Pular para o conteúdo principal

Dória, presidente?

Parafraseando Michael Moore, eu gostaria de estar errado, mas tenho a impressão de que João Dória será o próximo presidente do Brasil. Alguns fatores provocam esta minha impressão.

Algumas pesquisas recentes demonstram um cenário confuso para a eleição do ano que vem. O perfil desejado pela maior parte da população é o de alguém de fora do establishment político, ou outsider, mas que tenha alguma experiência de gestão. Uma figura que não existe, ou que ainda não existia.

Apesar de suas profundas raízes entre o meio político e de ter algum histórico no setor, João Dória passa a imagem de uma pessoa que veio de fora e, exatamente, se elegeu se vendendo como o gestor. Seu um ano e meio a frente da prefeitura de São Paulo podem colaborar ainda mais para reforçar seu perfil.

Há também a operação Lava Jato que está dragando praticamente todos os nomes de peso da política nacional, inclusive seus correligionários do PSDB. Geraldo Alckmin parecia ser o último colega da linha de frente do partido a resistir, mas ao que tudo indicia, será arrastado pela delação da Odebrecht, além de ser prejudicado pela sua falta de carisma.

Carisma que vem sobrando ao João Dória, que em 75 dias de gestão surfa em uma onda de popularidade, é o rei do Facebook, gera engajamento. Todas as suas pataquadas são recebidas positivamente.

Dória também pode unir boa parte do eleitorado por um objetivo em comum. Seu perfil mais a direita agregaria vários votos do centro e inclusive de Bolsonaro, para aqueles que não querem nada tão radical. Mesmo os votos um pouco mais a esquerda podem migrar para ele e se bobear até da esquerda, caso ele pegue um segundo turno contra um Bolsonaro da vida. Enfim, em um eventual segundo turno, ele seria um candidato com muita possibilidade de aglutinar votos difusos. O camaleão Ciro Gomes, Lula, Bolsonaro, Marina Silva, ninguém no momento tem esse poder tanto quanto Dória e as hashtags que ele carrega: gestor, trabalhador, não-político, o Novo.

Com suas ações populistas, João Dória também vai ao encontro de uma tendência mundial de eleger políticos populistas.

Enfim, João Dória parece ser o homem certo na hora certa para corresponder a expectativa de um eleitorado sem rumo depois de dois governos de baixa popularidade (Dilma e Temer).

Infelizmente.

Comentários

Postagens mais visitadas

Oasis e a Cápsula do Tempo

Não dá para entender o Oasis pensando apenas na relevância das suas músicas, nos discos vendidos, nos ingressos esgotados ou nas incontáveis exibições do videoclipe de Wonderwall na MTV. Além das influências musicais, das acusações de plágio e das brigas públicas, o Oasis faz parte de um fenômeno cultural (um pouco datado, claro), mas é uma banda que captou o espírito de uma época e transformou isso em arte, promovendo uma rara identificação com seus fãs. Os anos 1990 foram marcados por problemas econômicos no mundo inteiro. Uma juventude já desiludida não via muitas perspectivas de vida. A Guerra Fria havia acabado, uma nova revolução tecnológica começava, o Reino Unido vivia uma crise pós governo Thatcher e nesse cenário surge um grupo cantando letras incrivelmente ousadas para meros desconhecidos.  Definitely Maybe, primeiro disco do grupo, fala sobre curtir a vida de maneira meio sem propósito e sem juízo. A diversão que só vem com cigarros e álcool, o sentimento supersônico de...

Oasis de 1 a 7

Quando surgiu em 1994, o Oasis rapidamente se transformou em um fenômeno midiático. Tanto por suas canções radiofônicas, quanto pela personalidade dos irmãos Gallagher. Eles estiveram na linha frente do Britpop, movimento que redefiniu o orgulho britânico. As letras arrogantes, o espírito descolado, tudo contribuiu para o sucesso. A discografia da banda, no entanto, não chega a ser homogênea e passa a ser analisada logo abaixo, aproveitando o retorno do grupo aos palcos brasileiros após 16 anos.  Definitely Maybe (1994) O primeiro disco do Oasis foi durante muito tempo o álbum de estreia mais vendido da história do Reino Unido. Foi precedido por três singles, sendo que dois deles são clássicos absolutos - Supersonic e Live Forever . O vocalista Liam Gallagher cantava em algum lugar entre John Lennon e Ian Brown, enquanto o som da banda bebia de quase tudo o que o Reino Unido havia produzido nos 30 anos anteriores (Beatles, T. Rex, Sex Pistols, Smiths, Stone Roses). O disco começa c...

Somos todos Leicester

O que era inacreditável, o que parecia impossível agora é verdade. O Leicester é o campeão inglês da temporada 2015-16. Incrível que o título tenha vindo de maneira até confortável, com duas rodadas de antecedência. Incrível que mesmo com a folga na tabela e a liderança estável nas últimas rodadas, era impossível acreditar que o título realmente viria. Parecia que a qualquer momento os Foxes poderiam desabar. O que mais falar sobre esse time? Formado por uma série de refugos, jovens que jamais explodiram, uma ou outra promessa. Filho de goleiro, zagueiro jamaicano e zagueiro alemão grosso, atacante japonês, atacante que até outro dia jogava no futebol amador. Não há nada parecido com o que Leicester fez nesse ano na história do futebol. Talvez na história do esporte. O título do Leicester é uma das maiores façanhas da história da humanidade. Não há o que falar, o que teorizar. Só resta olhar esse momento histórico e aceitar que às vezes o impossível acontece. Que realmente nada é i...