Pular para o conteúdo principal

Mercedes: o maior domínio da história?

Muitas temporadas da história da Fórmula 1 ficaram marcadas pelo domínio absoluto de uma equipe sobre as adversárias. Mas, ao que tudo indica, a Mercedes atual está prestes a estabelecer o maior domínio que uma equipe conseguiu exercer ao longo da história da categoria. A equipe e seus dois pilotos, Lewis Hamilton e Nico Rosberg, partem para o terceiro ano seguido conquistando a dobradinha no campeonato, o que seria um fato inédito. Mas há mais razões para afirmar que esse seria o maior domínio da história. Vamos a eles.

Foi só a partir dos anos 70 em que a Fórmula 1 passou a adotar o padrão de dois carros por equipe. Desde então é possível lembrar de alguns carros históricos, algumas grandes equipes, mas nenhuma delas conseguiu fazer o que a Mercedes faz agora.

Recentemente, a Red Bull conquistou quatro títulos seguidos com Sebastian Vettel. Dois títulos foram conquistados no sufoco da última corrida e dois foram bem fáceis, com ampla superioridade e recorde de vitórias, em 2011 e 2013. No entanto, em nenhum dos seus quatro títulos, Mark Webber, seu companheiro, foi vice-campeão. Convenhamos, Webber não é um piloto inferior a Nico Rosberg.

A Brawn em 2009 foi muito superior na primeira metade da temporada, mas terminou o ano como terceira ou quarta força da categoria. A Ferrari conseguiu a dobradinha no campeonato em 1979, mas esse foi um dos campeonatos mais disputados e imprevisíveis da história, com a Ligier começando a temporada com o melhor carro, a Williams arrancando no final, a Renault assustando com o seu motor turbo e a dupla ferrarista conseguindo o título na base da regularidade.

A Lotus em 1978 foi absolutamente dominante. Venceu metade das corridas da temporada e só não venceu mais por problemas mecânicos. Em apenas três provas a dupla formada por Mario Andretti e Ronnie Peterson terminou uma corrida atrás de algum piloto. No entanto, esse domínio durou apenas um ano, terminou com as restrições aerodinâmicas feitas ao carro asa que a Lotus havia desenvolvido naquele ano.

A McLaren de 1984 venceu 12 das 16 corridas daquele ano. No ano seguinte a McLaren voltaria a ser bem superior e ainda conquistaria o tricampeonato em 1986. No entanto, a concorrência foi chegando mais perto com o passar dos anos e prova das dificuldades é que em nenhum desses três anos a McLaren foi a equipe a conseguir mais pole positions. Em 1986, aliás, a Williams tinha o melhor carro do ano e só perdeu o título graças a briga interna entre Mansell e Piquet.

Outro exemplo de temporada dominante foi a Williams em 1996. Um ano.

Comparável com a Mercedes atual, nós temos três exemplos apenas:

1) A Mclaren de 1988. Certamente a equipe mais dominante da história, 15 vitórias em 16 possíveis. Dez dobradinhas no ano. Domínio repetido em 1989, mas dessa vez com apenas dez vitórias e com a Ferrari e a Williams crescendo. O título veio também em 1990 e 1991, mas sem facilidade.

2) A Williams de 1992 e 1993. Dez vitórias em 1992, outras dez em 1993. Classificações assombrosas, com Mansell conseguindo botar um segundo de vantagem sobre os concorrentes em praticamente todos os treinos do ano, algumas vezes dois segundos. Cenário que voltou a se repetir em 1993, dessa vez com Alain Prost. No entanto, o domínio não se estendeu por três anos seguidos.

3) A Ferrari de Michael Schumacher. Cinco títulos seguidos. Disputado em 2000, com facilidade em 2001, muita facilidade em 2002 e 2004. Mas, no meio do caminho existiu 2003, quando Schumacher conquistou o título por míseros dois pontos de diferença, o que impediu uma sequência de três anos seguidos sem dar chances para os adversários.

A abertura da temporada de 2016 foi mais uma demonstração de força da Mercedes. Tentamos ver evolução da Ferrari e Sebastian Vettel mais perto mais em uma tentativa de nos engarmos e tentarmos ver alguma graça na temporada. Mas a vitória da Mercedes foi obtida com extrema facilidade e no máximo Vettel pode reclamar da bandeira vermelha que lhe custou, muito provavelmente, o segundo lugar na corrida. 

Para a Mercedes, bastou ficar na pista para chegar aonde chegou, mesmo com todos os erros de seus pilotos. Em toda a corrida eles precisaram fazer praticamente um ultrapassagem, de Hamilton sobre Massa. Com o carro mais equilibrado, basta ter pista livre para a Mercedes fazer a diferença e voltar a frente dos adversários.

Alguns fatos que mostram isso:

Rosberg estava em terceiro pouco mais de três segundos a frente de Vettel quando parou pela primeira vez. Botou pneus macios e em apenas uma volta quase conseguiu voltar a liderança. Três segundos em uma volta.

A aproximação de Vettel no final da corrida: Hamilton era apenas dois ou trés décimos mais lento por volta, mesmo com um pneu médio de quase 40 voltas contra os pneus macios de vinte voltas de Vettel.  Mesmo na volta da bandeira vermelha, Vettel não conseguiu ser mais do que meio segundo mais rápido que Rosberg. Vettel de supermacios, Rosberg de médios.

A Mercedes é tão superior aos adversários, que poderá se dar ao luxo de correr de pneus médios por longos períodos e conquistar vitórias com um pit stop a menor que os adversários. Será campeã com alguma facilidade e Rosberg terá que ser tudo o que nunca foi para evitar o tetracampeonato de Hamilton. Vettel poderá conquistar algumas vitórias, dependendo das circunstâncias das corridas, mais ou menos como no ano passado.

A primeira corrida do ano mal acabou e já é possível saber como será o campeonato. A Mercedes caminha sim para o maior domínio da história. Basta ficar na pista.

Comentários

Postagens mais visitadas

Desgosto gratuito

É provável que se demore um tempo para começar a gostar de alguém. Você pode até simpatizar pela pessoa, ter uma boa impressão de uma primeira conversa, admirar alguns aspectos de sua personalidade, mas gostar, gostar mesmo é outra história. Vão se alguns meses, talvez anos, uma vida inteira para se estabelecer uma relação que permita dizer que você gosta de uma pessoa. (E aqui não falo de gostar no sentido de querer se casar ou ter relações sexuais com outro indivíduo). O ódio, por outro lado, é gratuito e instantâneo. Você pode simplesmente bater o olho em uma pessoa e não ir com a cara dela, ser místico e dizer que a energia não bateu, ou que o anjo não bateu, ou que alguma coisa abstrata não bateu. Geralmente o desgosto é recíproco e, se parar para pensar, poucas coisas podem ser mais bonitas do que isso: duas pessoas que se odeiam sem nenhum motivo claro e aparente, sem levar nenhum dinheiro por isso, sem nenhuma razão e tampouco alguma consequência. Ninguém vai se matar, brigar n...

Os 27 singles do Oasis: do pior até o melhor

Oasis é uma banda que sempre foi conhecida por lançar grandes b-sides, escondendo músicas que muitas vezes eram melhores do que outras que entraram nos discos. Tanto que uma coletânea deles, The Masterplan, é quase unanimemente considerada o 3º melhor disco deles. Faço aqui então um ranking dos 27 singles lançados pelo Oasis, desde o pior até o melhor. Uma avaliação estritamente pessoal, mas com alguns pequenos critérios: 1) São contados apenas o lançamentos britânicos, então Don't Go Away - lançado apenas no Japão, e os singles australianos não estão na lista. As músicas levadas em consideração são justamente as que estão nos lançamentos do Reino Unido. 2) Tanto a A-Side, quanto as b-sides tem o mesmo peso. Então, uma grande faixa de trabalho acompanhada por músicas irrelevantes pode aparecer atrás de um single mediano, mas com lados B muitos bons. 3) Versões demo lançadas em edições especiais, principalmente a partir de 2002, não entram em contra. A versão White Label de Columbia...

Tentando entender

Talvez a esquerda tenha que entender que o mundo mudou. A lógica da luta coletiva por melhorias, na qual os partidos de esquerda brasileiros se fundaram na reabertura democrática, não existe mais. Não há mais sindicatos fortes lutando por melhorias coletivas nas condições de trabalho. Greves são vistas como transtornos. E a sociedade, enfim, é muito mais individual. É uma característica forte dos jovens. Jovens que não fazem sexo e preferem o prazer solitário, para não ter indisposição com a vontade dos outros. Porque seria diferente na política? O mundo pautado na comunicação virtual é um mundo de experiências individuais compartilhadas, de pessoas que querem resolver seus problemas. É a lógica por trás do empreendedorismo precário, desde quem tem um pequeno comércio em um bairro periférico, passando por quem vende comida na rua, ou por quem trabalha para um aplicativo. Não são pessoas que necessariamente querem tomar uma decisão coletiva, mas que precisam que seus problemas individua...