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A Pampa das múltiplas interpretações

Após o quebra-mola me aproximo de uma Pampa preta, caindo aos pedaços como era de se esperar, que se arrastava pela Avenida das Torres. Carregava alguns equipamentos, alguns canos, como também era de se esperar.

Quando chego mais perto, vejo a escrita na tampa traseira, que parecia feita de Errorex. "Fora Dilma". Penso em um instante que uma foto desse caro seria daquelas que faria sucesso em páginas do Facebook como a do Movimento Brasil Livre, mostrando que o pedido de impeachment não é um desejo apenas das elites, é uma vontade enraizada na sociedade brasileira. Que até aquele pobre cidadão, sofrido em sua Pampa preta está comungando nessa corrente para frente, ou para fora.

Antes que concluísse os pensamentos vejo que um pouco a baixo, de maneira não muito simétrica, está o complemento ao "Fora Dilma": "Sua Vadia". Penso então que a foto faria sucesso nas páginas da socialista morena, mostrando o machismo que existe por trás do impeachment, de como a sociedade patriarcal não aceita uma mulher no comando. Penso em todo o mundo de interpretações existente por trás dessa Pampa preta que passou pelo caminho.

Dou seta para ultrapassá-lo. Resolvo olhar para o motorista para ver sua cara. Um cidadão branco, que me parece ser alto, cabelos muito claros com uma tendência ao quase albinismo. Barba por fazer e um óculos de grau forte. Cara de maníaco. Sim, o cidadão tinha cara de estuprador de filme norte-americano, acentuada pela sua fixação ao retrovisor. Mal passei e ele começou a vir para a pista da esquerda, jogando o carro de maneira brusca na direção de uma moto que precisou frear para evitar a colisão. Entrou em um retorno e seguiu seu caminho repleto de interpretações.

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