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Mostrando postagens de agosto, 2013

Sapato Abandonado

Passo pela rua e vejo um sapato abandonado no meio do canteiro central. Não sei dizer qual era o modelo, mas era um sapato masculino, estilo social, feito de couto ou alguma imitação. Apenas um pé estava abandonado. Desde criança, sapatos abandonados na rua sempre me chamaram a atenção em um misto de curiosidade e melancolia. Quem será essa pessoa que deixou seu sapato no meio do canteiro central? Esse chinelo no meio-fio? A pessoa não teve tempo para voltar e pegar? Como é que alguém chega descalço em casa, ou com apenas um pé? Sapato não é algo simples de se perder. Não é um brinco que pode ter caído, um relógio que pode ter sido furtado. Não se perde um calçado impunemente. E como tem sapato nas ruas. Sapatos, tênis, chinelos, sandálias, dos mais variados tamanhos. Seriam eles de pessoas que foram atropeladas? Não sei. Nunca saberei.

Questão de Segurança

Passo por um carro de uma empresa de segurança, um Uno Mille, um carro que talvez não passe uma ideia muito grande de segurança. O carro é adesivado com a logomarca da empresa e a foto de um de seus seguranças. Um negro alto, corpulento, cabeça raspada, mal encarado. Ele veste uma camisa azul e segura uma espingarda contra o seu próprio corpo. O tipo de pessoa que é um bom segurança. Penso por um momento nesse esterótipo usado nas propagandas. Talvez o modelo da foto seja apenas um pai de família que não sabe dar um tiro e não conseguiria matar uma barata. Mas ele parece um segurança, um cara que é melhor você não brincar com ele, porque ele pode acabar com você. Eu poderia ser um ótimo atirador e um estrategista da segurança pessoal. Mas ninguém olharia para mim e se sentiria seguro. Penso que os seguranças de filme não são necessariamente negros, altos, corpulentos, cabeça raspada, mal encarados. Eles são mais parecidos com o Kevin Costner. Um negro, alto, corpulento, cabeça ra

O que há onde há fumaça?

Cuiabá é um cidade com um relevo curioso, de tal forma que você invariavelmente passa por um lugar mais alto e tem uma ampla visão do entorno. Até por conta desse relevo, as ruas de Cuiabá não são retas e não formam quadras perfeitas, para desgosto de Lúcio Costa. Cuiabá também é uma cidade que sofre com um longo período de estiagem, época em que as queimadas urbanas se sucedem interminavelmente, provocando um caos de fumaça. Quase sempre você está no topo de um morro e vê um desses focos de calor* e começa a imaginar de onde vem essa fumaça. Mas, isso é impossível, com raras exceções. Com o tempo, aprendi que a fumaça não é tridimensional e é impossível ter qualquer sensação de profundidade ao olhar seu rastro. Simplesmente não dá pra saber se aquilo que vemos é um fiapo de fumaça atrás do prédio do outro lado da rua ou se é um campo de futebol pegando fogo do outro lado da cidade. O Morro de Santo Antônio finalmente se revelou um vulcão adormecido ou é apenas uma ilusão de ótica?

Crises do Jornalismo

Tenho para mim a impressão de que o jornalismo está em uma crise eterna. Certa vez li um livro de Gay Talese, que ele falava sobre a crise do jornalismo nos anos 60, quando da popularização da televisão. Talese citava o atual momento crítico de alguns anos atrás, pelos mais diversos motivos. Desde que entrei na faculdade de jornalismo em 2005, a crise sempre foi discutida e o fim do jornal impresso sempre esteve marcado para o próximo mês. Acho que não seria possível criar verbetes na Wikipédia sobre a crise de 2006, ou a crise de 2009, ou a crise dos intermediários em 2013. É a mesma crise, uma eterna crise. Mas, enfim, digo duas coisas que me irritam na cobertura jornalística atual. Amarildo sumiu no Twitter bem antes de ele sumir na Rede Globo ou nos grandes portais. Amarildo já era procurado no Facebook muito antes de passar no Jornal Nacional. Tenho impressão de que os principais veículos não se adaptaram a essas manifestações populares de junho, que pressionaram também a im

Polêmicas sobre o Eixo

Pablo Capilé se transformou em um personagem central das discussões nessas semana, depois de sua entrevista ao Roda Viva. Capilé é daqueles tipos ao qual ninguém se mantém neutro. Ou amam, ou odeiam. Um Silas Malafaia, um Galvão Bueno. Sua entrevista no Roda Viva foi assim. Eu achei que foram 90 minutos de tergiversação diante de uma bancada experiente, mas que não tinha a menor ideia do que é que estava fazendo ali.  No meio de tantas matérias e polêmicas, ele deu uma entrevista ao UOL . Que rapidamente me fez lembrar de uma entrevista dada no distante janeiro de 2010, para O Inimigo . No geral, as entrevistas são muito parecidas, respeitando a passagem do tempo para o desenvolvimento de uma ideia (Aliás, os comentários são os mesmos, as polêmica são as mesmas). No entanto, uma coisa me chamou a atenção. Questionado, em 2013, sobre a questão do pagamento de cachês para os artistas, Capilé responde: " Não existe uma política do Fora do Eixo contra o cachê ". E explica que

Surf's Up e meu gosto pelos discos errados

Os Beach Boys sempre foram um sucesso de crítica, mas não exatamente um sucesso no meu mundo musical. Gosto de algumas músicas, é claro, mas sempre achei seus discos extremamente mais ou menos. O clássico e aclamado Pet Sounds, e sua famosa história de rivalidade com os Beatles, me parece um disco insosso. Claro que não dá pra resistir ao encantamento de God Only Knows e o charme nostálgico de Wouldn’t it be Nice e Here Today, mas ao todo, o disco me parece uma coleção de músicas de comercial. Recentemente escutei Surf’s Up, disco que parece estar meio a margem dos principais sucessos da banda. Para minha surpresa, este foi o primeiro disco dos Beach Boys que realmente gostei. Músicas com personalidade, sem parecer se preocupar apenas com adicionar intermináveis camadas de Backing Vocals. E tem Long Promised Road, ótima, mesmo com esse péssimo clipe. Carl Wilson parece um total retardado. Tenho um certo gosto pelos discos errados, aqueles discos que não costumam a ser apontados

O Universo

Vejo nos sites a notícia de que o mendigo Universo reencontrou sua família. Ele se chamava Bruno, fugiu de sua casa em Queimados há 10 anos. Era ex-fuzileiro naval, sofria com problemas psiquiátricos, tocava violão, jogava xadrez. Estava em Chapada dos Guimarães, onde ostentava o título de "o mendigo mais querido da cidade" e foi encontrado depois que machucou o pé. Há tempos não encontrava o Universo. Só me lembro dele no período em que ele frequentou o saguão do Instituto de Linguagens, uns cinco ou seis anos atrás, em uma parada antes de ir para a Chapada. Me lembro de sua imagem barbuda e cabeluda, quase como um cover do Seu Jorge, sentado no saguão lendo uma Super Interessante que era vendida por um cara que tinha uma banquinha. Nos dias de frio, ele andava por lá, com um cachecol enrolado no pescoço. Carregava um certo ar aristocrático. Mas, a minha maior lembrança dele ocorreu em um sábado, num daqueles sábados em que a aula se enrolava para lá e para cá. Estava se

O bairro transformado em rota alternativa

Por um momento eu me pergunto como é que seria minha vida se meu bairro sempre tivesse sido uma rota alternativa para o trânsito. Eu teria sobrevivido esse tempo todo? Nos 15 anos em que caminho por essas ruas, vindo do colégio, do ponto de ônibus, da academia. Eu teria sobrevivido aos carros e motos que rasgam pelo asfalto, andando a quase 100 km/h em um bairro residencial, com crianças e cachorros nas calçadas? Como eu faria para atravessar as ruas com esse trânsito? Meus tornozelos sobreviveriam tanto tempo nas calçadas desniveladas pelas quais eu tenho que passar agora? Quanto tempo alguém sobrevive tendo que pegar congestionamento na esquina de casa?