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Mostrando postagens de março, 2013

BRMC e Expectativas

No mundo atual existem apenas duas bandas que me criam expectativa quando estão prestes a lançar um disco. Black Rebel Motorcycle Club e Wilco. Todas as outras minhas bandas favoritas já acabaram e o Radiohead, bem, é melhor não criar expectativas sobre o que o Radiohead irá fazer. Lançado há dez dias e na rede há um mês, a vez é do BRMC. E tenho que dizer que o dia em que um disco do BRMC saí na internet é um dia especial. Não vejo a hora de sair do trabalho para fazer o download. Se ainda existissem lojas de discos, eu não veria a hora de sair do trabalho para passar na loja e comprar o CD. Mas, infelizmente, não existem mais lojas de CD em Cuiabá e, infelizmente também, CDs do BRMC não são lançados no Brasil. Só nos resta o download ilegal. Veja, o trio de São Francisco tem um carreira praticamente impecável. Dois discos são geniais (BRMC e Howl), dois discos são muito bons (Devil's Tattoo e Baby 81) e o outro é apenas bom. Infelizmente, esse histórico gera expectativas e

Uma vitória e as memórias de infância

No dia 28 de março de 1993, Ayrton Senna ganhou o Grande Prêmio do Brasil pela segunda e última vez em sua carreira. Para mim, a imagem inesquecível deste GP está registrada aos 5:45 deste vídeo. Ayrton Senna ganha a corrida e é obrigado a parar na reta dos boxes, impedido de passar por uma multidão que invadiu a pista. Após algum tempo lá dentro, Senna saí do carro, sobe sobre ele e ergue os braços comemorando em meio a multidão em êxtase. Imagem digna de pôsteres. Naquela época, o Grande Prêmio do Brasil era um evento. A Fórmula 1 estava no seu auge e o GP brasileiro acontece na hora do almoço. Era a oportunidade de juntar a família toda em volta da televisão para torcer pelo Senna. Para mim, a vitória de 1993 foi muito mais emblemática do que a de 1991, heroica, com seu carro quase quebrando. Em 1993, Senna tinha um conjunto bem inferior a Williams de Alain Prost e esteve claro desde sempre que Prost conquistaria o tetracampeonato. As vitórias de Senna neste ano foram todas

O Poderoso Chefão, ritos e fitas duplas

Neste dia 24 de março de 2013 eu assisti O Poderoso Chefão pela primeira vez. E é bom que se frise que esta foi a minha primeira vez, agora, quando já tenho quase 26 anos. Desde seu lançamento em 1971, O Poderoso Chefão ganhou ares místicos. Para muitos, é considerado o maior filme da história, sucesso de público e crítica, multipremiado com roteiro brilhante e atuações históricas. Mas eu não pretendo falar sobre o filme, não sou bom para falar de filmes. Prefiro falar da primeira vez. Com o tempo, passou a ser difícil assumir que eu jamais havia assistido O Poderoso Chefão. Em todos os lugares em que eu ia, estava rodeado por pessoas que já haviam assistido o filme inúmeras vezes. Outros já haviam lido o livro original de Mario Puzo. E eu não. Era o único ser humano que jamais havia assistido O Poderoso Chefão, um motivo de vergonha. Me perguntava em que aula do colégio eu faltei, a aula em que o filme foi exibido. Se questionado, desconversava com discursos evasivos sobre a cen

Jogo Claustrofóbico

Claustrofobia: Substantivo, feminino singular. Significa o medo mórbido de da clausura ou dos pequenos espaços. Claustrofóbico. Para mim, essa é a principal definição para o futebol praticado pelo Barcelona desde que Pepe Guardiola assumiu o comando da equipe catalã em 2008. Jogo que andou meio esquecido no último ano, principalmente desde a saída de Guardiola e a entrada de Tito Vilanova. Mas jogo que voltou a ser apresentado ontem contra o Milan pelas oitavas de final da Champions League. Não, o Barcelona não tem medo dos pequenos espaços. Ele faz com que o jogo ocorra em pequenos espaços. Troca passes curtos e rápidos eternamente, criando os espaços na defesa do time adversário. A claustrofobia é provocada em seus adversários. Imagino que jogar contra o Barcelona é como ficar preso em um elevador, espremido em um vagão de trem. Você procura uma maneira de sair, mas não encontra. Não consegue sequer respirar, não tem para onde fugir. Em alguns casos, você até consegue sobrevive

Muricy Ramalho Antes e Depois de Yokohama

A carreira do treinador Muricy Ramalho pode ser dividida em antes e depois da humilhante derrota que o seu Santos sofreu para o Barcelona, em Yokohama, pela final do Mundial de Clubes em 2011. Aquele fracasso ficou impregnado em sua face. Olhando em retrospectiva, a vitória do Barcelona parecia óbvia e de fato era. O Barcelona estava no auge do seu belo futebol, tinha Messi encantado, Xavi e Iniesta incapazes de errar um passe, Daniel Alves voando pela lateral direita, a zaga não corria maiores riscos e Fàbregas estava em um começo promissor no seu novo velho clube. A vitória do Barcelona era natural e era preciso fazer alguma coisa para que ela não se consumasse. Mesmo tão óbvia, boa parte das pessoas não tinha essa percepção. O setor nacionalista da imprensa e da torcida brasileira foi tomada por aquele sentimento de "Vamos ver se o Barcelona é assim tão bom". Se eles tem Messi? Nós temos Neymar e eu sou muito mais o Neymar do que esse argentino enganador. Eles tem Xa

Andei Escutando (43)

Nick Lowe - The Impossible Bird (1994) Bob Dylan tinha 56 anos quando lançou Time Out of Mind em 1997. Paul McCartney tinha 55, neste mesmo ano quando lançou Flaming Pie. Neil Young tinha 44 quando lançou Freedom em 1989. Johnny Cash já passava dos 60 quando sua série American Records o resgatou do esquecimento. Da mesma forma, Nick Lowe já tinha 45 anos quando lançou seu pássaro impossível. O que esses discos tem em comum? A volta do reconhecimento para artistas que há muito tempo estavam esquecidos, que obtiveram algum sucesso de crítica e público, mas que depois se perderam, alguns foram esquecidos, satirizados. Pararam no tempo, ou pior, tentaram se adequar as tendências da época e nesse sentido nada foi pior do que os anos 80 para aqueles que começaram nos anos 60. Impossible Bird, tal qual os outros discos citados marca um momento em que as coisas voltam a dar certo. O artista parece, entre outras coisas, reconhecer a sua idade. Deixa de soar como um cover de si mesmo ou

O Papa e Eu

Em 1991 o Papa João Paulo II veio até o Brasil e surpreendentemente esteve presente em Cuiabá. A visita do Sumo Pontífice por estas terras talvez tenha sido o maior evento da história da capital mato-grossense. Lembro-me bem das pessoas amontoadas nas calçadas numa espécie de caça ao Papa. Todos querendo saber onde ele estava por onde havia passado, por onde passaria. A vida era mais dura na era pré-celular. Eu tinha quatro anos na época e fui levado por minha mãe e minha avó até um lugar em que o papa poderia passar. Lembro-me apenas da subida da Morada do Ouro abarrotada e que ficamos em algum ponto por ali. Até que o papa passou. Lembro vagamento de aquele carro com uma gaiola de vidro passando, algo bem rápido, algo que para uma criança de quatro anos não fez muito sentido. "Todo mundo se juntou aqui apenas para ver isso?". Contam que o papa se virou para o lado em que nós estávamos, exatamente enquanto passava por nós. Minha vó desandou a chorar, contam. Mas não me