Pular para o conteúdo principal

Reflexões sobre as eleições (2)

Comecei a votar em 2006. Não quis votar em 2004, porque sou contra o voto antes dos 18 anos.

Pois bem. Lembro de ter anulado meu voto para o governo e para o senado. Votei em um amigo do meu pai para deputado estadual e no cargo federal votei em Manoel Olegário. Uma espécie de herói de juventude, com seus programas políticos que eram tão bizarros, que beiravam a genialidade. Lembro dele, candidato a prefeitura, fazendo propaganda sobre os cemitérios abandonados. Indo ao local em que um jovem morreu em um showmício, mostrando a mancha de sangue, e dizendo "um jovem, que queria apenas se divertir e perdeu a sua vida". Na seqüência ele dava a entender que não fazia showmícios por conta disso. Não pelo fato de ser de um partido minuúculo sem dinheiro. Sim, foi uma espécie de voto de protesto.

Sempre gostei de eleições. Acho divertido acompanhar a apuração, as pesquisas, os resultados. Lembro de torcer pela vitória do Lula em 2002. Ainda em 2006, dei início a uma pequena marca pessoal de votar em candidatos derrotados. Votei no Alckmin, porque queria o segundo turno. Sim, eu acho o segundo turno bom para a democracia - num cenário ideal.

Mas não votei motivado em ninguém. Ninguém havia me conquistado, me feito sentir que meu voto era útil. Também por isso em 2008 também anulei todos meus votos. Sim, eu acho que o voto nulo é válido (contradição). Você não tem que votar em alguém por ser menos pior. Você não precisa escolher entre tomar um soco no fígado ou um soco na cara.

Mas ainda em 2008 eu tive uma vontade. Queria morar no Rio de Janeiro para votar no Fernando Gabeira. Uma figura tão diferente, que torci por sua eleição. Infelizmente perdeu para um engomadinho politiqueiro.

Nessas eleições eu estava tomado por outro espírito, para não anular meus votos e tentar achar um bom candidato. Talvez porque me senti motivado novamente. A votar na Marina. Achava sua história de vida legal, achei uma injustiça que a tivessem tirado do ministério, por defender os interesses do Ministério. Depois de ler um perfil seu na revista piauí, me decidi. Acho que não é bom essa divisão de poder entre PT e PSDB. Não queria votar na fabricada Dilma nem no antipático Serra. Em suas campanhas bancadas por empreiteiras, apoiadas pelas figuras mais nefastas da política nacional. Qual é a motivação para votar em alguém que seja apoiado pelo PP de Maluf, pelo PR do Bispo Crivella, o PTB de Collor e Jefferson, o PMDB do Sarney, o DEM da ditadura? Nenhum merece meu voto. Por isso escolhi a campanha independente, a terceira via viável do PV.

E assim, votei na Marina. Me emocionei levemente com seu crescimento no final e até tive um sentimento de esperança política. Criei meu IMSDH, que mede a evolução das cidades pela quantidade de votos na candidata. Torci para que ela não desse apoio a ninguém no segundo turno.

Também me motivei a votar em Pedro Taques para o Senado. Outro que saía do duelo estrela/tucano, apesar de algumas ligações partidárias mais perigosas. Mas, me parecia alguém íntegro e que merecia meu voto. Foi até hoje o único candidato em que eu votei que foi eleito. Dei meu segundo voto para o Procurador Mauro. Outro que me parecia sério, independente. Mesmo sabendo que não tinha chance. Também votei no PSOL para os outros cargos legislativos. Graças a um teste que mostrou que eu tinha compatibilidade com a atuação dos membros do partido na Câmara.

Gostei da vitória do Taques. Principalmente pelos dois derrotados. Que se envolveram numa campanha suja. Um colado no governador, ganhando votos no interior do estado, votos daqueles que são a antítese do que é defendido pelo seu partido. O outro com uma campanha suja.

No segundo turno escolhi o candidato derrotado. Sem convicção. Apenas para manter minha posição de oposição a política em geral, a situação das coisas. Nunca acho que está bom o suficiente.

+++++++++++++++++++++

A imprensa, as pessoas em geral, adoram falar agora em uma divisão. Graças a esmagadora vitória de Dilma no Norte/Nordeste e a prevalência de Serra na região sul. Muito se fala, preconceituosamente (não na imprensa, claro), que "votos de analfabetos, desdentados, desnutridos decidiram a votação".

Oras, me parece uma posição bem mesquinha, falar em divisão agora que o seu candidato foi derrotado. Essa divisão, gerada pela tal má-distribuição de renda, existe o tempo todo. Porque temos tantos miseráveis no país? Esses tais "desnutridos que votaram no PT", estão lá o resto do ano. O país não está dividido por conta de uma eleição. Talvez ela só seja palpável nesse período.

Comentários

Postagens mais visitadas

Aonde quer que eu vá

De vez em quando me pego pensando nisso. Como todos sabem, Herbert Vianna, dos Paralamas do Sucesso, sofreu um acidente de avião em 2001. Acabou ficando paraplégico e sua mulher morreu. Existe uma música dos Paralamas, chamada "Aonde quer que eu vá" que é bem significativa. Alguns trechos da letra: "Olhos fechados / para te encontrar / não estou ao seu lado / mas posso sonhar". "Longe daqui / Longe de tudo / meus sonhos vão te buscar / Volta pra mim / vem pro meu mundo / eu sempre vou te esperar". A segunda parte, principalmente na parte "vem pro meu mundo" parece ter um significado claro. E realmente teria significado óbvio, se ela fosse feita depois do acidente. A descrição do acidente e de estar perdido no mar "olhos fechados para te encontrar". E depois a saudade. O grande detalhe é que ela foi feita e lançada em 1999. Dois anos antes do acidente. Uma letra que tem grande semelhança com fatos que aconteceriam depois. Assombroso.

Ziraldo e viagem sentimental por Ilha Grande

Em janeiro de 1995 pela primeira vez eu saí de férias em família. Já havia viajado outras vezes, mas acho que nunca com esse conceito de férias, de viajar de férias. Há uma diferença entre entrar em um avião para ir passar uns dias na casa dos seus tios e pegar o carro e ir para uma praia. Dormir em um hotel. Foi a primeira vez que eu, conscientemente, dormi em um hotel. Contribui para isso o fato de que, com sete anos, eu havia acabado de terminar a primeira série, o ano em que de fato eu virei um estudante. Então, é provável que pela primeira vez eu entendesse o conceito de férias. Entramos em uma Parati cinza e saímos de Cuiabá eu, meus pais, minha prima e minha avó. Ao mesmo tempo em que essas eram as minhas primeiras férias, elas eram também a última viagem da minha avó. A essa altura ela já estava com um câncer no pâncreas e sem muitas perspectivas de longo prazo. Disso eu não sabia na época. Mas ela morreu cerca de um ano depois, no começo de 1996, após muitas passagens pelo hos

Pattie Boyd

Pattie Boyd O romance envolvendo George Harrison, Pattie Boyd e Eric Clapton é um dos mais conhecidos triângulos amorosos da história. Sempre achei o caso interessante. A princípio, a visão que nós temos é bem simplista. Pattie trocou o sensível George Harrison, aquele que lhe cantou a sentimental Something na cozinha, pelo intempestivo Eric, aquele que a mostrou a passional Layla na sala. E se há uma mulher irresistível neste mundo, esta mulher é Pattie Boyd. Só que o trio Boyd-Harrison-Clapton é apenas a parte mais famosa de uma série de relações amorosas e traições, que envolveram metade do rock britânico da época. E o que eu acho incrível, é que todos continuaram convivendo ao longo dos anos. George Harrison Pattie Boyd era uma modelo que fazia figuração em um vagão de trem durante a gravação de uma cena de A Hard Day’s Night, o primeiro filme dos Beatles. George era justamente um Beatle. Eric Clapton era o deus da guitarra e converteu vários fãs em suas inúmeras bandas