"Sem sorte não se chupa um chicabom. Engasga-se no palitinho". Essa frase sintetiza bem a visão sobre o futebol que Nelson Rodrigues expressava em suas crônicas. Chupar um chicabom pode ser fácil, mas é impossível sem sorte. Sem alma também.
Nos tempos em que Nelson Rodrigues escrevia sobre o futebol, a televisão ainda engatinhava. Ou ele escutava os jogos pelas rádios, ou então os "via" no próprio estádio. As aspas se devem a sua miopia, que o fazia enxergar borrões.
Daí, pouco importava o que realmente acontecia. O que importava era o que estava em sua imaginação. Pouco importava a tática, a técnica. O que realmente decidia um jogo era algum elemento estranho, seja ele uma cusparada, um tapa, um gol. Histórias recheadas de metáforas, como a do chicabom, ou as conversas de terreno baldio, as chuvas mais fortes que o quinto ato do Rigoleto (dizem aliás, que não chove em nenhum momento da ópera).
Nelson Rodrigues adorava ter uma visão contrária a geral. Seu tom raivoso recorria a paralelepípedos, pois até os paralelepípedos enxergavam o óbvio que os outros não viam. Seu tom também era ufanista ao extremo. Era óbvio que o futebol brasileiro era superior, que as derrotas eram provocadas por desvios de caráter (do juiz ou dos próprios jogadores).
Mas de fato, o conteúdo pouco importa em suas crônicas. O que importa mesmo é o estilo.
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