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Mostrando postagens de 2025

Três homens e um destino na F1

Ou, quando a Fórmula 1 chegou a sua última corrida com pelo menos três pilotos disputando o título. Alguém fez o levantamento esses dias: em 75 temporadas de Fórmula 1, apenas 30 vezes o título foi decidido na última corrida, ou em 40% da vezes. O que mostra que títulos decididos no fim não são assim tão comuns. Mas, em algumas dessas 30 vezes fomos premiados com uma disputa aberta entre três pilotos. Vamos lembrar essas ocasiões. EUA 1959 Brabham x Moss x Brooks Após a vitória de Stirling Moss na penúltima corrida do ano, em Monza, o campeonato chegava para sua decisão com o seguinte cenário: 1) Jack Brabham (Cooper-Climax) 31 pontos 2) Stirling Moss (Cooper-Climax) 25,5 pontos 3) Tony Brooks (Ferrari) 23 pontos. Naquele campeonato de 9 corridas, apenas os 5 melhores resultados contavam, ou seja, havia 4 descartes. Brabham e Moss já tinham cinco pontuações, o que significa que o australiano precisava marcar pelo menos 6 pontos para melhorar sua situação, enquanto que Moss iria descart...

Um reencontro com Richard Ashcroft

Não haveria escolha melhor para abrir um show do Oasis do que Richard Ashcroft. O ex-vocalista do The Verve sempre esteve associado aos irmãos Gallagher e durante muito tempo, conhecer o grupo de Wigan era o passo seguinte para os fãs do Oasis. Afinal, o Verve também tinha baladas grandiosas, refrões épicos e aquele senso de grandiosidade Britpop que marcaram o grupo dos irmãos. Bem, pelo menos quando falamos do Urban Hymns, grande sucesso do Verve. Quem se atrevia a ir além geralmente quebrava a cara, batendo nas paredes de guitarras reverberando, letras depressivas e experimentações psicodélicas que marcaram os primeiros discos do grupo liderado por Ashcroft, que também contava com Nick McCabe nas guitarras, Simon Jones no baixo e Peter Salisbury nas baterias. Ashcroft era um tipo diferente dentro do universo Britpop. Ele era o que se pode chamar de gênio atordoado, esse arquétipo tão comum no meio da música. Enquanto Liam e Noel Gallagher eram hooligans com algum senso comunitário, ...

Oasis e a Cápsula do Tempo

Não dá para entender o Oasis pensando apenas na relevância das suas músicas, nos discos vendidos, nos ingressos esgotados ou nas incontáveis exibições do videoclipe de Wonderwall na MTV. Além das influências musicais, das acusações de plágio e das brigas públicas, o Oasis faz parte de um fenômeno cultural (um pouco datado, claro), mas é uma banda que captou o espírito de uma época e transformou isso em arte, promovendo uma rara identificação com seus fãs. Os anos 1990 foram marcados por problemas econômicos no mundo inteiro. Uma juventude já desiludida não via muitas perspectivas de vida. A Guerra Fria havia acabado, uma nova revolução tecnológica começava, o Reino Unido vivia uma crise pós governo Thatcher e nesse cenário surge um grupo cantando letras incrivelmente ousadas para meros desconhecidos.  Definitely Maybe, primeiro disco do grupo, fala sobre curtir a vida de maneira meio sem propósito e sem juízo. A diversão que só vem com cigarros e álcool, o sentimento supersônico de...

Oasis de 1 a 7

Quando surgiu em 1994, o Oasis rapidamente se transformou em um fenômeno midiático. Tanto por suas canções radiofônicas, quanto pela personalidade dos irmãos Gallagher. Eles estiveram na linha frente do Britpop, movimento que redefiniu o orgulho britânico. As letras arrogantes, o espírito descolado, tudo contribuiu para o sucesso. A discografia da banda, no entanto, não chega a ser homogênea e passa a ser analisada logo abaixo, aproveitando o retorno do grupo aos palcos brasileiros após 16 anos.  Definitely Maybe (1994) O primeiro disco do Oasis foi durante muito tempo o álbum de estreia mais vendido da história do Reino Unido. Foi precedido por três singles, sendo que dois deles são clássicos absolutos - Supersonic e Live Forever . O vocalista Liam Gallagher cantava em algum lugar entre John Lennon e Ian Brown, enquanto o som da banda bebia de quase tudo o que o Reino Unido havia produzido nos 30 anos anteriores (Beatles, T. Rex, Sex Pistols, Smiths, Stone Roses). O disco começa c...

Resgatando Rascunho: Governo em chamas

Qualquer pessoa que escreve textos de maneira não profissional - ou seja, que não recebe um tostão por isso - acaba tendo ideias que subitamente são abandonadas. Textos que surgiram promissores na cabeça, mas que foram perdendo fôlego a cada parágrafo escrito. Nesta pequena série chamada Resgatando Rascunhos, eu faço justamente o que o título sugere: resgato um rascunho a muito tempo abandonado. Um texto que se mostrou improdutivo, ou que em outros casos, perdeu todo o sentido com o passar dos anos. Vamos a este pequeno texto, que estava adormecido no rascunho desde 16 de outubro de 2019. Mais de seis anos. Nesse momento de certa forma surreal, em que observamos o partido do presidente da República se unindo com a oposição para obstruir a votação de uma Medida Provisória do próprio presidente, em meio a uma batalha pelo comando do PSL. Isso me fez pensar nos tipos diferentes de figuras difusas que aderiram ao bolsonarismo e que tem em comum apenas o fato de serem deploráveis. O texto,...

As cinco piores disputas de título da história da Fórmula 1

A disputa entre Oscar Piastri e Lando Norris pelo título da Fórmula 1 em 2025 está longe de ser empolgante. A McLaren entregou um ótimo carro para sua dupla e eles foram vencendo corridas sem muita alegria, acumulando erros, reclamações sem sentido e falta de carisma. Era quase um consenso de que essa seria a disputa mais insossa de todos os tempos. Porém, a súbita arrancada de Max Verstappen a partir do GP da Itália trouxe um tempero extra para a disputa, o que faz com que, independente do vencedor, este campeonato já não faça parte de uma lista de piores da história. É claro que nem sempre as disputas de título na F1 foram emocionantes. Elaborei uma lista pessoal com cinco disputas que não comoveram ninguém. Mas há alguns critérios:      1) Falo em disputas. Portanto, não há o que analisar em anos como 1992, 2002, 2004, 2011, 2013 ou 2023.     2)  Também não falo de campeonatos em que um possível postulante liderou em algum momento, ou tentou uma arrancad...

Gangues Felinas (ou o Ritual do Sono)

Todos os especialistas são unânimes em afirmar que é preciso criar uma rotina de sono para a criança. Rotinas em geral. Dormir é, especialmente, uma coisa que a criança não consegue fazer sozinha, ela precisa ser ensinada a dormir. Desta forma, estabelecer uma rotina é a melhor maneira de acostumar os pequenos seres ao novo mundo. Esta é mais uma, entre tantas coisas ditas sobre crianças, que parecem obviedades simples de serem colocadas em prática. No mundo teórico parece ser extremamente fácil conversar e acordar isso com a criança, mas no mundo real não é simples convencer que uma eufórica brincadeira tem hora para terminar. De fato, dormir parece uma enorme perda de tempo aos olhos de uma criança. O mundo é tão novo e tão cheio de coisas prontas para serem exploradas que, deitar em uma cama e fechar os olhos por dez horas seguidas só pode ser uma pegadinha que os adultos estabelecem para podar a diversão. Em suma, o ritual de sono é algo que acaba sendo muito poderoso para os própr...

The Clash de 1 a 6

The Clash: um dos grupos pioneiros do punk, mas que rapidamente se transformaram em uma enorme massa sonora, capaz de misturar ritmos caribenhos com rock tradicional. Provavelmente não existiu uma banda tão fiel aos seus princípios na história. Lançaram apenas seis discos em menos de 10 anos, que agora serão brevemente comentados e depois ranqueados. The Clash (1977) Ninguém tira do Sex Pistols os méritos de terem consolidado o Punk Rock. Mas, enquanto o grupo do Malcolm McLaren se baseava em uma revolta niilistas - que repetia que não havia futuro para ninguém - o The Clash tratou de dar mais substância, proclamando a juventude a se revoltar contra algo mais concreto. Provável que não houvesse perspectiva de futuro para um jovem inglês, mas em vez de apenas curtir, viver rápido e morrer jovem, as letras de Joe Strummer iam mais ao ponto: “todo trabalho que eles lhe oferecem é para te limitar”, cantava em Career Opportunities . Alertava que todo o poder está nas mãos de quem tem dinhei...

1996 (De Novo)

Uma equipe inglesa dominante. Dois pilotos inconstantes brigando pelo título sem empolgar ninguém. O melhor piloto do grid correndo naquele que talvez seja o terceiro melhor carro do grid, mas mesmo assim conseguindo algumas grandes exibições que comprovam o seu status. Você pode imaginar que eu estou falando sobre a atual temporada da Fórmula 1, mas estou aqui descrevendo o ano de 1996. Quase 29 anos depois, assistimos o enredo de repetir, como se fosse um remake de temporada. Vejamos, se agora a McLaren entregou o melhor carro do ano, com folga, em 1996 este equipamento era o da Williams. O mundial é liderado por Oscar Piastri, que tal qual Damon Hill é um piloto constante, capaz de apagões eventuais, mas extremamente insosso. Seus adversários e companheiros era pilotos um pouco mais carismáticos, mas muito mais erráticos e que davam a impressão de não se importarem muito com a competição: Jacques Villeneuve e Lando Norris. (Para ser melhor, só se Piastri e Norris invertessem papéis,...

George Harrison de 1 a 10

A carreira solo de George Harrison talvez seja a mais consistente entre todos os ex-integrantes dos Beatles. Entre sua estreia avassaladora até o seu último disco póstumo, George entregou uma série de álbuns razoáveis, sem tantos momentos erráticos quanto seus ex-companheiros. Vamos a uma breve análise da sua discografia. Estreias experimentais Antes de tudo havia o barulho. A estreia solo oficial de George Harrison é com o álbum Wonderwall Music de 1968, trilha sonora para o filme experimental  Wonderwall (alô Noel Gallagher). É uma trilha incidental de base indiana, mas você pode até gostar de Ski-Ing . Em 1969 George lançou Electronic Sound , que avança no território da música eletrônica de vanguarda. (John Lennon havia feito a mesma coisa em parceria com Yoko Ono nessa época). Deixo qualquer opinião para os especialistas. All Things Must Pass (1970) Estreia de fato de George, All Things Must Pass é um disco triplo, sendo que o terceiro LP é uma grande jam experimental. O álbu...