Lá pelos idos de 2001 a vida não fazia sentido se eu não escutasse o Abbey Road.
O último disco gravado pelos Beatles, com sua icônica capa até hoje imitada para desprazer dos motoristas londrinos, era o único lançamento dos Fab Four presente na coleção dos meus pais. Não sei se por alguma razão ou por oportunidade de negócio - custou R$ 8,90.
Fato é que eventualmente minha mãe colocava esse disco para tocar e eu não dava muita atenção. Até que um dia eu fui para Barcelona, assisti uma apresentação de fantoches dos Beatles na Rambla e aquilo não saiu da minha cabeça. Na volta pra casa passei a prestar atenção. E aí aconteceu, eu descobri Oh! Darling.
Hoje eu sei que Paul McCartney tentava gravar essa música sempre pela manhã, quando sua voz ainda aguentava o tranco, mas naquela época nada disso importava. Aliás, nada importava, apenas o disquinho rodando interminavelmente nesta música. Era minha obsessão. Os gritos de Paul aliviavam qualquer angústia adolescente.
Há muito mitologia em torno desse disco, que teria sido gravado conscientemente como uma despedida do quarteto. Que termina genialmente com uma música chamada "The End" - sim, depois há Her Majesty, mas dizem que ela só foi parar lá por um erro de edição, nem aparecia no tracklist original. (Uma recente redescoberta de um gravação feita por John Lennon de uma reunião com Paul e George - Ringo não pode ir e por isso a reunião foi gravada - mostra que, apesar da versão oficial sobre o fim consentido, eles ainda discutiam o possível lançamento de um single de natal).
Abbey Road começa com a poderosa Come Together, embrião de um jingle para a campanha do guru da LSD, Timonthy Leary, ao governo da Califórnia. Quem não votaria nele com um jingle assim? Refrão marcante, instrumental vigoroso e uma forte inspiração de Chuck Barry - para não dizer plágio.
Something era a música dos Beatles que Frank Sinatra mais gostava e o primeiro single assinado por George Harrison. A música foi escrita para Pattie Boyd e, se não garantiu um relacionamento duradouro, garantiu um legado eterno. Something é dessas canções que já nasceram bonitas, como mostra a sensacional demo lançada no Anthology.
O disco segue com Maxwell's Silver Hammer, uma das várias canções meio bobas que Paul gravou na fase final dos Beatles. E então vem Oh! Darling, em que Paul libera todos os seus demônios interiores naquela que é certamente a gravação mais urgente que os Beatles fizeram em sua carreira.
Octopuss' Garden mostra que Ringo até poderia escrever uma boa canção, enquanto que I Want You tende à eternidade, até ser abruptamente cortada. Here Comes the Sun e a outra de George, outro clássico, que hoje é a canção do grupo mais escutada no Spotify.
A partir daí começa então a grande suíte pela qual o disco é marcado. Por ideia de Paul e do produtor George Martin, uma série de canções que seriam esquecíveis foram ligadas uma a outra, fazendo com que se tornassem marcantes. Há muita beleza em Because, She Came in Through the Bathroom Window é uma delícia, mas o destaque vem no final.
Tudo começa com Paul ensaiando uma canção de ninar com um refrão grandioso - Golden Slumbers - passa por Carry The Weight, uma reprise de You Never Give me Your Money com arranjo épico e termina em The End. Começo festivo, solo de bateria, duelo de guitarras e um dos versos mais significativos do grupo e da história da humanidade. "And in the end, the love you take is equal to the love you make". Simples assim.
Como simples era a vida lá em 2001, ou quando eu comecei a acessar a internet em busca de sites que confirmassem que sim, conforme eu pensava, Abbey Road era o maior disco da história, a maior obra de arte feita pelo homem, a expressão máxima da representatividade da existência humana.
Tecnicamente falando, não é o melhor disco dos Beatles. Há muita besteirinha ali no meio que fazem o disco perder em coesão para a criatividade do Sgt. Peppers e do Rubber Soul. Mas toda a mística em torno da capa, da gravação e o poder incomparável de algumas canções colocam Abbey Road em qualquer lista de discos inesquecíveis.
Neste último 26 de setembro Abbey Road completou 50 anos. Depois de tanto tempo o disco continua fazendo sentido e sendo relevante. Uma mostra de que o sonho não acabou.
O último disco gravado pelos Beatles, com sua icônica capa até hoje imitada para desprazer dos motoristas londrinos, era o único lançamento dos Fab Four presente na coleção dos meus pais. Não sei se por alguma razão ou por oportunidade de negócio - custou R$ 8,90.
Fato é que eventualmente minha mãe colocava esse disco para tocar e eu não dava muita atenção. Até que um dia eu fui para Barcelona, assisti uma apresentação de fantoches dos Beatles na Rambla e aquilo não saiu da minha cabeça. Na volta pra casa passei a prestar atenção. E aí aconteceu, eu descobri Oh! Darling.
Hoje eu sei que Paul McCartney tentava gravar essa música sempre pela manhã, quando sua voz ainda aguentava o tranco, mas naquela época nada disso importava. Aliás, nada importava, apenas o disquinho rodando interminavelmente nesta música. Era minha obsessão. Os gritos de Paul aliviavam qualquer angústia adolescente.
Há muito mitologia em torno desse disco, que teria sido gravado conscientemente como uma despedida do quarteto. Que termina genialmente com uma música chamada "The End" - sim, depois há Her Majesty, mas dizem que ela só foi parar lá por um erro de edição, nem aparecia no tracklist original. (Uma recente redescoberta de um gravação feita por John Lennon de uma reunião com Paul e George - Ringo não pode ir e por isso a reunião foi gravada - mostra que, apesar da versão oficial sobre o fim consentido, eles ainda discutiam o possível lançamento de um single de natal).
Abbey Road começa com a poderosa Come Together, embrião de um jingle para a campanha do guru da LSD, Timonthy Leary, ao governo da Califórnia. Quem não votaria nele com um jingle assim? Refrão marcante, instrumental vigoroso e uma forte inspiração de Chuck Barry - para não dizer plágio.
Something era a música dos Beatles que Frank Sinatra mais gostava e o primeiro single assinado por George Harrison. A música foi escrita para Pattie Boyd e, se não garantiu um relacionamento duradouro, garantiu um legado eterno. Something é dessas canções que já nasceram bonitas, como mostra a sensacional demo lançada no Anthology.
O disco segue com Maxwell's Silver Hammer, uma das várias canções meio bobas que Paul gravou na fase final dos Beatles. E então vem Oh! Darling, em que Paul libera todos os seus demônios interiores naquela que é certamente a gravação mais urgente que os Beatles fizeram em sua carreira.
Octopuss' Garden mostra que Ringo até poderia escrever uma boa canção, enquanto que I Want You tende à eternidade, até ser abruptamente cortada. Here Comes the Sun e a outra de George, outro clássico, que hoje é a canção do grupo mais escutada no Spotify.
A partir daí começa então a grande suíte pela qual o disco é marcado. Por ideia de Paul e do produtor George Martin, uma série de canções que seriam esquecíveis foram ligadas uma a outra, fazendo com que se tornassem marcantes. Há muita beleza em Because, She Came in Through the Bathroom Window é uma delícia, mas o destaque vem no final.
Tudo começa com Paul ensaiando uma canção de ninar com um refrão grandioso - Golden Slumbers - passa por Carry The Weight, uma reprise de You Never Give me Your Money com arranjo épico e termina em The End. Começo festivo, solo de bateria, duelo de guitarras e um dos versos mais significativos do grupo e da história da humanidade. "And in the end, the love you take is equal to the love you make". Simples assim.
Como simples era a vida lá em 2001, ou quando eu comecei a acessar a internet em busca de sites que confirmassem que sim, conforme eu pensava, Abbey Road era o maior disco da história, a maior obra de arte feita pelo homem, a expressão máxima da representatividade da existência humana.
Tecnicamente falando, não é o melhor disco dos Beatles. Há muita besteirinha ali no meio que fazem o disco perder em coesão para a criatividade do Sgt. Peppers e do Rubber Soul. Mas toda a mística em torno da capa, da gravação e o poder incomparável de algumas canções colocam Abbey Road em qualquer lista de discos inesquecíveis.
Neste último 26 de setembro Abbey Road completou 50 anos. Depois de tanto tempo o disco continua fazendo sentido e sendo relevante. Uma mostra de que o sonho não acabou.
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