Pular para o conteúdo principal

O fator uruguaio

O Uruguai definitivamente não tem mais dinheiro do que o Brasil. Não teria espaço para isso, mão de obra, nem nada. O Uruguai tem apenas bois que produzem uma carne admirada no mundo inteiro, além de inúmeros produtos derivados do leite. O doce de leite uruguaio é fenomenal. O queijo também. E o iogurte. Pouco falado, mas que não existe nada parecido a isso no Brasil. Tomar um iogurte brasileiro após um uruguaio chega a ser decepcionante. Enfim, o Uruguai sabe cuidar do seu gado. Ah, eles também tem vinhos.

O Uruguai não tem dinheiro, apesar de uma pesquisa revelar que o cidadão médio uruguaio é aquele que mais tem gastos com supermercado em um ano. Uma taxa muito maior do que a de qualquer outro país da América do Sul e isso talvez explique a sensação de que tudo saí muito caro no Uruguai, mesmo com um real valendo nove vezes mais do que um peso uruguaio (acho que isso tem a ver com o fato de que os uruguaios descobriram o turismo, principalmente o turismo brasileiro). Mas, enfim novamente.

A sensação é de que o Uruguai é um país mais organizado do que o Brasil. Aliás, um país melhor do que o Brasil para se viver, pelo fato de que ele é organizado.

As quadras de Montevidéu são todas quadradinhas, mas as ruas tem vida com suas construções antigas e muitas árvores. É até sacanagem falar que Cuiabá é a cidade verde depois de visitar a capital uruguaia com árvores em todos os lugares imagináveis. Montevidéu não tem trânsito, tudo bem, até tem um pouco mas é algo parecido com o que víamos em Cuiabá há quinze anos atrás, quando demorar dois semáforos para atravessar um cruzamento parecia algo assustador.

Parece que o Uruguai tem mais ônibus e um sistema de transporte público mais confiável. Por vezes é cheio, mas para quem vê um ônibus passar de manhã em São Paulo, parece brincadeira. Sim, Montevidéu não é uma cidade grande mais tem mais de um milhão de habitantes e tem um trânsito mais tranquilo do que o de, pasmem, a minúscula e turística Gramado na serra gaúcha. O transporte público deve ser bem utilizado, até porque os uruguaios não parecem ligar muito em ter um carro novo na garagem.

Acredito que é uma questão de organização. Os uruguaios parecem ter ruas que aguentem a sua população, que já não cresce tanto assim. Nas estradas também. Vá para a pacata Colônia do Sacramento e atravesse 200 km de uma estrada duplicada, boa parte em concreto e toda em perfeitas condições. Vá até a divisa com o Brasil e sinta o ônibus deslizando. Ultrapasse a fronteira e sinta a trepidação.

Acredito que é a organização, que mostra quantas vagas existem em cada setor do estacionamento do shopping, que faz com que o Uruguai tenha ruas limpas, um trânsito calmo e que eles tenham conquistado duas copas do mundo com uma população do tamanho de Mato Grosso.

Isso deve ter algo com as ruas arborizadas, com as inúmeras praças que dão todo o charme a tranquila, melancólica e nostálgica capital uruguaia.

Comentários

Postagens mais visitadas

Desgosto gratuito

É provável que se demore um tempo para começar a gostar de alguém. Você pode até simpatizar pela pessoa, ter uma boa impressão de uma primeira conversa, admirar alguns aspectos de sua personalidade, mas gostar, gostar mesmo é outra história. Vão se alguns meses, talvez anos, uma vida inteira para se estabelecer uma relação que permita dizer que você gosta de uma pessoa. (E aqui não falo de gostar no sentido de querer se casar ou ter relações sexuais com outro indivíduo). O ódio, por outro lado, é gratuito e instantâneo. Você pode simplesmente bater o olho em uma pessoa e não ir com a cara dela, ser místico e dizer que a energia não bateu, ou que o anjo não bateu, ou que alguma coisa abstrata não bateu. Geralmente o desgosto é recíproco e, se parar para pensar, poucas coisas podem ser mais bonitas do que isso: duas pessoas que se odeiam sem nenhum motivo claro e aparente, sem levar nenhum dinheiro por isso, sem nenhuma razão e tampouco alguma consequência. Ninguém vai se matar, brigar n...

Os 27 singles do Oasis: do pior até o melhor

Oasis é uma banda que sempre foi conhecida por lançar grandes b-sides, escondendo músicas que muitas vezes eram melhores do que outras que entraram nos discos. Tanto que uma coletânea deles, The Masterplan, é quase unanimemente considerada o 3º melhor disco deles. Faço aqui então um ranking dos 27 singles lançados pelo Oasis, desde o pior até o melhor. Uma avaliação estritamente pessoal, mas com alguns pequenos critérios: 1) São contados apenas o lançamentos britânicos, então Don't Go Away - lançado apenas no Japão, e os singles australianos não estão na lista. As músicas levadas em consideração são justamente as que estão nos lançamentos do Reino Unido. 2) Tanto a A-Side, quanto as b-sides tem o mesmo peso. Então, uma grande faixa de trabalho acompanhada por músicas irrelevantes pode aparecer atrás de um single mediano, mas com lados B muitos bons. 3) Versões demo lançadas em edições especiais, principalmente a partir de 2002, não entram em contra. A versão White Label de Columbia...

Tentando entender

Talvez a esquerda tenha que entender que o mundo mudou. A lógica da luta coletiva por melhorias, na qual os partidos de esquerda brasileiros se fundaram na reabertura democrática, não existe mais. Não há mais sindicatos fortes lutando por melhorias coletivas nas condições de trabalho. Greves são vistas como transtornos. E a sociedade, enfim, é muito mais individual. É uma característica forte dos jovens. Jovens que não fazem sexo e preferem o prazer solitário, para não ter indisposição com a vontade dos outros. Porque seria diferente na política? O mundo pautado na comunicação virtual é um mundo de experiências individuais compartilhadas, de pessoas que querem resolver seus problemas. É a lógica por trás do empreendedorismo precário, desde quem tem um pequeno comércio em um bairro periférico, passando por quem vende comida na rua, ou por quem trabalha para um aplicativo. Não são pessoas que necessariamente querem tomar uma decisão coletiva, mas que precisam que seus problemas individua...