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Memórias do GP do Brasil

Acompanha Fórmula 1 desde quando tinha quatro anos, ou seja, desde 1991. Nesse período então, já acompanhei 22 temporadas, 22 grandes prêmios disputados no Brasil. O que será disputado amanhã, será o 23º, no fechamento da 23ª temporada.

A corrida no Brasil sempre é um evento especial, daqueles que até quem liga mais ou menos para as corridas acaba acompanhando. Até porque, a corrida sempre acontece ali, bem perto da hora do almoço. A seguir, minhas memórias sobre essas 22 corridas (quando elas existirem).

1991: Lembro de ter assistido a corrida e de que Ayrton Senna a venceu. Mas, sinceramente, não lembro de mais nada, sobre a situação da corrida. Acredito que estou cheio de memórias adquiridas sobre o problema no câmbio, a rodada do Mansell, a perseguição do Patrese, a chuva. Mas, da hora mesmo, não lembro de nada.

1992: Mansell ganhou de maneira fácil. Mas não tenho nenhuma recordação em especial.

1993: Agora sim me lembro bem. Prost liderava, a Williams tinha um carro de outro mundo. Até que caiu um pé d'água e quando chovia sempre tínhamos aquela expectativa sobre o Senna. Virou uma confusão danada, até que a câmera mostra o carro do Prost atolado na brita no final a reta. O replay mostra uma colisão com o retardatário Christian Fittipaldi. O Safety Car (uma novidade) entra em pista, porque caia um dilúvio. A relargada é feita com Damon Hill na liderança. No final da reta oposta Senna se aproxima para logo depois fazer uma ultrapassagem épica. Mantém a ponta até o final da corrida. Para pra pegar uma bandeira e quando a câmera abre, uma multidão havia invadido a pista. Seu carro é cercado e ele saí no meio da multidão. Épico.

1994: Abertura da temporada, Senna na pole. Da minha parte, achava muito esquisito ver Senna na Williams, porque a Williams era o carro vilão dos últimos anos. A corrida inteira se desenvolveu com Senna liderando, Schumacher logo atrás. Depois de uma parada nos boxes (aliás, essa foi a temporada que marcou a volta do reabastecimento), Schumacher volta na ponta e Senna passa a persegui-lo. De repente, o brasileiro roda (na curva do sol, acho) e depois disso a corrida praticamente acabou.

1995: Vitória de Schumacher, com David Coulthard em segundo, Gerhard Berger em terceiro. Depois, descobriu-se alguma maracutaia no carro dos dois primeiros colocados (se não me engano, algo relacionado ao combustível), e a vitória foi dada para Berger, que estourou o champanhe nos boxes. Mas no fim, os dois primeiros foram readmitidos, e só as equipes foram punidas.

1996: Depois da morte de Ayrton Senna, Rubinho Barrichello passou a carregar um peso enorme nas costas. Peso que ele insistia em reforçar ao sempre arrumar alguma coisa especial para a corrida de Interlagos, mesmo correndo em carros ridículos, com os quais ele deveria sonhar com um ponto no máximo. Nesse ano, ele se destacou nos treinos livres, indo para a pista logo no começo e conseguindo o segundo lugar no grid com sua Jordan. (Puxando pela memória, lembro que estava na casa da costureira da minha mãe no bairro Primeiro de Março, quando isso aconteceu). Na corrida deu alguma merda no carro dele, e Damon Hill venceu tranquilamente.

1997: Vitória de Jacques Villeneuve sem nenhum contorno dramático.

1998: A McLaren parecia ter um carro absolutamente imbatível no começo do ano e Mika Hakkinen e David Coulthard conquistaram a dobradinha, sem maiores dificuldades.

1999: Nova vitória de Mika Hakkinen. (Uma curiosidade, é que geralmente o melhor carro do ano vence no Brasil. Interlagos é um circuito veloz e no qual é muito possível ultrapassar, dificultando muito o trabalho das zebras). Neste ano, Rubinho tinha uma Stewart competitiva e conseguiu largar na terceira colocação. Largou bem e logo no começo assumiu a ponta. Liderou até a parada dos boxes e depois estava em terceiro, quando seu motor explodiu. Deixou o carro cabisbaixo e mostrou a bandeira que levava no bolso, para comemorar a vitória. Algo que diz muito sobre como Barrichello era.

2000: A McLaren fez a primeira fila, com a Ferrari logo atrás, na estreia de Rubinho pela Ferrari. Em pouco tempo, as Ferraris assumiram a ponta, com um ritmo de corrida muito melhor. Rubinho sonhava com a vitória novamente, mas seu motor explodiu novamente. Schumacher ganhou, com Coulthard em segundo.

2001: Rubinho bateu logo no começo, forçando a entrada do Safety Car na pista. Na relargada, o estreante colombiano Montoya passou Schumacher, forçando o alemão a comer terra. Montoya disparou na frente e parecia se consagrar como novo gênio da Fórmula 1, até que foi atingido pelo retardatário Verstapen. Schumacher estava em um momento imbatível de sua carreira e caminhava para uma nova vitória no Brasil. Até que a chuva apareceu novamente, armou uma confusão danada e David Coulthard, com um carro acertado pra pista molhada, se aproximou e ultrapassou o alemão no final da reta, se aproveitando de um retardatário, numa espécie de manobra genérica da que Hakkinen havia feito sobre o mesmo Schumacher em Spa, no ano anterior. Corrida tão confusa, que até o Heidfeld apareceu no pódio, de Sauber.

2002: A Ferrari tinha um carro ridiculamente superior aos demais e Schumacher venceu com facilidade. Barrichello quebrou no começo.

2003: Em uma das temporadas mais loucas da história, o GP do Brasil conseguiu ser o mais louco do ano. Rubinho largou na pole, enquanto Schumacher era apenas o sétimo colocado, depois de não ter vencido nenhuma das duas primeiras provas do ano. Chovia muito, e a largada foi com Safety Car. Quando ele saiu da pista, Rubinho começou a ser ultrapassado por todo mundo e logo Raikkonen estava na ponta. Começou a chover ainda mais forte e Schumacher bateu no final do S do Senna, aliás, uns três carros bateram ali em sequência, forçando novo Safety Car. Rubinho começou a se recuperar e apareceu atrás do líder Coulthard. Ultrapassou para a vitória, mas parou duas voltas depois sem gasolina. Coulthard parou nos boxes, dando a liderança para Raikkonen, que escorrega e oferece a ponta para... Fisichella, correndo de Jordan. Logo depois, Mark Webber dá uma pancada na subida da reta e destroi metade da pista. O jovem Fernando Alonso não liga para as bandeiras amarelas e pega o pneu de Webber de frente, dando uma pancada forte e acabando de vez com a pista. Bandeira vermelha e a primeira vitória de Fisichella na Fórmula 1. No entanto, na volta dos comercias é Raikkonen quem recebe o troféu, porque o regulamento prevê que em caso de bandeira vermelha, o que vale é o resultado de uma volta antes da bandeirada. Frustração de Fisichella em um pódio sem o terceiro colocado, Alonso, que estava no hospital. Apenas três dias depois, descobriram uma imagem que mostrava Fisichella abrindo a última volta na liderança, devolvendo-lhe sua primeira conquista.

2004: A corrida do Brasil foi para o final do ano e Schumacher já chegou campeão. Rubinho sonhava em vencer novamente, com mais uma pole. Pra variar, enfrentou problemas e a vitória ficou com Montoya, de saída da Williams.

2005: Pela primeira vez, o título mundial foi decidido em Interlagos. Fernando Alonso precisava apenas chegar ao pódio para conquistar seu primeiro título, com duas corridas de antecipação. Assim fez. Na frente, Montoya dominou a corrida com Raikkonen, outro postulante ao título, chegando em segundo.

2006: Outra corrida histórica. O ano se encerrava com Alonso precisando de um ponto para ser campeão, Schumacher lutando pelo título na última corrida da sua vida, e Felipe Massa largando na pole, em sua primeira corrida pela Ferrari em Interlagos. Massa liderou a corrida inteira e conseguiu uma vitória consagradora (na época foi como "algo que o Rubinho em 10 anos não fez). Alonso chegou em segundo, garantindo o bicampeonato. Enquanto isso, Schumacher enfrentou problemas, caiu para o último lugar, mas veio ultrapassando todos os adversários até alcançar a quarta colocação. Uma corrida brilhante, uma despedida fenomenal. Pena que, três anos depois ele voltou, acabando com o brilho desta despedida mágica.

2007: Outra disputa de título. Hamilton tinha muita vantagem para seu companheiro de McLaren Alonso, e Raikkonen, na Ferrari, parecia carta fora do baralho. Hamilton largava em segundo, com Raikkonen em terceiro e Alonso em quarto. No entanto, o jovem inglês sentiu a pressão, largou mal, errou uma marcha e foi para o fundo do grid. Conseguiu se recuperar até a sétima colocação. Enquanto isso, Raikkonen assumiu a liderança e conquistou o título improvável, apenas um ponto na frente de Hamilton e Alonso.

2008: Hamilton e Massa brigavam pelo título e o inglês precisava apenas do quinto lugar para garantir a conquista. A chuva parava e voltava, com Massa na liderança, mas Hamilton sempre numa posição tranquila para o campeonato. Até que a chuva voltou com força a cinco voltas do final e todos foram para os boxes, exceção feita a dupla da Toyota. Timo Glock se manteve em quarto, colocando Hamilton em quinto. Na antepenúltima volta a revelação alemã, Sebastian Vettel, passou Hamilton, colocando-o em sexto lugar e dando o título para Massa. Foram três voltas épicas, até Massa cruzar na primeira posição. Ninguém parecia acreditar em seu título, mas, a chuva apertou e os pneus lisos de Timo Glock não garantiram a tração necessária na subida dos boxes, permitindo a ultrapassagem e o título de Hamilton na penúltima curva.

2009: Outra decisão de título. Button não precisava de muita coisa para conseguir o título, mas a chuva no treino classificatório embaralhou tudo. Barrichello largou na pole, novamente, com Button apenas na 14ª posição. Tal resultado poderia diminuir a diferença para apenas quatro pontos e levar a decisão para a última corrida em Abu Dabhi. Mas, pra variar, Rubinho foi sendo ultrapassado por meio mundo ao longo da corrida e terminou em oitavo. Button conseguiu várias ultrapassagens (incluindo um baita duelo com o estreante Kobayashi) e chegou em quinto, garantindo o título aos gritos de "we are the champions".

2010: Penúltima corrida do ano, Alonso poderia ser o campeão. No entanto, Vettel liderou a corrida inteira e venceu, com Webber em segundo, Alonso em terceiro. Na época, o mundo achava que a Red Bull deveria ter facilitado as coisas para Webber, que tinha mais chances de título.

2011: Vettel chegou já bicampeão e a Red Bull ganhou do jeito que quis, resolvendo presentear Webber com sua primeira vitória no ano.

2012: Outra corrida épica. Alonso e Vettel na disputa pelo tricampeonato mais jovem da história. Alonso precisava vencer e torcer para que Vettel chegasse no máximo em quinto. Vettel largou em terceiro, Alonso em oitavo. No entanto, Vettel largou de maneira cuidadosa na chuva e acabou espremido pelo seu companheiro Webber, perdeu posições e ainda foi tocado por Bruno Senna, caindo para a última posição. Poderia ser considerado até sorte, porque não deu pra entender como ele não abandonou a corrida. Terminou a primeira volta em 22º, parou nos boxes, mas em uma recuperação incrível, voltou a sexta colocação na oitava volta. Vettel dirigiu possuído naquelas voltas. A Red Bull ainda errou um pit stop e derrubou o alemão de novo, mas ele voltou a se recuperar e conquistou o título com a sexta posição, enquanto Alonso terminava em segundo. Button venceu, após uma briga pela liderança com seu companheiro Hamilton e o surpreendente Hulkenberg, na Force India.

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