Talvez eu exagerasse se falasse que fiz jornalismo por conta da ESPN Brasil, mas eles têm lá sua parcela de culpa.
Nos meus anos finais de colégio a ESPN era o único canal esportivo sintonizado pela antiga DirecTV e eu não poderia reclamar. Não tinha o campeonato brasileiro, mas tinha opinião, informação. Acompanhei a Copa de 2002, que eles não transmitiram, com os seus comentários e o sempre histórico Linha de Passe. No meu sonho adolescente eu devia pensar em um dia participar do Linha de Passe.
No começo da faculdade, também só dava ESPN. Assistia todos os bate-bolas possíveis, o Sportscenter. Me sentia amigo dos comentaristas e apresentadores. Se os encontrasse na padaria do lado do canal, no Sumaré, talvez conversasse com eles como se eles me conhecessem.
Apenas em 2007, quando a Sky comprou a DirecTV, passamos a assistir o Sportv e isso só serviu para que eu reafirmasse ainda mais meu compromisso com a ESPN. O canal era a voz da sensatez. Assistia os grandes eventos sempre lá. Eram os comentários que eu faria, era os comentários que me levavam a refletir.
E se há alguém que era a cara do canal, esse alguém era José Trajano. O cara fundou o canal e durante anos seguiu uma utopia de deixar os jornalistas falarem o que quiserem. Com seus olhos eternamente marejados, Trajano sempre transmitiu aquela imagem de bastião da moralidade.
Já faz cinco anos que Trajano deixou o comando do jornalismo do canal e as coisas foram mudando. Aos poucos eu fui me desapegando do canal e hoje é preciso admitir: apesar de ainda ter uma base mais forte nas análises táticas e nas opiniões, a ESPN aos poucos se transformou em uma versão genérica do Sportv. O jornalismo levado ao ar hoje pela ESPN é a mesma coisa que o Sportv faz, só que com menos qualidade.
Nas última Olimpíadas eu me rendi ao "canal campeão". A cobertura foi infinitamente melhor, com seus 500 canais e comentaristas claramente mais preparados do que os da ESPN. O canal do Sumaré perdeu feio aonde sempre fez bonito: no esporte além do futebol.
O destaque da ESPN foram as narrativas caóticas de Rômulo Mendonça no vôlei. Divertido, mas muito mais em vídeos de 15 segundos no Twitter do que ao vivo. Eu não queria a ESPN para ficar fazendo piadinhas bobas, com coisas pavorosas como o Decreto de Sexta-feira. Eu não queria a ESPN para ser mais uma representante do jornalismo João Sorrisão, inaugurado lá pelo Thiago Leifert e seguido a risca por um monte de canais e programas.
Ah é a audiência. Ok, se é preciso se idiotizar para ganhar audiência, parabéns aos idiotas que venceram a guerra pelo controle remoto.
Hoje, 30 de setembro de 2016, José Trajano foi demitido da ESPN Brasil que ele fundou há 21 anos. O motivo não é bem explicado, política ou o famoso reposicionamento de mercado. Em todo lugar vejo a consternação de jornalistas e pessoas interessadas no assunto (também vejo a comemoração da miséria humana, de pessoas que odeiam aquelas que cometem o crime de não pensarem igual a você). Vejo a minha consternação, de alguém que cresceu assistindo a ESPN.
Vejo a minha consternação em perceber: a ESPN Brasil morreu, pelo menos aquela que nós um dia conhecemos. Ali no Sumaré jaz um canal.
Nos meus anos finais de colégio a ESPN era o único canal esportivo sintonizado pela antiga DirecTV e eu não poderia reclamar. Não tinha o campeonato brasileiro, mas tinha opinião, informação. Acompanhei a Copa de 2002, que eles não transmitiram, com os seus comentários e o sempre histórico Linha de Passe. No meu sonho adolescente eu devia pensar em um dia participar do Linha de Passe.
No começo da faculdade, também só dava ESPN. Assistia todos os bate-bolas possíveis, o Sportscenter. Me sentia amigo dos comentaristas e apresentadores. Se os encontrasse na padaria do lado do canal, no Sumaré, talvez conversasse com eles como se eles me conhecessem.
Apenas em 2007, quando a Sky comprou a DirecTV, passamos a assistir o Sportv e isso só serviu para que eu reafirmasse ainda mais meu compromisso com a ESPN. O canal era a voz da sensatez. Assistia os grandes eventos sempre lá. Eram os comentários que eu faria, era os comentários que me levavam a refletir.
E se há alguém que era a cara do canal, esse alguém era José Trajano. O cara fundou o canal e durante anos seguiu uma utopia de deixar os jornalistas falarem o que quiserem. Com seus olhos eternamente marejados, Trajano sempre transmitiu aquela imagem de bastião da moralidade.
Já faz cinco anos que Trajano deixou o comando do jornalismo do canal e as coisas foram mudando. Aos poucos eu fui me desapegando do canal e hoje é preciso admitir: apesar de ainda ter uma base mais forte nas análises táticas e nas opiniões, a ESPN aos poucos se transformou em uma versão genérica do Sportv. O jornalismo levado ao ar hoje pela ESPN é a mesma coisa que o Sportv faz, só que com menos qualidade.
Nas última Olimpíadas eu me rendi ao "canal campeão". A cobertura foi infinitamente melhor, com seus 500 canais e comentaristas claramente mais preparados do que os da ESPN. O canal do Sumaré perdeu feio aonde sempre fez bonito: no esporte além do futebol.
O destaque da ESPN foram as narrativas caóticas de Rômulo Mendonça no vôlei. Divertido, mas muito mais em vídeos de 15 segundos no Twitter do que ao vivo. Eu não queria a ESPN para ficar fazendo piadinhas bobas, com coisas pavorosas como o Decreto de Sexta-feira. Eu não queria a ESPN para ser mais uma representante do jornalismo João Sorrisão, inaugurado lá pelo Thiago Leifert e seguido a risca por um monte de canais e programas.
Ah é a audiência. Ok, se é preciso se idiotizar para ganhar audiência, parabéns aos idiotas que venceram a guerra pelo controle remoto.
Hoje, 30 de setembro de 2016, José Trajano foi demitido da ESPN Brasil que ele fundou há 21 anos. O motivo não é bem explicado, política ou o famoso reposicionamento de mercado. Em todo lugar vejo a consternação de jornalistas e pessoas interessadas no assunto (também vejo a comemoração da miséria humana, de pessoas que odeiam aquelas que cometem o crime de não pensarem igual a você). Vejo a minha consternação, de alguém que cresceu assistindo a ESPN.
Vejo a minha consternação em perceber: a ESPN Brasil morreu, pelo menos aquela que nós um dia conhecemos. Ali no Sumaré jaz um canal.
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