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Sobre o antijogo

Mesmo não sendo nada admirável, o que o Japão fez no final do jogo contra a Polônia é muito mais compreensível do que a atitude da Dinamarca contra a França.

Os japoneses entraram em campo jogando por um empate para conseguir a sua improvável classificação. Levaram um gol em jogada de bola parada e se viram desclassificados. Após uma tentativa de ataque desordenada, veio o gol colombiano contra Senegal, que voltava a colocar os japoneses na fase seguinte.

A partir de então os japoneses voltaram a se segurar no jogo e, nos minutos finais, tocaram a bola esperando que o mundo acabasse. Pode não ser admirável, mas há uma lógica. Imagina se os japoneses se lançam ao ataque e levam um segundo gol que os eliminaria? Hoje estaríamos comentando a inocência dos japoneses que estavam classificados e arriscaram tudo, quando poderiam ter segurado o jogo. Entraria para as anedotas do futebol.

Claro, era uma vantagem frágil e os japoneses deram mais sorte do que juízo para se classificar. Mas, havia uma lógica. Quanto aos poloneses, eles até tentaram alguma coisa até a marca dos 40 minutos, mas, atacando como uma equipe que já estava eliminada e vencia o jogo. Ataque descompromissado.

Diferente da situação da Dinamarca, que, mesmo sabendo que a Austrália perdia por 2x0 para o Peru e estava virtualmente eliminada, não tentou uma única jogada no segundo tempo. Sentou em cima do 0x0 e foi coadjuvada pela apatia francesa. Os dinamarqueses tinham alguma para tentar vencer e, porque não, conseguir o primeiro lugar do grupo.

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A eliminação de Senegal foi triste. Os senegaleses talvez tenham sido o time africano que mais bem juntou competitividade e alguma beleza no seu jogo em muito tempo. Jogaram para conseguir uma vaga e teriam tudo para conseguir se estivessem ali no grupo A, ou no grupo C.

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Inglaterra e Bélgica fizeram o maior treino aberto desta Copa e o resultado não diz nada sobre nada. Belgas e ingleses ainda terão testes mais duros a partir das oitavas de final.

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O Brasil será favorito contra o México nas oitavas de final, principalmente depois de os mexicanos terem uma atuação tão ruim contra a Suécia. Claro, o México ainda pode repetir o jogo feito contra a Alemanha, mas não terão um corredor na lateral direita brasileira e os zagueiros nacionais não são lentos como os alemães, nem jogam em uma linha tão alta.

Suíça e Suécia fazem um duelo imprevisível. Em tese, os suíços terão mais a bola, mas não poderão errar tantas saídas de jogo como fizeram contra a Costa Rica. Os suecos apostam em bolas diretas e dois centroavantes fortes. Acho a Suíça melhor.

A Bélgica deve passar pelo Japão, apesar de o Japão não ser essa moleza que todos esperam. Aliás, os belgas terão sua lenta recomposição defensiva testada contra um time que é bem veloz para atacar.

A Colômbia é a equipe de atuações mais distantes na primeira fase. Muito bem contra a Polônia, mal contra o Japão, sofreu com Senegal. Não deverão ter James Rodríguez, mas Quintero está muito bem. Fico na dúvida para saber se a Inglaterra irá pela primeira vez levantar seu double-decker-bus vermelho na grande área pela primeira vez.

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Seleção da terceira rodada da Copa:
Essam El-Hadary (Egito); Mikael Lustig (Suécia), Dávinson Sánchez (Colômbia), Thiago Silva (Brasil) e Ludwig Augustinsson (Suécia); Milan Badelj (Croácia) e Casemiro (Brasil); Ricardo Quaresma (Portugal), Isco (Espanha) e Lionel Messi (Argentina); Luis Suárez (Uruguai).

Jogador da rodada: O egípcio El-Hadary, por toda a história, pênalti defendido e duas grandes defesas.

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Seleção da Copa até o momento:

Cho Hyun-woo (Coreia do Sul); Kieran Trippier (Inglaterra), Yerry Mina (Colômbia), Andreas Granqvist (Suécia) e Ludwig Augustinsson (Suécia); Luka Modrić (Croácia) e Roman Zobnin (Rússia); Eden Hazard (Bélgica), Cristiano Ronaldo (Portugal) e Philippe Coutinho (Brasil); Harry Kane (Inglaterra).

Bola de Ouro: Harry Kane
Bola de Prata: Luka Modric
Bola de Bronze: Cristiano Ronaldo

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