Pular para o conteúdo principal

(...)

Existem textos que não deveriam ser escritos, simples assim. No mundo perfeito, um texto sobre a morte de alguém não deveria ser feito. Quando esse alguém era um amigo muito querido, a situação é pior ainda. Eu não queria ter que escrever sobre o Dyolen. Mas percebi que precisava. Eu devia fazer essa homenagem a ele, antes que o tempo cicatrizasse as feridas de um fim-de-semana que mais pareceu um pesadelo.

Pensei em tantas coisas. Pensamentos abstratos sobre a vida. Mas tentei ser objetivo. E listar momentos marcantes nesses cinco anos em que convivi com ele.

1 Festa do Calouro: Era uma festa do calouro organizada pela nossa turma, estávamos no segundo semestre em 2006. Em certo momento, Dyolen foi nos ensinar três movimentos básicos da dança “atira, defende, a faca”. Não dá para explicar os movimentos em palavras. Mas a dança do Dyolen foi um marco.

É quase impossível se lembrar do Dyolen sem pensar em “divertido”. Dyolen me cumprimentava rindo. Sempre ria ao encontrar qualquer pessoa. Tinha uma gargalhada fácil e inconfundível. Fácil de lembrar a qualquer momento. Sempre tinha algum assunto ou comentário engraçado. Não é possível lembrar-se dele com a cara fechada. Também popularizava expressões, vídeos da internet.

2 Festa a Fantasia: E era uma festa a fantasia com o tema dos anos 80. Eu fantasiado fajutamente, tantas pessoas com dificuldade para pensar em algo convincente. E aí aparece o Dyolen vestido de Michael Jackson. Não teve como não rir. Em outra festa ele apareceu de Seu Madruga. Era pra rir de novo. Ele se destacava.

Jornalista, radialista, pesquisador acadêmico, roteirista, escritor, no que o Dyolen não se destacou?

3 Jesus, etc: Certa vez gravei uns 3 CDs de mp3 para ele. Nem lembro mais quantas bandas coloquei por lá. Lembro que tinha Wilco. Certo dia ele estava apresentando um programa da rádio corredor, eu estava no saguão ouvindo. Começa a tocar Jesus, etc – a minha música favorita do Wilco. Deu aquele certo orgulho que se sente, quando se escuta uma música favorita e desconhecida num lugar público. Depois conversando ele me disse, que era a música que ele mais havia gostado.

Difícil saber quais músicas ele não ouviu, que livros não leu e que filmes não viu. Dyolen sempre trazia em sua mochila uma porção de DVDs que emprestava e recomendava para as pessoas. Ás vezes não era preciso pedir emprestado, ele trazia por conta própria dizendo que achava que você ia gostar do filme. O único paralelo para a mochila de Dyolen, era a bolsa de Ana Luiza.

4 O tempo de Dyolen: Cursou letras, radialismo, jornalismo. Fez francês, pós-graduação, fazia mestrado e trabalhava na Gazeta. Muitas vezes conciliava três dessas atividades. Uma para cada turno. Como ele fazia para administra o tempo? Não sei.

E mesmo com tantas atividades ele conseguia se fazer presente na vida das pessoas. Marcava encontros, ligava paras as pessoas, conversava pela internet. E isso com várias pessoas. Como ele conseguia ter tanto tempo para tantas coisas e tantas pessoas?

5 Onde está Dyoly: Estávamos no segundo semestre quando o Vinícius fez o desenho “Onde está Dyoly”. Uma paródia de Onde está Wally, motivada por ele ter apresentado as polêmicas charges sobre o islamismo (coisas de 2006). E ah, Dyoly, era um trocadilho com o guaraná Dolly.

E o desenho só apareceu porque realmente o Dyolen era uma figura marcante (e a piada, irresistível), por tudo o que já foi descrito acima.

E onde está Dyolen agora? Acho que cada um pode ter a sua opinião dependendo das suas crenças e convicções. Para mim, Dyolen está onde ele pode ser lembrado.

Comentários

Anônimo disse…
simplismente lindo , o pouco que o conheci vejo que tudo isso e verdade ele vai deixar saudades.
Unknown disse…
Lindo e emocionante.
Ele está onde pode ser lembrado... E ele pode ser lembrado em tantas coisas.

Postagens mais visitadas

Aonde quer que eu vá

De vez em quando me pego pensando nisso. Como todos sabem, Herbert Vianna, dos Paralamas do Sucesso, sofreu um acidente de avião em 2001. Acabou ficando paraplégico e sua mulher morreu. Existe uma música dos Paralamas, chamada "Aonde quer que eu vá" que é bem significativa. Alguns trechos da letra: "Olhos fechados / para te encontrar / não estou ao seu lado / mas posso sonhar". "Longe daqui / Longe de tudo / meus sonhos vão te buscar / Volta pra mim / vem pro meu mundo / eu sempre vou te esperar". A segunda parte, principalmente na parte "vem pro meu mundo" parece ter um significado claro. E realmente teria significado óbvio, se ela fosse feita depois do acidente. A descrição do acidente e de estar perdido no mar "olhos fechados para te encontrar". E depois a saudade. O grande detalhe é que ela foi feita e lançada em 1999. Dois anos antes do acidente. Uma letra que tem grande semelhança com fatos que aconteceriam depois. Assombroso.

Ziraldo e viagem sentimental por Ilha Grande

Em janeiro de 1995 pela primeira vez eu saí de férias em família. Já havia viajado outras vezes, mas acho que nunca com esse conceito de férias, de viajar de férias. Há uma diferença entre entrar em um avião para ir passar uns dias na casa dos seus tios e pegar o carro e ir para uma praia. Dormir em um hotel. Foi a primeira vez que eu, conscientemente, dormi em um hotel. Contribui para isso o fato de que, com sete anos, eu havia acabado de terminar a primeira série, o ano em que de fato eu virei um estudante. Então, é provável que pela primeira vez eu entendesse o conceito de férias. Entramos em uma Parati cinza e saímos de Cuiabá eu, meus pais, minha prima e minha avó. Ao mesmo tempo em que essas eram as minhas primeiras férias, elas eram também a última viagem da minha avó. A essa altura ela já estava com um câncer no pâncreas e sem muitas perspectivas de longo prazo. Disso eu não sabia na época. Mas ela morreu cerca de um ano depois, no começo de 1996, após muitas passagens pelo hos

Imola 94

Ayrton Senna era meu herói de infância. Uma constatação um tanto banal para um brasileiro nascido no final dos anos 80, todo mundo adorava o Senna, mas eu sentia que era um pouco a mais no meu caso. Eu via todas as corridas, sabia os resultados, o nome dos pilotos e das equipes. No começo de ano comprava revistas com guias para a temporada que iria começar, tinha um macacão e um carrinho de pedal com o qual dava voltas ao redor da casa após cada corrida. Para comemorar as vitórias do Senna ou para fazer justiça com meus pedais as suas derrotas. Acidentes eram parte da diversão de qualquer corrida. No meu mundo de seis anos, eles corriam sem maiores riscos. Pilotos por vezes davam batidas espetaculares, saiam ricocheteando por aí e depois ficava tudo bem. Já fazia 12 anos que ninguém morria em uma corrida. Oito sem ninguém morrer em qualquer tipo de acidente. Os últimos com mais gravidade tinham sido o do Streiff e do Martin Donelly, mas eu nem sabia disso, para dizer a verdade. Não sab