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Mostrando postagens de maio, 2011

Valéria, Valéria

Valéria, você não me conhece, mas eu bem te conheço. Ainda me lembro do dia em que você entrou na minha vida, três anos atrás. Um sábado de manhã quando uma mensagem chegou em meu celular. Pedia para que você, Valéria, regularizasse sua situação junto ao crediário da Riachuelo. Não levei a sério, achei que fosse um spam, um engano. Engano o meu, Valéria. A mensagem chegou por vários dias. Chegaram a me ligar Valéria, sua caloteira, acredita? Me ligaram querendo falar com você. Duvidaram que eu não fosse você, ou que você realmente não estivesse aqui. Um dia me ligaram de uma concessionária. Durante sete dias úteis consecutivos, Valéria. Eu notava o desespero na voz da mulher do outro lado. O que é que você faz Valéria? A situação saiu do controle Valéria, sua burra, quando passei a receber ligações de pessoas comuns. Escutava crianças chorando, televisões ligadas ao fundo. Será que ao invés de caloteira, você apenas não sabe seu número, heim, Valéria, sua anta. O que custa você dar o n

Andei Escutando (22)

Billy Bragg: Imagino que não as condições de temperatura e pressão não importam. Discos do Billy Bragg preservam uma aura de sarau de movimento estudantil. Letras politizadas, voz e guitarra – por vez uma flauta – e um eco, constante eco, que dá aquele ar de solidão. São anos para se diferenciar as músicas por nome. Eric Clapton – Journeyman (1989): Os timbres, batidas e sintetizadores não nos deixam esquecer a década em que esse disco foi gravado. Mas Clapton sempre funciona bem quando toca clássicos do blues. Melhores: Running on Faith e Old Love . Pearl Jam – Backspacer (2009): Apedrejem-me. Mas, eu acho Pearl Jam uma banda chata. Dezenas de canções médias e medíocres, com uma ou outra realmente muito boa. Junte-se a chatice do Eddie Vedder cantando. Esse disco não tem uma música que seja absurdamente ruim, mas sua coleção de números animadinhos e baladas tediosas, enchem o saco. Melhores: Among the Waves e Force of Nature . Pernice Brothers – Overcome by Happiness (1998): H

Barcelona, o time

O que o Barcelona fez nos vinte primeiros minutos do segundo tempo do jogo de ontem, a final da Champions League contra o Manchester United, deveriam ser expostos permanentemente no Museu do Louvre. Vinte minutos que mostram a arte que o Barcelona faz, jogando futebol. O único time do mundo atual que joga artisticamente. O Manchester esteve dominado depois de tentar pressionar durante dez minutos. Logo começaram os toques curtos, precisos, intermináveis, em busca do gol. As chances apareceram. E o segundo tempo foi um espetáculo. O United mal conseguia sair de sua área, parecia que era um time de amadores, e não o atual campeão inglês, que estava invicto no torneio. E então, aparece Messi. O grande artista. Que faz gols, dribla, passa. Messi teve uma atuação espetacular na final da Champions League. Infernizou o time inteiro adversário, deu dribles humilhantes e fez o gol mais importante da partida. O que o Barcelona faz parece impossível. E parece que só é possível nesse clube, um rar

O gosto d'Água

Aprendemos tão cedo que a água não tem gosto, não tem cor e não tem cheiro. Geralmente ela realmente não tem cor, mas dizer que água não tem gosto é uma mentira. Seja esse gosto subjetivo ou real. Tanto que às vezes temos a sensação de ter bebido a melhor água do planeta. Tecnicamente seria uma água tão igual a qualquer outra água, mas não é. Imagino que não exista água melhor do que aquela bebida após atravessar um deserto. Temos a água de fonte natural, aquela que você bebe quando vai a alguma região de montanha. Essa água tem um gosto de liberdade, de natureza e vem numa temperatura tão boa, que você poderia ficar horas bebendo-a. Fora que o ato de beber nas palmas da mão parece ser mais saboroso do que os a utilização de copos. Águas em copo de plástico são terríveis. Elas provocam o péssimo contato com sua borda relevada, com restos de cola. Água de garrafinha sempre parece ter um gosto de resíduo, algo que se sente mesmo nas papilas, longe de qualquer sentido figurado. Como a águ

Susto do Sósia

O nome de Roberto Gurgel não significa muita coisa. Talvez você até reconheça o nome do Procurador Gerarl da República. Mas, a questão é a sua imagem. Fica claro que Roberto Gurgel é um elo perdido, uma versão alternativa, um irmão esquecido de Jô Soares. Não sei se Gurgel se assustou com sua semelhança. Ele sempre deve ter sido parecido com Jô Soares, já deve ter escutado essa piada dezenas de vezes ao longo da sua vida. É provável que o Jô é que tenha se assustado. Ao se ver dando entrevistas na televisão, com um nome que não era o dele, numa função que não era a dele. Um estranhamento. Eu sei o que é isso. Estava na faculdade quando pessoas começaram a me perguntar se eu havia feito um comercial do CCAA. É claro que não, que nunca havia feito comerciais. Mais de uma pessoa comentou isso, mas eu nunca via a tal propaganda. Até que um dia eu estava dormindo durante o Jornal Nacional e acordei com o barulho da vinheta indo pro intervalo. Foi então que eu me vi na TV. Nem entendi o enre

Texto antigo: Dossiê Iscariotes

Sexto semestre da faculdade, trabalhos intermináveis, pautas, roteiros, artigos, reportagens. E no meio disso tudo, as resenhas. E no meio de tantas resenhas uma era sofrível: O Dossiê Iscariotes de Marcos Losekann. Um pífio romance policial/sobrenatural com personagens fracos e uma história bizonha. Com insônia, fiz minha resenha mais verdadeira dos tempos de faculdade. Todo romance policial tem uma estrutura parecida. Acontece um crime terrível e misterioso e ninguém sabe quem é o criminoso. Então alguém começa a investigar o caso. Junta as provas, observa todos os detalhes que o levarão até uma solução. Ele pode conseguir isso através de um simples telefonema ou através de um rosto refletido nas pupilas de uma mulher em uma fotografia. Os livros desse gênero não são feitos para mudar a vida de ninguém, nem para provocar reflexões sobre a existência humana, ou a prática do jornalismo ou o que seja. Os aficionados por este gênero costumam a ler várias obras em pouco tempo, movidos pel

Andei Escutando (21)

Sem empolgação/empolgação/inspiração pra continuar essa interminável série Blind Melon (1992): Todo disco americano desta época parece ter um rotulo grudado de “grunge”. Algo que resulta em pré-julgamentos distorcidos e percepções diferentes. O disco de estréia do Blind Melon não tem nada de grunge ou camisas xadrez. Eles soam como uma banda apaixonada pela geração hippies. Além de eternizar a abelhinha dançante da capa e do clipe de No Rain . Melhores: No Rain e I Wonder . Chico Buarque de Hollanda (1966): Chico em estado de poesia pura. “A Rita matou nosso amor de vingança, nem herança deixou. Não levou um tostão porque não tinha não. Mas causou perdas e danos. Levous os meus planos, meus pobres enganos, os meus vinte anos e o meu coração. E além de tudo, me deixou mudo um violão” . Melhores: A Rita e Olê Olá . Gram (2004): O Gram foi uma banda bem intencionada que quase fez um disco bom, repleto de canções quase boas. Mas tem uma guitarra que atrapalha aqui, um verso desnecess

Eu estava

Eu estava de calças compridas, dormindo de calças compridas e manga longa. Por conta dos muitos mosquitos que não me deixavam dormir. Eu estava feliz. Ainda debilitado por conta dos vários dias de cama, vítima de uma virose. Mas eu estava feliz ainda, por acordar sem febre, sem mal-estar, com a garganta normal. Eu estava, era, com o joelho machucado, fruto de um tombo idiota. Eu estava assistindo a final da liga de vôlei. Havia acordado sem sono e liguei a TV. Jogavam Florianópolis e Montes Claros. Eu havia ido no bar do Blues, na noite anterior. Um bar que passava clipes de Stevie Ray Vaughan. Eu estava com Metal Guru, do T.Rex na cabeça. Música que havia escutado antes de dormir na noite anterior. Eu planejava voltar a academia na segunda-feira, depois de um mês. Pensava no post que eu poderia fazer para o CH3. Eu ainda estava naquele estado misto entre estar acordado ou estar dormindo, num sábado normal. Ainda não havia tomado o café. Era um dia normal. Foi quando o telefone tocou.