Pular para o conteúdo principal

Promoção de aniversário

Já faz algum tempo que o marketing de toda e qualquer empresa tenta capitalizar em cima dos aniversários das pessoas. Com mensagens prontas que tentam parecer personalizadas e inúmeros descontos, a indústria tenta aproveitar a fragilidade emocional provocada pelo assoprar de velinhas para reforçar sua marca, fidelizar o cliente e, se pá, vender alguma coisa.

Como os seus dados hoje em dia estão nas mãos de várias empresas, chegamos ao insólito momento em que você muito provavelmente é mais parabenizado por marcas e seus robôs, do que por pessoas de verdade.

Neste ano, resolvi analisar as mensagens corporativas de aniversário que recebi na semana passada.

O primeiro de todos foi o NuBank, que enviou uma mensagem de parabéns pelo próprio aplicativo, com uns dois dias de antecedência, redirecionando para um vídeo no youtube que começava com a interrogação "achava que a gente ia esquecer?". Até eu ainda não me lembrava no momento. Achei um pouco desnecessário fazer com que as pessoas tenham que abrir vídeos no youtube.

A Air France me enviou um cupom de R$ 200 de desconto na compra de passagens. Sendo que se eu quiser viajar para qualquer lugar por eles eu vou gastar pelo menos uns R$ 4.000, não sei se me será muito proveitoso.

A Chilli Beans me convidou a renovar o meu visual, indo a alguma loja deles comprar um óculos ou um relógio ou sei lá o quê. Sem desconto nem nada, apenas o desejo de mudar.

O Meu Móvel de Madeira me deu 20% de desconto em todo o site, uma proposta que eu diria que é arrojada. Uma pena que não estou precisando comprar um móvel de madeira para chamar de meu neste momento.

Quem também deu desconto percentual foi a Ricardo Eletro, de 10%. Mas, para isso, me mandaram um e-mail que quase meu deu LER de tanto rolar a tela para baixo, enquanto dezenas, talvez centenas de velinhas virtuais ficavam para trás.

Quem nunca se esquece do meu aniversário é a Miarroba, provedora de fóruns da internet, na qual eu me cadastrei em 2003 e com a qual não tenho nenhum contato nos últimos 15 anos. Mesmo assim, todos os anos eles me enviam uma mensagem de parabéns que eu posso caracterizar como tenra e amigável, sempre em espanhol.

A Adidas me ofereceu 15% de desconto em um e-mail de parabéns meio frio. Quem também ofereceu desconto foi a loja São Paulo Mania, nesse caso, de 10%.

O Submarino também me enviou os parabéns, mas uma pena que o e-mail não carregou direito e eu jamais saberei o que é que eles tinham a me oferecer, ou me desejar.

Uma das mensagens mais curiosas, sem dúvida, foi da Nissan do Brasil. Eles explicaram que a cultura japonesa tem símbolos florais para cada dia do ano, com um significado específico. O meu aniversário tem como símbolo a TREPADEIRA DO MAR. Pode parecer extremamente jocoso, mas de acordo com a Nissan, as pessoas associadas à TREPADEIRA DO MAR são experientes e sabem se comportar em qualquer lugar. No mínimo curioso este concorrente do horóscopo.

Recebi um cartão de aniversário virtual da minha corretora de seguros, o que só pode ser um significado extremista do que é a vida adulta.

Descobri que as mailing lists do The Verve e do Snow Patrol são compartilhas, pois recebi mensagens de parabéns das duas bandas enviadas pelo mesmo e-mail. O Snow Patrol me convidou a comemorar a data escutando sua discografia inteira no Spotify - não é a melhor das comemorações. O Verve só queria que eu escutasse meus discos favoritos, o que é um pouco mais amigável.

O WhastsApp é a última fronteira do parabéns corporativo e também lá recebi algumas ofertas.

O Malcom Pub me convidou a comemorar o meu aniversário por lá, com benefícios incríveis: entrada de graça para 10 amigos e uma garrafa de vodca de graça, caso eu fosse lá com cinco amigos, tirasse uma foto e postasse no Instagram com uma hashtag. Nem parece que eu fui lá apenas uma vez.

O BreadLab me ofereeu 100% de desconto em um hipotético segundo hambúrguer. Pena que eu já havia comido demais na semana do meu aniversário.

Por fim, a ótima onde comprei meus óculos no ano passado me mandou uma mensagem "estou enganada ou hoje é um dia especial?". Não respondi. Devia ter respondido? Não sei. O fato é que três dias depois fui informado sobre descontos imperdíveis em relógios perdivelmente caros.

No fim das contas, não aproveitei nenhuma promoção.

Comentários

Postagens mais visitadas

Aonde quer que eu vá

De vez em quando me pego pensando nisso. Como todos sabem, Herbert Vianna, dos Paralamas do Sucesso, sofreu um acidente de avião em 2001. Acabou ficando paraplégico e sua mulher morreu. Existe uma música dos Paralamas, chamada "Aonde quer que eu vá" que é bem significativa. Alguns trechos da letra: "Olhos fechados / para te encontrar / não estou ao seu lado / mas posso sonhar". "Longe daqui / Longe de tudo / meus sonhos vão te buscar / Volta pra mim / vem pro meu mundo / eu sempre vou te esperar". A segunda parte, principalmente na parte "vem pro meu mundo" parece ter um significado claro. E realmente teria significado óbvio, se ela fosse feita depois do acidente. A descrição do acidente e de estar perdido no mar "olhos fechados para te encontrar". E depois a saudade. O grande detalhe é que ela foi feita e lançada em 1999. Dois anos antes do acidente. Uma letra que tem grande semelhança com fatos que aconteceriam depois. Assombroso.

Imola 94

Ayrton Senna era meu herói de infância. Uma constatação um tanto banal para um brasileiro nascido no final dos anos 80, todo mundo adorava o Senna, mas eu sentia que era um pouco a mais no meu caso. Eu via todas as corridas, sabia os resultados, o nome dos pilotos e das equipes. No começo de ano comprava revistas com guias para a temporada que iria começar, tinha um macacão e um carrinho de pedal com o qual dava voltas ao redor da casa após cada corrida. Para comemorar as vitórias do Senna ou para fazer justiça com meus pedais as suas derrotas. Acidentes eram parte da diversão de qualquer corrida. No meu mundo de seis anos, eles corriam sem maiores riscos. Pilotos por vezes davam batidas espetaculares, saiam ricocheteando por aí e depois ficava tudo bem. Já fazia 12 anos que ninguém morria em uma corrida. Oito sem ninguém morrer em qualquer tipo de acidente. Os últimos com mais gravidade tinham sido o do Streiff e do Martin Donelly, mas eu nem sabia disso, para dizer a verdade. Não sab

Ziraldo e viagem sentimental por Ilha Grande

Em janeiro de 1995 pela primeira vez eu saí de férias em família. Já havia viajado outras vezes, mas acho que nunca com esse conceito de férias, de viajar de férias. Há uma diferença entre entrar em um avião para ir passar uns dias na casa dos seus tios e pegar o carro e ir para uma praia. Dormir em um hotel. Foi a primeira vez que eu, conscientemente, dormi em um hotel. Contribui para isso o fato de que, com sete anos, eu havia acabado de terminar a primeira série, o ano em que de fato eu virei um estudante. Então, é provável que pela primeira vez eu entendesse o conceito de férias. Entramos em uma Parati cinza e saímos de Cuiabá eu, meus pais, minha prima e minha avó. Ao mesmo tempo em que essas eram as minhas primeiras férias, elas eram também a última viagem da minha avó. A essa altura ela já estava com um câncer no pâncreas e sem muitas perspectivas de longo prazo. Disso eu não sabia na época. Mas ela morreu cerca de um ano depois, no começo de 1996, após muitas passagens pelo hos