The Clash: um dos grupos pioneiros do punk, mas que rapidamente se transformaram em uma enorme massa sonora, capaz de misturar ritmos caribenhos com rock tradicional. Provavelmente não existiu uma banda tão fiel aos seus princípios na história. Lançaram apenas seis discos em menos de 10 anos, que agora serão brevemente comentados e depois ranqueados.
The Clash (1977)
Ninguém tira do Sex Pistols os méritos de terem consolidado o Punk Rock. Mas, enquanto o grupo do Malcolm McLaren se baseava em uma revolta niilistas - que repetia que não havia futuro para ninguém - o The Clash tratou de dar mais substância, proclamando a juventude a se revoltar contra algo mais concreto. Provável que não houvesse perspectiva de futuro para um jovem inglês, mas em vez de apenas curtir, viver rápido e morrer jovem, as letras de Joe Strummer iam mais ao ponto: “todo trabalho que eles lhe oferecem é para te limitar”, cantava em Career Opportunities. Alertava que todo o poder está nas mãos de quem tem dinheiro para comprá-lo. O ritmo é acelerado do início ao fim, passando por clássicos como White Riot, London’s Burning e Remote Control. O único respiro está em Police & Thieves, dos jamaicanos Junior Murvin e Lee Perry, música que apontava para o futuro - que, sim, existia.
(A versão norte-americana, lançada apenas em 1979, veio com seis músicas diferentes, incluindo dois clássicos lançados apenas como singles no Reino Unido. A potente e galopante I Fought the Law e (White Man) in Hammersmith Palais com a célebre e atual frase: "Se Adolf Hitler aparecesse aqui hoje, eles lhe mandariam uma limusine").
Nota: 9
Give 'Em Enough Rope (1978)
Nota: 8
London Calling (1979)
Qualquer lista séria sobre música tem que ter London Calling entre os melhores discos da história, um sério concorrente ao topo da lista. Poderíamos dizer que aqui o The Clash deixou de ser punk, ou aliás, mostrou que o punk era um movimento mais estético e filosófico. O som é um caldeirão que vai do pós-punk ao ska, passando por outros ritmos caribenhos como reggae, dancehall e dub. A faixa título abre o disco cantando sobre o apocalipse, enquanto Spanish Bombs faz referências a Federico Lorca e a Guerra Civil Espanhola (Impossível não cantar junto “The Hillsides Ring with Free the People”). Lost in the Supermaket sinaliza para a dance music enquanto fala sobre preencher o vazio existencial com o consumismo, em uma letra genial. Clampdown é um hino definitivo sobre a revolta e Train in Vain dá um desfecho romântico miseravelmente bom. Disco indispensável.
Nota: 10
Sandinista! (1980)
Se no disco anterior o The Clash deixava de ser apenas punk, em Sandinista! eles caminham rumo a falta de classificação. O disco é uma massa sonora caribenha embalada em experimentalismos e viagens instrumentais, um disco que deve ser mais fácil de se ouvir chapado. Police on My Back lembra os velhos tempos, enquanto Lose This Skin parece música experimental tocada por músicos amadores em uma estação de metrô. E claro, é um disco triplo, com 36 músicas e duas horas e 24 minutos de duração. Seria praticamente impossível manter a consistência em um negócio desses, mas o Lado 6 com apenas versões dub de músicas já arrastadas do disco (e uma versão de Career Opportunities cantada por crianças) é um pouco difícil demais.
Nota: 6,5
Combat Rock (1982)
Sim, não dá para negar que Ghetto Defendant, praticamente declamada por Allen Ginsberg, é um exercício de paciência. Mas Combat Rock é um disco muito mais centrado, concentrado na sonoridade do pós-punk e new wave. Rendeu o maior sucesso da carreira deles - a classuda Should I Stay or Should I Go - e talvez o segundo maior sucesso, a funkeada Rock the Casbah. Juntas com Inoculated City, Know Your Rights e Car Jamming, elas formam um núcleo forte para um bom disco.
Nota: 7,5
Cut the Crap (1985)
A verdade é que o The Clash já havia terminado em 1985, mas eles se recusaram a aceitar. Cut the Crap é provavelmente o pior disco já lançado por uma banda respeitável e seria obrigação moral de qualquer um que encontrasse o gênio da lâmpada gastar um dos seus desejos pedindo que este disco desaparecesse. Sem Mick Jones e Topper Headon e com Paul Simonon apenas fazendo figuração, Cut the Crap é uma obra de Strummer com o guitarrista Nick Sheppard e o produtor Bernard Rhodes. Absolutamente nada é aproveitável nesse disco. Com algum esforço é possível escutar We Are The Clash até o fim, mas ao contrário do que a letra diz, eles não eram o The Clash. Horroroso.
Nota: 0
Meu ranking pessoal do pior até o melhor disco do Clash (uma lista extremamente fácil e que quase sempre vai beirar a unanimidade)
6 Cut the Crap
5 Sandinista!
4 Combat Rock
3 Give ‘Em Enough Ropse
2 The Clash
1 London Calling
O grupo acabou oficialmente em 1986 e nunca mais se reuniu completamente, apesar uma ou outra contribuição entre dois membros do grupo. Joe Strummer morreu em 2002, encerrando de vez qualquer possibilidade de a banda retornar um dia.
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