Pular para o conteúdo principal

Arte Moderna

Logo ao entrar no primeiro andar de exposições do Pavilhão da Bienal no Parque do Ibirapuera em São Paulo, nos deparamos com um pequeno espaço vazio onde um segurança estava sentado, olhando entediado para o chão. Comentei com minha namorada "veja só, esse segurança representa toda a monotonia da sociedade moderna diante do trabalho maçante". Bem, era uma brincadeira, o guarda não participava da exposição, ou como eles dizem, não representava uma instalação. Mas, até que poderia.

Entre os fatos que ocorrem no ano da graça de 2013, a Bienal de Arte de São Paulo não está incluída, porque ela acontece nos anos pares desde 1994. Antes, ela era realizada nos anos ímpares, mas por algum motivo, o amaldiçoado ano de 1993 não organizou a mostra. No entanto, neste ano de 2013 eles resolveram organizar uma compilação, um Best Of, um Greatest Hits com tudo o que aconteceu nas 30 edições da Bienal que já foram organizadas. Tanto, que o nome da mostra é 30 x Bienal. O x significando "vezes" dá um ar moderno ao nome, aposto.

A Bienal de Arte concentra seus esforços na Arte Moderna. Na polêmica arte moderna que aos olhos de um leigo, como eu, por vezes parece uma desculpa para chamar qualquer coisa de arte. Se algum casca grossa do mundo artístico resolvesse criar uma exposição com seguranças como os citados no começo do texto, os entendidos no assunto elogiariam ou criticariam e essa palhaçada seria discutida seriamente nos meios entendidos.

Veja bem. Logo que você entra no pavilhão já é surpreendido com um tapete, daquele tipo "tapete de boas vindas" preso na parede, ao lado de outra tábua cheia de perucas. As perucas são grotescas, mas ainda tem algum impacto. Mas, o tapete é apenas um tapete. A vontade é de falar "pessoal, isso é só um tapete, parem de se enganar", mas eu provavelmente seria linchado pelos entendidos. O tapete parece uma grande tirada de sarro com os apreciadores da arte moderna e me parece que neste meio, as pessoas gostam de ser sarreadas.

Entre os outros grandes momentos, estão uma cadeira colocada de cabeça para baixo em uma parede, um caixa do tamanho de um caderno pequeno aberta com outros três caixas menores dentro e fixada na parede. Um latão com papel celofane embolado na boca (se o latão estivesse mais perto da parede, alguém poderia acidentalmente jogar um chiclete dentro, acho que por isso ele foi colocado bem no meio do salão), uma parede cheia de caixinhas de chiclets (o original) pintadas de branco em frente a outra, com caixinhas de chiclets sem estarem pintadas, uma série de fios de náilon presos no teto. Fora os quadros que parecem pinturas pré-escolares, esculturas que parecem troncos de árvore excêntricos... Mas as instalações são a pior parte.

Em determinado momento você só sabe que um extintor de incêndio não é uma instalação, pelo fato de que não há uma plaquinha que aponte o nome do criador e o ano de sua criação.

No segundo andar as coisas ainda estavam melhores, mas acho que eram meus olhos que se acostumaram após o choque inicial com o latão de lixo exposto. Algumas obras chegavam a ser interessantes, mas parecem-se muito mais com objetos de decoração de bares legais, com a diferença de que devem custar muito mais caro do que os objetos de decoração de bares legais.

Na hora de ir embora, o último ato é uma enorme bolha amarela que se parece com uma espécie de puf gigante. Somos informados que esta bolha se enche e se esvazia ao longo de intervalos programáticos. Uma espécie de experiência de garoto arteiro, uma tiração de sarro com a cara de todo mundo.

Pelo menos foi de graça.

Comentários

Postagens mais visitadas

Desgosto gratuito

É provável que se demore um tempo para começar a gostar de alguém. Você pode até simpatizar pela pessoa, ter uma boa impressão de uma primeira conversa, admirar alguns aspectos de sua personalidade, mas gostar, gostar mesmo é outra história. Vão se alguns meses, talvez anos, uma vida inteira para se estabelecer uma relação que permita dizer que você gosta de uma pessoa. (E aqui não falo de gostar no sentido de querer se casar ou ter relações sexuais com outro indivíduo). O ódio, por outro lado, é gratuito e instantâneo. Você pode simplesmente bater o olho em uma pessoa e não ir com a cara dela, ser místico e dizer que a energia não bateu, ou que o anjo não bateu, ou que alguma coisa abstrata não bateu. Geralmente o desgosto é recíproco e, se parar para pensar, poucas coisas podem ser mais bonitas do que isso: duas pessoas que se odeiam sem nenhum motivo claro e aparente, sem levar nenhum dinheiro por isso, sem nenhuma razão e tampouco alguma consequência. Ninguém vai se matar, brigar n...

Os 27 singles do Oasis: do pior até o melhor

Oasis é uma banda que sempre foi conhecida por lançar grandes b-sides, escondendo músicas que muitas vezes eram melhores do que outras que entraram nos discos. Tanto que uma coletânea deles, The Masterplan, é quase unanimemente considerada o 3º melhor disco deles. Faço aqui então um ranking dos 27 singles lançados pelo Oasis, desde o pior até o melhor. Uma avaliação estritamente pessoal, mas com alguns pequenos critérios: 1) São contados apenas o lançamentos britânicos, então Don't Go Away - lançado apenas no Japão, e os singles australianos não estão na lista. As músicas levadas em consideração são justamente as que estão nos lançamentos do Reino Unido. 2) Tanto a A-Side, quanto as b-sides tem o mesmo peso. Então, uma grande faixa de trabalho acompanhada por músicas irrelevantes pode aparecer atrás de um single mediano, mas com lados B muitos bons. 3) Versões demo lançadas em edições especiais, principalmente a partir de 2002, não entram em contra. A versão White Label de Columbia...

Tentando entender

Talvez a esquerda tenha que entender que o mundo mudou. A lógica da luta coletiva por melhorias, na qual os partidos de esquerda brasileiros se fundaram na reabertura democrática, não existe mais. Não há mais sindicatos fortes lutando por melhorias coletivas nas condições de trabalho. Greves são vistas como transtornos. E a sociedade, enfim, é muito mais individual. É uma característica forte dos jovens. Jovens que não fazem sexo e preferem o prazer solitário, para não ter indisposição com a vontade dos outros. Porque seria diferente na política? O mundo pautado na comunicação virtual é um mundo de experiências individuais compartilhadas, de pessoas que querem resolver seus problemas. É a lógica por trás do empreendedorismo precário, desde quem tem um pequeno comércio em um bairro periférico, passando por quem vende comida na rua, ou por quem trabalha para um aplicativo. Não são pessoas que necessariamente querem tomar uma decisão coletiva, mas que precisam que seus problemas individua...