Pular para o conteúdo principal

Rip Black Keys



Em 2010 o Black Keys parecia a banda mais legal do mundo. Seus clipes divertidos com um dinossauro de brinquedo, embalados por um grande disco, Brothers, marcavam a evolução do duo, um disco maduro, como gostam de falar por aí, mas sem ser chato. Eles deixavam a paixão pelo blues um pouco de lado e investiam num lado mais... soul, talvez, mas as guitarras continuavam marcando presença como nos cinco primeiros bons discos do grupo.

Brothers era também, um passo além de Attack Release, o bom disco anterior que já mostrava composições mais elaboradas. 

Um ano depois, o grupo conquistou o mundo com a música e o clipe de Lonely Boy, que ajudaram a vender o disco El Camino. Um bom disco, mas com uma grande falha: era um disco sem alma. Tudo o que os Black Keys fizeram até então era uma música cheia de alma. Dan Auerbach pode não ser dos maiores guitarristas do mundo, mas ele sempre tocou com o coração, colocando feeling em todos os seus riffs. El Camino era um disco no piloto automático, com composições partilhadas com o produtor Danger Mouse, dando aquela impressão de que tudo era muito fabricado.

Isso se mostrou nos palcos. A execução das novas músicas era simplesmente horrível. Ao vivo eles eram incapazes de preencher todos os espaços preenchidos meticulosamente no estúdio. Os grandes momentos de suas apresentações continuavam sendo as canções antigas.

Turn Blue, o novo disco do grupo neste ano de 2014 praticamente sepulta a reputação de banda mais legal do mundo que eles poderiam ter. A dupla simplesmente esquece as guitarras em casa e lança um disco preenchido por tecladinhos, sintetizadores, coros e outras coisas mais que transformam o Black Keys em uma espécie de Arcade Fire de segunda divisão. Mais uma banda metida a besta fazendo um som "dançante", que está mais para David Guetta do que para The Stooges (isso devia ser uma pergunta que todo grupo de rock deveria fazer ao lançar seu disco. Estamos parecendo mais com David Guetta do que com Stooges? Stooges aqui, no caso, é um exemplo porque o grupo do Iggy Pop é uma clara referência para os primórdios do Black Keys).

Se há um grande momento? Sim. Weight of Love é uma grande canção e abre o disco dando a falsa expectativa de que o resto vai ser bom. Não é. Haja saco para aguentar os teclados e coros, bateria sempre marcada num clima de pista de dança. No mundo atual, parece que tocar guitarra é um crime.

RIP Black Keys. Foi bom enquanto durou.

Comentários

Postagens mais visitadas

Oasis e a Cápsula do Tempo

Não dá para entender o Oasis pensando apenas na relevância das suas músicas, nos discos vendidos, nos ingressos esgotados ou nas incontáveis exibições do videoclipe de Wonderwall na MTV. Além das influências musicais, das acusações de plágio e das brigas públicas, o Oasis faz parte de um fenômeno cultural (um pouco datado, claro), mas é uma banda que captou o espírito de uma época e transformou isso em arte, promovendo uma rara identificação com seus fãs. Os anos 1990 foram marcados por problemas econômicos no mundo inteiro. Uma juventude já desiludida não via muitas perspectivas de vida. A Guerra Fria havia acabado, uma nova revolução tecnológica começava, o Reino Unido vivia uma crise pós governo Thatcher e nesse cenário surge um grupo cantando letras incrivelmente ousadas para meros desconhecidos.  Definitely Maybe, primeiro disco do grupo, fala sobre curtir a vida de maneira meio sem propósito e sem juízo. A diversão que só vem com cigarros e álcool, o sentimento supersônico de...

Oasis de 1 a 7

Quando surgiu em 1994, o Oasis rapidamente se transformou em um fenômeno midiático. Tanto por suas canções radiofônicas, quanto pela personalidade dos irmãos Gallagher. Eles estiveram na linha frente do Britpop, movimento que redefiniu o orgulho britânico. As letras arrogantes, o espírito descolado, tudo contribuiu para o sucesso. A discografia da banda, no entanto, não chega a ser homogênea e passa a ser analisada logo abaixo, aproveitando o retorno do grupo aos palcos brasileiros após 16 anos.  Definitely Maybe (1994) O primeiro disco do Oasis foi durante muito tempo o álbum de estreia mais vendido da história do Reino Unido. Foi precedido por três singles, sendo que dois deles são clássicos absolutos - Supersonic e Live Forever . O vocalista Liam Gallagher cantava em algum lugar entre John Lennon e Ian Brown, enquanto o som da banda bebia de quase tudo o que o Reino Unido havia produzido nos 30 anos anteriores (Beatles, T. Rex, Sex Pistols, Smiths, Stone Roses). O disco começa c...

Somos todos Leicester

O que era inacreditável, o que parecia impossível agora é verdade. O Leicester é o campeão inglês da temporada 2015-16. Incrível que o título tenha vindo de maneira até confortável, com duas rodadas de antecedência. Incrível que mesmo com a folga na tabela e a liderança estável nas últimas rodadas, era impossível acreditar que o título realmente viria. Parecia que a qualquer momento os Foxes poderiam desabar. O que mais falar sobre esse time? Formado por uma série de refugos, jovens que jamais explodiram, uma ou outra promessa. Filho de goleiro, zagueiro jamaicano e zagueiro alemão grosso, atacante japonês, atacante que até outro dia jogava no futebol amador. Não há nada parecido com o que Leicester fez nesse ano na história do futebol. Talvez na história do esporte. O título do Leicester é uma das maiores façanhas da história da humanidade. Não há o que falar, o que teorizar. Só resta olhar esse momento histórico e aceitar que às vezes o impossível acontece. Que realmente nada é i...