Pular para o conteúdo principal

Em um ritmo diferente

Quando Noel Gallagher deixou o Oasis, decretando o fim da banda, os membros restantes decidiram seguir em frente, deixando muitas dúvidas. Um ano depois eles anunciaram o estranho nome Beady Eye, o que indicava que alguma coisa realmente estava acontecendo.

A principal dúvida era: Noel Gallagher sempre foi o líder criativo do Oasis e, por mais que os outros tivessem aumentado e qualificado sua participação nos últimos anos, Noel ainda era o responsável pelas melhores músicas da banda. Os outros quatro conseguiriam seguir em frente? Ou se perderiam?

De certa forma a resposta para as duas perguntas é afirmativa. O disco de estréia o Beady Eye, Different Gear, Still Speeding é cheio de altos e baixos, carente de uma produção melhor. Faltou alguém para conter alguns excessos.

O guitarrista Andy Bell é o único que tem experiência em liderar alguma banda relevante, no caso o Ride no começo dos anos 90. E ele se destaca em relação aos demais. Suas composições têm as melhores letras do grupo, ele é o único que consegue dar algum sentido para suas composições.

São dele: Four Letter Word, candidata a melhor do disco, um rock constante, a música que mais lembra Oasis; Millionaire, música calma com uma leve pegada psicodélica; Kill For a Dream, uma balada repetitiva, que podia tocar na novela; e The Beat Goes On, o melhor refrão do disco.

Já o outro guitarrista, Gem Archer, mostra sua paixão por Rolling Stones (Wind Up Dream e Three Ring Circus) e T. Rex (Standing on the Edge of the Noise), além do primeiro single do grupo – a chatinha The Roller, uma mistura melosa entre Instant Karma e All You Need is Love, com um refrão meio constrangedor.

Já Liam, continua sendo o problema da banda nas composições. Ele tem duas boas canções, Wigwam e The Morning Son. Que poderiam ser muito melhores, se ele não tivesse um vício em repetir frases interminavelmente. Wigwam acaba lá por 3 minutos, mas se prolonga por mais 3 desnecessários minutos. Tenta ser épico, mas acaba sonolento. The Morning Son peca por um eco no vocal que é de doer. O refrão também se repete pelo infinito (Liam não tem essa mania de hoje. Soldier On, Born on a Different Cloud, Boy With the Blues e outras músicas suas no Oasis já eram assim).

Liam ainda compôs o rock insosso de Beatles and Stones e as duas piores músicas do disco. Bring the Light, uma tentativa fracassada e datada de soar como Jerry Lee Lewis e For Anyone, de melodia, letra e interpretação ridículas.

Os fãs de Oasis se dividirão entre os saudosistas pela banda que se foi, e os empolgados com o que restou. Por esse ponto, é difícil escrever sobre o Beady Eye, pois o tempo todo você se confronta com a tentação de compará-los ao Oasis de Noel Gallagher.

Eu tento não fazer isso. Minha comparação é baseada no tipo de música que gosto e escuto, um estilo no qual o Beady Eye está certamente incluído. E assim sendo, considero que não, Different Gear não é grande disco, capaz de fazer com que o Beady Eye se torne uma das grandes bandas da atualidade. Mas, nem das piores. Eles estão incluídos em uma perigosa faixa de música mediana feita atualmente. Um disco que tende a ser esquecido, após a empolgação inicial. Os próximos discos, com um ambiente mais calmo, talvez, dirão se eles vieram para ficar.

Comentários

Anônimo disse…
Minha opinião é completamente oposta! Mas é aquele negócio: gosto é gosto.

O que me incomoda em alguns "críticos" são as opiniões taxativas, como se aquilo que escrevem fossem verdades absolutas, o que é um erro.

Veja nesse caso...a maiorias das resenhas até agora foram de críticos louvando esse álbum...e muito poucas criticando de forma mais veemente.

O fato é que os músicos da Beady Eye, que lotam qq estádio fácil fácil, estão pouco se lixando para opiniões dos "entendidos do mundo da música"
Guilherme disse…
Sim, de fato. Tal qual a Lady Gaga ou o Luan Santana que lotam qualquer estádio, devem estar pouco se lixando para as críticas.

Mas de fato, a não ser qeu o cara diga coisas como "quem discorda de mim tem merda na cabeça", opiniões tendem a ser taxativas. E todo mundo tem direito a ter uma opinião.

Postagens mais visitadas

Oasis e a Cápsula do Tempo

Não dá para entender o Oasis pensando apenas na relevância das suas músicas, nos discos vendidos, nos ingressos esgotados ou nas incontáveis exibições do videoclipe de Wonderwall na MTV. Além das influências musicais, das acusações de plágio e das brigas públicas, o Oasis faz parte de um fenômeno cultural (um pouco datado, claro), mas é uma banda que captou o espírito de uma época e transformou isso em arte, promovendo uma rara identificação com seus fãs. Os anos 1990 foram marcados por problemas econômicos no mundo inteiro. Uma juventude já desiludida não via muitas perspectivas de vida. A Guerra Fria havia acabado, uma nova revolução tecnológica começava, o Reino Unido vivia uma crise pós governo Thatcher e nesse cenário surge um grupo cantando letras incrivelmente ousadas para meros desconhecidos.  Definitely Maybe, primeiro disco do grupo, fala sobre curtir a vida de maneira meio sem propósito e sem juízo. A diversão que só vem com cigarros e álcool, o sentimento supersônico de...

Oasis de 1 a 7

Quando surgiu em 1994, o Oasis rapidamente se transformou em um fenômeno midiático. Tanto por suas canções radiofônicas, quanto pela personalidade dos irmãos Gallagher. Eles estiveram na linha frente do Britpop, movimento que redefiniu o orgulho britânico. As letras arrogantes, o espírito descolado, tudo contribuiu para o sucesso. A discografia da banda, no entanto, não chega a ser homogênea e passa a ser analisada logo abaixo, aproveitando o retorno do grupo aos palcos brasileiros após 16 anos.  Definitely Maybe (1994) O primeiro disco do Oasis foi durante muito tempo o álbum de estreia mais vendido da história do Reino Unido. Foi precedido por três singles, sendo que dois deles são clássicos absolutos - Supersonic e Live Forever . O vocalista Liam Gallagher cantava em algum lugar entre John Lennon e Ian Brown, enquanto o som da banda bebia de quase tudo o que o Reino Unido havia produzido nos 30 anos anteriores (Beatles, T. Rex, Sex Pistols, Smiths, Stone Roses). O disco começa c...

Somos todos Leicester

O que era inacreditável, o que parecia impossível agora é verdade. O Leicester é o campeão inglês da temporada 2015-16. Incrível que o título tenha vindo de maneira até confortável, com duas rodadas de antecedência. Incrível que mesmo com a folga na tabela e a liderança estável nas últimas rodadas, era impossível acreditar que o título realmente viria. Parecia que a qualquer momento os Foxes poderiam desabar. O que mais falar sobre esse time? Formado por uma série de refugos, jovens que jamais explodiram, uma ou outra promessa. Filho de goleiro, zagueiro jamaicano e zagueiro alemão grosso, atacante japonês, atacante que até outro dia jogava no futebol amador. Não há nada parecido com o que Leicester fez nesse ano na história do futebol. Talvez na história do esporte. O título do Leicester é uma das maiores façanhas da história da humanidade. Não há o que falar, o que teorizar. Só resta olhar esse momento histórico e aceitar que às vezes o impossível acontece. Que realmente nada é i...