Pular para o conteúdo principal

Andei escutando (2)

Bob Dylan – Live 66: O grito vem da platéia: “Judas!”. Bob Dylan havia acabado de tocar Ballad of a Thin Man, na parte elétrica do seu show que tanto irritava os puristas. Ainda mais depois da parte inicial totalmente acústica. Dylan responde “Eu não acredito em você. Você é um mentiroso!”. Era sua época de jovem rebelde, do folk eletrificado. Em que as letras políticas deram lugar ao surrealismo. “Não dá para entender as letras” diziam os puristas no momento em que Dylan aparecia no palco com a The Band para tocar versões barulhentas e perturbadas de suas canções. Perturbado. Essa é a melhor definição para o Bob Dylan da época. E essa é a melhor definição para a versão de Like a Rolling Stone que encerrou o show, após a pequena discussão com a platéia. Como que para irritar, ele ordenou a banda “toquem alto para caralho”. No fim, a platéia aplaudiu.

Bob Dylan – Modern Times (2006): O que as pessoas fazem aos 65 anos de idade? Bob Dylan compôs Modern Times. O seu melhor disco em anos, com Workingman's Blue # 2 sua melhor música em 30 anos. O disco mostra um pouco do cansaço, a sensação de alguém que já viveu de tudo na vida e que percebe o seu fim. Mas ainda tem o que dizer para os mais novos.

“Cada canção significa o que você disser que significa. Ela te golpeia onde você pode sentir, e sentindo ela terá um significado para você”. Bob Dylan.


George Harrison – George Harrison (1979): Nos anos após o fim dos Beatles, Harrison foi corno e Hare Krishna. 10 anos depois, ele parecia estar mais feliz e lançou esse disco alegre, de alguém que diz, ou descobriu, “Love comes to Everyone”.

Matthew Sweet – Girlfriend (1991): É um disco de Power Pop perfeito. Riffs pegajosos, refrões grudentos, harmonias vocais. O problema do disco é que talvez ele seja perfeitinho de mais. Após anos de fracassos e discos fracos, Sweet parece ter visto sua última oportunidade e para isso planejou demais o disco. Não há uma única música ruim. Mas falta espontaneidade. Falta o coração que sobra em algumas músicas com I've Been Waiting e You don't Love me.

Muse – The Resistance (2009): No seu novo disco o Muse mostra que não tem limites para sua criatividade. Mas isso nem sempre é bom. The Resistance é uma salada com um pouco de tudo o que o Muse já fez. Hard Rock, rock melancólico, música clássica, dance. Está tudo lá. O começo do disco é péssimo (Undisclosed Desire parece música da Nelly Furtado, produzida por Timbaland). Depois existem bons momentos: Guiding Light (Invincible, parte 2), Unnatural Selection (New Born, volume 2) e a balada I Belong to You. No final, uma ópera para a qual é preciso um pouco de paciência.

Pernice Brothers – The World Won’t End (2001): Se você gosta de The Thrills, Beach Boys ou Teenage Fanclub pós 95, é praticamente impossível não gostar dessa banda. Joe Pernice compõe músicas de aparência alegre, mas com letras amarguradas. As melodias são lindas e grudam facilmente na cabeça. Procure por Our Time Has Passed.

Smashing Pumpkins – Mellon Collie and the Infinite Sadness (1995): Geralmente os bons discos duplos são aqueles frutos de uma fase muito inspirada do artista. Por mais que o resultado final possa ser irregular, ele soa sincero. Esse disco dos Pumpkins carece um pouco dessa sinceridade. Parece um projeto megalômano do megalômano Billy Corgan, que sentou para escrever um disco duplo, custe o que custasse. Portanto, existem várias músicas dispensáveis. Em alguns momentos o som beira o Heavy Metal e você precisará de alguns anos para se lembrar exatamente como é cada música. Para dar um alento, vez por outro surge uma 1979 ou Galapogos para acalmar os ouvidos.

Stephen Malkmus – Stephen Malkmus (2001): No seu primeiro disco solo o ex-líder do Pavement seguiu a tendência dos dois últimos discos da banda, que são menos pesados. Aqui, ele abandonou de vez o barulho e abraçou suas melodias diferentes e as suas experimentações sonoras malucas. O resultado é mais agradável de ouvir do que qualquer disco do Pavement, mas sem momentos brilhantes como Stereo.

The Move – Shazam (1970): Um típico rock do começo dos anos 70. Há muita influência do som inicial dos Kinks, do psicodelismo de Sgt. Peppers e as guitarras que lembram um pouco o Deep Purple. Na versão de 25 anos, ainda existem algumas versões ao vivo, em que a banda soa mais pop. Algo como The Faces.

The Pogues – Rum, Sodomy & The Lash (1985): A trilha sonora perfeita para o dia em que você resolver tomar um porre de uísque, Guiness e rum em um pub dublinense. A voz do sorridente Shane McGowan é arrastada, etílica e dolorida. Algumas pessoas chamam de Celtic Folk Punk, mas o disco é bem pouco punk.

The Who – Live at Leeds (1971): Os primeiros segundos de Heaven and Hell, música que abre o disco, já valiam o ingresso do show. Ou nesse caso, já valem o download. Da abertura apoteótica, passando pela ópera rock Tommy, até o fim com Magic Bus todas as músicas soam ainda melhores ao vivo. E ao vivo as qualidades do Who ficam ainda mais aparentes. A dupla baixo/bateria formada por Entwistle e Moon tem poucos concorrentes na história do rock, Townshend toca com uma simplicidade inigualável e Daltrey é um baita frontman.

T.Rex – Eletric Warrior: O problema do Glam Rock é que as músicas muitas vezes podem parecer ter o mesmo riff e a mesma batida. Mas Marc Bolan se sobressaía por criar melodias marcantes e por não ter tantos excessos como outros de seus contemporâneos. Mambo Sun, Jeepster e Life’s a gas são indispensáveis.

Comentários

annarraissa disse…
o "live 66" é um dos melhores discos ao vivo do dylan... "perturbado" é uma boa definição :-D
agora, só o que me surpreendeu mais que o "modern times" foi o "together trough life". magnífico!

Postagens mais visitadas

Oasis e a Cápsula do Tempo

Não dá para entender o Oasis pensando apenas na relevância das suas músicas, nos discos vendidos, nos ingressos esgotados ou nas incontáveis exibições do videoclipe de Wonderwall na MTV. Além das influências musicais, das acusações de plágio e das brigas públicas, o Oasis faz parte de um fenômeno cultural (um pouco datado, claro), mas é uma banda que captou o espírito de uma época e transformou isso em arte, promovendo uma rara identificação com seus fãs. Os anos 1990 foram marcados por problemas econômicos no mundo inteiro. Uma juventude já desiludida não via muitas perspectivas de vida. A Guerra Fria havia acabado, uma nova revolução tecnológica começava, o Reino Unido vivia uma crise pós governo Thatcher e nesse cenário surge um grupo cantando letras incrivelmente ousadas para meros desconhecidos.  Definitely Maybe, primeiro disco do grupo, fala sobre curtir a vida de maneira meio sem propósito e sem juízo. A diversão que só vem com cigarros e álcool, o sentimento supersônico de...

Oasis de 1 a 7

Quando surgiu em 1994, o Oasis rapidamente se transformou em um fenômeno midiático. Tanto por suas canções radiofônicas, quanto pela personalidade dos irmãos Gallagher. Eles estiveram na linha frente do Britpop, movimento que redefiniu o orgulho britânico. As letras arrogantes, o espírito descolado, tudo contribuiu para o sucesso. A discografia da banda, no entanto, não chega a ser homogênea e passa a ser analisada logo abaixo, aproveitando o retorno do grupo aos palcos brasileiros após 16 anos.  Definitely Maybe (1994) O primeiro disco do Oasis foi durante muito tempo o álbum de estreia mais vendido da história do Reino Unido. Foi precedido por três singles, sendo que dois deles são clássicos absolutos - Supersonic e Live Forever . O vocalista Liam Gallagher cantava em algum lugar entre John Lennon e Ian Brown, enquanto o som da banda bebia de quase tudo o que o Reino Unido havia produzido nos 30 anos anteriores (Beatles, T. Rex, Sex Pistols, Smiths, Stone Roses). O disco começa c...

Somos todos Leicester

O que era inacreditável, o que parecia impossível agora é verdade. O Leicester é o campeão inglês da temporada 2015-16. Incrível que o título tenha vindo de maneira até confortável, com duas rodadas de antecedência. Incrível que mesmo com a folga na tabela e a liderança estável nas últimas rodadas, era impossível acreditar que o título realmente viria. Parecia que a qualquer momento os Foxes poderiam desabar. O que mais falar sobre esse time? Formado por uma série de refugos, jovens que jamais explodiram, uma ou outra promessa. Filho de goleiro, zagueiro jamaicano e zagueiro alemão grosso, atacante japonês, atacante que até outro dia jogava no futebol amador. Não há nada parecido com o que Leicester fez nesse ano na história do futebol. Talvez na história do esporte. O título do Leicester é uma das maiores façanhas da história da humanidade. Não há o que falar, o que teorizar. Só resta olhar esse momento histórico e aceitar que às vezes o impossível acontece. Que realmente nada é i...