Pular para o conteúdo principal

As cinco piores disputas de título da história da Fórmula 1

A disputa entre Oscar Piastri e Lando Norris pelo título da Fórmula 1 em 2025 está longe de ser empolgante. A McLaren entregou um ótimo carro para sua dupla e eles foram vencendo corridas sem muita alegria, acumulando erros, reclamações sem sentido e falta de carisma.

Era quase um consenso de que essa seria a disputa mais insossa de todos os tempos. Porém, a súbita arrancada de Max Verstappen a partir do GP da Itália trouxe um tempero extra para a disputa, o que faz com que, independente do vencedor, este campeonato já não faça parte de uma lista de piores da história.

É claro que nem sempre as disputas de título na F1 foram emocionantes. Elaborei uma lista pessoal com cinco disputas que não comoveram ninguém. Mas há alguns critérios:
    1) Falo em disputas. Portanto, não há o que analisar em anos como 1992, 2002, 2004, 2011, 2013 ou 2023.
    2) Também não falo de campeonatos em que um possível postulante liderou em algum momento, ou tentou uma arrancada sem futuro, enfim, anos em que não ocorreu uma disputa de fato. Nada de 2009, 2020 ou 2024.
    3) Se havia mais de um piloto disputando o título até o fim, é claro que não vai estar aqui. Há anos de campeonatos bons com corridas ruins (2007 ou 2010), mas isso seria assunto para outro post - que provavelmente nunca vai ser publicado.

A lista abaixo vai juntar disputas erráticas com pelo menos um piloto não sendo lá grande coisa, desfechos decepcionantes e ocasiões em que a sensação era a de que ninguém merecia vencer. Vamos a elas.

1982 Keke Rosberg x John Watson


A temporada de 1982 foi uma das mais confusas da história. Vivíamos uma era de transformações tecnológicas, com efeito solo, motor turbo, reabastecimento, aquecimento de pneus e outras peripécias aerodinâmicas. Era também uma época de muitas disputas políticas e uma sensação de entressafra entre pilotos. Tivemos campeonatos extremamente disputados, muitas vezes premiando quem sobreviva até o fim,

O ano de 1982 também foi marcado por tragédias com os carros cada vez mais velozes e menos confiáveis vitimando Gilles Villeneuve nos treinos para o GP da Bélgica. A Ferrari tinha o melhor carro do ano no conjunto, mas a dupla Didier Pironi e Patrick Tambay não era exatamente atraente. A Renault tinha o carro mais rápido, mas quebrava muito. A Brabham de Nelson Piquet e a McLaren de Niki lauda não eram confiáveis e estavam em transição para os motores turbo.

Desta forma, Pironi abriu uma vantagem pequena no campeonato e parecia rumar para o título na base da constância. No entanto, ele quebrou as pernas nos treinos para o GP da Alemanha, em um acidente que encerrou sua carreira na F1.

Após o GP da Alemanha, faltando quatro corridas para o fim, Pironi tinha 39 nem um pouco impressionantes pontos, contra 30 do vice-líder John Watson e 27 de Keke Rosberg, que surgiam como os dois favoritos para o título - não deveria ser nenhum mistério fazer 10 pontos em quatro corridas.

No entanto, o mediano norte-irlandês conseguiu apenas um quarto lugar em Monza e chegou na última corrida vendo o título quase nas mãos do filandês Rosberg. Isso porque Keke conseguiu um segundo lugar na Áustria, sua primeira e única vitória na Suíça e um oitavo lugar (na época não marcava pontos na Itália). Coube a Rosberg ser o campeão com 44 pontos. (O que equivaleria a ser campeão com uns 230 pontos na atualidade, pontuação de sexto ou sétimo colocado - e sendo justo, pontuação longe de qualquer vice-campeão em qualquer campeonato posterior).

1985 Alain Prost x Michele Alboreto


Até o GP da Holanda, 11º dos 16 da temporada de 1985, Michele Alboreto se manteve na luta pelo título, com a Ferrari liderando o mundial de construtores. O sonho de ser o primeiro italiano campeão desde 1953 era real, apesar de Alain Prost estar em uma crescente.

O improvável Alboreto, no entanto, não pontuou em nenhuma das cinco últimas etapas do ano. Largando duas vezes em 15º, por exemplo. Com isso, Prost acabou campeão logo na 14ª corrida e até hoje é estranho falar que o Alboreto brigou por um título.

1996 Damon Hill x Jacques Villeneuve


O insosso Hill e o inconsistente Villeneuve tinham um carro imbatível. O canadense foi errático na maior parte do ano e Hill, mesmo vencendo metade das corridas de maneira pragmática, só conseguiu ser campeão na última etapa. Mas ninguém achava que qualquer um deles merecia o título, que ficou com o inglês.

1999 Mika Hakkinen x Eddie Irvine


Uma temporada em que os dois mereceram perder. Hakkinen estava a bordo do melhor carro e não tinha adversário aparente após Schumacher quebrar a perna. Mas, surgiu o mediano Irvine que, mesmo levando um calor eventual do novo companheiro Mika Salo, aproveitou a enorme quantidade de erros do finlandês para ficar muito perto do título. Só que a reta final dele foi uma tristeza (fora do pódio na Bélgica, Itália e Europa, precisou que Schumacher lhe entregasse a vitória na Malásia) e Hakkinen mesmo com um erro bizarro na Itália, ainda ficou com o título. Até hoje fica a sensação é que se o Schumacher não tivesse se acidentado, teria sido campeão com um pé nas costas.

2009 Jenson Button x Rubens Barrichello


Dois pilotos já veteranos e sem muitas perspectivas que de repente se viram como os únicos candidatos ao título mundial de forma inesperada. Jenson Button aproveitou o início de ano surpreendente da Brawn GP para abrir vantagem avassaladora, enquanto Rubinho acumulava erros. O carro caiu de produção e na segunda metade do campeonato Button foi ao pódio só duas vezes. Rubinho também foi duas vezes, ainda que com duas vitórias. A reta final foi uma disputa a conta-gotas, com a dupla da Brawn disputando quintos lugares. No fim das contas, Barrichello ainda perdeu o vice-campeonato para Vettel.

Comentários

Postagens mais visitadas

Em um ritmo diferente

Quando Noel Gallagher deixou o Oasis, decretando o fim da banda, os membros restantes decidiram seguir em frente, deixando muitas dúvidas. Um ano depois eles anunciaram o estranho nome Beady Eye, o que indicava que alguma coisa realmente estava acontecendo. A principal dúvida era: Noel Gallagher sempre foi o líder criativo do Oasis e, por mais que os outros tivessem aumentado e qualificado sua participação nos últimos anos, Noel ainda era o responsável pelas melhores músicas da banda. Os outros quatro conseguiriam seguir em frente? Ou se perderiam? De certa forma a resposta para as duas perguntas é afirmativa. O disco de estréia o Beady Eye, Different Gear, Still Speeding é cheio de altos e baixos, carente de uma produção melhor. Faltou alguém para conter alguns excessos. O guitarrista Andy Bell é o único que tem experiência em liderar alguma banda relevante, no caso o Ride no começo dos anos 90. E ele se destaca em relação aos demais. Suas composições têm as melhores letras do grupo, ...

Susto do Sósia

O nome de Roberto Gurgel não significa muita coisa. Talvez você até reconheça o nome do Procurador Gerarl da República. Mas, a questão é a sua imagem. Fica claro que Roberto Gurgel é um elo perdido, uma versão alternativa, um irmão esquecido de Jô Soares. Não sei se Gurgel se assustou com sua semelhança. Ele sempre deve ter sido parecido com Jô Soares, já deve ter escutado essa piada dezenas de vezes ao longo da sua vida. É provável que o Jô é que tenha se assustado. Ao se ver dando entrevistas na televisão, com um nome que não era o dele, numa função que não era a dele. Um estranhamento. Eu sei o que é isso. Estava na faculdade quando pessoas começaram a me perguntar se eu havia feito um comercial do CCAA. É claro que não, que nunca havia feito comerciais. Mais de uma pessoa comentou isso, mas eu nunca via a tal propaganda. Até que um dia eu estava dormindo durante o Jornal Nacional e acordei com o barulho da vinheta indo pro intervalo. Foi então que eu me vi na TV. Nem entendi o enre...

Andei lendo

Histórias de Cronópios e Famas, de Júlio Cortázar. Quando se lê o nome do livro a grande dúvida é “afinal, o que são cronópios”. Pois bem, a surpresa é que Famas, não é o que você imagina. O livro não fala sobre a fama, aquela dos artistas. Famas são seres criados por Cortázar, assim como os Cronópios e também as Esperanças, que foram cortadas do título. Mas todos esses seres são apenas uma parte do fantasioso livro, que na verdade é um livro sobre o nada. São pequenas histórias (não só sobre cronópios e famas) sobre a alegria de se enviar uma pata de aranha para um ministro, a secretária possessiva, a família que distribuía bolas coloridas em uma agência do correio, o homem que vendia gritos e manuais de instruções para se subir uma escada, ou matar formigas em Roma. A graça do livro está na poética do autor. Pela mágica que faz com que qualquer frase soe bela, como se as palavras ali escritas estivessem atraídas por um magnetismo, de tal forma que seria impossível que essas palavras ...