Pular para o conteúdo principal

Pink Floyd de 1 a 15

Pioneiros do rock psicodélico, lançaram alguns dos melhores discos da história, passando por alguns períodos atribulados. Uma breve análise da discografia do Pink Floyd.

Arnold Layne / Candy and a Current Bun (1967)
Primeiro single da banda, Arnold Layne é uma viagem no ácido e uma dos melhores rocks psicodélicos já escritos, apesar de ser uma coisa muito louca para ser lançada como um single. Som marcante da fase inicial do conjunto sob a batuta de Syd Barrett.

See Emily Play (1967)
Segundo single do grupo, See Emily Play traz outra das características das composições de Barrett: aliterações. Canção mais pop da fase inicial do Pink Floyd, com os efeitos sonoros encaminhando uma melodia bem linear com um refrão claro e simples de cantar.

The Piper at the Gates of Dawn (1967)

A estreia do Pink Floyd entra em qualquer galeria de discos clássicos, por mais que não seja fácil. Não há nada aqui que seja tão palatável quanto os dois primeiros singles. A abertura, com Astronomy Domine, é um dos momentos mais fáceis e falamos de uma música ocupada em sua metade por sintetizadores espaciais. Lucifer Sam mostra a paixão de Syd Barrett por felinos (que ele não consegue explicar) e, depois de alguns momentos quase inaudíveis o disco é encerrado em grande estilo com Bike. Uma das melodias mais assobiáveis de TPATGOF, que encaminha um final de mais de um minuto de barulhos estranhos.

Apples and Oranges / Paintbox
O último single escrito por Syd Barrett segue a linha do trabalho realizado até então, por mais que não seja a mais inesquecível das músicas. O lado B, Paintbox, não deve ser lembrada com carinho por ninguém.

It Would be So Nice / Julia Dream (1968)
A história é conhecida: o LSD consumiu a mente de Syd Barrett, que entrou em uma viagem interminável e precisou ser interditado. Para o seu lugar, os outros integrantes recrutaram David Gilmour, que vinha a ser amigo de infância e professor de guitarra de Syd. No entanto, os estilos de professor e aluno não poderiam ser mais diferentes. Enquanto Syd utilizava a guitarra para complementar os efeitos sonoros de suas músicas, geralmente guiadas pelos teclados e sintetizadores hipnóticos, David Gilmour tinha um estilo mais melódico, com algumas influências de blues. Além disso, Gilmour não era um compositor, apesar de ter algumas melodias na cabeça. Sem a liderança intelectual de Barrett, coube a Roger Waters e Rick Wright dividirem este posto. Assim, este é o primeiro single desta nova fase, resultando em um som mais limpo, mas também sem inspiração, de um conjunto musical em busca de uma nova identidade.

A Saucerful of Secrets (1968)

Sem Syd Barrett, o Pink Floyd lança seu segundo disco tentando continuar o legado psicodélico do seu ex-lider. No entanto, não havia inspiração para isso e A Saucerful of Secrets acaba sendo uma coleção de algumas canções sonolentas, apesar de que muitas delas crescem bastante ao vivo. O Pink Floyd seguiria assim por algum tempo, sendo uma banda que não sabia muito bem o que fazer da vida.

Point me at the Sky / Careful With That Axe Eugene (1969)
O single co-escrito por Waters e Gilmour mostra uma tentativa de fazer um rock mais direto, sem tantas pirações instrumentais. A b-side, por outro lado, é loucura total, mais experimental do que simplesmente lisérgica, quase impossível de escutar.

More (1969)

Trilha sonora para um filme obscuro da época, More é uma mistura de hard rock, baladas românticas e passagens instrumentais sonolentas que serviam para fazer o ambiente do filme. Tirando as faixas instrumentais, nada do resto lembra o que o conjunto fazia até então, mostrando que eles buscavam um novo caminho para longe do psicodelismo. Vale até uma flauta peruana em Green is the Colour, enquanto The Nile Song podia estar em um disco do Deep Purple. Mudanças de rumo, mas nada de muito marcante.

Ummagumma (1969)

Ainda em busca de um caminho, o Pink Floyd lança este álbum duplo. O primeiro conta com um show ao vivo, bastante inspirado. Careful With That Axe Eugene vira uma catarse coletiva, enquanto que A Saucerful of Secrets cresce muito. Serve para mostrar o poder instrumental do grupo, embalado por um belíssimo design gráfico. As músicas de segundo disco, gravadas em estúdio, funcionam mais como um exercício de criatividade. A dinâmica estabelecida por Roger Waters, que começava a tomar para si a liderança da banda, determinava que cada músico iria compor suas canções sozinho. Assim, há uma sinfonia de sintetizadores na faixa de Rick Wright, solos de bateria na de Nick Mason, alguma melodia na de David Gilmour e em Grantchester Meadows, de Roger Waters. (A outra música de Waters é uma compilação de barulhos de animais e se chama algo como "várias espécies de pequenos animais furiosos colocados juntos em uma caverna e entalhados com uma fotografia"). Vale pelo registro histórico, mas, Roger Waters mesmo descreveu o disco como "um desastre", enquanto Gilmour preferiu dizer que é "horrível" e para Nick Mason foi "um experimento errado".

Atom Heart Mother (1970)

Disco geralmente relegado ao esquecimento da discografia pinkfloydiana e renegado pelos seus próprios autores. No entanto, por mais que não seja absolutamente brilhante, Atom Heart Mother é a semente do som que iria consagrar o conjunto e transformá-lo em um fenômeno das massas. A abertura é uma suíte (porque desse nome?) de 23 minutos, extremamente pretensiosa e em alguns pontos maçantes, muitas vezes responsável pelo desprezo que o álbum desperta. O lado B segue a dinâmica do disco anterior, com cada membro compondo uma canção. If é uma bela balada de Roger Waters, enquanto Summer '68 tem arranjos grandiosos e chegou a ser tema de abertura do Jornal Nacional por alguns poucos meses. O destaque é Fat Old Sun, música de David Gilmou que traz o primeiro de seus muitos solos marcantes pelo Pink Floyd, aquela guitarra meio blues que desliza pelos ouvidos. O disco termina com outra peça de 12 minutos, que é uma espécie de adeus ao psicodelismo. A partir dos próximos discos surgiria um novo conjunto, unindo as melodias e guitarras de Gilmour, com as letras e senso estético de Roger Waters.

Meedle (1971)

Se aprofundando no som desenvolvido no disco anterior, Meedle é a primeira obra-prima do Pink Floyd. Há ali no meio uma faixa com um cachorro cantando e a tentativa de Waters de fazer um jazz em San Tropez. Mas há momentos brilhantes. A Pillow of Winds é tão delicada quanto o seu nome sugere, com um melodia angelical. Fearless vai em um crescente até terminar em um grito da torcida do Liverpool. O disco termina com Echoes, outra música de 23 minutos, desta vez mais estruturada e com vários refrões, uma viagem épica. Meedle consolida o som do grupo e mostra que eles estavam perto de lançar sua obra prima.

Obscured by Clouds (1972)

Antes, como nem tudo é absolutamente linear, há Obscured by Clouds, outra trilha sonora de um um filme obscuro (por nuvens?). Ao contrário de More, OBC tem algumas belas canções e as passagens instrumentais de música ambiente não são insuportáveis. Há ali no meio pelo menos quatro grandes canções: Stay, Burning Bridges, Wot's... Uh! The Deal e Mudmen que não fazem feio na discografia do Floyd. Um disco menor, até por não ser um trabalho de estúdio que envolveu plena dedicação dos seus membros, mas mesmo assim agradável e que merece ser escutado. A fase era muito boa.

The Dark Side of the Moon (1973)

Um dos melhores discos da história, The Dark Side of The Moon é um clássico absoluto do rock, do pop ou do que quer que seja. Um conjuntos de canções absolutamente inspiradas e inspiradoras, reunidas dentro de um conceito existencial, que aumenta ainda mais a sua unidade. "Podem os seres humanos serem humanos?" questionava Waters. Do começo de Breathe, passando pelas reflexões de Time e Us & Them, chegando ao ápice com a dobradinha Brain Damage/Eclipse, Dark Side of the Moon é irretocável e perfeito, sem nenhum defeito e quem ouse criticá-lo não pode ser estar certo.

Wish You Were Here (1975)

É um pouco chato criticar Wish You Were Here, afinal, metade do disco é absolutamente genial. Até hoje a humanidade não foi capaz de produzir cinco canções melhores do que a faixa título e o épico de Shine On You Crazy Diamond faria valer a pena pagar duas vezes pelo LP. Mas, algumas mudanças já estavam em curso. O sucesso de Dark Side of the Moon fez com que Roger Waters ficasse cada vez mais cheio de si e começasse a desprezar os outros integrantes. A partir desse disco não escutaríamos mais a voz de Rick Wright. O som da banda foi se transformado em algo cada vez mais racional, com cada vez mais foco nos temas das letras, como mostra a cansativa e mecânica Welcome to The Machine. Depois da fase de Syd Barrett, e da fase que deu origem a Dark Side of the Moon, Wish You Were Here marca o início da transição para um terceiro período: a banda de Roger Waters.

Animals (1977)

Baseado em a Revolução dos Bichos de George Orwell, Animals consolida o rogerwaterscentrismo do Pink Floyd. Antes o principal vocalista, David Gilmour só canta, e ainda dividindo os vocais, em Dogs - a única música não composta completamente pelo baixista. São apenas cinco músicas, três delas ultrapassando os dez minutos de duração. Enfim, já é uma banda diferente da que conquistou o mundo com Dark Side of the Moon. Mesmo sendo um profundo descrente da humanidade, Waters deixa uma espécie de mensagem sobre a importância de empatia em Pigs on the Wing, pequena vinheta de pouco mais de um minuto de duração que abre e depois fecha o disco. "Se você não se importar com o que aconteceu comigo e eu não me importar com o que aconteceu com você, nós ficaremos ziguezagueando entre o aborrecimento e a dor, ocasionalmente espiando através da chuva e pensando qual dos vagabundos poderíamos culpar e observando os porcos no comando". Como teve gente que se surpreendeu com suas mensagens políticas durante seus shows no Brasil em 2018.

The Wall (1979)

A medida em que o tempo passava, o desprezo de Roger Waters pelos outros membros do grupo e pela humanidade, como um todo, só aumentava. Irritado com uma fã que não parava de gritar em um show do Floyd, o baixista cuspiu sobre ela e isso serviu para criar o conceito de The Wall, o ápice dessa fase do grupo. O disco duplo transborda paranoia e parte da premissa de que, desde que nascemos, somos pouco a pouco mortos em nossa existência, cada vez mais limitados, nos transformando em apenas outros blocos de concreto que formam um muro. Ou então, que a paranoia cotidiano vai nos isolando do mundo. Seja como for, essa é uma das principais críticas aos discos conceituais da época: você precisa ter um guia para entender o que está escutando. Os shows da época se passavam com a banda tocando atrás de um muro que no final era destruído. Waters compôs quase o disco inteiro, mas a melhor música é de Gilmour: Comfortably Numb. Isso diz um pouco sobre os caminhos que a banda estava tomando e sobre este clássico do rock, extremamente ambicioso, com ótimas canções, mas em alguns momentos soa completamente aborrecido em sua pretensão. Detalhe das gravações: Rick Wright foi demitido da banda e contratado como músico de estúdio.

The Final Cut (1983)

The Wall parte 2. Waters cada vez mais sozinho na banda lança mais um disco sobre a paranoia, desta vez tendo a guerra como pano de fundo. The Final Cut é um disco de silêncio/barulho. Waters canta a maioria das músicas ao violão em um tom tão baixo que temos que aumentar o volume, apenas para repentinamente sermos surpreendidos por uma guitarra rasgando, uma bateria que parece um tiro. Disco bem chato e o Pink Floyd deveria ter acabado antes de lançar isso daqui. Nos últimos anos, a crítica a esse álbum tem ficado um pouco mais positiva, mas isso não significa que The Final Cut está melhor hoje. O mundo é que piorou.

A Momentary Lapse of Reason (1987)

Ruim com Roger Waters, pior sem ele. Após o principal compositor anunciar sua saída da banda, ele tentou impedir judicialmente que os outros integrantes seguissem usando o CNPJ do Pink Floyd. Não conseguiu, mas antes tivesse. A Momentary Lapse of Reason é simplesmente pavoroso, um dos piores discos já lançados por uma banda respeitável. As músicas não tem lá muita inspiração, com letras que tentam emular um clima de ficção científica - talvez porque tenham identificado que essa era a marca registrada da banda, mas nesse caso uma ficção que só passaria no SBT. Para piorar, a produção extremamente anos 80 não ajuda nem um pouco. Pouca coisa se salva: Learning to Fly poderia ser uma música da carreira solo do Sting, On The Turning Away e Sorrow são duas boas baladas. O resto, desde o instrumental de documentário sobre a vida selvagem em VHS de Signs of Life, passando pelo blues de puteiro de Dogs of War e Terminal Frost, outra instrumental que talvez Kenny G tivesse vergonha de tocar. O pior momento no entanto, é A New Machine. A voz de David Gilmour surge sintetizada em pouco mais de um minuto, que não evoluí, não traz nenhuma novidade, não há simplesmente nada que se salve. Para piorar, a parte 2 é praticamente igual a primeira e as duas parte ensanduicham a já citada Terminal Frost. Chega a parecer sacanagem quando a parte dois começa, exatamente igual a primeira. É a típica coisa que, não dá para acreditar que não teve uma única alma que falou "descarta isso aqui e apaga todas as fitas em que ela aparece".

The Division Bell (1994)

É preciso ser justo com Divison Bell. Apesar de não ser genuinamente brilhante e de ser covardia comparar com os melhores momentos da banda, temos que relevar que já se passaram 20 anos desde Dark Side of The Moon e o grupo poderia simplesmente ter se aposentado, ou seguir entregando porcarias como A Momentary Lapse of Reason. Em Division Bell o Pink Floyd encontra uma boa fórmula pós-Waters, com belas baladas para David Gilmour fazer seus solos mágicos. O começo com Cluster One não é nem um pouco empolgante e há mais um par de canções em que a qualidade caí lá embaixo, mas também há Poles Apart, A Great Day For Freedom, Coming Back to Life e High Hopes, que podem muito bem emocionar. Um disco confortável e um final digno para uma banda histórica.

The Endless River (2014)

Mas ainda não era o final. Depois da morte de Rick Wright, Nick Mason e David Gilmour resolveram resgatar algumas gravações antigas para criar um novo álbum. Falamos de sobras de 1969 e das gravações de Division Bell. Há alguns trechos hipnóticos de sintetizador, trechos instrumentais que são claramente jams que sobraram do disco de 1994. Alguns trechos são bonitos, outros causariam aversão até no Brian Eno. Música ambiente é o que dizem. Vale pela homenagem, mas ninguém na vida escutou isso aqui duas vezes - exceção feita a única música cantada Louder Than Words e ao solo de It's What We Do.

Para terminar, minha lista do pior disco do Pink Floyd até o melhor.

15 A Momentary Lapse of Reason
14 The Endless River
13 Ummagumma
12 More
11 The Final Cut
10 A Saucerful of Secrets
9 The Division Bell
8 Animals
7 Obscured by Clouds
6 Atom Heart Mother
5 The Wall
4 The Piper at the Gates of Dawn
3 Wish You Were Here
2 Meedle
1 The Dark Side of the Moon

Comentários

Postagens mais visitadas

Aonde quer que eu vá

De vez em quando me pego pensando nisso. Como todos sabem, Herbert Vianna, dos Paralamas do Sucesso, sofreu um acidente de avião em 2001. Acabou ficando paraplégico e sua mulher morreu. Existe uma música dos Paralamas, chamada "Aonde quer que eu vá" que é bem significativa. Alguns trechos da letra: "Olhos fechados / para te encontrar / não estou ao seu lado / mas posso sonhar". "Longe daqui / Longe de tudo / meus sonhos vão te buscar / Volta pra mim / vem pro meu mundo / eu sempre vou te esperar". A segunda parte, principalmente na parte "vem pro meu mundo" parece ter um significado claro. E realmente teria significado óbvio, se ela fosse feita depois do acidente. A descrição do acidente e de estar perdido no mar "olhos fechados para te encontrar". E depois a saudade. O grande detalhe é que ela foi feita e lançada em 1999. Dois anos antes do acidente. Uma letra que tem grande semelhança com fatos que aconteceriam depois. Assombroso.

Imola 94

Ayrton Senna era meu herói de infância. Uma constatação um tanto banal para um brasileiro nascido no final dos anos 80, todo mundo adorava o Senna, mas eu sentia que era um pouco a mais no meu caso. Eu via todas as corridas, sabia os resultados, o nome dos pilotos e das equipes. No começo de ano comprava revistas com guias para a temporada que iria começar, tinha um macacão e um carrinho de pedal com o qual dava voltas ao redor da casa após cada corrida. Para comemorar as vitórias do Senna ou para fazer justiça com meus pedais as suas derrotas. Acidentes eram parte da diversão de qualquer corrida. No meu mundo de seis anos, eles corriam sem maiores riscos. Pilotos por vezes davam batidas espetaculares, saiam ricocheteando por aí e depois ficava tudo bem. Já fazia 12 anos que ninguém morria em uma corrida. Oito sem ninguém morrer em qualquer tipo de acidente. Os últimos com mais gravidade tinham sido o do Streiff e do Martin Donelly, mas eu nem sabia disso, para dizer a verdade. Não sab

Ziraldo e viagem sentimental por Ilha Grande

Em janeiro de 1995 pela primeira vez eu saí de férias em família. Já havia viajado outras vezes, mas acho que nunca com esse conceito de férias, de viajar de férias. Há uma diferença entre entrar em um avião para ir passar uns dias na casa dos seus tios e pegar o carro e ir para uma praia. Dormir em um hotel. Foi a primeira vez que eu, conscientemente, dormi em um hotel. Contribui para isso o fato de que, com sete anos, eu havia acabado de terminar a primeira série, o ano em que de fato eu virei um estudante. Então, é provável que pela primeira vez eu entendesse o conceito de férias. Entramos em uma Parati cinza e saímos de Cuiabá eu, meus pais, minha prima e minha avó. Ao mesmo tempo em que essas eram as minhas primeiras férias, elas eram também a última viagem da minha avó. A essa altura ela já estava com um câncer no pâncreas e sem muitas perspectivas de longo prazo. Disso eu não sabia na época. Mas ela morreu cerca de um ano depois, no começo de 1996, após muitas passagens pelo hos