Pular para o conteúdo principal

Polêmicas sobre o Eixo

Pablo Capilé se transformou em um personagem central das discussões nessas semana, depois de sua entrevista ao Roda Viva. Capilé é daqueles tipos ao qual ninguém se mantém neutro. Ou amam, ou odeiam. Um Silas Malafaia, um Galvão Bueno. Sua entrevista no Roda Viva foi assim. Eu achei que foram 90 minutos de tergiversação diante de uma bancada experiente, mas que não tinha a menor ideia do que é que estava fazendo ali.

 No meio de tantas matérias e polêmicas, ele deu uma entrevista ao UOL. Que rapidamente me fez lembrar de uma entrevista dada no distante janeiro de 2010, para O Inimigo. No geral, as entrevistas são muito parecidas, respeitando a passagem do tempo para o desenvolvimento de uma ideia (Aliás, os comentários são os mesmos, as polêmica são as mesmas). No entanto, uma coisa me chamou a atenção.

Questionado, em 2013, sobre a questão do pagamento de cachês para os artistas, Capilé responde: "Não existe uma política do Fora do Eixo contra o cachê". E explica que o não pagamento de cachê depende de cada situação e, claro, do artista aceitar ou não essa condição. Faz um cálculo dando o Amapá como exemplo e prossegue "O xis da questão é que o Fora do Eixo defende a remuneração dos artistas". E ele, pessoalmente? "Eu também defendo. Há cinco anos eu dei uma entrevista falando que o mais importante em festivais é apresentar as bandas em determinadas cidades para 30 mil pessoas, para que elas voltem a fazer shows remunerados. Nunca defendi a não remuneração do artista. Mas cada caso é um caso, e cada artista negocia com cada produtor para decidir o que é melhor para ambos". (logicamente, o negrito é meu)

Voltamos no tempo para 2010. Questionado porque as bandas do Nordeste não irem tocar no Sudeste e fala sobre a questão do trabalho de cada banda. Acaba chegando a questão do cachê. "E entender os festivais mais como mostra do que como plano de sustentabilidade financeira. Eu sou dentro da ABRAFIN um defensor de que não se deveria pagar cachê as bandas. Festival é uma mostra". E dá uma explicação parecida com a que ele daria sobre o Amapá, em 2013, usando Cuiabá como exemplo.

A contradição é evidente. Se em 2010 ele dizia que era um defensor de que não se deveria pagar cachê para as bandas, ele não pode dizer em 2013 que nunca defendeu a não remuneração do artistas. As frases são completamente antagônicas.

Claro que pode-se dizer que é tudo a mesma coisa. Que defende a remuneração do artista, mas não através dos festivais, que são uma mostra e que cada caso é um caso. Seriam maneira diferentes de expressar a mesma opinião. Mas eu acho, no mínimo esquisito.

Comentários

Postagens mais visitadas

Desgosto gratuito

É provável que se demore um tempo para começar a gostar de alguém. Você pode até simpatizar pela pessoa, ter uma boa impressão de uma primeira conversa, admirar alguns aspectos de sua personalidade, mas gostar, gostar mesmo é outra história. Vão se alguns meses, talvez anos, uma vida inteira para se estabelecer uma relação que permita dizer que você gosta de uma pessoa. (E aqui não falo de gostar no sentido de querer se casar ou ter relações sexuais com outro indivíduo). O ódio, por outro lado, é gratuito e instantâneo. Você pode simplesmente bater o olho em uma pessoa e não ir com a cara dela, ser místico e dizer que a energia não bateu, ou que o anjo não bateu, ou que alguma coisa abstrata não bateu. Geralmente o desgosto é recíproco e, se parar para pensar, poucas coisas podem ser mais bonitas do que isso: duas pessoas que se odeiam sem nenhum motivo claro e aparente, sem levar nenhum dinheiro por isso, sem nenhuma razão e tampouco alguma consequência. Ninguém vai se matar, brigar n...

Os 27 singles do Oasis: do pior até o melhor

Oasis é uma banda que sempre foi conhecida por lançar grandes b-sides, escondendo músicas que muitas vezes eram melhores do que outras que entraram nos discos. Tanto que uma coletânea deles, The Masterplan, é quase unanimemente considerada o 3º melhor disco deles. Faço aqui então um ranking dos 27 singles lançados pelo Oasis, desde o pior até o melhor. Uma avaliação estritamente pessoal, mas com alguns pequenos critérios: 1) São contados apenas o lançamentos britânicos, então Don't Go Away - lançado apenas no Japão, e os singles australianos não estão na lista. As músicas levadas em consideração são justamente as que estão nos lançamentos do Reino Unido. 2) Tanto a A-Side, quanto as b-sides tem o mesmo peso. Então, uma grande faixa de trabalho acompanhada por músicas irrelevantes pode aparecer atrás de um single mediano, mas com lados B muitos bons. 3) Versões demo lançadas em edições especiais, principalmente a partir de 2002, não entram em contra. A versão White Label de Columbia...

Tentando entender

Talvez a esquerda tenha que entender que o mundo mudou. A lógica da luta coletiva por melhorias, na qual os partidos de esquerda brasileiros se fundaram na reabertura democrática, não existe mais. Não há mais sindicatos fortes lutando por melhorias coletivas nas condições de trabalho. Greves são vistas como transtornos. E a sociedade, enfim, é muito mais individual. É uma característica forte dos jovens. Jovens que não fazem sexo e preferem o prazer solitário, para não ter indisposição com a vontade dos outros. Porque seria diferente na política? O mundo pautado na comunicação virtual é um mundo de experiências individuais compartilhadas, de pessoas que querem resolver seus problemas. É a lógica por trás do empreendedorismo precário, desde quem tem um pequeno comércio em um bairro periférico, passando por quem vende comida na rua, ou por quem trabalha para um aplicativo. Não são pessoas que necessariamente querem tomar uma decisão coletiva, mas que precisam que seus problemas individua...