Pular para o conteúdo principal

Coca Dois Litros

Chegando na rotatória eu percebo um corpo estranho no chão. Tenho que dizer que sempre tenho dificuldade em reconhecer objetos caídos no asfalto e tenho uma tendência surrealística de interpretação. Folhas secas de coqueiro me parecem um cadáver de um cavalo, pedaços de pano parecem sempre algum animal espatifado.

Não sei dizer o que eu achei que era, mas logo percebi que se tratavam de duas garrafas. Quando cheguei perto foi possível perceber que eram duas garrafas de coca dois litros caídas no chão. Uma ainda estava envolta na sacola plástica, a outra se perdera. Não haviam se rompido e, pensando nisso agora, amaldiçoo aquele dia em 1999 quando deixei uma garrafa de coca cair no chão do Big Lar e ela explodiu. Poxa vida, seria muito mais fácil uma garrafa estourar a cair de um veículo em alta velocidade no asfalto.

As garrafas estavam suadas, sinal de que a Coca estava gelada. A espuma se acumulava, prova de que a queda ainda era recente. Pensei por um instante que poderia acontecer uma tragédia se um carro passasse por cima de uma dessas garrafas, mas acho que estava influenciado pelos vídeos sobre mentos e coke.

Pois, logo veio um carro pela rotatória e a preferencial era dele. Diminuí a velocidade, mas o carro, um Kadete, foi parando. Talvez fosse um desses bobões que nunca sabem que estão na preferencial, mas percebi que eles estavam estacionando na rotatória. Que merda, eu pensei.

Segui em frente e quando olho pelo retrovisor vejo duas pessoas correndo para pegar as garrafas de Coca. Pensei em como é que duas garrafas de Coca caem de um Kadete. Pensei em como é que eles perceberam que isso havia acontecido e pensei nas pessoas voltando para pegar duas garrafas de Coca. Pensei também na possibilidade de eles serem apenas dois caras que viram duas garrafas de Coca no chão, viram que elas estavam geladas e resolveram aproveitar. Pensei que o dono original poderia voltar lá e não achar lá. E não sei até agora qual possibilidade é a mais divertida.

E pensar que toda essa ação não durou mais do que vinte segundos.

Comentários

Postagens mais visitadas

1996 (De Novo)

Uma equipe inglesa dominante. Dois pilotos inconstantes brigando pelo título sem empolgar ninguém. O melhor piloto do grid correndo naquele que talvez seja o terceiro melhor carro do grid, mas mesmo assim conseguindo algumas grandes exibições que comprovam o seu status. Você pode imaginar que eu estou falando sobre a atual temporada da Fórmula 1, mas estou aqui descrevendo o ano de 1996. Quase 29 anos depois, assistimos o enredo de repetir, como se fosse um remake de temporada. Vejamos, se agora a McLaren entregou o melhor carro do ano, com folga, em 1996 este equipamento era o da Williams. O mundial é liderado por Oscar Piastri, que tal qual Damon Hill é um piloto constante, capaz de apagões eventuais, mas extremamente insosso. Seus adversários e companheiros era pilotos um pouco mais carismáticos, mas muito mais erráticos e que davam a impressão de não se importarem muito com a competição: Jacques Villeneuve e Lando Norris. (Para ser melhor, só se Piastri e Norris invertessem papéis,...

Em um ritmo diferente

Quando Noel Gallagher deixou o Oasis, decretando o fim da banda, os membros restantes decidiram seguir em frente, deixando muitas dúvidas. Um ano depois eles anunciaram o estranho nome Beady Eye, o que indicava que alguma coisa realmente estava acontecendo. A principal dúvida era: Noel Gallagher sempre foi o líder criativo do Oasis e, por mais que os outros tivessem aumentado e qualificado sua participação nos últimos anos, Noel ainda era o responsável pelas melhores músicas da banda. Os outros quatro conseguiriam seguir em frente? Ou se perderiam? De certa forma a resposta para as duas perguntas é afirmativa. O disco de estréia o Beady Eye, Different Gear, Still Speeding é cheio de altos e baixos, carente de uma produção melhor. Faltou alguém para conter alguns excessos. O guitarrista Andy Bell é o único que tem experiência em liderar alguma banda relevante, no caso o Ride no começo dos anos 90. E ele se destaca em relação aos demais. Suas composições têm as melhores letras do grupo, ...

Aonde quer que eu vá

De vez em quando me pego pensando nisso. Como todos sabem, Herbert Vianna, dos Paralamas do Sucesso, sofreu um acidente de avião em 2001. Acabou ficando paraplégico e sua mulher morreu. Existe uma música dos Paralamas, chamada "Aonde quer que eu vá" que é bem significativa. Alguns trechos da letra: "Olhos fechados / para te encontrar / não estou ao seu lado / mas posso sonhar". "Longe daqui / Longe de tudo / meus sonhos vão te buscar / Volta pra mim / vem pro meu mundo / eu sempre vou te esperar". A segunda parte, principalmente na parte "vem pro meu mundo" parece ter um significado claro. E realmente teria significado óbvio, se ela fosse feita depois do acidente. A descrição do acidente e de estar perdido no mar "olhos fechados para te encontrar". E depois a saudade. O grande detalhe é que ela foi feita e lançada em 1999. Dois anos antes do acidente. Uma letra que tem grande semelhança com fatos que aconteceriam depois. Assombroso.