Pular para o conteúdo principal

Memórias de Copa do Mundo (1)

Jogos de abertura.

O jogo de abertura é um momento especial da copa. É uma sensação que talvez só encontre comparações na possibilidade de beber um copo de água depois de atravessar o deserto. Quatro anos de espera, de olho em todas as notícias e sites, todas as revistas e lá estão, finalmente, as seleções perfiladas para a execução do hino nacional. O coração bate forte pela expectativa até a bola rolar.

A primeira copa que acompanhei foi em 1994. Mas eu estava em aula e não acompanhei a vitória da Alemanha sobre a Bolívia por 1x0. Acho que eu nem sabia que aquele jogo iria acontecer.

A primeira copa que acompanhei, e vi todos os jogos, foi em 98. E aí havia a expectativa da estréia, que tinha o Brasil contra a Escócia. Vestido com a camisa da seleção brasileira (não há como negar que então, a expectativa aumentava pela presença do Brasil), vi César Sampaio cabecear (meio com o ombro) logo no começo do jogo para fazer o primeiro gol. Parecia que ia ser uma goleada, mas a Escócia empatou num gol de pênalti. E só mais pro fim do jogo o Brasil conseguiu a vitória num gol contra exótico (Cafu chutou na cara do goleiro, a bola voltou na barriga do zagueiro e entrou).

Não há dúvida que a melhor copa que se assiste é aquela em que você tem por volta de 11 anos. Por isso, foi a melhor copa que vi.

Não sei porque, mas eu não tive aula na sexta-feira 31 de maio de 2002, quando a copa de 2002 começou. Não sei se eu resolvi matar aula, ou o que. A expectativa não era tão grande porque o jogo começava logo na hora em que se acordava. A expectativa era de que a França atropelasse o desconhecido Senegal. Mas não foi o que se viu, El Hadj Diouf, infernizava a zaga francesa e ainda no primeiro tempo Senegal abriu o placar. Depois, teve bola na trave, pressão francesa, mas de nada adiantou. Senegal venceu.

Foi uma copa média, que se salvou pela vitória brasileira. Muitos jogos decepcionaram. Foi uma copa difícil também, com vários jogos disputados na fria madrugada cuiabana e muitos dos melhores jogos enquanto eu estava em aula. Aliás, essa copa serviu para que eu descobrisse que em junho faz frio de madrugada e para começar a ler Incidente em Antares.

Em 2006 a expectativa era enorme para mim. Talvez por não ter visto direito em 2002, não via a hora da bola rolar para Alemanha e Costa Rica. Sentei em frente a TV com o guia da copa ao lado. Lahm marcou o gol alemão logo aos seis minutos e foi uma boa partida, movimentada. 4x2 para a Alemanha.

No geral foi uma copa fraca. É difícil para um fanático admitir isso durante o torneio. É como um disco ruim da sua banda favorita, ou descobrir que o amor da sua vida tem mau hálito. Você tenta ver o lado positivo.

E porque a copa exerce tanto fanatismo? Bem, para quem adora futebol é o fato de ter três jogos por dia, fora os programas passando na TV o tempo todo. É um tempo em que se pode acompanhar o futebol impune.

E há uma carga dramática, do conflito entre nações, quase uma guerra controlada. A subjetividade nacionalista do confronto é mais intensa do que a subjetividade clubística dos confrontos normais. Por mais que as pessoas amem mais o seu clube de futebol, do que a seleção do seu país.

Comentários

Postagens mais visitadas

Oasis e a Cápsula do Tempo

Não dá para entender o Oasis pensando apenas na relevância das suas músicas, nos discos vendidos, nos ingressos esgotados ou nas incontáveis exibições do videoclipe de Wonderwall na MTV. Além das influências musicais, das acusações de plágio e das brigas públicas, o Oasis faz parte de um fenômeno cultural (um pouco datado, claro), mas é uma banda que captou o espírito de uma época e transformou isso em arte, promovendo uma rara identificação com seus fãs. Os anos 1990 foram marcados por problemas econômicos no mundo inteiro. Uma juventude já desiludida não via muitas perspectivas de vida. A Guerra Fria havia acabado, uma nova revolução tecnológica começava, o Reino Unido vivia uma crise pós governo Thatcher e nesse cenário surge um grupo cantando letras incrivelmente ousadas para meros desconhecidos.  Definitely Maybe, primeiro disco do grupo, fala sobre curtir a vida de maneira meio sem propósito e sem juízo. A diversão que só vem com cigarros e álcool, o sentimento supersônico de...

Oasis de 1 a 7

Quando surgiu em 1994, o Oasis rapidamente se transformou em um fenômeno midiático. Tanto por suas canções radiofônicas, quanto pela personalidade dos irmãos Gallagher. Eles estiveram na linha frente do Britpop, movimento que redefiniu o orgulho britânico. As letras arrogantes, o espírito descolado, tudo contribuiu para o sucesso. A discografia da banda, no entanto, não chega a ser homogênea e passa a ser analisada logo abaixo, aproveitando o retorno do grupo aos palcos brasileiros após 16 anos.  Definitely Maybe (1994) O primeiro disco do Oasis foi durante muito tempo o álbum de estreia mais vendido da história do Reino Unido. Foi precedido por três singles, sendo que dois deles são clássicos absolutos - Supersonic e Live Forever . O vocalista Liam Gallagher cantava em algum lugar entre John Lennon e Ian Brown, enquanto o som da banda bebia de quase tudo o que o Reino Unido havia produzido nos 30 anos anteriores (Beatles, T. Rex, Sex Pistols, Smiths, Stone Roses). O disco começa c...

As cinco piores disputas de título da história da Fórmula 1

A disputa entre Oscar Piastri e Lando Norris pelo título da Fórmula 1 em 2025 está longe de ser empolgante. A McLaren entregou um ótimo carro para sua dupla e eles foram vencendo corridas sem muita alegria, acumulando erros, reclamações sem sentido e falta de carisma. Era quase um consenso de que essa seria a disputa mais insossa de todos os tempos. Porém, a súbita arrancada de Max Verstappen a partir do GP da Itália trouxe um tempero extra para a disputa, o que faz com que, independente do vencedor, este campeonato já não faça parte de uma lista de piores da história. É claro que nem sempre as disputas de título na F1 foram emocionantes. Elaborei uma lista pessoal com cinco disputas que não comoveram ninguém. Mas há alguns critérios:      1) Falo em disputas. Portanto, não há o que analisar em anos como 1992, 2002, 2004, 2011, 2013 ou 2023.     2)  Também não falo de campeonatos em que um possível postulante liderou em algum momento, ou tentou uma arrancad...