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Regressiva dos candidatos a presidência

São onze candidatos a presidência. Falo sobre os 11 em ordem decrescente de preferência.

11 Pastor Everaldo: O pastor do Partido Social Cristão é de longe a pior opção para essas eleições. Suas propostas são baseadas numa teocracia antiquada, mas pior do que isso, é que ele não tem preparo nenhum. Diferente de outros nomes da direita evangélica, ele não consegue nem ser firme em suas opiniões, batendo na questão da família, segurança, corrupção. Mal dá pra se irritar com as besteiras que ele fala. Para piorar, Everaldo tenta incorporar um discurso de direita econômica, falando sobre Estado mínimo, iniciativa privada, privatizações, e claro, não tem o menor preparo para falar sobre isso.

10 Levy Fidélix: Fidélix parece ser uma voz perdida da antiga UDN. Com o curioso slogan de "vamos endireitar o Brasil", nessa eleição ele deixou de ser apenas o cara do aerotrem para adotar um discurso raivoso, citando o Foro de São Paulo (todo mundo que cita isso perde o meu respeito), pregando ideias reacionárias e chegando até a falar dos movimentos sociais, numa clara contradição. Chama um pouco a atenção por suas aparições performáticas em debates, mas sua candidatura não dá nem para ser encaixada no ramo das "ideológicas".

9 Eymael: O Democrata Cristão continua sendo um jingle que tem um candidato. Suas aparições são uma peça de humor involuntário, com seu bordão "patriotas", seu apego a constituição, sua pose com as mãos unidas e cara de quem faz o maior sucesso nos bailes da terceira idade, um pão, diriam suas admiradoras. Eymael quer honrar a constituição, e o que mais? Difícil saber.

8 Rui Costa Pimenta: O Partido da Causa Operária se encaixa no rol das candidaturas ideológicas. No caso, a extrema-esquerda, que praticamente defende a ditadura do proletariado. Rui Costa mantém um discurso contra o establishment, contra tudo e contra todos, com algumas ideias perigosas. Ele, por exemplo, defende que os cidadãos andem armados, criando milícias populares para combater a violência, um convite à guerra civil. Diz que os outros partidos se afastaram do povo e termina a eleição com menos de 100 mil votos, o que nos leva a acreditar que o povo se resume a essa pequena parcela da sociedade.

7 Mauro Iasi: Representante do tradicional Partido Comunista Brasileiro, o Partidão, Iasi tem um discurso mais agradável, além da eterna questão da Luta de Classes. No entanto, falta carisma e o PCB parece meio perdido, não é tão extremista, nem moderado, não é uma esquerda intelectual, nem operária. Diria que é o candidato mais sem sal.

6 Aécio Neves: Penso que coloco Aécio numa colocação melhor do que ele merece. Por algum motivo, o PSDB achou que bater na questão da corrupção é a melhor maneira de derrotar o PT, o que é totalmente errado. Primeiro, porque já mostro que não deu certo - Lula se elegeu em 2006 no auge do mensalão, Dilma se elegeu em 2010 enfrentando essas acusações. Segundo, porque o PSDB tem telhado de vidro nessa questão - o partido não pode dizer que é totalmente limpo e tem escândalos em seu currículo. Terceiro, porque esse discurso não atinge a massa eleitoral do PT. Atinge um público que já não vota em Dilma, naturalmente, enquanto que o cidadão que passou a fazer duas refeições por dia depois do governo Lula pouco quer saber se alguém roubou dinheiro lá em Brasília. Mais do que o candidato da alternativa, Aécio é o candidato da falta de alternativa. Ainda contribui seu eterno sorriso de canto de rosto e seu pouco carisma. Ele não é nem um pouco convincente.

5 Zé Maria: Entre os partidos da extrema-esquerda, o PSTU parece ser aquele que tem uma ideia mais clara do que quer fazer - no caso, criar comitês populares que iriam administrar o país. O partido consegue usar uma linguagem mais acessível, investe em imagens melhores e deve ser por isso que é acusado pelo resto da extrema-esquerda de ser um partido do sistema, de direita, pelego e quinta-coluna.

4 Dilma Rousseff: O governo do PT, como era de se esperar, tem erros e acertos. No entanto, me irrita o fato de o PT não ser o que ele poderia ser - vítima e cúmplice do sistema político brasileiro. Me irrita também a figura de Dilma e seu discurso tecnocrata que acha que um país se resume a números e rankings mundiais. O Bolsa Família é o maior programa de transferência do mundo, com o pré-sal o Brasil será o segundo maior produtor do hemisfério sul. Um discurso mais quantitativo do que qualitativo. Dilma curte uma grandiosidade, o que de certa forma, até lembra os primeiros anos do governo militar. Um PT também, que quem diria, diante de uma ameaça a sua eleição partiu para um discurso de propagação do medo, concluindo o seu processo de tucanização iniciado lá em 2002.

3 Marina Silva: A Marina Silva de 2010 era um pessoa na qual eu tinha certeza no meu voto e a confiança de que era então a melhor opção. Hoje não é bem assim. Seu governo é uma incógnita, suas posições não são claras, mas ainda acredito que ela tenha um pouco de bom senso. Posso votar nela num eventual segundo turno, como estímulo a alternância no poder e, quem sabe, dando um estímulo para que o PT volte as suas bases.

2 Luciana Genro: O PSOL é um partido que me conquistou em 2010 e que nos últimos quatro anos me provocou admiração pela atuação dos seus parlamentares. No entanto, nessa eleição o Partido não soube ocupar o seu espaço. Nas eleições estaduais o partido tem pouquíssimas candidaturas minimamente sérias, que possam contribuir para o seu crescimento (em Mato Grosso, não é possível que o PSOL não tenha uma pessoa que saiba ao menos falar para se candidatar). Vejo que essa era uma eleição em que o PSOL poderia assumir o seu espaço como uma alternativa possível à esquerda do PT, se aproximando da sociedade, enfim, uma nova esquerda. No entanto, a candidatura de Luciana Genro se aproxima dos partidos comunistas mais raivosos, contra o sistema e o capital financeiro, num discurso que não empolga ninguém e chega a ser excludente, longe da realidade das pessoas (ok, talvez as pessoas devessem se importar com isso, mas esse é um longo processo). Luciana aparece melhor do que os outros comunistas nessa eleição, por ser mais inteligente e fazer parte de um partido mais simpático.

1 Eduardo Jorge: O Partido Verde não é um partido que tenha o meu respeito por sua atuação, mas Eduardo Jorge faz uma campanha que me representa. Ele não tem medo de discutir temas polêmicos, aproveita o seu espaço para divulgar a causa ambiental e suas falas tem muito de política. Sim, ele fala da importância de se repensar o planejamento urbano das cidades, muito além de um viaduto ou uma nova avenida. Saúde não é uma questão de construir hospitais, é muito além disso. Sua espontaneidade também traz naturalidade para um debate tão mecanizado e pensado por marketeiros. Eduardo Jorge é um candidato que tem propostas para quem acreditar nele, e não um candidato que se adapta aos gostos da população para ganhar votos. Se nada de errado acontecer, terá meu voto no dia 5 de outubro.

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