O Primeiro de Maio nunca foi meu feriado preferido. Claro que na vida adulta todos os feriados são legais, mas quando se é criança é diferente. No Primeiro de Maio ninguém ganhava presentes e, tal qual acontecia no Sete de Setembro, a programação de desenhos era interrompida para ficar mostrando discursos e outros eventos. Além do mais, quando se é criança não se sabe o que é trabalho e logo não se valoriza o Dia do Trabalhador.
Minha relação com o Primeiro de Maio ficou ainda pior em 1994. O fim de semana macabro da Fórmula 1 que vitimou dois pilotos após mais de 10 anos sem acidentes fatais. Olhando em retrospectiva, parece óbvio que algo estava errado. O terrível acidente de Rubens Barrichello na sexta, o horrível acidente de Ratzenberger no sábado. Sim, que cena horrível foi ver aquele carro despedaçado surgir do nada, a cabeça mole, a mancha de sangue. Mas, não achei que ele morreria, com minha incredulidade de alguém de sete anos que não sabia que pessoas morriam na Fórmula 1. Foi chocante ver a notícia mais tarde no Jornal Hoje. E veio então o domingo, 1º de Maio.
Novamente, olhando de volta ao passado, tudo parecia muito óbvio. O acidente de sexta, a morte no sábado, as imagens de Senna olhando para a pista com ar desolado, o acidente na largada, o safety car. Mas na hora era apenas uma corrida com o Safety Car, que ainda era uma novidade. Os carros foram liberados e então, Senna bateu forte. Senna bateu forte, mas era uma coisa de corrida. Sua cabeça mexia e ele logo sairia do carro, passaria por uns exames e estaria livre.
Mas não foi assim.
Aos poucos as imagens foram construindo a realidade. Ele não saiu do carro, estava desacordado, o helicóptero filmava distante, dezenas de médicos em volta de seu corpo. Algo não estava certo. A corrida prosseguiu e, olhando em retrospectiva, percebo que todos já sabiam que Senna estava morto. Eu não, eu estava com seis anos. Nem entendi o que significava aquela tal de morte cerebral anunciada pelo Roberto Cabrini. A sala ficou vazia e creio que ninguém se lembre de mais nada. Nos dias seguintes ficava aquela sensação esquisita, o seu funeral. Prost, Berger, Emerson, Jackie, Boutsen, Hill e Rubinho carregando seu caixão, que responsabilidade era segurar a alça de um caixão. Meu maior ídolo de infância estava morto e creio que eu tinha sorte em ter apenas seis anos e não ter entendido nada daquilo direito.
Mas, de certa forma as marcas daquele primeiro de maio ficaram nas revistas que eu comprei nos dias seguintes e depois em todos os anos subsequentes. Sempre em forma de alguma nota de jornal, eu simplesmente me lembro do que o primeiro de maio significa. Eu realmente não gostava desse dia.
Até que veio outro dia primeiro de maio, desta vez em 2010.
Eu estava em casa, assistindo uma final de campeonato de vôlei, sem sono por conta dos mosquitos que invadiam meu quarto. Havia dormido tarde na noite anterior, o primeiro dia em que eu saia de casa após uma longa virose.
Olhando em retrospectiva, não havia nada de errado. Dyolen havia conversado comigo pelo Gmail enquanto combinávamos de reunirmos os amigos em um aniversário. Havia avisado que iria passar o feriado em Campo Grande e etc.
Quando o telefone tocou naquela manhã, pensei que seria um engano, talvez alguém querendo falar com a Valéria - sempre queriam falar com ela no meu telefone. Era o Zequias e não acho que ele teria razão para me ligar em um sábado de manhã. Ele me falou que então, que o Dyolen havia feito uma viagem.
Na hora em que ele falou sobre isso, já pensei no pior, porque não havia nenhuma razão para a contextualização. E de fato era o pior. Um acidente. Ele faleceu. Como assim? Pensei no momento seguinte. Como assim pensei nos momentos seguintes. Em todo momento em que tinha que dar a notícia para alguém. Em todo momento enquanto o mundo ao redor se desfazia.
Dias depois abri o Gmail novamente e vi um final de mensagem dele, que eu não havia recebido, dizendo "depois conversamos". Pois, qualquer conversa se encerrou naquele outro Primeiro de Maio.
O 1º de Maio deixou de ser o dia em que a TV não passava desenho. Foi o dia em que aprendi que os ídolos morrem sim, diante dos nossos olhos. O dia em que aprendi que a vida bate.
Minha relação com o Primeiro de Maio ficou ainda pior em 1994. O fim de semana macabro da Fórmula 1 que vitimou dois pilotos após mais de 10 anos sem acidentes fatais. Olhando em retrospectiva, parece óbvio que algo estava errado. O terrível acidente de Rubens Barrichello na sexta, o horrível acidente de Ratzenberger no sábado. Sim, que cena horrível foi ver aquele carro despedaçado surgir do nada, a cabeça mole, a mancha de sangue. Mas, não achei que ele morreria, com minha incredulidade de alguém de sete anos que não sabia que pessoas morriam na Fórmula 1. Foi chocante ver a notícia mais tarde no Jornal Hoje. E veio então o domingo, 1º de Maio.
Novamente, olhando de volta ao passado, tudo parecia muito óbvio. O acidente de sexta, a morte no sábado, as imagens de Senna olhando para a pista com ar desolado, o acidente na largada, o safety car. Mas na hora era apenas uma corrida com o Safety Car, que ainda era uma novidade. Os carros foram liberados e então, Senna bateu forte. Senna bateu forte, mas era uma coisa de corrida. Sua cabeça mexia e ele logo sairia do carro, passaria por uns exames e estaria livre.
Mas não foi assim.
Aos poucos as imagens foram construindo a realidade. Ele não saiu do carro, estava desacordado, o helicóptero filmava distante, dezenas de médicos em volta de seu corpo. Algo não estava certo. A corrida prosseguiu e, olhando em retrospectiva, percebo que todos já sabiam que Senna estava morto. Eu não, eu estava com seis anos. Nem entendi o que significava aquela tal de morte cerebral anunciada pelo Roberto Cabrini. A sala ficou vazia e creio que ninguém se lembre de mais nada. Nos dias seguintes ficava aquela sensação esquisita, o seu funeral. Prost, Berger, Emerson, Jackie, Boutsen, Hill e Rubinho carregando seu caixão, que responsabilidade era segurar a alça de um caixão. Meu maior ídolo de infância estava morto e creio que eu tinha sorte em ter apenas seis anos e não ter entendido nada daquilo direito.
Mas, de certa forma as marcas daquele primeiro de maio ficaram nas revistas que eu comprei nos dias seguintes e depois em todos os anos subsequentes. Sempre em forma de alguma nota de jornal, eu simplesmente me lembro do que o primeiro de maio significa. Eu realmente não gostava desse dia.
Até que veio outro dia primeiro de maio, desta vez em 2010.
Eu estava em casa, assistindo uma final de campeonato de vôlei, sem sono por conta dos mosquitos que invadiam meu quarto. Havia dormido tarde na noite anterior, o primeiro dia em que eu saia de casa após uma longa virose.
Olhando em retrospectiva, não havia nada de errado. Dyolen havia conversado comigo pelo Gmail enquanto combinávamos de reunirmos os amigos em um aniversário. Havia avisado que iria passar o feriado em Campo Grande e etc.
Quando o telefone tocou naquela manhã, pensei que seria um engano, talvez alguém querendo falar com a Valéria - sempre queriam falar com ela no meu telefone. Era o Zequias e não acho que ele teria razão para me ligar em um sábado de manhã. Ele me falou que então, que o Dyolen havia feito uma viagem.
Na hora em que ele falou sobre isso, já pensei no pior, porque não havia nenhuma razão para a contextualização. E de fato era o pior. Um acidente. Ele faleceu. Como assim? Pensei no momento seguinte. Como assim pensei nos momentos seguintes. Em todo momento em que tinha que dar a notícia para alguém. Em todo momento enquanto o mundo ao redor se desfazia.
Dias depois abri o Gmail novamente e vi um final de mensagem dele, que eu não havia recebido, dizendo "depois conversamos". Pois, qualquer conversa se encerrou naquele outro Primeiro de Maio.
O 1º de Maio deixou de ser o dia em que a TV não passava desenho. Foi o dia em que aprendi que os ídolos morrem sim, diante dos nossos olhos. O dia em que aprendi que a vida bate.
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