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Mostrando postagens de maio, 2010

Na verdade...

...nunca é bom acordar para se escrever alguma coisa. Depois se perde-se o sono. Mas mesmo assim a sensação do sono perdido é menos ruim do que a sensação da idéia que se perdeu. Depois, vai haver bastante tempo para dormir. Já a idéia talvez nunca mais volte. Que escravidão.

Andei escutando (10)

Grateful Dead – Anthem of the Sun (1968): O rock psicodélico é algo muito mais legal na teoria do que na prática. Para escutar esse disco você precisa entrar no clima e libertar a sua mente. Talvez seja uma experiência melhor escutá-lo com fones de ouvido para se perder nos ruídos e efeitos sonoros. (mesmo assim admito que algumas músicas são interessantes para se escutar sem compromisso.) Melhores: That’s for the other one e New Potato Caboose . Manic Street Preachers – Journal for Plague Lovers (2009): Não deve ser fácil trabalhar com composições de um falecido. Se essa pessoa era próxima a você, deve ser ainda mais difícil. Mas os Manics conseguiram usar essa proximidade para fazer um disco com a cara da banda, como se o guitarrista Richey Edwards, desaparecido em 1995, ainda estivesse presente na banda. O disco é triste e perturbado como sua mente. Mas é muito bom. Melhores: She bathed herself in a bath of bleach e Virginia State Epileptic Colony . Pulp – This is Hardcore (1998

Memórias de Copa do Mundo (1)

Jogos de abertura. O jogo de abertura é um momento especial da copa. É uma sensação que talvez só encontre comparações na possibilidade de beber um copo de água depois de atravessar o deserto. Quatro anos de espera, de olho em todas as notícias e sites, todas as revistas e lá estão, finalmente, as seleções perfiladas para a execução do hino nacional. O coração bate forte pela expectativa até a bola rolar. A primeira copa que acompanhei foi em 1994. Mas eu estava em aula e não acompanhei a vitória da Alemanha sobre a Bolívia por 1x0. Acho que eu nem sabia que aquele jogo iria acontecer. A primeira copa que acompanhei, e vi todos os jogos, foi em 98. E aí havia a expectativa da estréia, que tinha o Brasil contra a Escócia. Vestido com a camisa da seleção brasileira (não há como negar que então, a expectativa aumentava pela presença do Brasil), vi César Sampaio cabecear (meio com o ombro) logo no começo do jogo para fazer o primeiro gol. Parecia que ia ser uma goleada, mas a Escócia empat

Proibido olhar

Estava andando na rua e percebi um pênis desenhado na rua. Instintivamente e sem perceber desviei para não pisar em cima. Lembrei-me dos tempos de colégio, em que era normal ter pintos desenhados sobre as cadeiras e sentar sobre uma das pirocas era uma prova irrefutável de ser homossexual. Era quase uma relação sexual. Fosse o desenho feito com estilete ou com corretivo. Parei um pouco para observar e vi: todos desviavam do caralho, ali desenhado em 40 centímentros com errorex. Pensei então que as picas são uma espécie de imagem de culto, ninguém pisa em cima, ninguém encosta, todos fingem não terem percebido. É como se o desenho, ali, singelo e parado no cimento fosse um crime de atentado ao pudor. Não olhe para o pênis. Quase uma imagem sacrossanta.

Sobre as capivaras

Já escrevi aqui sobre as capivaras que atravessam ruas. O que eu não sabia é que atravessar as ruas é quase um traço genético das capivaras. Eles atravessam quando querem e querem o tempo todo. Estava no pantanal, quando capivaras começaram a atravessar a rodovia. Umas oito pelo menos, que iam, voltavam de um lado para o outro. Logo depois de uma placa que dizia que capivaras podiam atravessar a rua e elas atravessavam, como se pra demonstrar que a placa era verdadeira. Uma coisa comprovava a outra. É como se a placa existisse para mostrar o atravessamento e como se elas atravessassem para mostrar que a placa era de verdade. Não dá pra saber o que veio primeiro. E não eram os jacarés de boca aberta no sol, os tuiuiús do alagado ou os gaviões do fio elétrico. As capivaras é que estavam no poder. E elas encontram as maneiras mais sutis de demonstrar isso.

Esquinas

Comecei a ler a piauí na casa do meu tio, uma matéria do Antônio Prata sobre uma viagem na via Dutra. Foi a melhor coisa que tinha lido em revistas, em muito tempo. A principal rodovia do país e todos os tipos que vivem em suas margens. Um texto leve, informativo e com bom humor. Era a segunda edição. Peguei a edição anterior e havia uma matéria sobre palíndromos. Os misteriosos palíndromos. Existiam pessoas que se reuniam para criá-los. Palindrimistas das mais variadas escolas e vertentes. Comecei a comprar a revista e depois a ter assinatura. Cheguei a ter um comentário publicado por lá. Existem edições que são geniais e outras dispensáveis. Não gosto quando a revista publica longos perfis de pessoas desinteressantes, ou quando discute questões arquitetônicas. E minhas matérias preferidas são as sobre assuntos bobos. E aí entra a Esquina. A seção inicial da revista é o que de melhor há na revista. As vezes gostaria de uma revista que tivesse apenas esquinas. Latões de lixo, jornais c

Manchete do Jornal

"20 pessoas morrem nas estradas brasileiras". Na verdade era a legenda da matéria no telejornal. Quando algo parecido acontece perto de você, é estranho. No fundo são 20 tragédias indivíduais que atingem a vida de algumas pessoas. Mas juntas são apenas uma estatística caótica.

Mensagens subliminares

São assustadoras. A idéia de que alguém está controlando sua mente e lhe mandando realizar várias coisas, sem que você saiba. Lembro-me do site mensagensubliminares.com (não sei se ainda existe). A parte das pinturas era assustadora. Caveiras, retratos de crianças que acabaram de ser assassinadas, mesmo que você não perceba. Lembro-me de um professor de literatura que deu um print safado no site (que não permitia o copia e cola) e ficou passando no power point. O que isso tinha haver com literatura? Nada, mas ele deve ter achado legal e resolveu mostrar para outras pessoas. A parte dos desenhos da Disney é ainda pior. Órgãos sexuais em vários cantos. Era engraçado que o site aproveitava para fazer um discurso anti-disney (Walt Disney era um pedófilo gay, diziam), que logo caia por rumos antiglobalização e tudo o mais. E quando se fala das propagandas subliminares da Coca-Cola em um filme, que fez várias pessoas tomarem Coca na saída? E das lojas que colocam mensagens te ordenando a gas

Religiosidade

Estava na quarta-série quando a professora de Ensino Religioso fez uma pergunta simples: qual é a religião de vocês. Católicos levantaram o braço, depois os evangélicos. Uma menina que não levantou o braço disse que era espírita. E eu, que não tinha levantado o braço disse que não tinha religião. A resposta provocou espanto. Como assim, alguém não tinha religião? Como toda criança eu fui criado acreditando na presença de Deus, o papai do céu, alguém a quem nós poderíamos recorrer quando precisássemos. Entrei em um colégio de padres, onde nos ensinaram a rezar e logo começamos a ter as aulas de Ensino Religioso. Foi então que meus amigos começaram a fazer a catequeae. Parecia ser um processo natural da vida, do tipo "nascemos, crescemos, fazemos catequeae, crescemos mais um pouco...". Fui perguntar a minha mãe e ela me explicou os processos religiosos. E foi ai que soube que eu não havia sido batizado. Meus pais acharam que caberia a mim, decidir sobre a minha religião e decid

reflexões no frio

Que frio é esse? E essa garoa que parece que não molha. É tão estranho dirigir o carro por essas longas e úmidas ruas escuras. É difícil não pensar. Todas essas questões sobre o tempo e suas variantes. O passado que não muda e o futuro diferente. Seria bom se a chuva pudesse lavar embora os pensamentos. Mas esse chuva agora, nem molha. É tudo muito novo. E muitos novos para acontecer isso. Acho até que a dor ajuda a crescer (por mais que não acho que ela seja boa, nem que deva se procurá-la). Pela superação. Porque não há dipironas, ácidos e analgésicos com nomes que aprendemos nas aulas de química orgânica sendo vendidos em farmácias, para isso. E o frio... o frio é tão reflexivo e solene.

Sobre o estado de espírito

Estava escutando Metal Guru do T. Rex. Uma banda alegre, até cafona. E uma música com esse nome pode ser tudo, menos triste. Mas eu a achei melancólica. O grito de ahhhh-woow-yeah (ou algo assim) logo na introdução, parece uma ode a melancolia. Essa melancolia estava em mim, ou estava na música? Pego o exemplo de I Saw her Standing There, primeira música do primeiro disco dos Beatles. É uma música quase adolescente sobre mulheres e diversão. É quase uma ode aos bons tempos e a tensão de se dançar com uma garota. Mas esteja triste e tudo ira parecer melancólico. Porque? Não sei dizer exatamente, mas teria uma opinião. A felicidade é relacionada justamente com bons tempos. Nunca se é absolutamente feliz sozinho (um trecho de Up in the air). Já a tristeza está ligada a falta de alguma coisa. Escutando uma música feliz, baixa uma nostalgia melancólica (nostalgia consegue ser alegre?). Pela falta da felicidade, os bons tempos que não estão mais com você. A melancolia está em você e nesses d

(...)

Existem textos que não deveriam ser escritos, simples assim. No mundo perfeito, um texto sobre a morte de alguém não deveria ser feito. Quando esse alguém era um amigo muito querido, a situação é pior ainda. Eu não queria ter que escrever sobre o Dyolen. Mas percebi que precisava. Eu devia fazer essa homenagem a ele, antes que o tempo cicatrizasse as feridas de um fim-de-semana que mais pareceu um pesadelo. Pensei em tantas coisas. Pensamentos abstratos sobre a vida. Mas tentei ser objetivo. E listar momentos marcantes nesses cinco anos em que convivi com ele. 1 Festa do Calouro: Era uma festa do calouro organizada pela nossa turma, estávamos no segundo semestre em 2006. Em certo momento, Dyolen foi nos ensinar três movimentos básicos da dança “atira, defende, a faca”. Não dá para explicar os movimentos em palavras. Mas a dança do Dyolen foi um marco. É quase impossível se lembrar do Dyolen sem pensar em “divertido”. Dyolen me cumprimentava rindo. Sempre ria ao encontrar qualquer pess

E o que dizer?

Ainda me lembro que terça-feira estávamos conversando no gmail. Programávamos alguma coisa para um aniversário no fim de semana. Mas ele disse que deveria viajar para Campo Grande na sexta-feira. Tentamos alguma coisa para quinta, e não foi possível. E ele viajou. Ainda hoje li matéria dele no jornal. As coisas não são como deveriam ser.