Pular para o conteúdo principal

Coca Dois Litros

Chegando na rotatória eu percebo um corpo estranho no chão. Tenho que dizer que sempre tenho dificuldade em reconhecer objetos caídos no asfalto e tenho uma tendência surrealística de interpretação. Folhas secas de coqueiro me parecem um cadáver de um cavalo, pedaços de pano parecem sempre algum animal espatifado.

Não sei dizer o que eu achei que era, mas logo percebi que se tratavam de duas garrafas. Quando cheguei perto foi possível perceber que eram duas garrafas de coca dois litros caídas no chão. Uma ainda estava envolta na sacola plástica, a outra se perdera. Não haviam se rompido e, pensando nisso agora, amaldiçoo aquele dia em 1999 quando deixei uma garrafa de coca cair no chão do Big Lar e ela explodiu. Poxa vida, seria muito mais fácil uma garrafa estourar a cair de um veículo em alta velocidade no asfalto.

As garrafas estavam suadas, sinal de que a Coca estava gelada. A espuma se acumulava, prova de que a queda ainda era recente. Pensei por um instante que poderia acontecer uma tragédia se um carro passasse por cima de uma dessas garrafas, mas acho que estava influenciado pelos vídeos sobre mentos e coke.

Pois, logo veio um carro pela rotatória e a preferencial era dele. Diminuí a velocidade, mas o carro, um Kadete, foi parando. Talvez fosse um desses bobões que nunca sabem que estão na preferencial, mas percebi que eles estavam estacionando na rotatória. Que merda, eu pensei.

Segui em frente e quando olho pelo retrovisor vejo duas pessoas correndo para pegar as garrafas de Coca. Pensei em como é que duas garrafas de Coca caem de um Kadete. Pensei em como é que eles perceberam que isso havia acontecido e pensei nas pessoas voltando para pegar duas garrafas de Coca. Pensei também na possibilidade de eles serem apenas dois caras que viram duas garrafas de Coca no chão, viram que elas estavam geladas e resolveram aproveitar. Pensei que o dono original poderia voltar lá e não achar lá. E não sei até agora qual possibilidade é a mais divertida.

E pensar que toda essa ação não durou mais do que vinte segundos.

Comentários

Postagens mais visitadas

Faixa-a-faixa de Shaka Rock, o último disco do Jet

 Ou: analisando um dos piores discos da história Com origem na cidade de Melbourne, o Jet foi um dos destaques do novo rock, como convencionou-se chamar a leva de bandas nascidas no início dos anos 2000, que em geral faziam um revival de sons mais antigos. No caso do Jet, sua influência mais óbvia eram seus conterrâneos do AC/DC na pegada Hard Rock. Mas Rolling Stones não outra influência clara - nos rocks e nas baladas, além do Oasis - principalmente nas baladas. O primeiro disco do grupo, Get Born , era muito bom. Nada de muito inovador, mas uma coleção de riffs e refrãos pegajosos, expondo uma nova geração ao headbang. Na sequência, Shine On  decepcionava, mas ainda tinha seus pontos positivos. Em 2009 eles colocaram ao mundo Shaka Rock , seu terceiro e último disco. Uma bomba sem tamanho, uma coleção de músicas pouco inspiradas com algumas francamente ruins. A primeira faixa K.I.A. (Killed in Action) é uma crítica rasa ao consumismo em que uma guitarrinha aqui e ali tentam dar o to

Faixa de pedestres

Em plena Avenida dos Trabalhadores um jovem trabalhador negro se aproxima da faixa de pedestres segurando a sua bicicleta. Ainda não eram 7h30 da manhã e o trânsito começava a ficar pesado na semana em que muitas férias se encerravam. Um carro para, ele avança pela faixa da esquerda. Na faixa central uma caminhonete diminuí a velocidade e o trabalhador segue sua travessia. Era impossível não notar sua caminhada para o outro lado da rua. No entanto, a caminhonete apenas diminuía a velocidade para passar por cima da faixa, sobe a faixa no momento em que o ciclista pedestre entra no mesmo espaço, aquele espaço que dois corpos não podem ocupar ao mesmo tempo. O motorista da picape atinge a roda dianteira do ciclista que com o impacto se desequilibra e quase caí no chão. Revoltado ele gesticula contra o motorista, que pede desculpas constrangidas. Sem maiores danos físicos, exceto o susto da quase tragédia, o ciclista segue para a calçada e o motorista segue seu caminho. Eis um momento que

Aonde quer que eu vá

De vez em quando me pego pensando nisso. Como todos sabem, Herbert Vianna, dos Paralamas do Sucesso, sofreu um acidente de avião em 2001. Acabou ficando paraplégico e sua mulher morreu. Existe uma música dos Paralamas, chamada "Aonde quer que eu vá" que é bem significativa. Alguns trechos da letra: "Olhos fechados / para te encontrar / não estou ao seu lado / mas posso sonhar". "Longe daqui / Longe de tudo / meus sonhos vão te buscar / Volta pra mim / vem pro meu mundo / eu sempre vou te esperar". A segunda parte, principalmente na parte "vem pro meu mundo" parece ter um significado claro. E realmente teria significado óbvio, se ela fosse feita depois do acidente. A descrição do acidente e de estar perdido no mar "olhos fechados para te encontrar". E depois a saudade. O grande detalhe é que ela foi feita e lançada em 1999. Dois anos antes do acidente. Uma letra que tem grande semelhança com fatos que aconteceriam depois. Assombroso.