Pular para o conteúdo principal

Os 10 anos de Elephant

Minha tia assinava a Folha de S. Paulo. Creio que sempre foi assim e lá pela época da virada do Século XXI eu sempre ia na casa dela para dar uma olhada no caderno de esportes nos quadrinhos do Ilustrada. Criei até uma ordem para ler os quadrinhos, de forma que meus preferidos ficassem para o final.

Em 2003 não era diferente. Mas, nesta época eu estava me interessando por música e aproveitava para dar uma olhada na parte musical do caderno. Foi ai então, em algum dia de março ou abril de 2003, que vi uma matéria sobre o lançamento do novo disco dos White Stripes. Texto provavelmente escrito por Lúcio Ribeiro, provavelmente falando bem do disco, porque o Lúcio era bem puxa-saco dos Stripes. A única informação que ficou gravada na minha cabeça é de que o lançamento de Elephant tinha sido antecipado, devido ao seu vazamento na internet. Aquilo ainda era uma coisa nova.

Naqueles tempos não era fácil escutar música na internet. O Youtube não existia, assim como os sites de compartilhamento, estilo megaupload. Meu principal meio para escutar música era o site do Terra Música (alguns álbuns só dava pra escutar 30 segundos de cada música, mas eu descobri uma maneira de ouvir tudo) e o Usina do som, que era mais completo (foi uma enorme decepção quando ele se tornou pago).

Já conhecia o White Stripes das rádios que montei nesses sites na época. Confesso que achava uma merda. talvez porque o shuffle do Usina do Som insistia em repetir I Think I Smell a Rat, música muito esquisita para os meus ouvidos. Lembro que colocavam os Stripes naquelas listas de next big thing, mas eu não via essa graça. Achava que o The Vines era melhor, sacrilégio.

Bem, um tempo depois de ler a matéria da Folha, assisti ao clipe de Seven Nation Army na MTV e, que surpresa, a música era muito boa. Riff marcante, guitarras, um clipe legal. Resolvi dar uma nova chance para o duo.

Elephant é provavelmente o disco mais marcante da minha vida. Tenho discos que gosto mais, discos que ouvi primeiro, discos que sei que são melhores. Mas Elephant é o disco da minha época. O White Stripes é a banda da minha adolescência, ao contrário do Nirvana e do Oasis, que eram da adolescência dos outros. Ao contrário do Foo Fighters que era bem mais ou menos em 2003. Ao contrário dos Strokes, que nunca me pegaram tanto. Elephant era o disco lançado quando eu tinha 16 anos.

Foi um dos primeiros CDs que comprei, lá pro final do ano. Decorei suas letras, conheci os detalhes de cada canção (a letra de you've got her in your pocket está errada no encarte). Me adentrei no mundo das músicas mais pesadas com Black Math, do blues com Ball and Biscuit. Todas as músicas no disco eram boas.

E tinha I Just Don't Know What To Do With Myself. Um clássico, um hino. A música apaixonada de Burth Barcharach foi transformada em um rock inquietante em que a letra parece dizer tudo. Eu não sei o que fazer comigo mesmo, I Don't Know. Um hino de inquietude, coisa de adolescente que não sabe o que fazer. Até hoje escuto I Just Don't Know What To Do With Myself para relaxar a cabeça. E olha que na época eu nem vi o clipe com a Kate Moss.

Nunca mais terei 16 anos novamente e nenhum disco tão bom foi lançado quando eu tinha 16 anos (o mais próximo disso foi o Get Born do Jet, lançado por aqui em 2004). Por isso, Elephant é o disco da minha vida e agora ele está completando 10 anos. Estou ficando velho.

Comentários

Postagens mais visitadas

Oasis e a Cápsula do Tempo

Não dá para entender o Oasis pensando apenas na relevância das suas músicas, nos discos vendidos, nos ingressos esgotados ou nas incontáveis exibições do videoclipe de Wonderwall na MTV. Além das influências musicais, das acusações de plágio e das brigas públicas, o Oasis faz parte de um fenômeno cultural (um pouco datado, claro), mas é uma banda que captou o espírito de uma época e transformou isso em arte, promovendo uma rara identificação com seus fãs. Os anos 1990 foram marcados por problemas econômicos no mundo inteiro. Uma juventude já desiludida não via muitas perspectivas de vida. A Guerra Fria havia acabado, uma nova revolução tecnológica começava, o Reino Unido vivia uma crise pós governo Thatcher e nesse cenário surge um grupo cantando letras incrivelmente ousadas para meros desconhecidos.  Definitely Maybe, primeiro disco do grupo, fala sobre curtir a vida de maneira meio sem propósito e sem juízo. A diversão que só vem com cigarros e álcool, o sentimento supersônico de...

Oasis de 1 a 7

Quando surgiu em 1994, o Oasis rapidamente se transformou em um fenômeno midiático. Tanto por suas canções radiofônicas, quanto pela personalidade dos irmãos Gallagher. Eles estiveram na linha frente do Britpop, movimento que redefiniu o orgulho britânico. As letras arrogantes, o espírito descolado, tudo contribuiu para o sucesso. A discografia da banda, no entanto, não chega a ser homogênea e passa a ser analisada logo abaixo, aproveitando o retorno do grupo aos palcos brasileiros após 16 anos.  Definitely Maybe (1994) O primeiro disco do Oasis foi durante muito tempo o álbum de estreia mais vendido da história do Reino Unido. Foi precedido por três singles, sendo que dois deles são clássicos absolutos - Supersonic e Live Forever . O vocalista Liam Gallagher cantava em algum lugar entre John Lennon e Ian Brown, enquanto o som da banda bebia de quase tudo o que o Reino Unido havia produzido nos 30 anos anteriores (Beatles, T. Rex, Sex Pistols, Smiths, Stone Roses). O disco começa c...

Somos todos Leicester

O que era inacreditável, o que parecia impossível agora é verdade. O Leicester é o campeão inglês da temporada 2015-16. Incrível que o título tenha vindo de maneira até confortável, com duas rodadas de antecedência. Incrível que mesmo com a folga na tabela e a liderança estável nas últimas rodadas, era impossível acreditar que o título realmente viria. Parecia que a qualquer momento os Foxes poderiam desabar. O que mais falar sobre esse time? Formado por uma série de refugos, jovens que jamais explodiram, uma ou outra promessa. Filho de goleiro, zagueiro jamaicano e zagueiro alemão grosso, atacante japonês, atacante que até outro dia jogava no futebol amador. Não há nada parecido com o que Leicester fez nesse ano na história do futebol. Talvez na história do esporte. O título do Leicester é uma das maiores façanhas da história da humanidade. Não há o que falar, o que teorizar. Só resta olhar esse momento histórico e aceitar que às vezes o impossível acontece. Que realmente nada é i...