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Dunga e a morte do futebol brasileiro

Os mensageiros do apocalipse.
Se há uma verdade sobre uma tragédia, é que ela nunca acontece por um único motivo. Um conjunto de situações é que derruba um avião, faz dois carros baterem de frente ou um viaduto desabar. Assim, são diversos os fatores que contribuíram para que o Brasil fosse piedosamente derrotado pela Alemanha por 7x1. A palavra tragédia pode ser um pouco forte, mas, futebolisticamente, perder uma semifinal de Copa do Mundo em casa por 7x1 é o equivalente ao desabamento de um prédio na vida real.

Naquele inesquecível dia 8 de julho vimos uma seleção com talentos limitados, desfalcada de suas duas principais lideranças técnicas, mal postada em campo, comandada por um treinador com visões ultrapassadas do futebol e sem capacidade para acompanhar a dinâmica do jogo. Seleção de poucos talentos, vítimas de uma péssima gestão do futebol nacional que utiliza a equipe para fazer propaganda e ganhar dinheiro com sua história vitoriosa. Não há futuro no futebol nacional e nesse dia não houve passado.

Se o técnico da seleção fosse bom, ou fosse auxiliado por alguém mais competente que Carlos Alberto Parreira, se o Brasil tivesse bons jogadores, se os adversários estivessem com dor de barriga, ou se o futebol brasileiro fosse comandado por indivíduos competentes, muito provavelmente o Brasil não teria derrotado a Alemanha, mas com certeza não teria levado sete gols de um adversário que sentiu pena dos brasileiros.

Junte a essa série de equívocos, a já tradicional soberba do futebol brasileiro. O pensamento de que somos naturalmente melhores que os adversários e que isso já é suficiente para vencer jogos. Pensamento enraizado na nossa direção e na nossa comissão técnica que impediu uma autocrítica para a maior derrota da história do time nacional. Pensamento que resultou na ridiculamente nonsense entrevista coletiva em que Carlos Alberto Parreira leu a cartinha de apoio da Dona Lúcia.

Parreira, aliás, merece um parágrafo a parte nesse texto. Ele é o símbolo do futebol nacional. Vive da glória passada, colecionou fracassos nos últimos 20 anos, ultrapassado e sem humildade de reconhecer que deve melhorar. Mesmo assim, se mantém na seleção brasileira por anos e anos.

A dupla antiquada que comanda o futebol brasileiro resolveu tomar decisões rápidas, como é de costume de políticos a moda antiga como José Marin. Quis dar uma resposta rápida para acalmar a opinião pública.

Alexandre Gallo, treinador de carreira mediana, ganhou superpoderes como coordenador de alguma coisa dentro da CBF. Deu uma entrevista coletiva na qual repetiu a palavra Gap por 47 vezes, sem que ninguém tenha entendido o que ele quis dizer com isso. Vai continuar cuidando das seleções de base, sem ter trabalhado com a base antes.

Gilmar Rinaldi foi contratado para ser o Coordenador de Futebol. Bom goleiro, Gilmar fez sua carreira no meio de futebol como empresário de atletas, sendo que Adriano Imperador foi o principal deles. Em cargos executivos do futebol, teve apenas uma desastrada passagem pelo Flamengo em 1999. Gilmar Rinaldi não tem experiência no cargo, mas mesmo assim foi escolhido para comandar o futebol brasileiro.

Para completar, Dunga sera o novo técnico. O retorno do carrancudo técnico, eliminado nas quartas de final de 2010, soa como uma piada de mal gosto. Inacreditável. Desde que foi mandado embora da seleção em 2010, Dunga trabalhou como técnico por pouco menos de um ano no Internacional, onde foi campeão gaúcho, mas decepcionou no Campeonato Brasileiro. É impossível dizer se Dunga é um técnico melhor do que era há quatro anos, porque ele simplesmente não trabalhou nesse período.

Acredito que ele é um treinador mais atualizado que Felipão e que poderá montar um time competitivo, equilibrado defensivamente e forte nas bolas paradas e nos contra-ataques. Igual ao que ele fez entre 2006-2010. O problema é justamente esse.

O 7x1 era um momento de reflexão e mudanças e não de mais do mesmo. A resposta passava por uma reestruturação dentro e fora de campo e não pela busca do resultado puro e simples. O Brasil precisa reencontrar o seu jeito de jogar e o pragmático gaúcho não parece o cidadão mais indicado para isso.

A Alemanha que derrotou o Brasil não é uma equipe revolucionária, como a Holanda de 1974. Ela não apresentou um novo estilo de jogar que surpreendeu o mundo. Seu jogo é fruto de um trabalho de 15 anos, que buscou talentos, gente que soubesse jogar bola. E que dentro de campo se montou, com seus erros e acertos. Em 2010, a base campeã em 2014 já jogava, mas de uma maneira diferente. Era um time mortal nos contra-golpes, mas que parou diante do tiki-taka espanhol. Em 2014 a Alemanha é um time que toca muito mais a bola, tem a bola em busca dos espaços e das situações de gol, mas que nem por isso deixa de ser incisivo.

Se há um legado das últimas duas Copas, é que nelas venceu o time que propôs o jogo ao seu estilo. Derrotou os adversários do jeito que queria e que trabalhou para que as coisas acontecessem assim. O Brasil precisa trabalhar para que isso volte a acontecer por aqui. Não existe uma única maneira de se jogar futebol, mas é preciso encontrar uma maneira. O Brasil não pode ser um amontoado de talentos, cada vez mais escassos, em busca de um brilho individual para decidir.

A entrevista de Dunga não foi animadora nesse sentido. Tentou desmerecer o trabalho alemão citando que eles "acharam" uma grande geração. Se em 2006 ele assumiu a seleção para acabar com a folga dos jogadores naquela Copa, ele assume agora com objetivo parecido. A CBF parece ter escolhido o oba-oba como o grande vilão brasileiro e Dunga seria o homem para acabar com esse problema.

O problema não foi o oba-oba, ou de longe foi o maior deles. Gilmar Rinaldi também citou o boné "Força Neymar" - ato de marketing que ridicularizou ainda mais a derrota, mas esse não é o principal problema. Quem comanda o futebol brasileiro não consegue ver os problemas, talvez por não se olharem para o espelho.

A volta de Dunga para a seleção brasileira representa a morte do nosso futebol.

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