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Mostrando postagens de 2019

Top 20 - Discos dos anos 2010

A década acaba só no ano que vem, mas os anos 2010 acabam daqui a poucos dias. Meus 20 discos favoritos dos últimos 10 anos, ou, o período em que escutei cada vez menos música nova e não consegui me sentir representado por quase nenhuma banda nova. Sinal inequívoco de que envelheci? Provavelmente sim. 20) Alabama Shakes - Sound & Colour (2015): Depois da excepcional estreia, o segundo disco não consegue manter o nível, mas aponta alguns novos rumos e grandes canções. 19) Tulipa Ruiz - Tudo Tanto (2012): Pop de primeira qualidade, com algum experimentalismo. 18) Noel Gallagher's High Flyin' Birds - Noel Gallagher's High Flyin' Birds (2011): A estreia solo de Noel Gallagher provavelmente seria um disco médio do Oasis, mas tem algumas daquelas melodias que só ele sabe fazer. 17) Ryan Adams - Ashes & Fires (2011): Ryan Adams voltando a fazer um disco bom e centrado depois de uma década e voltando a ter alguma relevância musical. 16) Jack White - Blunderbluss

Vida e obra de um papagaio

Entre o ano de 1984, quando apareceu na casa dos meus pais no Piauí, e o dia 16 de dezembro de 2019, quando morreu em Cuiabá, a vida do papagaio Cacá foi bem documentada. Apareceu já falando e assoviando algumas coisas, aparentemente perdido e com um dono jamais encontrado. Viveu mais algum tempo no Piauí até se mudar para o interior do Rio de Janeiro. Se mudou para Cuiabá em março de 1988, ao lado da família da qual já fazia parte. Chegou a dividir um viveiro com outros três papagaios: Keké - que desapareceu em determinado momento do ano de 1992, Azul - que precisou ser doado, e Kikinho, seu parceiro extremamente violento, que não aceitava o convívio de outros papagaios, além de Cacá. Na peregrinação por consultórios médicos em busca de atendimento para sua moléstia que acabaria se mostrando fatal, descobri que papagaios são seres monogâmicos. Então, de certa forma, Cacá e Kikinho eram um casal. A informação faz ainda mais sentido se levarmos em conta que em algum momento do ano

Pink Floyd de 1 a 15

Pioneiros do rock psicodélico, lançaram alguns dos melhores discos da história, passando por alguns períodos atribulados. Uma breve análise da discografia do Pink Floyd. Arnold Layne / Candy and a Current Bun (1967) Primeiro single da banda, Arnold Layne é uma viagem no ácido e uma dos melhores rocks psicodélicos já escritos, apesar de ser uma coisa muito louca para ser lançada como um single. Som marcante da fase inicial do conjunto sob a batuta de Syd Barrett. See Emily Play (1967) Segundo single do grupo, See Emily Play traz outra das características das composições de Barrett: aliterações. Canção mais pop da fase inicial do Pink Floyd, com os efeitos sonoros encaminhando uma melodia bem linear com um refrão claro e simples de cantar. The Piper at the Gates of Dawn (1967) A estreia do Pink Floyd entra em qualquer galeria de discos clássicos, por mais que não seja fácil. Não há nada aqui que seja tão palatável quanto os dois primeiros singles. A abertura, com Astronomy

Essas memórias

Sentando no meu colo, meu filho começa a rir por algum motivo qualquer. Pode ser um barulho que eu fiz, ou alguma impressão visual que o deixou excitado. Tento observar algum padrão, mas, com raras exceções, o humor de um bebê de cinco meses é um tanto quanto imprevisível. Mas o fato é que sua risada é a coisa mais empolgante do mundo. Realmente nada mais importa e, se fosse possível, eu ficaria o dia inteiro ali esperando que ele risse ou emitisse barulhos engraçados enquanto descobre a imprevisibilidade do mundo. Ter um filho pequeno te faz pensar no passado. Pensar que um dia você foi esse bebê encantado com um monte de coisas que hoje parecem completamente previsíveis e repetitivas. Um dia você mediu 65 cm e ficou rodando de um lado para o outro, tentando descobrir padrões e sentindo alegria, medo, ou o que é que fosse, da luz que se acende misteriosamente, de objetos inominados que estão sempre presentes ao seu redor, girando, fazendo barulhos, estáticos, monótonos ou ameaçado

O medo com Fernando Diniz

Desde que Fernando Diniz foi anunciado como o novo treinador do São Paulo, os torcedores da equipe vivem em uma espécie de pavor constante. O nome de Diniz também tem sido rejeitado por uma pequena maioria dos torcedores, por mais que não haja um consenso sobre quem deveria ocupar este posto. Há sim alguma razão para se temer Fernando Diniz no comando da sua equipe e a principal delas é que ele conquistou apenas cinco vitórias em suas duas passagens por clubes da primeira divisão do campeonato brasileiro. Seu Fluminense deste ano venceu apenas três partidas, duas delas em atuações memoráveis (Grêmio e Cruzeiro), mas fora isso acumulou uma série de derrotas agradáveis. Diniz é um dos treinadores mais falados do Brasil desde pelo menos meados de 2014, quando seu Audax fez bons jogos no campeonato paulista. Em 2016, no seu auge, a modesta equipe de Osasco foi vice-campeã paulista, derrotando alguns gigantes pelo caminho e mantendo seu estilo pessoal: toque de bola, correndo riscos

Abbey Road 50

Lá pelos idos de 2001 a vida não fazia sentido se eu não escutasse o Abbey Road. O último disco gravado pelos Beatles, com sua icônica capa até hoje imitada para desprazer dos motoristas londrinos, era o único lançamento dos Fab Four presente na coleção dos meus pais. Não sei se por alguma razão ou por oportunidade de negócio - custou R$ 8,90. Fato é que eventualmente minha mãe colocava esse disco para tocar e eu não dava muita atenção. Até que um dia eu fui para Barcelona, assisti uma apresentação de fantoches dos Beatles na Rambla e aquilo não saiu da minha cabeça. Na volta pra casa passei a prestar atenção. E aí aconteceu, eu descobri Oh! Darling. Hoje eu sei que Paul McCartney tentava gravar essa música sempre pela manhã, quando sua voz ainda aguentava o tranco, mas naquela época nada disso importava. Aliás, nada importava, apenas o disquinho rodando interminavelmente nesta música. Era minha obsessão. Os gritos de Paul aliviavam qualquer angústia adolescente. Há muito mitol

A glória do Big 4 é também o fracasso de uma geração

Comecei a escrever este texto logo depois das semifinais do Australian Open deste ano, quando Novak Djokovic e Rafael Nadal varreram os jovens Lucas Pouille e Stefano Tsitsipas da quadra e marcaram mais um encontro na final. Cheguei a retomar o rascunho quando ficou claro que o título de Wimbledon não escaparia de Djokovic, Nadal ou Roger Federer. Depois ainda veio mais um US Open vencido por Nadal, para reforçar a tese. O domínio que o chamado Big Four impôs ao tênis nos últimos 15 anos é algo incomparável na história do esporte. De 2004 para cá, foram disputados 64 torneios de Grand Slam. Roger Federer, Rafael Nadal, Novak Djokovic e Andy Murray conquistaram 57 deles, quase 90%. (Andy Murray conquistou apenas três títulos, mas se (lembrando que SE não existe), seus sonhos mais confortantes se tornassem realidade e se Roger Federer tivesse virado pastor de ovelhas nos Alpes Suíços, Rafael Nadal fosse caixa da vidraçaria do pai e Novak Djokovic cumprisse a mesma função em uma piz

Morte por basquete

Ao que tudo indica, felizmente a seleção brasileira de basquete masculino ficará de fora das Olimpíadas de Tóquio. Claro, ainda há a possibilidade que o Brasil avance no torneio pré-olímpico, em que disputara uma vaga ao lado de outros cinco times, que podem sair dessa lista: Lituânia, Itália Grécia, Rússia, Venezuela, Porto Rico, ainda pode ter Sérvia, Espanha ou França, enfim, um elenco de filme de terror. Fora das Olimpíadas, a seleção de basquete garante que o torneio pré-olímpico será o último momento de sofrimento do seu torcedor. Porque não é fácil torcer para o Brasil no basquete. É garantia de sofrimento, de tortura, de terror, de sonhar alto apenas para se frustrar melancolicamente no fim. As inúmeras derrotas para a Argentina, sempre no sufoco e com os mais diversos requintes de crueldade (aquela bola do Noccioni no último segundo segue caindo até hoje). Os jogos duros contra seleções fortes, que acabam perdidos na agonia final. Quando o Brasil finalmente vence a Argenti

O mistério da cobertura global

A cobertura jornalística que a rede Globo oferece ao governo Bolsonaro será, em breve, um grande case de estudos em faculdades de comunicação pelo Brasil. A grande dúvida é: como pode a maior empresa de mídia do Brasil fazer uma cobertura tão oficialesca do atual governo, tratando os maiores absurdos como se fossem meras trivialidades, ao mesmo tempo em que o canal é fortemente atacado pelo núcleo de apoio bolsonarista? A comparação um tanto quanto nonsense realizada no Jornal Nacional da segunda-feira, entre Bolsonaro e Lula, para falar sobre reflorestamento foi apenas mais um fato. Chocado mesmo, eu fiquei no dia em que o Jornal Hoje noticiou que os Estados Unidos deram o aval para que Eduardo Bolsonaro, o 03, fosse indicado embaixador do Brasil no país. Entre tantas citações banais, me chamou a atenção o momento em que Andréia Sadi disse “no Twitter, Carlos Bolsonaro, falou que a nomeação de Eduardo é um golaço do presidente”. Não é preciso ter posição política para identif

Tomé

Tomézinho chegou em casa carregado de vermes e de expectativas. Os parasitas foram eliminados logo, mas a expectativa era cruel, ele veio para substituir um dos cachorros mais inesquecíveis que já havia passado pela casa. Demorou um tempo até percebermos que cada um era cada um. Vira-lato de médio-porte, furta-cor, latia para as pipas no céu e morria de medo dos fogos de artifício. Era uma constante preocupação na hora em que chegávamos em casa, sempre tentava fugir para a rua. Quando conseguia, logo voltava arrependido. Não suportava pão integral e era extremamente sociável, fazia amizade até com o entregador de água. Viveu pouco mais de dez anos, o que sempre parece pouco tempo, muito pouco diante de todo o tempo em que ele não estará mais lá para ser o primeiro a me receber no carro.

Promoção de aniversário

Já faz algum tempo que o marketing de toda e qualquer empresa tenta capitalizar em cima dos aniversários das pessoas. Com mensagens prontas que tentam parecer personalizadas e inúmeros descontos, a indústria tenta aproveitar a fragilidade emocional provocada pelo assoprar de velinhas para reforçar sua marca, fidelizar o cliente e, se pá, vender alguma coisa. Como os seus dados hoje em dia estão nas mãos de várias empresas, chegamos ao insólito momento em que você muito provavelmente é mais parabenizado por marcas e seus robôs, do que por pessoas de verdade. Neste ano, resolvi analisar as mensagens corporativas de aniversário que recebi na semana passada. O primeiro de todos foi o NuBank, que enviou uma mensagem de parabéns pelo próprio aplicativo, com uns dois dias de antecedência, redirecionando para um vídeo no youtube que começava com a interrogação "achava que a gente ia esquecer?". Até eu ainda não me lembrava no momento. Achei um pouco desnecessário fazer com que

É preciso admirar Marta enquanto ainda há tempo

Nunca houve outra jogadora como Marta. A brasileira estará para sempre na história do futebol feminino por ser, entre outras coisas, um paradigma do jogo. Eleita seis vezes a melhor jogadora do mundo, não há nenhuma outra que se compare a Marta. As outras jogadoras se destacavam pelo absurdo poder de finalização, algumas se beneficiavam da força física para atropelar as adversárias, há aquelas que são muito técnicas, mas nenhuma é mágica. Marta é habilidade pura, domina o espaço do jogo e é capaz de algumas jogadas antológicas, como seu inesquecível gol contra os Estados Unidos na Copa do Mundo de 2007. Mas, estes são os fatos concretos. A imortalidade de Marta está no imaginário que ela representa. Para todo o sempre, sempre que uma jogadora aparecer e fizer jogadas espetaculares em qualquer lugar do mundo, ela será comparada a Marta. A brasileira é praticamente o modelo de jogadora ideal, será um eterno ponto de comparação de qualidade, é quase um mito fundacional do esporte, daq

Niki Lauda

Dentro das pistas, é possível dizer que existiram dois Niki Lauda. Um antes e outro depois do acidente em Nurburgring, 1976. O primeiro era mais rápido e impetuoso. Conquistou 12 das suas 25 vitórias nos dois anos e meio de Ferrari antes do acidente. No mesmo período marcou 21 das suas 24 poles. Foi campeão mundial e teria sido bicampeão em 1976, não fosse o acidente. Também poderia ter ganhado em 1974, quando fez mais poles e liderou mais voltas. O segundo Lauda era mais tático, não dava show, mas era consistente. Foi campeão em 1977 com um recorde de segundos lugares. Aliás, ganhou dois títulos mundiais tendo menos vitórias que os seus oponentes. O que torna Lauda único é que ele foi dois e venceu de ambas as formas. O que o torna ainda mais especial é a maneira como perdeu o titulo de 1976. Depois de quase morrer e carregar sequelas para a vida inteira, depois de superar as dores e voltar à pista em tempo recorde, ele sentiu medo de morrer e abriu mão de um título. Só alguém mui

Top 8: Sequências de Três Discos

Depois de ver um tuíte questionando se haveria uma sequência de três discos melhores do que The Bends, Ok Computer e Kid A do Radiohead, segue uma lista pessoal com as oito melhores sequências de três discos lançadas por qualquer artista que eu conheça. Tentei juntar discos que de alguma forma realmente pareçam parte de uma trilogia e manter na lista apenas sequências em que os três discos tem suas qualidades. (Sem Radiohead, porque eu acho o Kid A um saco). 8 The Clash - The Clash (1977) / Give 'em Enough Rope (1978) / London Calling (1979). Em três discos o Clash fundou o punk rock, passeou pelo rock de arena e terminou em um lugar indefinido. Músicas tocadas com urgência, letras políticas e apocalípticas e uma porção de clássicos. 7 Oasis - Definitely Maybe (1994) / (What's The Story) Morning Glory (1995) / Be Here Now (1997). A glória e miséria do britpop e dos anos 90 em três discos. Ascensão, apogeu e queda. Uma brilhante estreia, seguida pela explosão comercial e

Encontrando Ricardo

Encontrei Ricardo na fila do Subway. Entre os queijos e a salada fiquei sabendo que ele está casado e mora no mesmo bairro em que eu moro. Quando éramos pequenos, tínhamos a mesma idade e também morávamos no mesmo bairro. Conheci Ricardo na pré-escola e segui estudando com ele até o 2º ano, nem sempre na mesma turma. Ricardo lembrou de quantas vezes jogamos bola no gramado da minha casa. Perguntou dos meus pais e perguntei dos dele. Se lembrou dos cachorros e do vizinho da frente, todos já morreram. Lembrei das tantas partidas de International Super Star Soccer Deluxe, jogadas no meu quarto e na sala da casa dele. Quando começamos a voltar a pé para casa do colégio, voltávamos juntos e eu sempre parava para tomar água na casa dele. A essa altura o pai dele já tinha comprado um galpão do lado da casa dele. Quando nos conhecemos éramos filhos únicos, mas agora ele já não é mais. No começo dos anos 2000 ele ganhou uma irmã, que caramba, já deve ter 18 anos. No dia em que ela nas

Distopia Flutuante

Tive que pesquisar o nome no Google: Hoverboard. Durante algum tempo, em minha ignorância sobre as novas tecnologias, pensei que eram apenas Segways, aquela mistura de patinete invertida motorizada com púlpito ambulante, que confere aos seguranças de Shopping um aspecto de autoridade. No entanto, os Segways têm um guidão, manopla, braço de apoio ou que quer que seja utilizado pelos referidos seguranças para se equilibrarem enquanto deslizam onipresentes pelos espaçosos e bem iluminados corredores dos estabelecimentos comerciais. O Hoverboard não tem este apêndice fálico, sendo apenas uma prancha de skate com rodas laterais. Um meio de locomoção que parece surgido diretamente de "De Volta Para o Futuro" e que virou uma febre incurável entre as crianças. Saio para correr no condomínio onde moro e por um instante acho que fui abduzido para uma ficção distópica disponível para os assinantes de um serviço de Streaming. Por onde ando, vejo crianças mesmerizadas sobre estes apar

Professores

Estive pensando na figura dos professores que temos no colégio. Durante alguns anos de nossas vidas, acabamos por conviver com eles tanto quanto com nossos pais. Odiamos alguns, idealizamos outros, eles se tornam os responsáveis por avaliar se estamos aptos a conviver em uma sociedade de informação - repassando-nos, se possível de maneira didática, essas informações. E então desaparecem. Ou melhor, continuam no colégio, nós é que saímos de lá e somos substituídos por outros alunos que irão ocupar o mesmo estereótipo que um dia nós ocupamos (o bom aluno, o preguiçoso, o bagunceiro, aquele que só precisa se esforçar mais). Tive alguns professores pelos quais guardo muito carinho e que depois nunca mais vi na minha vida. Assim como também pouco vi os professores dos quais eu não gostava e provavelmente já não lembro de tantos outros, que por uma razão ou outra não ficaram marcados na minha memória. Chego a pensar que professores não devem gostar muito de sair de casa, correr o risco de