoping. Coisa de soc

O artista é livre

A manchete era simples, mas chamou minha atenção. "Fãs querem que Plant toque mais Led Zeppelin". Robert Plant, lenda viva e vocalista do Led Zeppelin está tocando em São Paulo neste exato momento. Pelo o que eu li, no seu show ele toca cerca de 20 canções, sendo que apenas 7 são do Led Zeppelin. Sim, o LZ é o principal momento da sua carreira, mas Plant tem uma carreira justamente. Seu conjunto não lança discos há 30 anos e nesse período ele teve inúmeros projetos. Em 40 e poucos anos de carreira, o Led Zeppelin não ocupou um 1/3. Creio que nada seja mais natural do que ele dar espaço a tudo o que ele já fez em tantos anos. Os fãs também tem o direito de querer ver as músicas que mais gostam. Mas, não sei se o Robert Plant de hoje é o mesmo de 40 anos atrás. Talvez, o Plant de hoje não escute nada de rock, seu interesse esteja justamente em música indiana, marroquina. Talvez, no carro, ele escute músicas que ninguém imagina que ele escutaria. O artista, em uma carreira

As Horas Mortas do Horário de Verão

O primeiro dia útil após o começo do horário de verão pode ser o pior dia do resto de nossas vidas. Na noite anterior, o sono não veio como o esperado. Tudo porque você adiantou em uma hora o seu relógio, os seus relógios, mas não adiantou seu relógio interno. O sono veio no horário de sempre. O problema é que no dia seguinte o relógio tocou no mesmo horário de sempre. Ou melhor, no horário mecânico correto, o horário atualizado. Seu corpo não. O horário de verão tira uma hora da sua vida. E não repõe jamais.

O debate lá e aqui

E eis que durante essa semana eu acompanhei o debate entre os candidatos a presidente dos Estados Unidos. Eu nunca fui de dar muita importância para as eleições norte-americanas, que sim, são importantes, mas não acredito que têm o poder de mudar o mundo como as pessoas imaginaram. A vida da maioria das pessoas aqui do Brasil não é minimamente influenciada pelo embate entre democratas e republicanos. Mas este debate me prendeu. Barack Obama e Mitt Romney se enfrentaram diante do público. Sim, durante duas horas eles realmente se enfrentaram, confrontaram ideias diferentes, visões políticas divergentes, propostas diferentes. Geração de petróleo, produção energética, imigração, saúde, os mais variados temas. Foi um debate realmente. Me surpreendeu o fato de que Obama e Romney tinham opiniões divergentes. E eu falo de opiniões. Que ambos sabiam as propostas de seus adversários e sabiam no que se confrontar. Conseguiam citar trechos do plano de governo e as suas falhas. Não deveria fic

Andei Escutando (38)

Bert Jansch (1965): Escutar Bert Jansch é aquela típica coisa que lhe dá um ar de superioridade. Uma conotação de exclusividade, com o charme intelectual que só o folk tem. Ainda mais em um disco gravado só com o violão e de maneira amadora. E, para melhorar, o disco é muito bom. Melhor que o mais famoso Nick Drake, por exemplo. Melhores : Needle of Death e Oh How Your Love is Strong. Cheap Trick (1977): Uma banda cheia de truques vagabundos e clichês de hard rock. Riffs pesados, visual caricato, guitarras de quatro (!!) braços. Chato pra caramba. Melhores: Mandocello e Speak Now Or Forever Hold Your Peace. Idlewild – Warning/Promisses (2005): O Idlewild é uma bandinha. Faz algumas músicas boas, competentes, mas sempre na zona de conforto, dando a impressão de que qualquer um seria capaz de fazer igual. Sem graça. Melhores: I Want a Warning e As If I Hadn’t Slept. Lou Reed – The Blue Mask (1982): Um disco bem pesado, Lou Reed parece desesperado enquanto canta. As mú

O segundo adeus de Schumacher

O dia 10 de setembro de 2006 foi um dia diferente para a Fórmula 1, o dia em que Michael Schumacher conquistou sua 90ª vitória na categoria. Uma vitória que, somada ao abandono do líder do mundial, Fernando Alonso, colocou o alemão definitivamente de volta à briga pelo título mundial em um campeonato que parecia perdido após o começo arrasador de Alonso. Começo que parecia mostrar que Schumacher deveria se aposentar, pois não seria páreo para a nova geração. Aposentadoria, aquele era o assunto daquele dia 10 de setembro. Ao longo dos últimos meses e daquela semana, esse era o assunto que dominava a categoria. Será que Michael Schumacher, recordista em vitórias, poles, melhores voltas, pontos, pódiuns e tudo o que se possa pensar, iria se aposentar? Sua reação no campeonato de 2006 mostrava que ele ainda era competitivo. O clima era diferente. A vitória, na casa dos torcedores da Ferrari parecia ser a deixa final. Naquele dia, a Rede Globo quebrou seu esquema de transmissão para mos

As traves separadas

Olha a construção do novo muro e vejo que as traves estão separadas. Sim, as duas árvores paralelas localizadas no quintal da casa da minha tia, árvores que eu usava para demarcar o gol, quando eu era criança. Árvores sob as quais fiz mais gols do que Pelé e inúmeras defesas. As árvores estão sendo separadas agora por um muro. Uma para cada lado, por toda a eternidade. E daqui a 200 anos, as pessoas que passarem por ali, jamais imaginarão que ali, um dia, existiu um Maracanã.

20 anos sem Collor

O impeachment de Fernando Collor em 1992 é dessas lembranças que ficam claras na mente. Lembro de ter cinco anos e estar na casa da minha avó assistindo a votação dos deputados pela sua saída. Me lembro bem da vibração quando alguém votava sim e da reação negativa de quando alguém dizia ser contrário. Cada um que subia na tribuna para falar "não" ganhava automaticamente um carimbo de "corrupto na testa". Mas do que o dia em si, eu me lembro do período que antecedeu sua queda. Lembro daquele clamor popular pela sua saída, das pessoas de preto nas ruas e lembro da minha família, torcendo para que ele caísse. E não tenho dúvida, o clamor pela sua queda foi motivado pelo dia em que ele confiscou as poupanças, o que complicou a vida de muita gente. Por vezes, surge algum defensor de Collor que o classifica como um injustiçado, que nada jamais ficou provado contra ele e que ele foi derrubado pela mídia. De fato, a imprensa contribuiu para sua queda, da mesma forma

A Falta de Amor em Revolver

Os Beatles falavam apenas de amor. Romances bobos, declarações juvenis, histórias de amor. Tudo era amor. Mesmo nas melhores melodias. Yesterday era sobre amor. Mesmo nas melhores letras. Norwegian Wood era sobre um caso extra-conjugal, mas amor de alguma forma. Mesmo em temas mais amplos. In My life era sobre memórias, mas era sobre amor. The Word era sobre o amor universal, mas amor. Desta forma, não deixa de ser surpreendente que e1966 o amor convencional desaparecesse da vida dos Beatles. Algo que já havia aparecido no single Paperback Writter/Rain , vejamos, uma música de Paul sobre um novelista e outra de John, contemplando as maravilhas psicodélicas da chuva. E eis então, que Revolver começa com uma música irônica de protesto contra o pagamento de impostos, Taxma n. Impostos? Como um tema tão difícil é transformado em uma canção pop de três segundos, em que o Taxman se dispõe a taxar as ruas de quem dirige e os assentos, se você quiser sentar.  Na sequência temo

O Sino da Escola

Estava no trânsito, esperando uma brecha para acessar a Fernando Correa. Estava parado ao lado da escola da esquina, dentro do carro, distraído. Escutei aquele barulho, parecia uma sirene. Olhei pelo retrovisor, para os lados, em busca de uma ambulância, na expectativa de desobstruir o caminho. Notei que ninguém sequer desviou o olhar. Era apenas o sino da escola. Por algum motivo, o sino da escola é algo que ficou apagado da minha memória. Talvez sejam os anos da faculdade, de entrada livre em qualquer horário. Talvez seja apenas o acúmulo dos anos, quase oito anos longe de uma escola. Mas aquele sino soou como se eu nunca tivesse escutado algo parecido. Mas, sempre escutava. Mesmo que alguma vez já tenha perdido uma entrada, por estar longe e distraído. O sino fazia parte da rotina escolar. O sino que marcava o começo do dia, o sino do breve intervalo. O libertador sino da última aula da sexta-feira. Bons tempos. Ou não.

Andei Escutando (37)

Ben Folds – Way to Normal (2008) : Tenho a impressão de que aqui o Ben Folds tenta sair da melancolia da sua carreira solo para tentar voltar a fazer algo bem humorado, como na época do seu trio. O resultado é mais ou menos. Melhores : Cologne e Errant Dog Chico Buarque – Sinal Fechado (1974): Tenho certeza que Chico Buarque gravou este disco inteiro de covers só para colocar Acorda Amor , uma de suas mais cruas críticas a ditadura militar, no meio, dificultando a percepção da censura. Melhores: Acorda Amor e Festa Imodesta . Girls – Album (2009) : Veja só, o que é a natureza. Se fosse por esse primeiro disco do Girls, eu nunca mais procuraria nada da banda. Disco bem medíocre, com poucos momentos aproveitáveis. Melhores: Laura e Ghost Mouth . My Bloody Valentine – Loveless (1991): O My Bloody Valentine é uma das maiores farsas da humanidade. Anos e anos em que as pessoas falam sobre o grupo, sobre o shoegaze e tudo mais. Não dá pra negar que umas três canções são sen

Zanardi

Difícil falar isso, mas Alessandro Zanardi virou um personagem muito mais interessante depois que ele perdeu as pernas. Antes do terrível acidente que lhe vitimou as duas pernas, em setembro de 2011 na Alemanha, Zanardi era um piloto com uma passagem de sucesso na Formula Indy. Campeão duas vezes, resultados expressivos. Mas, o que pegava era seu desempenho na Fórmula 1, a categoria máxima do automobilismo. Uma passagem discreta no começo dos anos 90, quando era uma promessa, mas, correndo por equipes medíocres conseguiu apenas um ponto. Foi para os Estados Unidos e conseguiu dois títulos, 15 vitórias e a oportunidade de voltar para a Fórmula 1, ganhou uma chance na Williams. A Williams não era mais a potência de um pouco antes, mas tinha um carro competitivo. A grande dúvida, era se Zanardi repetiria o sucesso de Jacques Villeneuve, campeão nos Estados Unidos e na Fórmula 1, ou se repetiria o fracasso de Michael Andretti, também campeão nos Estados Unidos mas de pontos minguados

Guiding Light

As paraolimpíadas são sensacionais, é claro. Os jogos paraolímpicos mostram dia-a-dia exemplos de superação incríveis. O que você faria se não tivesse um braço, uma perna, a visão? Esses atletas poderiam ter escolhido ficar em casa reclamando da vida, mas foram a luta. As paraolimpíadas são para quem tem coragem. Destacar os nadadores, corredores, saltadores, jogadores, é óbvio, apesar de merecido, é claro. Mas se há alguém que sempre me chamou a atenção nessas competições, esse alguém é o guia dos cegos. Correr 100 metros em 12 segundos, 11 segundos é sensacional para um cego. Mas é sensacional para qualquer ser humano. Quantas pessoas no mundo conseguem correr 100 metros em 12 segundos? O guia é um atleta em potencial. Alguém que, talvez, se tivesse um treinamento adequado, poderia brilhar em uma Olimpíada. Mas não. Porque razões? Como ele chegou até essa situação? Ser um ótimo atleta que é um coadjuvante eficaz. Faz coisas sensacionais, mas não recebe nenhum reconhecimento, me

Félix +

Alguns personagens nascem para ser marginalizados pela história. Os Beatles fizeram sucesso APESAR do Ringo Starr e não com ele. Da mesma forma, muito se diz que a seleção brasileira de 1970 ganhou a Copa do Mundo apesar do goleiro Félix e não por causa dele. Uma injustiça que a vida comete com aqueles que eram bons, mas que não eram brilhantes, bons e cercados pelos ótimos. A seleção brasileira de 1970 ganhou todos os seus jogos e o seu ataque marcou impressionantes 19 gols nos seis jogos. É claro que a seleção entrou para a história por conta do seu ataque, de Pelé, Tostão, Jairzinho e Rivellino. Por conta de Gérson, Carlos Alberto, Clodoaldo, Piazza. Félix podia não ser genial, mas teve sua contribuição. A seleção teria ganho com um poste no seu lugar? Provável que não. Ao longo daquela competição, o Brasil sofreu 7 gols nos 6 jogos. Pode não ser um desempenho excepcional, mas era expressivo para a época. A vice-campeã Itália sofreu 8. Os alemães, terceiros colocados, sofreram 1

Andei Escutando (36)

Beirut – The Rip Tide (2011): O último disco de Beirut é, por assim dizer, mais convencional. The Rip Tide tem instrumentos mais convencionais, piano, violão. O grupo soa como uma boa banda que sabe utilizar bem os metais, mas não tem o charme épico dos dois primeiros trabalhos. Melhores: East Harlen e Port of Call. Ben Folds Five (1995) : Com um clima de festa esvaziada, esse deve ser o melhor disco do Ben Folds. Bem descontraído, bem humorado. Melhores: Underground e Philosophy . Bob Dylan – Empire Burlesque (1985): Sim, é difícil imaginar que qualquer um fosse capaz de lançar um disco bom em 1985. Mas, os anos 80 foram cruéis até demais com Dylan. Ele se mostra perdido entre tentar ser o mesmo de sempre e a tentativa de abraçar uma nova época. O instrumental é simplesmente pavoroso. Melhores: I’ll Remember You e Emotionally Yours . Girls – Father, Son, Holy Ghost (2011): Esse disco já transforma o Girls em minha nova banda favorita. Rock alternativo com melodias e

O Brasil Olímpico

Qualquer análise sobre a participação brasileira em Londres, tende a apontar o desempenho nacional como um fiasco. Concordo em termos, mas geralmente, não pelos motivos citados. O principal aponta para o Quadro de Medalhas. O Brasil ficou atrás de países com economias menores, e até qualidade de vida menor, como Irã, Cazaquistão, Cuba, Jamaica. Isso não significa muita coisa. O Brasil também ficou a frente do Canadá, Noruega, Suécia, Suíça, Dinamarca, países mais ricos. Nesse caso o que precisa ser visto é se o país tem o ganho de medalhas olímpicas como uma prioridade. Acredito que este não seja o caso da Noruega ou do Canadá. São países ricos, com altos índices de desenvolvimento, não devem ter um ouro olímpico como sonho de consumo. O Brasil tem. O Ministério do Esporte, as Confederações investem cada vez mais nos atletas de alto desempenho. E a partir daí que a análise precisa ser feita. Mesmo assim, ficar atrás do Cazaquistão, ou da Jamaica, não é um motivo de vergonha. Toda

Seis Match Points, Oito anos depois

Todas as vitórias são importantes. Mas, algumas são mais marcantes do que as outras. Algumas vitórias ganham significados maiores. É o caso da vitória da seleção feminina de vôlei contra a Rússia, na última terça-feira. Esse time ganhou a medalha de ouro nas Olimpíadas de Pequim, em 2008, perdendo apenas um set ao longo da competição. Mas, nem por isso ganhou o coração dos torcedores. A vitória na China foi um passeio, mas sempre há a dúvida sobre sua capacidade nos momentos decisivos. Quando a pressão aumenta, as meninas entregam. Essa sempre foi a avaliação. Uma espécie de maldição/desconfiança que tem um começo claro. Os seis match points desperdiçados na semifinal olímpica contra a Rússia em 2004. O time fazia uma grande campanha, ganhou os dois primeiros sets contra as russas, perderam o terceiro e chegaram ao cabalístico placar de 24x19 para fechar o placar. Uma vitória tranquila que se transformou em drama à medida em que as chances foram desperdiçadas miseravelmente possibi

O cavalo Big Star

Os olhos bateram e viram, o cavalo que liderava a prova do hipismo se chamava Big Star. Estrela Grande é um nome bom para um cavalo, um nome normal acho. Não acho provável que o cavaleiro fosse um fã da banda de Alex Chilton e Chris Bell. Pouco me importava. Para mim, o legado da maior banda que nunca foi grande estava ali representado. Para mim, era a chance do Big Star finalmente ser reconhecido, ficar para a história. Mesmo que fosse através de uma medalha olímpica. Estava eu então, torcendo pelo cavalo Big Star e seu cavaleiro britânico, cujo nome pouco importava. Big Star ajudou o time britânico a conquistar a medalha de ouro na prova por equipes. Bom, mas eu queria o brilho individual. E Big Star foi ótimo. Pulou todos os obstáculos na primeira eliminatória, repetiu o desempenho na segunda. Na terceira, idem. No tira-teima contra os holandeses pelo ouro coletivo, mais uma vez Big Star passou zerado. Chegou ao último dia como líder, apesar da armadilha de a pontuação ser ze

O Ouro de Zanetti

Quando Artur Zanetti foi impulsionado para alcançar as argolas, respirou e começou a sua série, ele só pensava no que teria que fazer. Pode ter pensado na sua vida, no seu esforço pessoal, em tudo o que ele fez na vida. Mas, ele estava concentrado apenas no que teria que fazer. Zanetti era o atual vice-campeão mundial da prova, mas as pessoas não sabiam disso. Ele brigava por uma medalha, mas a grande maioria das pessoas nem imaginava. Zanetti não tinha sobre ele a pressão que colocaram sobre os irmãos Hypólitho, Daiane dos Santos e tantos os outros. Quando Zanetti segurou nas argolas, a televisão não estava na sua casa, mostrando os familiares com camisetas com sua foto estampada. Ele não era a esperança do Brasil, a medalha desejada, a medalha certa. Era apenas ele, ele e o seu trabalho. Como não tinha a possibilidade do fracasso, foi tranquilo para o ouro. Agora, pobre Zanetti. Se antes não tinha apoio algum, treinando em aparelhos feitos pelo pai, irá virar uma estrela. Ao ch

Bolt, o raio

O ano era 1996 e o canadense Donovan Bailey venceu a prova dos 100 metros do atletismo, com o tempo de 9s84. Novo recorde mundial, marca impressionante que ficou em minha cabeça. Correr abaixo dos 9s9, era para os bons. Abaixo dos 9s8 era dos gênios. Ontem, em Londres, cinco atletas correram abaixo dos 9.9. Quatro superaram a marca de Donovan Bailey, três abaixo dos 9.8. Mas, apenas um ficou abaixo de 9.7. 9.63 foi o tempo de Usain Bolt. Ele não cruzou a linha batendo no peito como fez ao quebrar o recorde mundial em 2008. Não fez os 9.58 de 2009. Mas dominou seus adversários. Na prova mais veloz da história, ele foi o melhor, não deixou dúvidas. Ver Bolt correndo é um privilégio para todos. Menos para os seus concorrentes.

A derrota de Cielo

Quando os caracteres mostraram que César Cielo havia batido na terceira colocação, a sensação foi de derrota. Ok, era uma medalha de bronze, mas a sensação foi a de perder uma Copa do Mundo. Aquela derrota que te deixa incrédulo diante da televisão, com aquela expectativa de que tudo tenha sido um engano. Esperando que quando você voltar do banheiro a televisão estará mostrando que não foi isso o que aconteceu. A derrota de Cielo foi a derrota de um ídolo, foi a queda de um super herói. Trouxe aquela triste sensação de que não, ele não era invencível. Que ele poderia ser batido também. Todos podem, claro, mas é algo que não gostamos de acreditar. Talvez Cielo não consiga chegar até as Olimpíadas de 2016 e o bronze nos 50 metros tenha sido a sua última participação nos Jogos. Ele terá 29 anos no Rio de Janeiro, idade avançada para uma natação cada vez mais formada por jovens e adolescentes. Mas, por mais que o ignorante e cruel público já queira taxar Cielo de perdedor, ele já tem

Lembranças Olímpicas II

A medalha de ouro conquistada por Sarah Menezes logo no primeiro dia das Olimpíadas é uma raridade para o Brasil. O país sempre conquistou medalhas nos esportes coletivos, que são decididos nos últimos dias da competição e também em esportes como o Iatismo, que tem sua decisão na sua segunda semana. Nas primeiras semanas, as principais medalhas são distribuídas em esportes que o brasileiro nem conhece. Exceção feita ao judô e a natação. A natação nos oferece medalhas eventuais - só Cielo já conquistou um ouro - e o judô tem medalhas com frequência, mas nem sempre a principal. A medalha de Sarah Menezes, aliás, é inédita. Nunca o Brasil havia conquistado uma medalha de ouro no primeiro dia. Normalmente, os brasileiros terminam a primeira semana com alguns bronzes e a sensação de que nenhuma medalha de ouro será conquistada é sufocante. Nos Jogos Olímpicos de Sidney em 2000, foi ainda pior. A esperada medalha não veio no judô - duas pratas. Depois não veio no vôlei de praia, certeza