Pular para o conteúdo principal

Sobre o último do Radiohead

Todo fã de Radiohead é um sofredor. Sonhamos com Karma Police, Fake Plastic Trees e Creep. Acordamos com The Gloaming e Idioteque. Escutamos as músicas difíceis trezentas vezes, mais do que faríamos com qualquer outra banda, para tentar achar alguma beleza nas músicas estranhas, com batidas desconexas e vocais prolongados. Tentamos interpretar as letras indecifráveis de Thom Yorke.

Porque é difícil falar mal do Radiohead. Todos os adoram. Seus discos são modernos, refletem o tempo em que vivemos – dizem os críticos. Tempos desconexos, talvez. Seus shows são ótimos. Mas são ótimos, justamente por que assistir Paranoid Android é uma experiência épica, uma revelação divina. Não é para pirar nas batidas de In Limbo.

Desde 1997 esperamos por um novo OK Computer, o que é óbvio, jamais acontecerá. É um disco de uma beleza ímpar, uma melancolia própria, um dos grandes discos dos anos 90 e da história. Mas o Radiohead sempre nos trazia algumas boas surpresas.

Acredito que tenha sido surpreendente e frustrante escutar as batidas desconexas de Kid A e Amnesiac há dez anos. Mas, era uma novidade. Hoje em dia já não é assim. Esses dois discos ainda traziam grandes canções como How to Disappear Completely e You and Whose Army? Mas, todos gostavam é das guitarras. E todos vibraram quando elas voltaram aos 115 segundos de 2+2=5, música de abertura de Hail To The Thief, album híbrido que juntava o melhor de dois mundos. (Ou talvez, o melhor de um mundo, atrapalhado por outro.) E In Rainbows ensaiava uma volta a normalidade, não era tão genial, mas trazia um conjunto de canções agradáveis.

O novo disco, The King of Limbs não. É a volta das batidas desconexas no pior cenário. Apenas oito músicas, difícil acreditar que o Radiohead não tenha conseguido nada melhor nos últimos quatro anos. King of Limbs desponta de longe, como o pior e mais dispensável disco da história do Radiohead. As duas primeiras músicas são envoltas em chatices eletrônicas e ainda há um faixa instrumental que poderia ser trilha sonora de filmes alternativos (e ruins).

Os bons momentos ficam em Little By Little (música mais convencional, provavelmente escorraçada pelos adeptos da modernidade) e Give Up the Ghost, uma canção sombria. Lotus Flower é o que há de melhor da parte eletrônica. Três, com força, quatro canções boas de uma banda do nome do Radiohead. Convenhamos, é muito pouco.

Não há como negar. O público médio que gosta de Radiohead, gostou da banda por conta das guitarras, das melodias, da tristeza, dos arranjos complexos da fase 95-97. E a banda desde então apresentou muito pouco do mesmo estilo. A música que predominou no seu trabalho nos últimos 10 anos, dificilmente entraria na nossa vida por outras bandas comuns. Por isso, eu digo: todo fã de Radiohead é um sofredor. Vive um amor não correspondido com a banda.

Comentários

Postagens mais visitadas

1996 (De Novo)

Uma equipe inglesa dominante. Dois pilotos inconstantes brigando pelo título sem empolgar ninguém. O melhor piloto do grid correndo naquele que talvez seja o terceiro melhor carro do grid, mas mesmo assim conseguindo algumas grandes exibições que comprovam o seu status. Você pode imaginar que eu estou falando sobre a atual temporada da Fórmula 1, mas estou aqui descrevendo o ano de 1996. Quase 29 anos depois, assistimos o enredo de repetir, como se fosse um remake de temporada. Vejamos, se agora a McLaren entregou o melhor carro do ano, com folga, em 1996 este equipamento era o da Williams. O mundial é liderado por Oscar Piastri, que tal qual Damon Hill é um piloto constante, capaz de apagões eventuais, mas extremamente insosso. Seus adversários e companheiros era pilotos um pouco mais carismáticos, mas muito mais erráticos e que davam a impressão de não se importarem muito com a competição: Jacques Villeneuve e Lando Norris. (Para ser melhor, só se Piastri e Norris invertessem papéis,...

Em um ritmo diferente

Quando Noel Gallagher deixou o Oasis, decretando o fim da banda, os membros restantes decidiram seguir em frente, deixando muitas dúvidas. Um ano depois eles anunciaram o estranho nome Beady Eye, o que indicava que alguma coisa realmente estava acontecendo. A principal dúvida era: Noel Gallagher sempre foi o líder criativo do Oasis e, por mais que os outros tivessem aumentado e qualificado sua participação nos últimos anos, Noel ainda era o responsável pelas melhores músicas da banda. Os outros quatro conseguiriam seguir em frente? Ou se perderiam? De certa forma a resposta para as duas perguntas é afirmativa. O disco de estréia o Beady Eye, Different Gear, Still Speeding é cheio de altos e baixos, carente de uma produção melhor. Faltou alguém para conter alguns excessos. O guitarrista Andy Bell é o único que tem experiência em liderar alguma banda relevante, no caso o Ride no começo dos anos 90. E ele se destaca em relação aos demais. Suas composições têm as melhores letras do grupo, ...

Aonde quer que eu vá

De vez em quando me pego pensando nisso. Como todos sabem, Herbert Vianna, dos Paralamas do Sucesso, sofreu um acidente de avião em 2001. Acabou ficando paraplégico e sua mulher morreu. Existe uma música dos Paralamas, chamada "Aonde quer que eu vá" que é bem significativa. Alguns trechos da letra: "Olhos fechados / para te encontrar / não estou ao seu lado / mas posso sonhar". "Longe daqui / Longe de tudo / meus sonhos vão te buscar / Volta pra mim / vem pro meu mundo / eu sempre vou te esperar". A segunda parte, principalmente na parte "vem pro meu mundo" parece ter um significado claro. E realmente teria significado óbvio, se ela fosse feita depois do acidente. A descrição do acidente e de estar perdido no mar "olhos fechados para te encontrar". E depois a saudade. O grande detalhe é que ela foi feita e lançada em 1999. Dois anos antes do acidente. Uma letra que tem grande semelhança com fatos que aconteceriam depois. Assombroso.