Enquanto Novak Djokovic e Andy Murray duelavam pelas quartas de final do US Open, na noite de ontem, em uma partida que tendia ao infinito, pude chegar a conclusão: Djokovic e Murray fazem os jogos mais enrolados do tênis mundial.
Os dois primeiros sets de ontem foram iguais aos dois primeiros sets da final que eles fizeram em 2012 no US Open, ou no Australian Open em 2013. As razões para isso, é que Murray e Djokovic são versões semelhantes do mesmo jogador.
Os dois podem ser considerados ótimos exemplos do Power Baseline: o modelo de jogador que desde Ivan Lendl domina o circuito, com um jogo muito forte do fundo da quadra, onde o jogador se estabelece e distribui pancadas sobre o rival. A quadra dura também é o habitat natural dos dois.
Djoko e Murray vão um pouco além disso: são dois dos melhores defensores do circuito mundial. Correm de um lado para o outro, não se cansam e transformam winners adversários em devoluções mortais. É o típico jogo em que o saque não representa nenhuma vantagem, já que as devoluções são fortes e eles saem de situações complicadas para recomeçar o ponto, praticamente do zero.
A diferença entre os dois é que Murray é um pouco mais agressivo, mais violento. Saca com mais potência, tem uma direita muito forte - sua direita em corrida é fabulosa e consegue acelerar bolas incríveis. Murray também é mais inconstante e daí surge a vantagem que Djokovic tem no confronto entre os dois. O escocês costuma a se irritar mais com seus erros, começa a falar sozinho, bater na própria cabeça, sua mente volta para sua Glasgow natal e quando vamos ver, o jogo foi embora. Djokovic, por outro lado, é uma fortaleza mental e consegue suportar melhor os seus erros e manter a concentração. Acredito que isso deve ter sido determinante na partida de ontem.
Os dois costumam a sofrer muitas dificuldades quando enfrentam Rafael Nadal. Principalmente Murray, pelos motivos já citados. Nadal é outro mestre da devolução e é capaz de jogar por anos sem errar uma única bola, chegando em todas, complicando seu adversário. Nadal leva a disputa para um intensidade muito maior do que a que Murray pode suportar e o escocês acaba sucumbindo na maioria das vezes.
Entre Nadal e Djokovic, a disputa é mais parelha. Seus confrontos em Grand Slams estão entre os maiores momentos do tênis mundial em todos os tempos. Nadal também é uma fortaleza mental, aliás, praticamente intransponível. Ele nunca baixa a guarda e consegue fazer com que o sérvio se desmobilize em alguns momentos. Quando Nadal ganha de Djokovic, geralmente é com um último set fácil, em que Novak foi derrotado no confronto mental alguns games antes.
Quando Djokovic consegue igualar Nadal na concentração, o que nós vemos é uma final como a do Australian Open de 2012. Djokovic é mais talentoso que Nadal, no sentido de que tem mais controle e variação de jogadas. Mas, isso não significa que o espanhol seja apenas um cara que devolve bolas.
Roger Federer o multicampeão suíço, completa o chamado Big Four que faz o tênis viver uma era dourada. Sua ascensão no tênis abalou os concorrentes, ganhando títulos em sequência, praticamente imbatível até o surgimento de Rafael Nadal.
Federer é o mais talentoso de todos, com um jogo de quadra muito forte e um jogo na rede também fortíssimo. No seu auge, ele demonstrava saber exatamente o que fazer com a bola e começa a construir seus pontos com três ou quatro jogadas de antecedência. Também é o mais agressivo e aquele que tem o saque mais violento.
Federer sempre sofreu muito com Nadal, pelo fato de que Nadal não desiste fácil e devolve todas as bolas, acabando com todos os winners construídos por Federer. O suíço não tem o físico do espanhol e quando o jogo fica muito longo, ele não consegue superar Nadal.
Murray também tem uma vantagem no confronto contra Federer, também pela sua maneira incansável de devolver bolas. Murray sempre chega lá e devolve atacando, complicando muito o suíço. Mas a comparação aqui é um pouco injusta, porque Murray chegou no seu auge quando Federer já estava começando a cair.
Quando Djokovic e Federer se enfrentam, por outro lado, o resultado é imprevisível. Federer tem vantagem no confronto, mas Djokovic vem se aproximando. O sérvio sofre com os saques de Federer e por isso tem dificuldade para quebrar o saque rival. Sua estratégia acaba por ser tentar alongar o jogo, até o momento em que Federer se desestabilize. Nem sempre dá certo.
Mas é claro, que o negócio é aproveitar o Big Four em quadra. Quanto tempo de carreira em alto nível o Federer ainda terá? Nadal vai se recuperar fisicamente? Murray se recupera mentalmente? Que novato vai se intrometer entre eles? Perguntas.
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