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Mostrando postagens de 2013

Terezinha

Durante um ano da minha vida eu tomei injeções todos os dias, incluindo domingos e feriados. Fui uma criança alérgica e asmática, com quase 100% de aproveitamento naquele exame de alergia. Minha primeira infância foi marcado por visitas a médicos, internações e faltas de ar. Até conhecer um médico alergista e começar um tratamento que envolvia vacinas diárias. Tratamento que me curou. O nome do médico eu não me lembro, mas quem me aplicava as injeções se chamava Terezinha. Naqueles idos de 1990 e pouco, não deveriam existir muitas farmácias no Coxipó e a Drogaria Coxipó era a mais perto de casa. Aliás, Drogaria Coxipó é apenas o jeito de falar. Todos a conheciam como a Drogaria da Terezinha, um ponto de referência de uma personalidade do Coxipó. Durante aquele ano, toda vez Terezinha me perguntava em qual lado eu preferia a injeção e ela a aplicava. Ela tinha uma mão reconhecidamente leve e talvez isso tenha contribuído para o fato de que eu nunca tive medo de agulha. Foi assim tod

Avaliação dos grupos da Copa 2014

Antes, um parêntese inicial: Como uma boa entidade que entende de negócios, mas não de futebol, a Fifa contribuí para avacalhar um pouco a Copa do Mundo. Sempre existem grupos mais difíceis do que outros, mas nesta Copa parece sacanagem. Alguns grupos tem até três times que poderiam sonhar em chegar nas semifinais, enquanto outros são formados totalmente por equipes que parecem talhadas a eliminação na primeira fase. O motivo? O critério para escolha dos cabeças de chave. Uma vez que a Copa do Mundo acontece a cada quatro anos, acho muito mais justo que se premiem as seleções que foram melhores ranqueadas ao longo desse período. A Suíça e a Colômbia jamais poderiam ser cabeças de chave. A Itália jamais poderia deixar de ser. (Outra coisa: se for para usar o ranking, que se utilize o ranking do começo ao fim, terminando com essa divisão geográfica que coloca Costa do Marfim e Argélia no mesmo nível). Grupo A : Brasil, Croácia, México e Camarões. O Brasil caiu num grupo tranquilo. Não

Barba Ensopada de Sangue

Um homem sem nome chega até uma cidade de pessoas sem rostos. Carrega a dor de ter perdido sua namorada para o próprio irmão, o peso do suicídio noticiado de seu pai e a cadela que seu pai deixou. Carrega também a dúvida sobre o que aconteceu com seu avô, morto nesta cidade (Garopaba), em uma situação muito estranha e cuja morte se transformou num tabu, incapaz de ser apagada pelo tempo. Barba Ensopada de Sangue é a jornada épica deste homem sem nome, recomeçando a vida num lugar em que não é bem-vindo, movido pelo mistério sobre a morte do avô que nunca conheceu. Mas, mesmo quando este mistério é resolvido, a história não acabada. Para mim, o livro é sobre encontrar seu destino. As discussões entre o homem sem nome e sua ex-namorada sobre o livre-arbítrio e o determinismo acabam por ser o plano de fundo da história. Todos buscam seu destino, mesmo quando se está escolhendo o que se quer. As coisas simplesmente acontecem. O avô malvisto, o pai suicida, o irmão traíra, a ex que ar

Antes que tu conte outro disco melhor

Tenho que dizer que eu mesmo tenho um preconceito com o rock nacional. Com o tempo, elaborei uma explicação para isso que é relacionada ao ritmo dos idiomas. Acredito que o rock combina melhor com a fluência da língua inglesa, da mesma forma que o samba fluí em português. Os meus discos favoritos do rock nacional são aqueles em que as letras casam melhor com o ritmo. Não acho que as letras em português fiquem boas com o rock com um pé na distorção, vocais abafados. Me irrita não entender o que está sendo cantando. Assim sendo, o Apanhador Só acertou o ritmo e seu segundo disco. Antes que tu conte outra , é o melhor disco do ano que eu escutei, em qualquer idioma. Se a estreia homônima do grupo gaúcho é um disco bom, mas bobinho, Antes que tu conte outra é um disco denso, cheio de detalhes, letras enigmáticas e que melhora a cada audição. Não é daqueles trabalhos de consumo rápido e descartável. A cada vez você descobre alguma coisa nova e as músicas entram melhor nos ouvidos, tor

Santos

Gilmar; Djalma Santos, Bellini e Nilton Santos; Orlando, Zito; Garrincha, Didi, Vavá, Pelé e Zagallo. Acrescente De Sordi, titular nos cinco primeiros jogos da campanha, ausente apenas da final. O primeiro a partir foi Garrincha, vítima do alcoolismo em 1980. Didi, o melhor jogador da copa de 58, morreu de câncer 2001. O artilheiro Vavá sofreu um infarto em 2002 e em 2010 foi a vez de Orlando. Já 2013 foi cruel. Djalma Santos invejava pela sua saúde, mas não resistiu a uma pneumonia em 23 de julho. No dia 24 de agosto De Sordi morreu e Gilmar também se foi no dia seguinte. E na última quarta-feira, 27 de novembro, Nilton Santos morreu aos 88 anos. A Enciclopédia do Futebol, o maior lateral esquerdo de todos os  tempos, um revolucionário da posição. De tantas jogadores do passado, Nilton Santos é um daqueles que sempre me pareceu uma entidade. Poucas vezes um jogador foi tão unânime, ainda mais em uma posição coadjuvante do futebol. Nos últimos anos sofria com o Alzheimer e finalm

Balanço da Temporada 2013 da Fórmula 1

A temporada 2013 da Fórmula 1 terminou ontem em Interlagos, em uma corrida que resumiu o que foi a temporada. Sebastian Vettel dominante, em uma Red Bull dominante, com Fernando Alonso fazendo seus milagres e a Mercedes fogo de palha. Abaixo, uma avaliação da atuação dos pilotos em 2013. Sebastian Vettel: Temporada consagradora. Igualou o recorde de vitórias em uma temporada, com a incrível sequência de nove vitórias nas últimas nove corridas. Mais, venceu 11 das últimas 13 corridas do ano, massacrando a concorrência após um começo de temporada equilibrado. Quando a Red Bull não está bem, Vettel corre para os pontos e não se afasta dos líderes. Quando a Red Bull está bem, não dá para ninguém. Muitas de suas nove vitórias finais foram conseguidas de maneira humilhante, abrindo uma vantagem esmagadora sobre a concorrência logo no começo, para depois administrar o resultado. (A corrida de Cingapura foi especialmente humilhante, ele era 2 segundos mais rápido por volta em relação aos out

Memórias do GP do Brasil

Acompanha Fórmula 1 desde quando tinha quatro anos, ou seja, desde 1991. Nesse período então, já acompanhei 22 temporadas, 22 grandes prêmios disputados no Brasil. O que será disputado amanhã, será o 23º, no fechamento da 23ª temporada. A corrida no Brasil sempre é um evento especial, daqueles que até quem liga mais ou menos para as corridas acaba acompanhando. Até porque, a corrida sempre acontece ali, bem perto da hora do almoço. A seguir, minhas memórias sobre essas 22 corridas (quando elas existirem). 1991: Lembro de ter assistido a corrida e de que Ayrton Senna a venceu. Mas, sinceramente, não lembro de mais nada, sobre a situação da corrida. Acredito que estou cheio de memórias adquiridas sobre o problema no câmbio, a rodada do Mansell, a perseguição do Patrese, a chuva. Mas, da hora mesmo, não lembro de nada. 1992: Mansell ganhou de maneira fácil. Mas não tenho nenhuma recordação em especial. 1993: Agora sim me lembro bem. Prost liderava, a Williams tinha um carro de out

Os ninfomaníacos do 401

- Nesse banheiro dá para escutar tudo o que as outras pessoas fazem no quarto do lado - comentei com minha namorada. - Sim, escutei eles fazendo sexo. - Bem... deviam ser outros hóspedes, porque eu escutei uma mãe conversando com a filha em espanhol. Bem, pelo menos era melhor imaginar isso. Não era agradável pensar em pais que faziam sexo no banheiro enquanto a filha lia gibi no quarto. A noite, escutei uma pessoa assoando o nariz e uma voz falando em português. Cheguei a conclusão de que a janela do banheiro dava acesso a uma espécie de duto de ar, que ligavam vários banheiros daquele lado do hotel. Assim sendo, existia um quarto com um casal fazendo sexo, outro com uma menininha falando em espanhol com a mãe, outro com pessoas assoando o nariz e por aí vai. Estávamos no quarto andar do Hotel London Palace, na calle Rio Negro em Montevidéu. Bem localizado no centro da cidade, com quartos confortáveis e um café da manhã sensacional. Sofre com os banheiros, que ficam encharcados

Sobre o turismo lá e aqui

Estava ano passado em João Pessoa, simpática capital da Paraíba. Entre as indas e vindas para a praia, planejávamos conhecer também as outras atrações da cidade, como o Centro Histórico, o Farol de Cabo Branco e o Bolero do Ravel de Jurandir do Sax na Praia do Jacaré. Perguntamos sobre como ir até esses locais no hotel (ótimo hotel, aliás) e recebemos uma lista de uma empresa turística, com o valor dos passeios para vários lugares. Quer conhecer o belo centro histórico de João Pessoa? Contrate um passeio Depois, acabamos conhecendo um taxista muito gente boa, que nos levou para um City Tour mais em conta e ainda nos disse qual ônibus poderíamos pegar para chegar até o Farol do Cabo Branco. No Brasil, o turismo vive muito nessa cultura do passeio. Para tudo há um passeio. Em João Pessoa mesmo, não conseguíamos ficar um minuto na praia sem que aparecesse alguém oferecendo um passeio para as praias do sul, um passeio até recifes no meio do mar. Passeios, passeios. Tudo bem, eu s

O amor ao clube e o preço do ingresso

Aproximadamente 37 mil pessoas, 32 mil pagantes, empurraram o Fluminense para um vitória dramática contra o São Paulo. O resultado é fundamental para as ambições do clube carioca de escapar do rebaixamento para a segunda divisão. Antes contra o Náutico, em uma quinta-feira de véspera de feriado, 26 mil pessoas também compareceram ao Maracanã em outra vitória. O público de cerca de 30 mil pessoas pode não ser bom o suficiente, uma vez que o Maracanã comporta mais de 70 mil torcedores. Mesmo assim, as 56 mil pessoas que pagaram ingresso para ver os dois últimos jogos do Fluminense, praticamente dobraram a média de público dos confrontos anteriores do tricolor carioca. O motivo para isso? O preço do ingresso caiu drasticamente, para 10 reais. O motivo desse preço? Justamente a luta da equipe contra o rebaixamento e a necessidade de lotar o estádio. Na reta final do Brasileirão 2013, podemos observar um fenômeno interessante. A presença marcante e apaixonada da torcida das equipes que

Vicente Lenílson, o outsider

A imagem é famosa e é um dos grandes momentos do esporte brasileiro. Final do revezamento 4x100 nos jogos olímpicos de Sidney em 2000. Claudinei Quirino recebe o bastão na terceira colocação e em uma arrancada fulminante, ultrapassa os cubanos e conquista o segundo lugar para os atletas brasileiros. Na madrugada brasileira eu comemorei. Em uma edição olímpica na qual o Brasil decepcionou, sem nenhuma medalha de ouro, a prata no revezamento foi o grande momento nacional. Confira a emocionante narração. A arrancada de Quirino simbolizou a conquista. Ele era de fato o principal corredor brasileiro e sua arrancada eclipsou a atuação de André Ribeiro, responsável por colocar o Brasil na briga pela medalha. Eclipsou ainda mais a atuação dos outros dois atletas, Édson Luciano e Vicente Lenílson, o responsável pela partida e que correu a final com uma lesão na virilha. Minha memória esportiva sempre me fez lembra do nome de Vicente. Encontrei-o neste feriado da proclamação da república,

O Uruguai de Pepe Mujica

Nos últimos tempos, José “Pepe” Mujica se transformou em um ícone mundial. Simpático, carismático, com boas ideias e discursos bons e bonitos, Mujica parece ser aquele avô que todos nós gostaríamos de ter, o professor que queríamos ter encontrado em algum momento, uma pessoa com quem poderíamos tomar um café e filosofar sobre a vida. Acontece que este alguém está na presidência de um país, o pequeno Uruguai, o que dá projeção mundial as suas falas. Aconteceu no épico discurso feito na ONU. Enquanto todos discutiam questões chatas, Mujica perguntava, afinal, o que queremos da vida? Mujica é um presidente incomum. Para começar, é assumidamente ateu. Não se veste com a pompa e circunstância que qualquer auxiliar de vereador tem. Utiliza suas botas velhas e seu casaco surrado. Dispensou a residência oficial dos presidente para continuar morando em sua chácara nos arredores de Montevideo ao lado de sua mulher e de uma cadela manca, enlouquecendo os seguranças. Pepe dispensa protocolos e

"Belos Dias", bela tarde para alguns

Compramos nossos ingressos e nos sentamos em um banquinho, esperando pelo início da sessão. Começamos a olhar em nossa volta e percebemos que estávamos cercados por velhinhos e velhinhas. Eles já estavam lá quando entramos na Reserva Cultural em São Paulo, mas não tínhamos percebido o fato. Aos poucos, fomos nos dando conta de que eles também estavam esperando o início da sessão de "Os Belos Dias" (Les Beaux Jours), da diretora francesa Marion Vernoux. Se tivéssemos analisado bem o cartaz... Se há alguma coisa fascinante em São Paulo é a oferta de programas culturais que a cidade oferece, ainda mais para quem mora na distante Cuiabá. Tudo bem que cabem 20 Cuiabás dentro de São Paulo, mas não deixa de ser impressionante perceber que a capital paulista tem mais salas dedicadas aos cinema fora do circuito do que todas as salas de Cuiabá para os blockbuster. Se lá é possível escolher onde ver um filme grego, aqui temos que torcer para que um filme melhorzinho seja exibid

Arte Moderna

Logo ao entrar no primeiro andar de exposições do Pavilhão da Bienal no Parque do Ibirapuera em São Paulo, nos deparamos com um pequeno espaço vazio onde um segurança estava sentado, olhando entediado para o chão. Comentei com minha namorada "veja só, esse segurança representa toda a monotonia da sociedade moderna diante do trabalho maçante". Bem, era uma brincadeira, o guarda não participava da exposição, ou como eles dizem, não representava uma instalação. Mas, até que poderia. Entre os fatos que ocorrem no ano da graça de 2013, a Bienal de Arte de São Paulo não está incluída, porque ela acontece nos anos pares desde 1994. Antes, ela era realizada nos anos ímpares, mas por algum motivo, o amaldiçoado ano de 1993 não organizou a mostra. No entanto, neste ano de 2013 eles resolveram organizar uma compilação, um Best Of, um Greatest Hits com tudo o que aconteceu nas 30 edições da Bienal que já foram organizadas. Tanto, que o nome da mostra é 30 x Bienal. O x significando &qu

O fator uruguaio

O Uruguai definitivamente não tem mais dinheiro do que o Brasil. Não teria espaço para isso, mão de obra, nem nada. O Uruguai tem apenas bois que produzem uma carne admirada no mundo inteiro, além de inúmeros produtos derivados do leite. O doce de leite uruguaio é fenomenal. O queijo também. E o iogurte. Pouco falado, mas que não existe nada parecido a isso no Brasil. Tomar um iogurte brasileiro após um uruguaio chega a ser decepcionante. Enfim, o Uruguai sabe cuidar do seu gado. Ah, eles também tem vinhos. O Uruguai não tem dinheiro, apesar de uma pesquisa revelar que o cidadão médio uruguaio é aquele que mais tem gastos com supermercado em um ano. Uma taxa muito maior do que a de qualquer outro país da América do Sul e isso talvez explique a sensação de que tudo saí muito caro no Uruguai, mesmo com um real valendo nove vezes mais do que um peso uruguaio (acho que isso tem a ver com o fato de que os uruguaios descobriram o turismo, principalmente o turismo brasileiro). Mas, enfim no

O Casal do Ponto de ônibus

*Artigo que eu gostaria que fosse melhor para o site do Centro Burnier. Foi no dia do casamento comunitário, realizado em meados de setembro passado. Eu estava passando em frente ao pavilhão da Acrimat, onde a cerimônia coletiva havia sido realizada algumas horas antes. Foi ali que eu os vi, quando já não havia mais resquícios do evento, exceto alguns poucos convidados que iam embora, ao lixo que restava no chão e os técnicos que desmontavam o palco e a iluminação. Foi ali que eu vi um casal de noivos abraçados no ponto de ônibus. Ele de terno e colete, ela de vestido branco e tudo mais. Provavelmente deviam estar esperando o ônibus para voltar para casa e sabe-se lá onde é que eles moram e quanto tempo iria demorar para que o ônibus que eles esperavam finalmente passasse, afinal, era um sábado a noite. Mas ali, na espera, eles estavam juntos para o começo de uma nova vida a dois. Uma pequena dificuldade de tantas outras que aparecem no caminho. O casamento é um evento marcado pe

Os discos nota 7 do Franz Ferdinand e Travis

O Travis está velho, não dá pra negar. Veja que o seu vocalista Fran Healey parece estar beirando os 60 anos. No último mês eles lançaram seu sétimo disco de estúdio, Where You Stand . Um disco nota 7. Discos nota sete são aqueles que passariam de ano no colégio, com alguma tranquilidade, mas sem nenhum brilho. Na verdade, eles correspondem a 80% dos discos lançados no mundo atualmente. No caso do Travis, isso não é tão ruim. Depois do pavoroso Ode to J. Smith lançado em 2008 e que era recheado de canções ruins e insossas, lançar um disco mediano é uma ótima notícia. Parece claro que eles nunca mais chegarão aos dias do brilhante The Man Who , então é bom se contentar com algumas canções agradáveis e bons refrãos. Pelo menos isso. /// O Franz Ferdinand não está velho. Alex Kapranos continua parecendo jovem, com seus clipes contraculturais e suas capas estilo... ahn, Gestalt. (Uma breve curiosidade. Alex Kapranos tem 42 anos. Isso faz com que ele seja 1 ano mais velho do q

Que som é esse cara?

A mudança de sonoridade de uma banda é um processo natural. Todos nós mudamos a cada dia, ganhamos nossas referências em nossas vidas e, para um artista, é natural que essas mudanças apareçam no seu trabalho. No entanto, existem algumas bandas que extrapolam essa situação. Grupos, dos quais eu posso não ser exatamente fã, mas que ao escutar uma música nova eu penso: o que é isso cara? O que você estão fazendo com vocês próprios? Maroon 5 Eu estava no meu primeiro ano de faculdade e o Maroon 5 fazia enorme sucesso no Disk MTV, graças ao hit chiclete This Love . Um pop de qualidade, com alguma influência de soul, você escutava uma vez e ficava com aquilo na cabeça durante o resto da sua vida. Não era algo que eu gostasse, mas pelo menos não ofendia meus ouvidos. Diria que era uma música simpática. Curiosamente, This Love fazia parte de um disco de 2002, que por algum motivo demorou três anos para estourar. Na carona do sucesso desse amor , o Maroon 5 ainda emplacou a irritante She

Rush - No Limite da Realidade

Sempre que algum filme "baseado em fatos reais" chega ao cinema, há uma imediata repercussão entre os entendidos do assunto que listam os fatos pouco confiáveis no filme. Aconteceu recentemente, por exemplo, em Argo. Como eu não sou um entendido da maioria dos assuntos que os filmes abordam, eu não tenho muitas críticas. Apenas admiro o trabalho, quando ele é bom e digo entender a liberdade autoral do artista. "Rush", que no Brasil ganhou o péssimo complemento "no limite da emoção", narra um filme sobre um assunto no qual eu sou entendido: Fórmula 1. É um relato da disputa pelo título mundial de 1976, entre Niki Lauda e James Hunt. Aliás, mais do que isso, é um filme sobre a rivalidade mortal entre os dois pilotos. E ai que, eu passei a me sentir como os entendidos sobre os assuntos de tantos outros filmes. Vamos direto ao que me incomoda no filme: James Hunt é colocado em um patamar muito acima do piloto que ele realmente foi. Hunt era um piloto rápid

Os cães gêmeos da rua sem nome

Há uma rua em Várzea Grande, cujo nome eu não faço a menor ideia, onde vivem dois cachorros gêmeos. Não é uma rua muito famosa e movimentada, mas ela está mais popular neste momento, por conta dos desvios provocados por obras. Para mim, essa rua sempre foi popular por conta dos dois cachorros idênticos. Imagino que não existem cachorros gêmeos idênticos. Eles sempre nascem em ninhadas grandes, com cinco, seis irmãos, dez irmãos. Não sei quantos irmãos tem os gêmeos da rua sem nome, mas sei que os dois sempre estão lá. Brancos, com manchas continentais marrons pelo corpo, porte pequeno. De dentro do carro, parecem ter o mesmo tamanho. De dentro do carro, os vejo deitados na porta de uma casa. Não sei se moram por lá. Quando chove, eles se refugiam em uma área coberta, quando está frio eles se enrolam perto da porta. Não imagino que eles tenham uma rotina muito agitada. Eles não são desses cachorros que correm atrás dos carros. Eles sempre estão parados na porta, exibindo sua semelha

Basquete Brasileiro: da possível ascensão até o fundo do poço

O dia 7 de setembro de 2011 foi um dia histórico para o basquete brasileiro, dia que possibilitou enormes referências a palavra "independência". Naquele dia jogando pelo pré-olímpico, a seleção brasileira de basquete derrotou a argentina por 73x71, no que talvez tenha sido a primeira vitória dos brasileiros sobre os argentinos em um jogo duro, com as equipes jogando com suas forças máximas (A Argentina tinha Scola, Ginóbili, Prigioni e Delfino) em muito tempo. Para aumentar o tamanho do feito, o jogo foi na casa dos argentinos, em Mar del Plata. O jogo daquele 7 de setembro foi digno dos grandes jogos do basquete. Tenso, defesas fortes. Partida que consagrou Marcelinho Huertas e também Rafael Hettsheimer, na maior atuação de sua vida. A participação no pré-olímpico foi redentora: uma fase inicial com vitórias apertadas e uma segunda fase brilhante. Além de derrotar os argentinos, o Brasil atropelou Porto Rico, Panamá e Uruguai. Depois, conseguiu derrotar a República Dominic

Sapato Abandonado

Passo pela rua e vejo um sapato abandonado no meio do canteiro central. Não sei dizer qual era o modelo, mas era um sapato masculino, estilo social, feito de couto ou alguma imitação. Apenas um pé estava abandonado. Desde criança, sapatos abandonados na rua sempre me chamaram a atenção em um misto de curiosidade e melancolia. Quem será essa pessoa que deixou seu sapato no meio do canteiro central? Esse chinelo no meio-fio? A pessoa não teve tempo para voltar e pegar? Como é que alguém chega descalço em casa, ou com apenas um pé? Sapato não é algo simples de se perder. Não é um brinco que pode ter caído, um relógio que pode ter sido furtado. Não se perde um calçado impunemente. E como tem sapato nas ruas. Sapatos, tênis, chinelos, sandálias, dos mais variados tamanhos. Seriam eles de pessoas que foram atropeladas? Não sei. Nunca saberei.

Questão de Segurança

Passo por um carro de uma empresa de segurança, um Uno Mille, um carro que talvez não passe uma ideia muito grande de segurança. O carro é adesivado com a logomarca da empresa e a foto de um de seus seguranças. Um negro alto, corpulento, cabeça raspada, mal encarado. Ele veste uma camisa azul e segura uma espingarda contra o seu próprio corpo. O tipo de pessoa que é um bom segurança. Penso por um momento nesse esterótipo usado nas propagandas. Talvez o modelo da foto seja apenas um pai de família que não sabe dar um tiro e não conseguiria matar uma barata. Mas ele parece um segurança, um cara que é melhor você não brincar com ele, porque ele pode acabar com você. Eu poderia ser um ótimo atirador e um estrategista da segurança pessoal. Mas ninguém olharia para mim e se sentiria seguro. Penso que os seguranças de filme não são necessariamente negros, altos, corpulentos, cabeça raspada, mal encarados. Eles são mais parecidos com o Kevin Costner. Um negro, alto, corpulento, cabeça ra

O que há onde há fumaça?

Cuiabá é um cidade com um relevo curioso, de tal forma que você invariavelmente passa por um lugar mais alto e tem uma ampla visão do entorno. Até por conta desse relevo, as ruas de Cuiabá não são retas e não formam quadras perfeitas, para desgosto de Lúcio Costa. Cuiabá também é uma cidade que sofre com um longo período de estiagem, época em que as queimadas urbanas se sucedem interminavelmente, provocando um caos de fumaça. Quase sempre você está no topo de um morro e vê um desses focos de calor* e começa a imaginar de onde vem essa fumaça. Mas, isso é impossível, com raras exceções. Com o tempo, aprendi que a fumaça não é tridimensional e é impossível ter qualquer sensação de profundidade ao olhar seu rastro. Simplesmente não dá pra saber se aquilo que vemos é um fiapo de fumaça atrás do prédio do outro lado da rua ou se é um campo de futebol pegando fogo do outro lado da cidade. O Morro de Santo Antônio finalmente se revelou um vulcão adormecido ou é apenas uma ilusão de ótica?

Crises do Jornalismo

Tenho para mim a impressão de que o jornalismo está em uma crise eterna. Certa vez li um livro de Gay Talese, que ele falava sobre a crise do jornalismo nos anos 60, quando da popularização da televisão. Talese citava o atual momento crítico de alguns anos atrás, pelos mais diversos motivos. Desde que entrei na faculdade de jornalismo em 2005, a crise sempre foi discutida e o fim do jornal impresso sempre esteve marcado para o próximo mês. Acho que não seria possível criar verbetes na Wikipédia sobre a crise de 2006, ou a crise de 2009, ou a crise dos intermediários em 2013. É a mesma crise, uma eterna crise. Mas, enfim, digo duas coisas que me irritam na cobertura jornalística atual. Amarildo sumiu no Twitter bem antes de ele sumir na Rede Globo ou nos grandes portais. Amarildo já era procurado no Facebook muito antes de passar no Jornal Nacional. Tenho impressão de que os principais veículos não se adaptaram a essas manifestações populares de junho, que pressionaram também a im

Polêmicas sobre o Eixo

Pablo Capilé se transformou em um personagem central das discussões nessas semana, depois de sua entrevista ao Roda Viva. Capilé é daqueles tipos ao qual ninguém se mantém neutro. Ou amam, ou odeiam. Um Silas Malafaia, um Galvão Bueno. Sua entrevista no Roda Viva foi assim. Eu achei que foram 90 minutos de tergiversação diante de uma bancada experiente, mas que não tinha a menor ideia do que é que estava fazendo ali.  No meio de tantas matérias e polêmicas, ele deu uma entrevista ao UOL . Que rapidamente me fez lembrar de uma entrevista dada no distante janeiro de 2010, para O Inimigo . No geral, as entrevistas são muito parecidas, respeitando a passagem do tempo para o desenvolvimento de uma ideia (Aliás, os comentários são os mesmos, as polêmica são as mesmas). No entanto, uma coisa me chamou a atenção. Questionado, em 2013, sobre a questão do pagamento de cachês para os artistas, Capilé responde: " Não existe uma política do Fora do Eixo contra o cachê ". E explica que

Surf's Up e meu gosto pelos discos errados

Os Beach Boys sempre foram um sucesso de crítica, mas não exatamente um sucesso no meu mundo musical. Gosto de algumas músicas, é claro, mas sempre achei seus discos extremamente mais ou menos. O clássico e aclamado Pet Sounds, e sua famosa história de rivalidade com os Beatles, me parece um disco insosso. Claro que não dá pra resistir ao encantamento de God Only Knows e o charme nostálgico de Wouldn’t it be Nice e Here Today, mas ao todo, o disco me parece uma coleção de músicas de comercial. Recentemente escutei Surf’s Up, disco que parece estar meio a margem dos principais sucessos da banda. Para minha surpresa, este foi o primeiro disco dos Beach Boys que realmente gostei. Músicas com personalidade, sem parecer se preocupar apenas com adicionar intermináveis camadas de Backing Vocals. E tem Long Promised Road, ótima, mesmo com esse péssimo clipe. Carl Wilson parece um total retardado. Tenho um certo gosto pelos discos errados, aqueles discos que não costumam a ser apontados