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Mostrando postagens de 2010

Andei Escutando (17) (Edição Extra Grande)

Dead Kennedys – Frankechrist (1985): O som do primeiro disco dos Kennedys era tosco, por conta do barulho e da mensagem visceralmente irônica. Já neste terceiro disco, é tosco por outros motivos. At my job tenta simular o efeito de um robô cantando, como uma crítica ao trabalho? Ok, mas nem por isso deixa de ser insuportável. Crianças cantando em algumas faixas também não facilitam. Difícil saber por que as bandas punks se deixaram levar por esse lado, cedo ou tarde. Melhores: This Could Be Anywhere (This Could Be Everywhere) e Soup is a good food . Eagles of Death Metal – Death by Sexy (2006): O projeto paralelo de Josh Homme do QOTSA tem bons momentos – justamente quando se parece com a banda principal. Mas no geral, você mão perceber a presença de Homme e o que prevalece são as bizarrices do vocalista Jesse Hughes . Melhores: Cherry Cola e I Want you so hard! Eric Clapton (1970): Um disco competente de blues, feito antes de Clapton se apaixonar pelo Reggae. Melhor que seus tra

2010: Considerações Finais

Minhas considerações finais sobre o meu quase finado ano de 2010. - Passei no concurso público que eu fiz. A perspectiva de ser chamado e começar a trabalhar em breve é boa. - Ter assistido a todos os jogos possíveis da Copa do Mundo. E foram todos os 56 jogos assistido (exceção feita a 10 minutos do jogo entre Austrália e Gana) e mais boa parte das reprises dos 8 jogos simultâneos. Imagino que não terei a oportunidade de fazer isso tão cedo, talvez quando eu estiver aposentado na longínqua copa de 2054. E ah, o melhor: foi uma copa muito boa. - Ter tido uma boa relação com as pessoas que conheço. Ter conhecido minha afilhada. Não ter me decepcionado com ninguém. Em compensação, o primeiro semestre do ano foi o pior semestre da minha vida. Começando por um pequeno problema pessoal e depois, pela minha saúde. Problemas com açúcar uma época, problemas intestinais, queimaduras de sol que me fizeram sentir a maior coceira da história da humanidade. E então a virose que me deixou de cama po

A foto não funciona

Vejo que não tenho gostado muito das fotos que eu tenho tirado. Houve uma época em que eu tirava fotos de tudo, pegava minha máquina e tentava captar as cores e a profundidade. Me fascinava com a luz e o contraste. Tentava captar a visão diferente dos dois olhos. Com o tempo, o gosto pelas fotos foi passando. Como um geral. Máquinas digitais viraram um item normal e perdeu-se a necessidade de se registrar todo e qualquer momento. Para um certo mau. Acho que desaprendi a fotografar. Minhas últimas fotos não têm tantas cores, ângulos óbvios. Não dizem nada para os meus olhos.

Nada (Como?)

Acordo e ele não está lá. Ligo a TV a procura de notícias, mas não encontro. Nada de interessante. Assisto programas que nunca assisti. Faço coisas que não fazia. Vejo sites, mas não tenho notícias boas. Enrolação, procura de pauta, assuntos irrelevantes. Existem similares estrangeiros, mas eles não estão presentes no meu cotidiano. Servem para passar o tempo, mas não ocupam o vazio. Tudo parado, tudo parado. Como faço para sobreviver o fim de ano, sem o futebol? Me imagino em breve, rastejando pelos cantos em busca de um jogo inglês. De olho nas revelações do São Bento no campeonato sub-18. As retrospectivas sobre o ano. Me vejo amordaçado, crise de abstinência. Futebol, futebol, futebol. Repito inconsciente durante o meu sono.

Florianópolis

Floripa, para os íntimos, é um lugar exótico. Dentro da extensa ilha, parecem conviver várias cidades. O Norte da Ilha é similar a várias cidades praianas. Comércio de artigos de praia, restaurantes a quilo. No meio disso, o Jurerê, uma ilha de exibicionismo com suas mansões californianas. O leste é uma área de Surfistas. A Joaquina parece uma praia rural isolada. Do lado de longas dunas, dignas de um cenário nordestino. A Lagoa parece um bairro boêmio, com seu cenário agradável e diversos bares e cafés. O sul parece o interior. O Pântano Sul é uma comunidade de pescadores. O mar meio sujo, as gaivotas de olho nos restos de peixe, os barcos estacionados, as redes. A Ilha ainda tem pântanos no seu meio. Lagoas com mata-virgem. Praias isoladas, que necessitam trilhas de horas para serem alcançadas. Há a Baia Norte, com sua mistura de construções antigas com casas de madeira e seus restaurantes infinitos. O Ribeirão da Ilha, que parece uma cidade histórica mineira. E no meio o centro. Que

Mano

"Se tivesse ficado no Corinthians ia ser campeão heim!". O sujeito interpelado sorriu amarelo. Era Mano Menezes, técnico da seleção brasileira. Sentou-se a minha frente. Sim, técnicos existem. Eles também esperam vôos sentados em cadeiras meio duras. Eles também são vítimas do reposicionamento de aeronaves, e tem que andar do portão 8 para o portão 4, para conseguir chegar no Rio de Janeiro. E mais. Eles também brigam com suas esposas. Vi Mano Menezes, ao lado de sua mulher, esta com cara amarrada e sem olhar para um desolado Mano, que tentava acalmá-la. Técnicos também são seres humanos, veja você.

Viajar

Atenção! Este post contém idéias desconexas e inacabadas. É apenas um teste para ver como funciona a programação de postagem do blog. Viajar faz bem para cabeça, para ter novas idéias. Conhecer novos lugares traz inspiração. O CH3 surgiu de verdade depois de umas férias. Foram férias necessárias na época, porque quem cursou o quinto semestre de jornalismo, sabe o inferno que essa época é. Pois depois de incontáveis resenhas, matérias interpretativas, informativas, leituras milhares, seminários, fui ver a família, assistir filmes diferentes em São Paulo, conhecer Florianópolis. Voltei com umas 4 idéias de post, incluindo uma sobre o Dia do Feriado , post que considero como um marco inicial na rotina do blog. Nas férias seguintes, uma viagem ajudou a organizar a monografia. Acho que o ser humano produziria melhor, com viagens semanais. Deveria estar na declaração universal dos direitos humanos.

Andei Escutando (16)

Albert Hammond, Jr. – Yours to Keep (2006): O guitarrista dos Strokes não tem hábito de compor para a sua banda. Estranho, porque seu primeiro disco solo tem um estilo parecido com os Strokes. Um pouco mais tranquilo, uma audição fácil e descompromissada. Único problema é o excesso de efeitos na sua voz, que não é lá grande coisa. Melhores: In Transit e Blue Skies . Elliott Smith – Figure 8 (2000): Mais um disco que mostra a evolução sonora de Smith. No começo, suas gravações eram bem simples, apenas voz/violão. Aqui ele já mostra o uso de vários instrumentos e overdubs. O som é o característico seu: uma melancolia meio eufórica. O último disco lançado por ele, antes de cometer suicídio. Melhores: L.A . e Happiness Pulp – We Love Life (2001): Como todo disco do Pulp, é meio excêntrico. Temas excêntricos, vocais excêntricos. A única diferença é uma presença maior de violões, onde normalmente se notava um violino elétrico. Melhores: Bad Cover Version e The Birds in Your Garden . Th

Três

Textos que fiz para minha namorada. Nesses três anos em que estamos juntos. "Será que um dia me lembrarei onde eu estava nos primeiros dias de 2008? Eu diria que minha vida é um jardim, com apenas uma flor, mas que eu amo tanto, que parece que eu tenho várias. Primavera. Mas eu não diria que estava do seu lado, eu mentiria se falasse que estava. Estamos longe, estou tão longe da minha mente". "Eu sempre tive uma blusa vermelha de frio. Não que eu a chame assim, mas eu sempre tive no meu armário uma camiseta vermelha de mangas compridas, que então, só serve para ser usada no frio. Vermelha. Um dia você me fala que a cor dela lembra laranja com acerola. Mas ela sempre foi vermelha. De noite eu vou escovar os dentes e vejo: realmente ela nunca foi vermelha. Você mudou a cor das minhas roupas. E eu nunca estive com uma camiseta vermelha no frio. Passei todos esses anos enganado pelos meus olhos, que viam vermelho ao invés de algo entre laranja com acerola". "Um dia

Tropa de Elite 2

Não vê que é sua vida que se encerra numa nota fria nos jornais Assisti ontem a "Tropa de Elite 2". E assim que os letreiros começaram a subir, ao som de "O Calibre" dos Paralamas do Sucesso, a vontade era de ver o filme de novo. Há um bom tempo que eu não saia do cinema tão empolgado com um filme, desde Gran Torino, acho eu. Ha violência, há crueldade, há ação, frases de efeito e a atuação sensacional de Wagner Moura. Mas por trás disso, o filme e sua narração em off (as vezes exagerada), é quase um guia sobre o Sistema. Essa coisa tão abstrata, mas que existe, que mantem mesmos grupos sempre no poder e que engole quem tenta enfrentá-lo. Um filme que cai bem na época de eleições. E soa irônico, que tantas pessoas que aplaudem o Capitão Nascimento dando uma surra num deputado, que muitas dessas pessoas ajudam a colocar outros iguais lá. Mas o filme é frustrante. Porque ele se parece com a vida real (muitos jornalistas vão sentir culpa em um certo trecho). E por mais

Os Beatles e eu

No meu mundo, não residem dúvidas de que os Beatles são a maior banda da história. A maior que já existiu e que nunca será superada. Existem conjuntos que fizeram mais sucesso? Talvez. Mais inovadores? Com certeza. Que fizeram discos, músicas melhores que os quatro? Sim. Mas nenhuma banda conseguiu juntar isso com tanta qualidade. Os Beatles conseguiram em pouco tempo ter uma carreira marcante, com tantas fases, que é impossível acreditar que eles lançaram discos durante apenas sete anos. O grande mérito dos quatro é ter um som atemporal. Existem bandas que são o retrato de uma época. O Queen é a cara do exagero dos anos 70. Os Beatles são a cara dos anos 60, sem dúvida. Mas os anos 60 foram anos tão loucos para a música e para a sociedade, que eles se tornam a cara/base do nosso mundo contemporâneo. Em sete anos eles saíram das músicas simples sobre amores juvenis e passaram pelas orquestrações, pela maconha, pelo LSD, pelo movimento hippie, pela música indiana. Os Beatles foram a pri

Caderno

E lá estava. Vários livros do colégio que seriam doados, meio tardiamente eu sei. De dentro da caixa, resolvi recuperar algumas coisas. Resolvi poupar meus cadernos. Não quero que tudo o que eu escrevi seja jogado fora. Não quero que ninguém vasculhe o que lá foi escrito. Resolvi salvar também um livro de filosofia - descrevia as correntes filosóficas de maneira simples, isso às vezes pode ser importante. Também uma gramática, mesmo que a ortografia tenha mudado. Uma prova de história que estava perdido ali. Apenas porque eu havia tirado uma nota boa e a professora Vera - gostava dela - escreveu um "Parabéns. Você tem futuro!". Me senti emocionadamente nostálgico com essa nota. Bom saber que a professora Vera confiava em mim. E principalmente, salvei uma pérola da sexta série "Caderno de Poesia". Já deve ter acontecido com tudo mundo. A professora de português simplesmente resolvia mandar os alunos escrever poesias. Quatro versos sobre fadas. Quatro estrofes sobre o

Reflexões sobre as eleições (2)

Comecei a votar em 2006. Não quis votar em 2004, porque sou contra o voto antes dos 18 anos. Pois bem. Lembro de ter anulado meu voto para o governo e para o senado. Votei em um amigo do meu pai para deputado estadual e no cargo federal votei em Manoel Olegário. Uma espécie de herói de juventude, com seus programas políticos que eram tão bizarros, que beiravam a genialidade. Lembro dele, candidato a prefeitura, fazendo propaganda sobre os cemitérios abandonados. Indo ao local em que um jovem morreu em um showmício, mostrando a mancha de sangue, e dizendo "um jovem, que queria apenas se divertir e perdeu a sua vida". Na seqüência ele dava a entender que não fazia showmícios por conta disso. Não pelo fato de ser de um partido minuúculo sem dinheiro. Sim, foi uma espécie de voto de protesto. Sempre gostei de eleições. Acho divertido acompanhar a apuração, as pesquisas, os resultados. Lembro de torcer pela vitória do Lula em 2002. Ainda em 2006, dei início a uma pequena marca pes

Gente Boa

Conhece uma pessoa que seja "gente boa"? Uma pessoa que você conhece, às vezes indiretamente, que talvez a pessoa nem saiba o seu nome, mas você diz "esse aí deve ser gente boa". Tinha essa impressão do Clóvis Roberto, jornalista e apresentador da Gazeta que morreu ontem. Acho que o vi pessoalmente umas três vezes, quando estava com meu pai - que o conhecia. Em uma delas, no estúdio, meu pai o fez entrar no Cadeia Neles despreparado. Não assistia o programa, mas tinha essa impressão, muito provavelmente por conta do meu pai que sempre dizia "ele é um cara legal, gente boa". Pode ser um cara que você via na faculdade, o porteiro do prédio, o atendente do colégio. Existem várias pessoas que são (pelo menos tem jeito de ser) "gente boa" por aí. Quando um deles morre, você pensa "coitado, ele era gente boa".

Meu colégio

A primeira vez que entrei no meu colégio, foi nos idos de 1992 para fazer a prova de seleção. Lembro que peguei a fila errada e fui parar na sala de prova da primeira série. Quase comecei a fazer a prova, quando o equívoco foi percebido e eu fui para a sala correta. Lembro que achei a prova fácil, mais parecida com um daqueles passatempos de revista infantil. Com essa idade eu já sabia ler e escrever. Antes eu havia estudado o jardim de infância em um desses simpáticos colégios de bairro. Lembro do dia em que saiu o resultado, que eu estava aprovado para entrar no colégio. Nesse mesmo dia eu fui tomar sorvete no Alaska, ganhei uma mesa de futebol de botão e o São Paulo ganhou do Barcelona na final do Mundial. Foi um dia feliz. E no começo de 1993 eu estava lá para a minha primeira aula na pré-escola. Na turma matutina, do prédio de aulas recém construído. Lembro do boletim que avaliava habilidades cognitivas. Coordenação motora, criatividade, comportamento. Poderia ser ótimo, muito bom

Andei Escutando (15)

Ash – Nu-Clear Sogns (1998): O Ash sempre mistura o rock pesado com baladas açucaradas. Se dá bem e mal nas duas frentes. Alguns rocks são empolgantes, outros constrangedores. Tão constrangedor quanto algumas baladas são – por outro lado, outras são sensacionais. Na média, a banda é bem isso... média. Melhores: Folk Song e Wild Surf . Cold War Kids – Robbers & Cowards (2006): Uma banda de rock com bastante influência do gospel e ritmos com percussão. Baixo forte, teclados e tambores. Do meio dessa confusão, saem algumas músicas boas e outras que talvez soem melhores caso você seja uma pessoa que usa camisa regata branca e sandália. Melhores: Hang me up to dry e Saint John . Dead Kennedys – Plastic Surgery Disasters (1982): É tudo uma questão de tempo. Esse disco soa menos irônico. O humor negro e politicamente incorreto que sugeria a morte dos pobres foi deixado de lado, para um protesto mais politizado. Sem essa ironia, os Kennedys perdem muita da sua graça. O EP In God We

As ruas pelas quais ando

Quando eu estava na quinta-série, adquiri o hábito de voltar a pé para casa do colégio. Andava a longa rua de terra inabitada. Era um hábito solitário, que durava entre 15 e 20 minutos. Foram sete anos com o mesmo trajeto de 1,5km. Durante a maior parte do trajeto, eu escutava apenas os meus passos. Acompanhei a construção de algumas casas, a reforma de outras. A fila do INSS, o movimento no bar. Gostava de admirar a beleza do azul, um profundo azul, no céu durante o outono. A ausência das nuvens e o contraste do topo das mangueiras, verdes, bem verdes. De ver os aviões que passavam e desapareciam no fim do céu. Sempre demorava um tempo razoável, um tempo que servia para refletir sobre o dia, a vida e tudo mais. Quantas vezes não me senti nostálgico? Era uma caminhada inspiradora. Quando entrei na faculdade, o trajeto mudou um pouco. Demorava um pouco menos, mas também era cotidiano. Descia do ônibus, atravessava a avenida e começava. O movimento dos correios, o campo vazio onde os men

Veja e Carta Capital

Meu respeito pela Veja foi caindo aos poucos. Pelas capas sempre bizarras e forçadas. José Serra com a mão no queijo, Lula com os "ll" de Collor... Difícil citar uma pior, visto que toda semana éramos presenteados com um atentado ao bom-senso. As colunas forçadas e doentias do Diogo Mainardi (alguém ainda aguenta ler aquelas comparações do tipo "Os Irmãos Karamazov da Asa Sul de Brasília"?). Os textos adjetivando e negativando as pessoas, como se fosse a mais neutra das opiniões. No dia em que Reinaldo Azevedo escreveu uma coluna defendendo a postura da imprensa no pequeno espetáculo midiático que foi a morte de Isabella Nardoni (sim, a imprensa devia mostrar o apartamento o dia todo. As pessoas que estavam ali, foram por livre e espontânea vontade. As críticas vêm daqueles que querem controlar a imprensa) eu parei. Sim, parei. De vez em quando ainda dou uma olhada na parte de cultura, ou na entrevista curtinha e bizarra do começo da revista. Mas passo longe de qual

Pequeno conto dramático-apocalíptico

Vi cachorros, andando com passos firmes. Todos iam na direção contraria da qual eu ia. Na minha direção, vi apenas pessoas que carregavam balões como se carregassem suas vidas. Vi folhas que corriam pela rua, pedaços de papelão espalhados pelo asfalto. (Ou então: passei por quatro cachorros, por mais pessoas do que costumo passar. E parecia que estava ventando muito forte. Mas, quando desci do carro, ventando não estava).

Sonhos

Tinha 2 anos, aproximadamente, e estava no banco traseiro da Panorama do meu pai. Ele desceu para fechar o portão e o freio de mão falhou. O carro desceu rua abaixo e ficou parado num barranco, meio pendurado. A porta trancada fez com que demorasse muito tempo para que eu fosse tirado. Quanto tempo eu não sei, afinal, eu tinha 2 anos, mas pareceu uma eternidade. Essa é a memória mais antiga, que eu me lembro de ter. Lembro de estar engatinhando próximo a um cachorro também, mas não sei se é realmente uma lembrança real, ou adquirida por fotos. Mas o fato do carro me acompanhou. Durante anos, toda noite eu sonhava estar no banco de trás de um carro que andava sozinho. Geralmente na Avenida do CPA - acho que era a Avenida pela qual eu mais passava - na altura em que hoje se encontra o Comper. Às vezes, o carro estava sozinho, às vezes meus pais sumiam do nada. Geralmente era um sonho em primeira pessoa. Não sei quantas vezes eu tive esse sonho, foi o sonho mais recorrente em minha vida.

Dúvida Cruel

Dilma e Serra, Serra e Dilma. O governo do PT tem seus méritos. Chamam de assistencialismo barato, mas ajudou algumas pessoas - mesmo eu tendo certeza de que não é o ideal. Mas a economia brasileira parece mais tranqüila do que no governo FHC - falo por achismo. Mas eu não gosto da Dilma. Não vejo nela nenhum potencial de comando. Não gosto do PT, pelos problemas políticos em que se envolveu, problemas esses que pareciam distante do Partido dos Trabalhadores. Mostraram-se iguais aos outros. Inclusive na sanha pelo poder. As recentes declarações de Lula, Zé Dirceu contra a imprensa me enojam. Mas do outro lado temos o Serra e o PSDB. Eles mesmos, que estavam no poder nos 8 anos anteriores. Me lembro da movimentação para que Lula fosse eleito e tirasse o PSDB do poder. Da alegria com o resultado. Da esperança. De um lado, o PT é aquele que matou a esperança. Do outro, o PSDB é aquele que nunca a fez nascer.

Reflexões sobre as eleições

Algumas análises de alguém não tão entendido. - Talvez "coronelismo" não seja o melhor termo, mas Mato Grosso vive no império de Blairo Maggi. Mauro Mendes conseguiu vencer em Cuiabá e Rondonópolis (particularmente surpreendente) e teve bons números em Sinop e Várzea Grande. Mas no interior remoto, sua derrota foi massacrante. A explicação? Nas cidades menores onde um líder político se faz influente, os votos são mais amarrados. E o grupo de Silval/Maggi domina essas regiões. - Eu pelo menos, acho o segundo turno uma alternativa mais democrática. - Mauro Mendes teve uma ascensão surpreendente. E surge como principal rival de Maggi. Não que seja absolutamente bom, são pessoas de perfis parecidos. Mas é inegável que uma oposição é necessária. Nos próximos 4 anos ele precisará se aproximar dessas lideranças do interior. Não adianta ganhar Cuiabá para chegar ao governo. Cidades em que Silval ganhou em vermelho. Cidades em que Mauro ganhou, de amarelo. - A vitória de Maggi no Sena

Andei Escutando (14)

Belle & Sebastian Write About Love (2010): Mais do mesmo na carreira do B&S. Muitas historinhas, músicas animadas – será adjetivado de fofo, por aqueles que não têm vergonha de utilizar a palavra. O grande destaque é a participação de Norah Jones na melhor faixa do disco. Melhores: Little Jou, Ugly Jack, Prophet John e Calculating Bimbo . Built to Spill – Keep it like a Secret (1999): As descrições sobre a banda trazem a relevante informação de que Doug Martsch tem uma voz singular. De fato, não dá pra negar. Mas sua voz não atrapalha e até combina com as músicas, guiadas por guitarras. E não, não é apenas barulho. Melhores: Carry the Zero e Time Trap . Chico Buarque de Hollanda, Volume 3 (1968): Impossível não admirar pelo menos meia dúzia das letras deste disco. Suas figuras, suas metáforas. E toda a genialidade de Roda Viva . Melhores : Roda Viva e Ela Desatinou . Dead Kennedys – Fresh Fruit for rotting vegetables (1980): Em alguns momentos, o som é tão tosco, que

Texto Perdido - Em busca dos garotos perdidos

(Durante uma época da minha vida, eu escrevi alguns textos para um site do qual eu era colaborador. Foi um período no qual era colunista. Após um tempo fora do ar, o site voltou em 2007. Escrevi o texto seguinte, sobre o show dos Forgotten Boys no festival Grito Rock. O site acabou morrendo, antes que esse texto fosse publicado. Por isso, o mesmo não foi concluído. Analiso-o agora, com o passar dos tempos.) Ai está então, o Festival do Grito Rock, com esses negócios de Cena Independente e etc. Sem dúvida, o show do Forgotten Boys era o mais interessante, até tenho um CD deles. As músicas são boas, as guitarras são fantásticas, alguns dos riffs mais empolgantes que ouvi foram feitos por eles. A bateria e o baixo são muito bons também, o vocal é que costuma a deixar a desejar às vezes. Mas importa pouco, perto das guitarras. (Eu tinho um estilo bem descompromissado de escrita. Ainda tenho. Mas vendo esse começo, era algo como "não sei o que escreve na abertura, portanto, vou escreve

A censura de cada tempo

Bonito, ver José Dirceu falar que o problema do Brasil é o excesso de liberdade de imprensa. Primeiro, porque é uma declaração completamente antidemocrática. Pode-se discutir se a imprensa trabalha bem, ou não. E de fato, muitas vezes ela trabalha mal. Mas não dá pra criticar o excesso da - essencial - liberdade. Entre outros motivos, porque não acredito que exista uma liberdade restrita. Uma liberdade condicional para a imprensa. E segundo, podemos não passar por um momento de perseguição contra a imprensa, ou contra posições políticas defendidas por jornalistas. Não temos a censura prévia estatal e ninguém é necessariamente preso pelo que escreve. E isso é uma conquista democrática, como não, José Dirceu? Mas nós vivemos numa era de censura financeira. Ninguém mais precisa matar ou prender. Apenas compra-se o silêncio da mídia. Basta ver nos jornais, o deputado que nunca é citado, o candidato que apenas faz o bem, o opositor fraudulento. A censura prévia deixou de ser feita pelo esta

Calango

E lá está o calango subindo a árvore. Fazia um certo tempo que os calangos não apareciam aqui em casa. Houve uma época em que minha rua tinha preás, tamanduás e se bobear até as históricas capivaras. Talvez seja o preço da civilização, mas todos desapareceram. Assim como os vagalumes. Os macacos. Algumas espécies sortidas de pássaros que já habitaram a região. Os calangos foram os últimos da resistência. Foram depois que os sininbús também foram. Até os sapos minguaram. Em seu lugar ficaram as cercas elétricas e o assaltante da beira do rio. Maldita civilização, maldito progresso. Espero que os calangos continuem por aí, andando em muros e árvores. Eram uma vizinhança mais simpática.

Me lembro, Barcelona

E de repente, lá estava eu em Barcelona. A oportunidade apareceu e eu acabei indo. Já fazem 9 anos, mas me lembro bem da semana em que estive lá. Semana que começou complicada, com o ataque as torres gêmeas, a sensação de que estávamos prestes a uma terceira guerra mundial, o medo de voar. Mas eu estava lá. Cheguei lá num dia 15 de setembro de 2001. Me lembro da longa viagem, que passava um filme com a Liv Tyler, mas não cheguei a terminar de ver nenhum dos seis filmes. Me lembro da conexão em Paris - da longa fila - do sotaque afetado do comissário me oferecendo uma Pepsi e de ter visto a Torre Eiffel pela janela do avião. Também me lembro da volta, de um fim de semana de volta as origens na Alemanha e o coração apertado durante a viagem, aquela sensação que temos, de que nunca mais seremos felizes daquele jeito. Mas me lembro principalmente de Barcelona. Gosto de muitas cidades. Gosto dos museus e inúmeros restaurantes de São Paulo, gosto da paisagem do rio e gosto de algumas cidades

Memórias musicais

Estava escutando música antes de dormir. Na ordem de músicas que o tocador sempre toca. Comecei a perceber que me lembrava exatamente onde estava da última vez que tinha escutado tal música. Atravessando a rua, lavando a louça. Lembro as músicas que escutei no carro e em que situação. Gasto minha memória com coisas inúteis.

1993

"Taí o Casemiro, autor do gol, ele que é garoto, apenas 18 anos, nasceu em 1993". Dizia o narrador. Como assim, em 1993? Nessa época eu já estava no colégio. Quem nasceu em 1993 não era nascido quando o muro de Berlim caiu, quando a União Soviética acabou. Não viu tantas coisas que eu vi na minha infância. E agora estão aí, fazendo gols. Me sinto velho, agora.

Andei Escutando (13)

Donovan – Mellow Yellow (1967): Entre as cítaras sonolentas do disco anterior ( Sunshine Superman ) e o som alegre do posterior ( A gift from a flower to a garden ) esse disco fico no meio do caminho. É um Folk com fortes influências de Jazz. Nenhuma faixa chama muito a atenção e nenhuma é insuportável. Melhores: Mellow Yellow e Bleak City Woman . Flamin’ Groovies – Teenage Head (1971): Um som tosco e enérgico. A qualidade da gravação é bem ruim, talvez para passar espontaneidade. Um blues bem tosco, parece gravado ao vivo. As primeiras 4 faixas são sensacionais, as últimas 5 já são cansativas. Melhores: Yesterday’s Numbers e Have you seen my baby ? Rufus Wainwright (1998): Disco de estréia do cantor, é o que mais tem arranjos de música clássica. É o mais chato também, pelo menos aos meus ouvidos. Melhores: Barcelona e April Fools . Steely Dan – Can’t Buy a Thrill (1972): O Rock progressivo pode ser algo realmente detestável. Sintetizadores, saxofones e teclados usados para o

O fim do Jornal do Brasil

Sou de uma geração que não conheceu o Jornal do Brasil. Cresci acostumado com a Folha de São Paulo, com o Estadão e com o Globo. Só fui descobrir o jornal na faculdade, nas aulas sobre a história da imprensa e nos livros que li. Até meio surpreendido em constatar a importância histórica do JB. Uma história bonita, do jornal de oposição, considerado o jornal dos comunistas pelos conservadores, como minha avó era. Jornal que lançou tendências, novas idéias, dando espaço para jovens jornalistas que se consagraram. Fico triste pelo fim do JB, e receoso com o destino dos jornais. Transcrevo uma frase do livro "Notícias do Planalto" de Mario Sergio Conti, que ajuda a explicar porque era tão admirado. "Nenhuma mudança do Jornal do Brasil teve tanta influência quanto a maneira como cobriu e fomentou o movimento cultural. Sem o Jornal do Brasil, nem a poesia concreta nem o Cinema Novo teriam o impacto que tiveram".

Cidades que conheci

Um dia escrevo um livro Paraty: Lugar poético, de ruazinhas estreitas de pedras desniveladas. Casas com paredes brancas e portas azuis ou amarelas. Lugar em que dói a batata da perna de tanto desnível. Come-se peixe, passeia-se tranquilamente a beira do mangue. Noites frias e montanhas com florestas. Cachorros em praias sujas. Ruas (todas iguais) que formam um labirinto. Um desafio para o seu senso de direção. Alto Caparaó: Um lugar de nuvens incertas. Elas vão e vem. O céu completamente azul logo vira um céu carregado de nuvens e nada impede que logo ele fique estrelado. E que as nuvens se abaixem, encubram as montanhas. A cidade é uma ladeira, cheia de igrejas. Há mais igrejas que habitantes. O carro de som anuncia a candidato de José dos Santos, o Zezinho e Delvira para vice. É o 12 para mudar, informa o pior jingle político que já escutei. Petrópolis: Eu olho pela janela e vejo a chuva a na cidade em que nasci. E sempre chove. Uma chuva silenciosa de pingos que caem tão lentamen

Um texto fracassado sobre o Cromo

É normal que você, enquanto jornalista e pessoa que goste de escrever, tenha o sonho de sair escrevendo por aí, sobre qualquer assunto. Tentar perceber o interesse oculto na mais simples possibilidade. Eu já fui assim (às vezes sou) e já pensei em utilizar esse blog como um espaço para fazer isso. Seja por preguiça, falta de qualidade ou o que quer que seja, nunca pus em prática. Uma dessas vezes foi em um dia remoto no fim do ano passado. Fui com meu pai procurar um lugar que cromasse um para-choque de um carro. Esse local ficava próximo ao Atacadão do Tijucal. Um lugar cheio de carrinhos de supermercado na porta (eles eram reformados ali). No fundo da loja é que as coisas eram cromadas. Fiquei por dentro do processo. Um lugar diferente, uma atividade diferente. Parecia perfeito. E então comecei. O cromo é o elemento de número 24 na tabela periódica. Isso significa que ele tem 24 prótons, 24 elétrons e é considerado um metal de transição. A principal utilização do cromo no mundo atual

Troca de papéis

Estava no semáforo quando um cara se aproximou. Me entregou três papéis de propaganda, não eleitoral, um restaurante (Fornello, acho) - comida italiana, pizzas e similares. Me entregou três papéis, não sei porque. Talvez ele tenha achado que eu tinha o perfil de freqüentador do restaurante - por mais que duvide que ele próprio saiba onde fica. Parei em um próximo semáforo e lá estava outro entregador de papéis. Aproximou-se do meu carro e esticou a mão com um papel. Retribuí entregando-lhe um papel do Fornello. Não, eu não tinha intenção de ter uma fonte de renda alternativa. Ele achou estranho e eu lhe disse "vamos fazer uma troca, só pego o seu papel se você pegar o meu". Feito. Saí com uma promoção de sapatos e mal-esperando a hora de chegar ao próximo semáforo para ver que papéis me aguardavam, que propagandas eu trocaria. Pensei logo no começo de uma revolução, uma troca de folders, tal qual acontece com figurinhas e selos postais. Parte deste texto não aconteceu, mas se

O dia limite

Nós, que vivemos em Cuiabá, somos acostumados com o calor. Armamos-nos com ar-condicionado e rimos daqueles que se espantam com 36º, como se disséssemos "isso não é nada". Tratamos os 40º com normalidade e colocamos mangas compridas em qualquer dia mais ou menos dublado. Somos acostumados com o sol, enfrentamos o sol pelas ruas em que andamos, usamos óculos escuros. Mas há uma época por ano em que nós, que vivemos em Cuiabá, pensamos em desistir de tudo. Se pudéssemos, correríamos para longe. Essa época começa por agora e tem tempo indeterminado, vai até o dia em que uma chuva resolva cair. Somos enganados, em um primeiro momento pensamos que o céu está nublado, mas não está. É fumaça. Muita fumaça. O sol não consegue aparecer por trás dessa camada cinza. O horizonte fica invisível, por trás da neblina. O cheiro da fuligem logo se agarra nas nossas narinas e até deixamos de o estranhar. A garganta seca e arranhada, os olhos irritados e as notícias de que as queimadas não para

Santinhos

Um pedaço de papel com foto de político não poderia ser chamado de santinho. Quando era mais novo eu fazia uma coleção de santinhos. Era sempre divertido adulterar os políticos, desenhá-los bigodes, barbas e monocelhas. Poderia ser feito um álbum de figurinhas de santinhos. Colecione os candidatos. E os santinhos também poderiam ir para o museu. Acompanhar a evolução de um político através dos anos. A evolução do photoshop. Ver Carlos Bezerra, com seus cabelos deixando de ser branco e o seu rosto perdendo as rugas, através dos séculos.

Andei Escutando (12)

David Bowie – The Rise and fall of Ziggy Stardust and the spiders from Mars (1972): Por trás do nome gigantesco e de todo o conceito maluco do alienígena que desce no planeta Terra, há um disco com músicas legais, sem se importar com o que elas significam ou o que seja. Bons refrões e em algumas músicas você tem a nítida impressão de que tudo foi friamente pensado para soar exatamente daquela maneira. Melhores: Five Years e Soul Love . Donovan – Sunshine Superman (1966) : Os Beatles introduziram a cítara no universo da música pop em 1965 (Norwegian Wood). A moda pegou pelo jeito. Metade desse disco utiliza o instrumento indiano com uma percussão qualquer. Geralmente é chato, tal qual um disco dos Beatles apenas com as músicas indianas de George Harrison seria de dormir. Melhores: Celeste e Season of the Witch . Mando Diao – Never Seen the Light of the Day (2007): Em alguns momentos o som é tolerável, igual a qualquer outro disco da banda sueca – só que com uma riqueza maior de in