Pular para o conteúdo principal

Agonia Olímpica

O salto com vara sempre foi uma das minhas provas de campo favoritas no atletismo. Porque há um clímax, um desafio que deve ser transposto. A vara lá no alto, em uma altura absurda. Há um ritual de corrida, de movimentos, que resultarão na superação ou não do obstáculo. Além de ser um esporte curioso daqueles que você imagina como é que alguém teve a ideia de fazer isso.

Os poucos segundos que se passam entre o encaixe da vara, o início da decolagem, o contorcionismo para superar a barra e o sucesso ou o fracasso durante a queda no colchão são de uma agonia extrema. Os movimentos para o sucesso são precisos. Qualquer leve esbarração em qualquer momento do movimento pode derrubar tudo.

Thiago Braz escreveu uma história emocionante nesse esporte tão agoniante. A cada salto em que ele superava alturas inimagináveis, até a ousadia de pular para 5,03 metros e conseguir algo que nunca conseguiu na vida, deixando o francês paranoico. (De certa forma, digo que acho vaias em esportes individuais uma maldade sem fim. Uma crueldade contra uma pessoa que está sozinha contra o mundo em um momento para o qual ele se preparou por toda a sua vida. Mas ao se comparar com Jesse Owens, o francês praticamente justificou retroativamente as vaias recebidas).

***

Que agonia é a trave da ginástica artística. Sim, os caras fazem muita força nas argolas, o salto é a mais plástica de todas as modalidades e qualquer morreria ao saltar do cavalo ou tentar uma acrobacia nas barras paralelas. Mas a trave não dá. Olha a espessura daquele negócio em que mal dá pra se equilibrar em cima.

As atletas giram, pulam, dão cambalhotas sobre aquele pequeno pedaço e a sensação de que elas podem cair a qualquer momento provoca náuseas. É como aqueles caras atravessando cordas por sobre precipícios. Mas dando cambalhotas por lá.

***

O basquete mata. Eis uma verdade da vida. Se eu pudesse der algum conselho para qualquer pessoa, esse conselho seria: não assista basquete. A agonia dos minutos finais do basquete irá tirar vários meses da sua vida.

***

Os pênaltis, o momento mais agônico do futebol. O craque batendo o pênalti. Essa crueldade histórica que faz com que os craques desperdicem pênaltis decisivos. Marta erra a cobrança e, por deus, ela não merecia ser a responsável pela eliminação. Ninguém merecia, é claro, mas não a Marta. A maior jogadora de futebol feminino de todos os tempos não precisava passar por isso depois de tudo o que ela fez, do tanto que ela carregou a modalidade nas costas.

A goleira Bárbara a salvou e voltou a pegar o pênalti decisivo, depois de uma das séries mais desgastantes do ponto de vista emocional do torcedor em todos os tempos.

***
A agonia no rosto de Juan Martín del Potro. O gigante argentino que colocou o coração em quadra e chegou a final olímpica depois de quase se aposentar por conta das lesões que o perseguiram durante os últimos anos. Batalhou como deu, mas não conseguiu a suportar um Andy Murray incansável. Jogo tão desgastante que no final ninguém sabia se chorava, comemorava, ou aplaudia. Como é bom ver Del Potro de volta ao circuíto mundial.

***

Quanto sofrimento no vôlei, no vôlei de praia, no handebol. Quanta agonia nessas Olimpíadas.

Comentários

Postagens mais visitadas

Assim que vamos

A maior parte de nós se vai dessa vida sem saber o quão importante foi para a vida de alguém. Uma reflexão dolorida que surge nesses momentos, em que pensamos que gestos simples de respeito tendem a se perder, enquanto o rancor - este sim é quase eterno.

Top 8 - Discos favoritos que ninguém liga

Uma lista de 8 discos que estão entre os meus favoritos de todos os tempos, mas que geralmente são completamente ignorados pela crítica especializada - e pelo público também, mas isso já seria esperado.  1) Snow Patrol - Final Straw (2003) Sendo justo, o terceiro disco do Snow Patrol recebeu críticas positivas quando foi lançado, ou, à medida em que foi sendo notado ao longo de 2003 e 2004. Mas, hoje ninguém se atreveria a citar esta pequena obra prima em uma lista de melhores discos dos anos 2000 e a culpa disso é mais do que o Snow Patrol se tornou depois, do que da qualidade do Final Straw . Antes deste lançamento o Snow Patrol era uma desconhecida banda escocesa de raízes norte-irlandesas, tentando domar suas influências de Dinosaur Jr. na tradicional capacidade melódica no norte da Grã Bretanha. Em Final Straw eles conseguiram juntar algum barulho suave do shoegaze com guitarras influenciadas pelo lo-fi e uma sonoridade épica, típica do pós-britpop radioheadiano. O resultado ...

Lembranças de shows

(Não que eu tenha ido em muitos shows na minha vida. Até por isso é mais fácil tentar lembrar de todos para este post/arquivo) Os Headliners (ou, aqueles que eu paguei para ver) Oasis em São Paulo, estacionamento do Credicard Hall (2006) O Oasis estava retornando ao Brasil após cinco anos, mas era como se fosse a primeira vez para muita gente. As apresentações de 1998 encerraram um ciclo produtivo ininterrupto de seis anos e a banda estava em frangalhos. Depois vieram dois discos ruins, que transformaram a banda em um dinossauro. No meio disso, uma apresentação no Rock in Rio no dia do Guns N Roses. Ou seja, a banda não apareceu por aqui nas desastrosas turnês de 2000 e 2002 (Na primeira, Noel chegou a abandonar a banda após Liam duvidar da paternidade de sua primeira filha. A turnê do Heathen Chemistry foi um desastre, com Liam cantando mal - vários shows tiveram longas sessões solo de Noel - os pulsos de Andy White não dando conta da bateria e diversas datas canceladas, seja por far...