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Mostrando postagens de 2011

Andei Escutando (29)

Aimee Mann – One More Drifter in the Snow (2006) : Sei lá porque, mas os americanos tem esse fetiche por discos de temas natalinos. Aqui, Aimee Mann dá a sua contribuição para um natal bem intimista e melancólico. Melhores: Whatever Happened to Christmas? e Winter Wonderland . Belle and Sebastian – The Boy With The Arab Strap (1998): Um disco com a cara dos anos iniciais do B&S. A diferença é que neste aqui, as músicas tem um acomapanhamento mais conservador, menos experimental do que nos dois primeiros discos. O melhor da alegre melancolia. Melhores : Ease your feet in the sea e Seymour Stein . David Bowie – Low (1977): Um disco é o que você quer que ele seja. O mundo tece louvores para Low, um disco que dizem, representa a sua época. Se assim for, que época bisonha. O começo do disco é até razoável, mas o chamado Lado-B, repleto de canções “atmosféricas”, é dose. Ninguém em sã consciência escuta aquilo e diz que é bom. Um dos três piores discos que eu já escutei na minha vi

Andei Lendo: Nelson Rodrigues e o futebol

"Sem sorte não se chupa um chicabom. Engasga-se no palitinho". Essa frase sintetiza bem a visão sobre o futebol que Nelson Rodrigues expressava em suas crônicas. Chupar um chicabom pode ser fácil, mas é impossível sem sorte. Sem alma também. Nos tempos em que Nelson Rodrigues escrevia sobre o futebol, a televisão ainda engatinhava. Ou ele escutava os jogos pelas rádios, ou então os "via" no próprio estádio. As aspas se devem a sua miopia, que o fazia enxergar borrões. Daí, pouco importava o que realmente acontecia. O que importava era o que estava em sua imaginação. Pouco importava a tática, a técnica. O que realmente decidia um jogo era algum elemento estranho, seja ele uma cusparada, um tapa, um gol. Histórias recheadas de metáforas, como a do chicabom, ou as conversas de terreno baldio, as chuvas mais fortes que o quinto ato do Rigoleto (dizem aliás, que não chove em nenhum momento da ópera). Nelson Rodrigues adorava ter uma visão contrária a geral. Seu tom raivo

El Camino

Um disco tem para você o significado que você quer que ele tenha. Os Black Keys lançaram seu sétimo disco, El Camino, no começo de dezembro. O disco significou o estabelecimento dos Keys como a grande banda alternativa do momento, o álbum chegando ao #2 dos EUA. Pela internet, vejo pessoas encantadas com a banda, tratando El Camino como o melhor disco da banda. Para mim, está longe disso. El Camino me parece uma bola fora dos Black Keys, um disco que pouco acrescenta a carreira artística do duo, apenas trará o sucesso nas rádios, nas malditas pistas de dança. Vejamos. The Big Come Up era uma estréia tosca, um blues de garagem. Thickfreakness era uma evolução do disco anterior, com uma produção melhor. Rubber Factory seguia um caminho mais garageiro, com riffs marcantes. Magic Potion foi o primeiro disco mais vazio do conjunto, uma sequência do anterior, mas com um apelo comercial maior. Attack & Release trouxe o uso de outros instrumentos, músicas mais calmas, uma experimentação ma

O Barcelona, a mídia

Nelson Rodrigues costumava a falar do complexo de vira-latas do torcedor brasileiro. Que diante dos adversários estrangeiros, o brasileiro se sentia intimidado e já entrava derrotado. Complexo que teria sido superado com a conquista de três Copas do Mundo. Ultimamente, o processo é justamente o contrário. Diante de qualquer adversário, o brasileiro o menospreza. Temos certeza que somos os melhores em qualquer esporte. Nossas derrotas não tem mérito nenhum do adversário, são frutos apenas do nosso fracasso individual. Se jogássemos corretamente, não teríamos como perder. Um complexo de pitbull. Quando o Santos foi enfrentar o Barcelona, esse sentimento apareceu, em menor grau, mas apareceu. A superioridade do Barcelona era evidente, gritante. O time catalão é muito provavelmente a melhor equipe dos últimos 30 anos. Joga de maneira envolvente, massacra os seus adversários e ganha títulos em sequência. Ainda tem gênios como Messi e craques como Iniesta e Xavi. Messi é o melhor jogador do

As duas mortes de Joãosinho Trinta

Aqui em casa, todos nós convivíamos com a certeza de que Joãosinho Trinta havia morrido. A única dúvida, era se o nome dele é Joãosinho ou Joãozinho. Aliás, não sei disso até hoje. Anos atrás o carnavalesco teve um mal súbito e foi internado em estado grave, desenganado. Em algum momento, sua morte ficou conhecida para nós. Sempre que seu nome era mencionado em algum carnaval, minha mãe fazia um comentário do tipo "Mas esse eram aparecido. Coitado, que Deus o tenha". Sua morte era um fato consumado, uma realidade óbvia. Não havia razões para que ele estivesse vivo. Sua morte era uma certeza. Até que um dia, em um carnaval qualquer, eu estava assistindo a televisão. E o repórter entra com uma chamada ao vivo. O entrevistado? Joãosinho Trinta. Meu coração disparou. Por alguns momentos vivi um choque, me perguntei se estava sonhando, se aquilo era a realidade, o que aquilo era. A entrevista prosseguiu com o carnavalesco em um estado lastimável, mas vivo. Creio que não cheguei a

Andei Escutando (28)

Aimee Mann – The Forgotten Arm (2005): A voz de Aimee Mann começa a soar meio enjoativa. Sendo que sua voz representa 80% da graça de seus discos, dá pra entender porque ele é inferior aos trabalhos anteriores. Melhores: King of the Jailhouse e Little Bombs . Caetano Veloso (1968): Algumas músicas são legais, mas não tem jeito: Caetano Veloso tem uma chateabilidade que é inerente a sua existência (apesar de ele dizer que nasceu para ser o superbacana). Melhores: Alegria, Alegria e Soy Loco Por Ti América . David Bowie – Hunky Dory (1971): Um bom disco de pop/rock, antes de David Bowie começar a incorporar personagens. Mesmo assim, acho que ele sempre se interessou por temas alienígenas e sobrenaturais, não? Melhores: Life on Mars? e Quicksand . Elvis Costello – This Year’s Model (1978): Seria um bom disco, mas um teclado de brinquedo que acompanha a maior parte das músicas dá um ar de encontro de karaokê para as letras de corno desajustado do Costello. Além disso, este mesmo t

George

Lembro bem do dia da morte de George Harrison por uma série de coisas. Foi no dia em que meu pai comprou um carro novo, um Siena, cor vinho. Era dia do aniversário do meu tio e de uma prima minha. De presente, coincidentemente, meu tio ganhou o livro Anthology dos Beatles. Lembro-me de ficar olhando o livro, eu, que na época estava começando a escutar Beatles e passava a tarde escutando o Abbey Road. Na manhã seguinte, os telejornais amanheceram com a notícia de sua morte. O Beatle tímido, que no começo cantava as músicas compostas por outros. Something, a música predileta de Frank Sinatra. E vários vídeos que terminavam com Here Comes the Sun ou My Sweet Lord. As duas músicas que George fez em Abbey Road realmente marcaram sua carreira. Mas ele fez muito mais. Compôs grandes canções, como I Need You, Taxman, While My Guitar Gently Weeps. Teve suas viagens espirituais que o aproximaram da música indiana. Teve uma carreira solo discreta, mas competente. Seu último disco lançado em vida

Super Ézio

Escrevo essas pobres linhas com atraso, mas o motivo as tornam justificáveis. Estava em Vila Rica quando li a notícia. O Super Ézio havia morrido. Ézio podia ser apenas um jogador obscuro, um artilheiro de épocas remotas fadadas ao esquecimento para os outros. Mas, o Super Ézio foi o meu improvável primeiro ídolo futebolístico. Filho de um torcedor do Fluminense, sempre carreguei uma simpatia pelo time. E antes de me definir como são-paulino, torcia por São Paulo e Fluminense do mesmo jeito. E o primeiro jogo de futebol do qual tenho lembranças plenas de estar assistindo é a final do campeonato carioca de 1991, vencida pelo Flamengo por 4x2. Se eu não me engano, Ézio marcou os dois gols. Ézio era o símbolo de uma época de fracassos seguidos. O Fluminense não conquistava títulos, conquistava vitórias medíocres contra o Olaria, empates com o São Cristóvão e Itaperuna. Tenho a impressão de que Ézio marcava todos os gols do Fluminense nesses jogos. Ok, não todos, mas uma boa parte. Na minh

Abandono

E vez por outra esse blog fica abandonado. Sinto até um remorso, mas o que posso fazer? Minha intenção nunca foi ter compromisso aqui. Já escrevo tanto em outro blog, no trabalho. Aqui só escrevo quando tenho inspiração. Algo raro nos últimos tempos.

Canetas BIC

Canetas BIC tem um quê de mistério, diria Djavan. São objetos que não tem dono. Canetas podem sumir e reaparecer naturalmente. Serem trocadas, tais quais crianças em um berçário, sem que ninguém perceba. Se há uma caneta BIC no ambiente, você é o dono dela. Seu vizinho também. Inclusive da que você pagou. Canetas BIC são um símbolo da produção em massa de um objeto simples e barato. Quantas existem no mundo? Com certeza já superaram a marca de 7 bilhões há tempos. Todas são feitas de maneira igual, teoricamente. Mas uma caneta BIC nunca é igual a outra. Em algumas, o refil de tinta seca com o tempo. Em outra, ele parece intocável até o momento em que ele acaba te deixando na mão sem aviso prévio. Existem canetas azuis que são quase pretas. Outras que beiram o roxo. Outras que são azuis. Existem aquelas que deslizam pelo papel, simulando um ambiente perfeito, sem atrito. Existem aquela que travam uma guerra com a folha, que parecem um estilete desafiado. Talvez, canetas BIC sejam o espe

Andei Escutando (27)

Aerosmith – Get a Grip (1993): Um disco bem chato, clichê ao extremo. Parece que o Aerosmith gravou uma dezena de canções chatíssima para completar um álbum que conta com alguns hits radiofônicos. Aliás, alguns desses hits são bem chatos também. Melhores: Crazy e Cryin ’. Aimee Mann – I’m With Stupid (1995): O disco abre com um “you’ve fucked it up”. Bem passional. Melhores: Ray e Long Shot . Elvis Costello – My aim is true (1977): É inegável. Elvis Costello tem uma grande vocação para ser corno. Mas, mesmo chifrudas, algumas canções são excelentes. Melhores: (aaaaaaaaaaa) Alison e Less than zero . Jefferson Airplane – Surrealistic Pillow (1967): Desses discos com a cara dos anos 60, para o bem e para o mal. Melhores: She Has Funny Cars e Today . Love – Four Sail (1969): É o segundo melhor disco do Love, atrás apenas do excepcional Forever Changes. A saída de Brian McLean parece ter tirado um pouco do experimentalismo, mas Athur Lee ainda estava bem inspirado. Melhores: You

Voo Tranquilo

Quando If I Had Gun... , terceira faixa do disco de estréia de Noel Gallagher, Noel Gallagher's High Flying Birds , começa a tocar, você sente um frio na barriga. Os primeiros acordes do violão não deixam dúvidas de que uma grande canção irá começar. E ela começa. A melodia perfeita, tudo parece encaixado. Há algum tempo que tento escrever sobre esse disco, e não é fácil. Noel Gallagher era o cara do Oasis, a banda que mais marcou minha adolescência, autor de uma dezena de clássicos talhados para serem cantados em estádios. Com o fim da banda, o que ele iria fazer? Eu nunca tive dúvidas de que ele seria capaz de fazer um grande disco. Temia que ele pudesse fazer algo parado demais. Mas, tenho a impressão que ele acertou o tom. High Flying Birds tem dez canções que se encaixam a sua voz, sem ser um álbum meloso. Tentei buscar explicações técnicas, que eu não saberia explicar mesmo, analisar o histórico das canções. Sim, há momentos em que uma batida repetitiva diminuí o nível. Há é

Medalhas e o pan

Assim que o fato de ficar atrás de Cuba no quadro medalhas dos jogos pan-americanos ficou consolidado, começaram a chover comentários exaltando a vergonha nacional. Como é que um país maior, mais rico e que investe mais fica atrás dos pobres cubanos? Ficar atrás de Cuba em que jogos forem não é nenhuma novidade. É assim que ocorre desde o princípio dos tempos. Os cubanos tem uma política esportiva mais forte, a população pratica esporte realmente. Geralmente, Cuba sempre começa mal nessas competições, uma vez que a primeira semana é marcada pela natação. Quando as lutas, o atletismo e outros esportes de força começam, elas disparam. Mas, o fato é que o Brasil se aproximou de Cuba no cenário panamericano. Se em 1999 o Brasil brigava pela quarta posição com os argentinos, agora já chegou próximo dos cubanos na segunda posição. E, fora de casa, o que é mais difícil. Em 2007, o desempenho foi forte, mas os países sede costumam levar vantagem. Que o diga o México, que praticamente triplicou

Tradição e novidade

Pasta de dente é algo que exige revezamento nessa vida. Sempre que seu tubo de pasta de dente acaba, e você pega um novo, de marca ou tipo diferente, o novo parece melhor. Seus dentes parecem mais limpos, o novo sabor parece trazer limpeza. Mesmo que sejam apenas dois tubos diferentes, a variedade faz bem. A mesma coisa acontece com requeijão. A rotina de marca parece saturar o seu paladar. A variedade faz bem, exceção feita ao horrível requeijão da lacbom. Queijos também... acho que talvez todos os laticínios. É diferente do chocolate em pó. Seja fiel a marca que você escolheu, porque todas as outras são péssimas. O mesmo acontece com os pães. * Parágrafo perdido no espaço. Existem coisas que só você sabe fazer. Como, por exemplo, encaixar o som do seu carro no lugar.

Basta estar vivo

Joguei futebol durante muito tempo da minha vida. Duranteuns 10 anos, com alguma frequência. Por vezes, pelo menos uma vez por semana. Me machuquei algumas vezes. Incontavéis ralados, dores de pancadas. Torci o pé umas três vezes, coisa leve. Só lembro uma vez que eu fiquei com o pé dolorido duas vezes. Mas eis que minha lesão mais grave, a torça de verdade ocorreu andando. Sim, eu apenas andava. Ia para a academia. Fui descer um degrau e meu pé não pisou no chão normalmente, virou para dentro. Senti o ligamento estirando e não consegui mais pisar. Meu tornozelo ficou do tamanho de uma batata. Fiquei com o pé imobilizado, ele ficou roxo. E quinze dias depois ele continua inchado. Continua doendo para certos movimentos. Continua doendo quando é apertado. Foi andando apenas. Não estava me arriscando com nada. Apenas andava. Como apenas andava, numa manhã de volta de feriado, algum cidadão. Alguém que foi arremessado do outro lado de uma praça por conta de uma explosão de gás. A pessoa mo

Vettel

Vettel é o mago das poles. Por vezes ele pode não ter o melhor carro, mostrar não ter a melhor constância. Mas na hora de fazer uma volta rápida, de andar no limite máximo por apenas uma volta, ele é insuperável. Por isso ele conseguiu 12 poles em 15 corridas neste ano. Sua volta de classificação no Japão foi sensacional. A Mclaren andou mais rápido o fim de semana inteiro, estava mais rápida no treino, Vettel andava apenas em terceiro ou quarto. Na última volta, passou por cima de zebras, quase foi fora do traçado. E fez a volta mais rápida. Button veio na sequência, tranquilo, nove milésimos mais lento. Esses nove milésimo, provavelmente bem mais, foram obtidos no limite extremo. Button deve ser o favorito para a corrida de amanhã, uma vez que a Mclaren mostra ter um carro melhor. Mas Vettel será o campeão com tranquilidade. Sua capacidade de atingir o limite em uma volta já é o suficiente para colocá-lo entre os grandes da história

Andei Escutando (26)

Aimee Mann - @#%&*! Smilers (2008): Um conjunto de canções bonitinhas e apenas isso. Melhores: Looking for Nothing e It’s Over . Blur – 13 (1999) : Cada disco do Blur dava uma mostra de como seria o posterior. 13 é uma continuação de Essex Dogs , que fecha o disco homônimo de dois anos antes. Músicas travadas, experimentais, cheias de efeitos. A mudança constante do Blur realmente é marcante. Melhores: Coffe & TV e Tender . Chico Canta (1973): Disco político, de músicas censuradas, crítico. As letras são importantes, mas o instrumental – distante do samba, lembrando até os teclados progressivos – também é marcante. Melhores: Cala a Boca Bárbara e Tire as mãos de mim . Elvis Costello (1982): Não é um disco ruim, mas é decepcionante. Decepcionante que um dos discos mais falados do mito Elvis Costello seja esse conjunto de canções de bordel com letras que fariam bonito para Leandro e Leonardo. Melhores: Man Out of Time e Pidgin English . Kula Shaker – K (1996): É um bom

Todo o amor do Wilco

Aos poucos, o Wilco se transformou numa banda incapaz de lançar um disco ruim. O problema, é que nos últimos dois discos a banda caminhava por um caminho fácil, de músicas boas e simples, sem nenhuma inspiração extra. Longe dos tempos de Yankee Hotel Foxtrot, disco excepcional, perturbado, talvez fruto das enxaquecas de Jeff Tweedy. The Whole Love vem mudar isso. O disco ainda é cheio de canções fáceis que não dizem nada demais. Mas a banda volta a soar muito inspirada. Dá para perceber logo no começo. Art of Almost é um épico de sete minutos, que começa difícil e aos poucos se transforma numa grande canção, com um final épico. Sunloathe é melancólica ao extremo, Dawned on Me e Born Alone tem refrões épicos, que remetem ao Power Pop. A impressão é que o Wilco conseguiu juntar o que de melhor fez na carreira neste disco, um álbum que abraça todos os seus estilos. O country, o experimental, o pop, o folk e faz renascer a chama do Wilco enquanto uma grande banda, capaz de surpreender.

Vence na vida quem diz sim (?)

E baixei o disco "Chico Canta" de 1974. Olho os nomes das músicas "Cala a Boca Bárbara", "Tire as mãos de mim", "vence na vida quem diz sim". Nome que chama a atenção. Começo a imaginar qual seja a letra que conclua, que se encaixe neste título sonoro. Mas é uma música instrumental. Me intriga como alguém escolhe o nome de uma música instrumental. Tirando os fáceis "prólogo", "introdução", "interlúdio". Como a partir de um conjunto de acordes alguém resolve "isso tem cara de vence na vida quem diz sim". Será que houve um dia uma letra? Apagada por incompetência, escolha pessoal? Porque vence na vida quem diz sim? (Nota posterior: a letra dessa canção foi censurada na época da ditadura militar. Agora tudo faz sentido em minha vida).

Planeta dos Macacos, a Origem

Poderia ser um bom filme, que discutisse a ética médica na pesquisa com animais. É certo pegar os animais como cobaias? Quais os limites das pesquisas científicas? Mas, no geral, qualquer discussão fica abaixo de um monte de macacos pulando. Atualização posterior: sem contar que já deve estar pronto um roteiro para "Como os macacos dominaram o mundo".

O 11

Me estranha ver hoje, passados 10 anos dos ataques terroristas de 11 de setembro, como algumas pessoas reagem friamente ao fato. Claro que é de se pensar em tudo o que veio depois. Nas chamadas guerras contra o terror, nas muitas mais mortes que vieram em solo iraquiano e afegão. É claro que é de se condenar a postura americana nesses casos. Mas penso naquele dia. Típico dia em que todo mundo se lembra o que fazia. Sempre lembro de ter chegado em casa, vindo a pé do colégio, ter pego um copo de Guaraná Light e ligado a TV, na espera do Globo Esporte. Mas, vi a cena das pessoas se jogando do alto do prédio em chamas. Foi um dia em que era difícil entender o que estava acontecendo. A cena é forte, o avião se chocando contra uma prédio, a explosão. É provável que a repetição da cena tenha banalizado o impacto. Dez anos depois, é de se entender a emoção daqueles que sofreram naquele dia.

16 anos depois

Acompanho basquete com freqüência desde o mundial de 2002. Tempo em que já vi grandes jogos, como a final do Mundial em 2002, a vitória da Argentina sobre os EUA em 2004, a final Olímpica de 2008, Sérvia x Turquia no ano passado. A seleção brasileira não esteve em nenhum destes grandes jogos. Seria injusto dizer que o Brasil não fez bons jogos. Mas, no geral, ganhou uma dezena de jogos em competições de menor importância e falhou nos momentos decisivos. As participações em pré-olímpicos foram desastrosas, os jogos nos Mundiais apagados. Sobraram medalhas em Pan-Americanos. Para piorar, as estrelas da NBA nunca estavam dispostas a ajudar. E Leandrinho, que poderia ser o jogador diferencial, sempre decepcionava nos momentos decisivos. A entrada de Moncho Monsalve em 2007 melhorou um pouco o time. A seleção passou a ter um trabalho defensivo mais forte, o espanhol separou aqueles que tinham condições de jogar e o Brasil conseguiu um título na Copa América de 2009 com muita raça. Mas a che

Andei Escutando (25)

Aimee Mann – Bachelor no. 2 (2000): Disco de melodias agradáveis. Melhores: Save Me e Deathly . Donovan – What’s Bin Did and What’s Bin Hid (1965): No seu disco de estréia, Donovan tenta ser igual Bob Dylan. Chega até a cantar anasalado. Pena em que em 65, nem Dylan parecia mais com ele próprio. Melhores: Catch the Wind e Ramblin’ Boy . Galaxie 500 – On Fire (1989): As duas músicas iniciais são um choque. Guitarras repetitivas, gritinhos agudos. Se você conseguir sobreviver, até perceberá algumas boas canções. A melhor do disco é o cover de George Harrison. O que deve dizer algo sobre as composições próprias da banda. Melhores: Isn’t It a Pity e Strange . George Harrison – Extra Texture (1975): Imagino que já disse isso em outra oportunidade. Não importa a época, George sempre faz grandes músicas quando sua guitarra chora gentilmente. Melhores: The Answer’s at the End e Tired of Midnight Blues . Josh Rouse – Dressed Up Like Nebraska (1998) : Disco padrão médio

A diversão de Jon Fratelli

Prestes a lançar seu primeiro disco solo, Jon Fratelli constatou: o disco solo era a melhor coisa que ele já fez. Se continuasse numa banda, continuaria infeliz. Ele pode estar tão feliz quanto ele imagine. Mas isso não significa que ele esteja fazendo boa música. Ao sair dos Fratellis, banda altamente influenciada pelo britrock, ele abandonou o seu sobrenome artístico para assumir o sobrenome de batismo, Lawler, e formou o Codeine Velvet Club, uma banda pop com influência de música de cabaré. Lançou um disco, se cansou e partiu para a carreira solo. E então, retomou o Fratelli. Deve ser a sua tentativa em fazer com que as pessoas se lembrem quem ele é. O disco é uma continuação do que ele fazia nos Fratellis, com alguma liberdade para experimentar mais. Ele enche o disco de coros, instrumentos diferentes, e torra a paciência. Ele vai bem, justamente quando lembra sua antiga banda. Caso do primeiro single, Santo Domingo. Mas no geral, o disco parece uma coletânea de b-side

O Cuiabano e o Frio

Passar pelas ruas de Cuiabá em uma madrugada fria é perceber. Perceber que o cuiabano não nasceu para o frio. Vejo moradores de rua tentando se aquecer. Pessoas nos bares vazios. Guardadores de carro na boate quase abandonada. Caminhantes noturnos. No rosto de cada um é possível perceber que eles não estavam preparados para aquilo.

Geladeiras

Na minha infância, todas as geladeiras eram marrons. Não sei dizer se marrom é a definição mais precisa para a sua cor (definitivamente não sou bom para definir uma cor precisamente), mas era algo por aí. Você deve ter na sua cabeça. As duas primeiras geladeiras aqui de casa, ao que eu me lembre, eram marrons. Combinavam com o fogão, que também era marrom. Vejo fotos mais antigas e observo que muitas geladeiras eram pintadas num tom de azul bem claro. Devia ser a moda da época, de geladeiras que desfilavam no eixo Paris-Milão. Agora, todas são brancas. Aqui em casa é branca. Na casa da minha tia é branca. Na casa da minha namorada é branca. Olho nas lojas e só vejo geladeiras brancas. Disputam algum espaço com as que têm revestimento de aço (bem, creio que não seja realmente aço), mas no geral são brancas. Imagino que elas queiram passar a noção de limpeza. Deve ser a era clean do catálogo das cozinhas. Mas até por isso, sujam facilmente. Facilmente. É provável que as gelad

Relógios

Júlio Cortazar já dizia "quando dão a você de presente um relógio estão dando um pequeno inferno enfeitado". (Vale a pena se alongar antes de discorrer sobre a idéia, porque o trecho é genial). Não dão somente o relógio, muitas felicidades e esperamos que dure porque é de boa marca, suíço com âncora de rubis; não dão de presente somente esse miúdo quebra-pedras que você atará ao pulso e levará a passear. Dão a você — eles não sabem, o terrível é que não sabem — dão a você um novo pedaço frágil e precário de você mesmo, algo que lhe pertence mas não é seu corpo, que deve ser atado a seu corpo com sua correia como um bracinho desesperado pendurado a seu pulso. Dão a necessidade de dar corda todos os dias, a obrigação de dar-lhe corda para que continue sendo um relógio; dão a obsessão de olhar a hora certa nas vitrines das joalherias, na notícia do rádio, no serviço telefônico. Dão o medo de perdê-lo, de que seja roubado, de que possa cair no chão e se quebrar. Dão sua marca

Andei Escutando (24)

Ash – Free All Angels (2001): Um disco em que o Ash acerta em vários momentos. Consegue bons refrões e mantém um peso nas músicas. No entanto, o resultado é meio pífio quando eles tentam experimentar com orquestrações. Melhores: Shinning Light e Burn Baby Burn Creedence Clearwater Revival – Bayou Country (1969): Discos do CCR são sempre parecidos. Sempre tem ótimas músicas, mas a impressão é que a discografia é meio cansativa. Melhores: Penthouse Paper e Proud Mary . Elliott Smith – From a Basement on the Hill (2004): Sempre há uma expectativa mórbida sobre um disco póstumo. Ainda mais no caso de Smith, que cometeu suicídio com duas facadas no peito. Esperamos uma nota de despedida. Não é o caso. O disco traz as características de sempre, músicas vibrantes de uma vibração desesperada. O disco segue também a linha de evolução de sua carreira. Escutada cronologicamente, é possível notar claramente o traço de evolução. As músicas acústicas do começo foram ganhando produção aos pouc

Cielo

Nunca tive dúvidas de que César Cielo conseguiria se recuperar esportivamente. Já ganhou uma prova no Mundial de natação e imagino que ganhará outras duas. Talvez perca uma, mas sua presença no pódio é garantida. A grande dúvida a respeito da carreira de Cielo, é se ele vai recuperar a sua imagem. Está arranhada sem dúvida. Cielo deixou de ser um garoto que se emocionava no pódio, para ganhar a imagem de um esportista sujo. Sempre que Cielo ganhar uma medalha, todos olharão com desconfiança. Nesse mundial, todos o olharão pensando que ele não deveria estar ali. E de fato, Cielo não devia. Pode ser que seu doping tenha sido um acidente, realmente. Acontece que inúmeros outros atletas passaram por situações semelhantes, comprovaram a não intenção de ganhar vantagem esportiva, que não ganharam essa vantagem. Mas, foram igualmente punidos. Não digo que Cielo deveria ser banido, punido por dois anos. Mas, alguma punição deveria acontecer. A punição talvez não limpasse a sua imagem. Mas, pre

Montevideo

Quando se caminha por Montevidéu, a impressão é que você voltou no tempo. Andar em Montevidéu, com seus prédios antigos e bem conservados, é como andar nos anos 50. Observando os carros antigos, bem antigos que passam. É como se o espírito uruguaio continuasse preso aos seus anos de glórias. Glórias que, glórias? Se elas existem eu não sei, mas é sempre bom imaginar que elas existiram. Passado presente nas inúmeras feiras de antiguidade, colocadas em suas praças frescas e arborizadas. De um povo que aprecia o preparo de uma carne, como quem esculpe uma estátua. Que gosta de bons vinhos e peixes, com preços acessíveis. Uma cidade horizontal, em que os prédios não ultrapassam os quatro andares. Uma cidade de vento, e como venta a beira do mar, que chamam de rio. Se essas glórias eram passadas, agora podem ser presentes. O time uruguaio que conquistou a Copa América é de orgulhar. Já havia feito uma campanha emocionante na Copa do Mundo e consagrou uma geração no torneio continental. Os u

Auro Ida

A morte de Auro Ida me chocou de uma maneira diferente. Eu não o conhecia. Ou melhor, quase não o conheci. Na noite de quinta-feira eu fui ao cinema, no shopping 3 Américas. Passando em frente a rampa da Livraria Janina, minha namorada cumprimentou um homem. Pele queimada, cabelos cheios e grisalhos, japonês de camisa vermelha. Um japonês grande, para os padrões japoneses. Conversam sobre amenidades da profissão jornalística. E então, ela me apresenta. Cumprimento também o japonês. Ele também apresenta a jovem de cabelos pintados de loiro ao seu lado, a sua namorada. Estavam juntos de outro menino, que devia ter uns 14 anos. Seguimos em frente, após a breve conversa. Pergunto a minha namorada quem ele era. Ela diz que era o Auro Ida. Em um primeiro momento, entendi Auro William. Explica que é um jornalista, desses jornalistas das antigas, já trabalhou na Gazeta, já foi secretário de comunicação da prefeitura de Cuiabá. O ingresso para o cinema foi comprado as 20h52. Creio que encontrei

Mosquinhas de banheiro

Quando eu era criança, adorava matar mosquinhas de banheiro. Essas moscas exóticas, que até parecem um coração. Matava várias. Umas 10, 20, 30, em um único dia. Acho que matei tantas, que elas desapareceram. Do nada. Matá-las era fácil. Elas não ofereciam resistência. Não era preciso muita coisa para poder esmagá-las contra a parede. Vez por outra aparece uma, perdida, mosquinha no meu banheiro. Tento matá-la e é mais difícil. Elas estão mais rápidas. Escapam. Lutam pela vida. Será que eu não sou mais o mesmo? Será que não se fazem mais mosquinhas como antigamente? Ou será que Darwin me manda um recado enquanto eu tomo banho?

A manhã e a tarde

A manhã tem um sol cristalino, branco em céu azul límpido. A tarde tem um sol opaco, em um céu alaranjado. As sombras se põe de lados diferentes. A sombra da manhã é refrescante e a da tarde parece perdida num ambiente homogêneo de calor. A manhã queima os olhos e a pele. A tarde parece te derreter.

Andei Escutando (23)

Band of Skulls – Baby Darling Doll Face Honey (2009): Muitas bandas fazem músicas perfeitas que não tem nenhuma emoção. Não é o caso desse grupo, que tem um par de canções fracas, mas que transpiram energia e vibração. O resultado acaba sendo positivo, com canções que grudam na cabeça. Melhores: Fires e Death by Diamond and Pearls . Love (1966): O disco de estréia do Love é algo na linha do folk/rock dos Byrds. Bem longe de Forever Changes e seus arranjos de cordas, instrumentos de sopro, música cigana, fanfarras e o que mais a mente humana conseguir imaginar. Melhores: My flash on you e Colored Balls Falling . Pernice Brothers – Yours, Mine & Ours (2003): Um disco simpático, com uma audição agradável, meio melancólico, mas que não se destaca. Melhores: Waiting for the Universe e The Weakest shade of Blue . R.E.M. – Reckoning (1984): O R.E.M. nunca fez muito a minha cabeça, apesar de ter bons discos. Só continuo achando interessante que a melhor banda dos anos 80 tenha la

Tenho...

... estado sem assunto. Não tenho tido assuntos para falar. Ou talvez, não tenho tido inspiração. É dessas épocas em que as palavras parecem fugir. Gostaria de ter falado sobre a edição da piauí de Maio. Uma das melhores revistas que já li em minha vida. Uma revista que teve um foco humano incrível, grandes histórias. A matéria sobre a tragédia em Nova Friburgo é uma espécie de Hiroshima de John Hersey, feita no Brasil. Em alguns momentos, precisei parar para tomar um folego. Há ainda a matéria sobre a vida de um analfabeto, as revoltas na usina do Jirau, o caso Champinha, os viciados em Crack. Muitas matérias boas. Tinha algum outro assunto que eu pensei em escrever... mas esqueci. Quando me lembro, não evoluo. Travado.

Como Funciona

Quando você gosta de assistir esportes funciona mais ou menos assim: você bate o olho e está ocorrendo um jogo. Logo você cria uma identificação com um dos lados e passa a torcer por esse lado. Não que torcer signifique que você dará piruetas com os exitos e tiros na cabeça com os fracassos. Significa que você cria uma expectativa, uma vibração interna para um dos lados. Comecei a assistir tênis na época do Guga. Além de brasileiro, ele era um cara extremamente carismático. Cabelos grandes, jeito desengonçado, roupas coloridas. E jogava muito. Hoje torço pelo sérvio Djokovic. Djoko tem a minha idade, é um cara engraçado, com senso de humor e que sempre leva tudo na esportiva. Não gosto do suíço Federer e seu jeito enfadonho. Nem muito de Nadal. Dallas Mavericks e Miami Heat jogavam a final da NBA. Comecei a torcer pelo Dallas. Porque? Porque Dallas tem Dirk Nowitzki, jogador alemão de quem sou fã desde que comecei a gostar de basquete no Mundial de 2002. Também tem o grande Jason Kidd.

Relações não-pessoais

Andava pela rua quando um cara dentro do carro me pergunta uma informação. No dia seguinte, o fato voltou a ocorrer. E ocorreu novamente na semana seguinte. Penso se é tão normal pedir informação na rua e se as outras pessoas são perguntadas sempre. Eu sempre dei muitas informações. Talvez eu pareça confiável. E de fato, conheço bem as ruas do meu bairro. Não pareço confiável para caixas de supermercado. Sempre tenho a impressão de que elas não foram com a minha cara. Ou será que elas não vão com a cara de ninguém? Seria esse emprego tão ruim? Não costumo a ter essa sensação com o pessoal da fila do pão, ou dos frios. Mas minhas melhores relações são com guardinhas/porteiros e afins. Sempre tenho a impressão que da próxima vez o cara vai me mandar entrar sem saber se eu posso mesmo.

Se Beber Não Case 2

Dei crédito porque o primeiro filme era muito bom. Um humor bobo, nonsense, mas até inteligente. O segundo filme não. O roteiro é idêntico ao primeiro. Alguém se casa. Alguém coloca alguma coisa no que eles consomem. Eles acordam num cenário sujo e misterioso e sem se lembrar de nada. Alguém está perdido, e agora? Só que enquanto o primeiro filme era engraçado pelo acúmulo de situações surreais, esse não tem muita coisa. O humor é mais grotesco, sexista. Coloquem aí um macaco fumante. Coloquem travestis. O personagem barbado, que era um idiota engraçado, agora é um babaca. Suas atitudes sem noção do primeiro filme, revelavam uma certa inocência. Agora parecem ser por maldade. A vida segue assim. Ano após anos, seqüências fracassadas de filmes bons são lançadas e ganham nosso dinheiro.

Valéria, Valéria

Valéria, você não me conhece, mas eu bem te conheço. Ainda me lembro do dia em que você entrou na minha vida, três anos atrás. Um sábado de manhã quando uma mensagem chegou em meu celular. Pedia para que você, Valéria, regularizasse sua situação junto ao crediário da Riachuelo. Não levei a sério, achei que fosse um spam, um engano. Engano o meu, Valéria. A mensagem chegou por vários dias. Chegaram a me ligar Valéria, sua caloteira, acredita? Me ligaram querendo falar com você. Duvidaram que eu não fosse você, ou que você realmente não estivesse aqui. Um dia me ligaram de uma concessionária. Durante sete dias úteis consecutivos, Valéria. Eu notava o desespero na voz da mulher do outro lado. O que é que você faz Valéria? A situação saiu do controle Valéria, sua burra, quando passei a receber ligações de pessoas comuns. Escutava crianças chorando, televisões ligadas ao fundo. Será que ao invés de caloteira, você apenas não sabe seu número, heim, Valéria, sua anta. O que custa você dar o n

Andei Escutando (22)

Billy Bragg: Imagino que não as condições de temperatura e pressão não importam. Discos do Billy Bragg preservam uma aura de sarau de movimento estudantil. Letras politizadas, voz e guitarra – por vez uma flauta – e um eco, constante eco, que dá aquele ar de solidão. São anos para se diferenciar as músicas por nome. Eric Clapton – Journeyman (1989): Os timbres, batidas e sintetizadores não nos deixam esquecer a década em que esse disco foi gravado. Mas Clapton sempre funciona bem quando toca clássicos do blues. Melhores: Running on Faith e Old Love . Pearl Jam – Backspacer (2009): Apedrejem-me. Mas, eu acho Pearl Jam uma banda chata. Dezenas de canções médias e medíocres, com uma ou outra realmente muito boa. Junte-se a chatice do Eddie Vedder cantando. Esse disco não tem uma música que seja absurdamente ruim, mas sua coleção de números animadinhos e baladas tediosas, enchem o saco. Melhores: Among the Waves e Force of Nature . Pernice Brothers – Overcome by Happiness (1998): H

Barcelona, o time

O que o Barcelona fez nos vinte primeiros minutos do segundo tempo do jogo de ontem, a final da Champions League contra o Manchester United, deveriam ser expostos permanentemente no Museu do Louvre. Vinte minutos que mostram a arte que o Barcelona faz, jogando futebol. O único time do mundo atual que joga artisticamente. O Manchester esteve dominado depois de tentar pressionar durante dez minutos. Logo começaram os toques curtos, precisos, intermináveis, em busca do gol. As chances apareceram. E o segundo tempo foi um espetáculo. O United mal conseguia sair de sua área, parecia que era um time de amadores, e não o atual campeão inglês, que estava invicto no torneio. E então, aparece Messi. O grande artista. Que faz gols, dribla, passa. Messi teve uma atuação espetacular na final da Champions League. Infernizou o time inteiro adversário, deu dribles humilhantes e fez o gol mais importante da partida. O que o Barcelona faz parece impossível. E parece que só é possível nesse clube, um rar

O gosto d'Água

Aprendemos tão cedo que a água não tem gosto, não tem cor e não tem cheiro. Geralmente ela realmente não tem cor, mas dizer que água não tem gosto é uma mentira. Seja esse gosto subjetivo ou real. Tanto que às vezes temos a sensação de ter bebido a melhor água do planeta. Tecnicamente seria uma água tão igual a qualquer outra água, mas não é. Imagino que não exista água melhor do que aquela bebida após atravessar um deserto. Temos a água de fonte natural, aquela que você bebe quando vai a alguma região de montanha. Essa água tem um gosto de liberdade, de natureza e vem numa temperatura tão boa, que você poderia ficar horas bebendo-a. Fora que o ato de beber nas palmas da mão parece ser mais saboroso do que os a utilização de copos. Águas em copo de plástico são terríveis. Elas provocam o péssimo contato com sua borda relevada, com restos de cola. Água de garrafinha sempre parece ter um gosto de resíduo, algo que se sente mesmo nas papilas, longe de qualquer sentido figurado. Como a águ

Susto do Sósia

O nome de Roberto Gurgel não significa muita coisa. Talvez você até reconheça o nome do Procurador Gerarl da República. Mas, a questão é a sua imagem. Fica claro que Roberto Gurgel é um elo perdido, uma versão alternativa, um irmão esquecido de Jô Soares. Não sei se Gurgel se assustou com sua semelhança. Ele sempre deve ter sido parecido com Jô Soares, já deve ter escutado essa piada dezenas de vezes ao longo da sua vida. É provável que o Jô é que tenha se assustado. Ao se ver dando entrevistas na televisão, com um nome que não era o dele, numa função que não era a dele. Um estranhamento. Eu sei o que é isso. Estava na faculdade quando pessoas começaram a me perguntar se eu havia feito um comercial do CCAA. É claro que não, que nunca havia feito comerciais. Mais de uma pessoa comentou isso, mas eu nunca via a tal propaganda. Até que um dia eu estava dormindo durante o Jornal Nacional e acordei com o barulho da vinheta indo pro intervalo. Foi então que eu me vi na TV. Nem entendi o enre

Texto antigo: Dossiê Iscariotes

Sexto semestre da faculdade, trabalhos intermináveis, pautas, roteiros, artigos, reportagens. E no meio disso tudo, as resenhas. E no meio de tantas resenhas uma era sofrível: O Dossiê Iscariotes de Marcos Losekann. Um pífio romance policial/sobrenatural com personagens fracos e uma história bizonha. Com insônia, fiz minha resenha mais verdadeira dos tempos de faculdade. Todo romance policial tem uma estrutura parecida. Acontece um crime terrível e misterioso e ninguém sabe quem é o criminoso. Então alguém começa a investigar o caso. Junta as provas, observa todos os detalhes que o levarão até uma solução. Ele pode conseguir isso através de um simples telefonema ou através de um rosto refletido nas pupilas de uma mulher em uma fotografia. Os livros desse gênero não são feitos para mudar a vida de ninguém, nem para provocar reflexões sobre a existência humana, ou a prática do jornalismo ou o que seja. Os aficionados por este gênero costumam a ler várias obras em pouco tempo, movidos pel

Andei Escutando (21)

Sem empolgação/empolgação/inspiração pra continuar essa interminável série Blind Melon (1992): Todo disco americano desta época parece ter um rotulo grudado de “grunge”. Algo que resulta em pré-julgamentos distorcidos e percepções diferentes. O disco de estréia do Blind Melon não tem nada de grunge ou camisas xadrez. Eles soam como uma banda apaixonada pela geração hippies. Além de eternizar a abelhinha dançante da capa e do clipe de No Rain . Melhores: No Rain e I Wonder . Chico Buarque de Hollanda (1966): Chico em estado de poesia pura. “A Rita matou nosso amor de vingança, nem herança deixou. Não levou um tostão porque não tinha não. Mas causou perdas e danos. Levous os meus planos, meus pobres enganos, os meus vinte anos e o meu coração. E além de tudo, me deixou mudo um violão” . Melhores: A Rita e Olê Olá . Gram (2004): O Gram foi uma banda bem intencionada que quase fez um disco bom, repleto de canções quase boas. Mas tem uma guitarra que atrapalha aqui, um verso desnecess

Eu estava

Eu estava de calças compridas, dormindo de calças compridas e manga longa. Por conta dos muitos mosquitos que não me deixavam dormir. Eu estava feliz. Ainda debilitado por conta dos vários dias de cama, vítima de uma virose. Mas eu estava feliz ainda, por acordar sem febre, sem mal-estar, com a garganta normal. Eu estava, era, com o joelho machucado, fruto de um tombo idiota. Eu estava assistindo a final da liga de vôlei. Havia acordado sem sono e liguei a TV. Jogavam Florianópolis e Montes Claros. Eu havia ido no bar do Blues, na noite anterior. Um bar que passava clipes de Stevie Ray Vaughan. Eu estava com Metal Guru, do T.Rex na cabeça. Música que havia escutado antes de dormir na noite anterior. Eu planejava voltar a academia na segunda-feira, depois de um mês. Pensava no post que eu poderia fazer para o CH3. Eu ainda estava naquele estado misto entre estar acordado ou estar dormindo, num sábado normal. Ainda não havia tomado o café. Era um dia normal. Foi quando o telefone tocou.

Faculdade

Foi num dia 27 de abril, em 2005 que eu tive minha primeira aula na faculdade. Ou, o que deveria ser a minha primeira aula. Pois nesse dia eu só vi uma apresentação de monografia e tive punhados de farinha descarregados na minha cabeça. A faculdade foi uma época marcante da minha vida. Não apenas pelas amizades e pelas histórias. Mas pela experiência de liberdade e responsabilidade. No colégio você deve explicações mais aos seus pais. Uma nota baixa, mau comportamento, seus pais podem ser contatados - o que é uma ameaça de morte. Na faculdade tudo diz sobre você. Se você não entregar o trabalho, as conseqüências são suas. E a liberdade. Você pode ou não ir para a aula. Pode sair da aula. Pode ficar aonde quiser. Eu pelo menos, nunca me pressionei quanto ao vestibular. Mas na faculdade também conheci a pressão de ter três resenhas, um roteiro, uma entrevista, uma reportagem e um artigo científico para entregar na semana que vem. De chegar ao ponto de desistir, mas, por milagre, tudo com

Foo Fighters, Finalmente

Ao escutar Wasting Light, o novo disco do Foo Fighters, fui tomado por uma tentação: a de esperar que na próxima faixa o ritmo do disco caísse. Motivos eu teria para acreditar que o disco não seria bom. O grupo de Dave Ghrol foi lançando discos cada vez piores, na medida em que eles eram levados mais a sério, no tempo em que deixavam de ser apenas a banda do antigo baterista do Nirvana. Desde There Is Nothing Left to Lose que os Fighters não lançavam um disco realmente bom. E o último era realmente fraco e sem inspiração. Ao mesmo tempo, Dave Ghrol parecia estar cada vez mais envolvido em seus incontáveis projetos paralelos. Pois, a cada música a minha tentação era frustrada. Algumas canções podiam começar mais ou menos, mas todas tinham refrões grandiosos. Ao chegar ao final do disco, era difícil apontar a melhor e a única certeza é que não havia uma música realmente ruim. O Foo Fighters finalmente me surpreendeu. Bridge Burning é uma faixa resumo do melhor que o grupo já fez, White L

Minha avó

Minha avó não cozinhava bem. Ao que dizem, ela cozinhava mal, razão pela qual, ela nunca cozinhava quando eu estava lá. Acho que nunca comi a comida dela, uma situação que desfalca a maioria das histórias sobre avós. Minha avó gostava de mostrar fotos. Sempre ia buscar um álbum que ela guardava no armário com uma centena de fotos. Fotos do começo do século, fotos de sua juventude, dos seus filhos ainda crianças. Me mostrava sempre as mesmas fotos, a cada ano que eu ia lá. Mas eu as via sempre como se fosse pela primeira vez. Quando eu já sabia alguma história sobre a foto em questão, fazia alguma pergunta despretensiosa, dando o gancho para que ela a contasse novamente. Percebia que ela se sentia bem contando a história, então, eu sempre fazia isso. Lá estava o tio Lico. Sua dezena de irmão homens. Seus irmãos que morreram num acidente de carro. Minha avó sempre dizia que era uma boa aluna em história. Que seu sonho era ser professora de história. Mas ela parou de estudar na quarta

Vontade

Vez por outra me dá vontade de escrever um texto enorme sobre algum assunto. Alguma polêmica da vez. Minha cabeça imagina os parágrafos. Mas logo penso se vale a pena, se as idéias são realmente boas. A vontade passa e eu desisto. Felizmente até.

Paz

Não há como ser contra a paz. Mas seus pedidos costumam a ser vagos. Coisa de ator da globo em vinheta de final do ano. Paz é algo intangível, variável. Mas, repito: não há como ser contra a paz. O atentado do Realengo traz novamente, pedidos de paz. Em um caso que nada tem haver com a paz. O massacre não é uma cena do caos urbano da cidade, da violência desenfreada. A paz que faltou, foi na mente perturbada de Wellington. Pessoas tendem a pedir paz em casos isolados. Pediu-se paz quando a menina Nardoni foi jogada pela janela. Quando Eloá foi baleada. Em todas essas situações, não há influência nenhuma de uma cultura das armas ou o que quer que se diga. Um é um caso passional, o outro um problema familiar. A paz deve ser pedida, por mais difícil de definir que ela seja, a cada assalto, cada latrocínio, seqüestro. Situações criminosas que se repetem com freqüência. A Paz nada tem haver quando uma mente perturbada pega em armas para tentar resolver problemas pessoais.

Fatalidade

A tragédia do Realengo não pode ser tratada como uma fatalidade. Claro que é um caso em que não há um culpado, exceção feita ao atirador, um lunático, sem dúvida. Não há culpa específica dos governantes, do sistema de segurança - por mais que essa seja a primeira coisa que vem a cabeça. É certo que poderia ter ocorrido em qualquer lugar do mundo. A culpa está, por assim dizer, no sistema mesmo. No sistema escolar, no abandono do ensino público, na falta de amparo ao aluno. Na falta de compreensão/entendimento/aceitação do diferente. Da pressão social pelo status, em que quem não atinge determinado patamar não está apto para fazer parte de um clube imaginário - o clube das pessoas que tem o produto X. O Bullying ainda é visto com certo preconceito, como uma frescura, uma coisa de criança. Como se fosse uma tiração de sarro em que apenas os fracos não se adaptam. Não é apenas isso. O Bullying também não é a explicação para tudo - afinal, não há uma explicação palpável. Não é que ele gere

Andei Escutando (20)

Badfinger – Wish You Were Here (1974): A impressão é que o excepcional No Dice foi uma exceção na carreira do grupo de duração trágica. Mas, Wish You Were Here é um disco até agradável. O powerpop no estilo Beatles pré- Revolver é deixado de lado. O som parece ter mais influência do Rock Progressivo e da carreira solo de Paul McCartney. Pianos marcando o ritmo e refrões com vocais mais agudos. Melhores: Know One Knows e Dennis . Clube da Esquina (1972): Milton Nascimento, Lô Borges e amigos parecem ter se juntado para gravar duas dezenas de músicas que parecem ser de domínio público. Melodias tão familiares que a sensação é que elas sempre existiram. As letras também são muito boas, o melhor uso de figuras surreais na música brasileira que já ouvi. “Resistindo na boca da noite um gosto de sol”. Melhores: O trem azul e Paisagem da Janela . Creedence Clearwater Revival – Willy and The Poor Boys (1969): No geral o CCR faz discos bem parecidos, sem grandes variações de um para o