Compramos nossos ingressos e nos sentamos em um banquinho, esperando pelo início da sessão. Começamos a olhar em nossa volta e percebemos que estávamos cercados por velhinhos e velhinhas. Eles já estavam lá quando entramos na Reserva Cultural em São Paulo, mas não tínhamos percebido o fato. Aos poucos, fomos nos dando conta de que eles também estavam esperando o início da sessão de "Os Belos Dias" (Les Beaux Jours), da diretora francesa Marion Vernoux.
Se há alguma coisa fascinante em São Paulo é a oferta de programas culturais que a cidade oferece, ainda mais para quem mora na distante Cuiabá. Tudo bem que cabem 20 Cuiabás dentro de São Paulo, mas não deixa de ser impressionante perceber que a capital paulista tem mais salas dedicadas aos cinema fora do circuito do que todas as salas de Cuiabá para os blockbuster. Se lá é possível escolher onde ver um filme grego, aqui temos que torcer para que um filme melhorzinho seja exibido em versão legendada.
Ano passado, fomos assistir ao fantástico "As Vantagens de Ser Invisível" e de certa forma, tínhamos a esperança de que veríamos um filme muito bom novamente. Compramos a Veja SP (infelizmente não era a edição do Rei do Camarote) e começamos analisar as opções. Escolhemos "Os Belos Dias" por estar sendo exibido na Avenida Paulista, aonde estávamos e por ter uma crítica positiva. Aliás, uma breve pesquisa para este post mostra que o filme tem sido majoritariamente avaliado de maneira positiva.
Assim sendo, entramos no cinema e nos sentamos ao lado de um grupo de velhinhas. Outras tantas estavam sentadas em nossa frente, outras atrás. Senhoras que em Cuiabá estariam assistindo o Petruchio no Vale a Pena Ver de Novo, mas que em São Paulo tem a oportunidade de aproveitar o ócio com um filme francês exibido em tela grande. (Para ser justo, não haviam apenas representantes da melhor idade na sala. Além de mim e da minha namorada, estavam um hipster e uma menina com fones de ouvido).
Basicamente, o filme conta a história de Caroline, interpretada por Fanny Ardant, famosa (?) por ser viúva de François Truffaut. Entediada com sua aposentadoria e deprimida com a morte de sua melhor amiga, ela começa a frequentar um clube da terceira idade. Lá, ela encontra a perdição na figura do seu professor de informática, Julien, e os dois começam uma tórrida relação que envolve sexo insaciável nos mais diferentes lugares. Ah sim, o detalhe é que essa é uma relação extra-conjugal, uma vez que Caroline é casada com Philippe.
No final, eu fiquei com pena de Philippe, porque ele estava muito mais acabado do que sua mulher e não poderia fazer nada para competir com o rapazote professor ninfomaníaco. Só lhe restava sair de casa e aceitar os chifres, uma vez que a mulher já estava marcando até um final de semana na Islândia com o amante. Mais triste ainda, porque o maridão corno não parecia ser um imprestável, parecia um bom marido de 60 anos.
Mas, ah sim, o filme não é um drama sobre traição na terceira idade. Na verdade, é uma comédia sobre a libertação sexual de uma mulher que se achava acabada para a vida. A trama é muito parecida com o nacional "O Divã", parecido até na ruindade do filme e na falta de graça das piadas. Por mais que os críticos tenham adorado (como não falar bem de um filme que tem velhinhos pervertidos e além do mais é francês?), os personagens são bem ruins e não há ali uma razão maior para que tudo aquilo aconteça. Julien não é um jovem apaixonado e conquistador, apenas um cara sedento por sexo que não está nem aí para a idade das suas presas. Ele só quer passar o rodo. E sim, tenho que dizer que achei triste para o Philippe ter que passar por isso depois de quase 40 anos de casado.
Quanto as piadas, cabe a ressalva: eu as achei péssimas, mas os velhinhos da sala adoraram. Morreram de rir numa cena em que Caroline pediu para que seu jovem amante apagasse a luz antes do sexo. Se divertiram muito com a heroína bêbada e rejuvenescida após o sexo. Quase infartaram em uma cena lá para o final do filme, quando Caroline lambe o pescoço de Philippe e este confessa que ficou com o pinto duro. Sim, vocês não acreditam na gargalhada explosiva que se abateu dentro do cinema neste momento.
Saímos do cinema na dúvida se o público presente era composto por aposentados que aproveitam a tarde de terça-feira para ir ao cinema ou se "Os Belos Dias" estava sendo recomendado para a melhor idade por aí. Cogitamos que talvez nós devêssemos assistir ao filme daqui a 40 anos e talvez nós morreríamos de rir com as ereções tardias provocadas por lambidas no pescoço.
A única certeza é que, com mais sorte, poderíamos ter escolhido um filme melhor para assistir.
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