Quando eu fiz minha monografia, fui apresentado a um conceito de Benedict Anderson que dizia que as nações eram comunidades imaginadas. Tudo porque nós não conhecemos a maior parte das pessoas que vivem em nosso país, mas podemos imaginar a sua existência. Podemos imaginar o movimento anônimo e constante nas ruas. Imaginamos a nação como algo que sempre existiu e que sempre vai existir, vagando solidamente pelo espaço e pelo tempo. Aliás, Anderson diz que qualquer comunidade maior do que uma vila com poucos habitantes já é imaginada, pelas razões especificadas.
Viajando pelo interior de Mato Grosso, muitas vezes me deparo com situações que vão além das comunidades imaginadas. São as verdadeiras comunidades inimagináveis, que não conhecemos, não pensamos que possam existir de verdade. E ainda existem os lugares ainda mais inimagináveis.
1) Me lembro de que em uma das minhas primeiras viagens, vim de Rondonópolis para Cuiabá por uma série de estradas vicinais que chegariam a Barão do Melgaço, passando do lado da famosa Serra de São Vicente. Passamos em uma série de comunidades inimagináveis, pessoas que viviam em Brejinho e que nunca haviam deixado o local. Numa das paradas, eu me lembro de uma ponte que ligava absolutamente o lugar nenhum. Uma longa ponte de madeira sobre um pequeno alagado no qual estava um jacaré. Poucos metros acima estava a serra. Nunca poderia imaginar, passando pela serra, que ali embaixo teríamos pontes com jacarés e pessoas isoladas.
2) Em outra longa viagem pelo nordeste do estado, fui até a divisa com o Pará, pela BR-158. Na volta, o carro onde eu estava veio na frente para pegar imagens da comitiva do governador. Paramos logo depois do local onde estava uma ponte de concreto sendo construída. Aquele momento me pareceu levemente surreal. O posto da Polícia na divisa com o Pará, aquela ponte enorme no meio da Floresta Amazônica. A poeira e o silêncio que permitia escutar os carros chegando, talvez a quilômetros de distância.
3) Paranaíta é outro município localizado logo no fim - ou no começo - do Estado. Chega-se nele após um dia de viagem e alguns quilômetros de estrada de chão. Ou então, chega-se de avião. Aeroportos são um fato realmente interessante do interior, para nós, acostumados com áreas de embarque e desembarque, esteiras, guichês. No interior, os maiores aeroportos se resumem a enormes galpões ao lado de uma pista. Em outros casos, é uma enorme faixa de asfalto no meio do nada. Em outros, é apenas uma pista de terra. Em Paranaíta, é uma pista de terra localizada ao lado de algumas chácaras. Os carros são estacionados do lado dos aviões e você espera nos bancos de uma das chácaras, em que uma mulher tem dezenas de cachorros. Os cães, aparentemente com leishmaniose, são largados por ali e criados pela mulher da maneira que dá. O dono da chácara chega e começa a organizar os carros, explicando de que maneira os aviões irão descer e onde as pessoas devêm ficar. Essa espécie de aeroporto amador/particular é outro dos meus locais inimagináveis, mas que existem.
Viajando pelo interior de Mato Grosso, muitas vezes me deparo com situações que vão além das comunidades imaginadas. São as verdadeiras comunidades inimagináveis, que não conhecemos, não pensamos que possam existir de verdade. E ainda existem os lugares ainda mais inimagináveis.
1) Me lembro de que em uma das minhas primeiras viagens, vim de Rondonópolis para Cuiabá por uma série de estradas vicinais que chegariam a Barão do Melgaço, passando do lado da famosa Serra de São Vicente. Passamos em uma série de comunidades inimagináveis, pessoas que viviam em Brejinho e que nunca haviam deixado o local. Numa das paradas, eu me lembro de uma ponte que ligava absolutamente o lugar nenhum. Uma longa ponte de madeira sobre um pequeno alagado no qual estava um jacaré. Poucos metros acima estava a serra. Nunca poderia imaginar, passando pela serra, que ali embaixo teríamos pontes com jacarés e pessoas isoladas.
2) Em outra longa viagem pelo nordeste do estado, fui até a divisa com o Pará, pela BR-158. Na volta, o carro onde eu estava veio na frente para pegar imagens da comitiva do governador. Paramos logo depois do local onde estava uma ponte de concreto sendo construída. Aquele momento me pareceu levemente surreal. O posto da Polícia na divisa com o Pará, aquela ponte enorme no meio da Floresta Amazônica. A poeira e o silêncio que permitia escutar os carros chegando, talvez a quilômetros de distância.
3) Paranaíta é outro município localizado logo no fim - ou no começo - do Estado. Chega-se nele após um dia de viagem e alguns quilômetros de estrada de chão. Ou então, chega-se de avião. Aeroportos são um fato realmente interessante do interior, para nós, acostumados com áreas de embarque e desembarque, esteiras, guichês. No interior, os maiores aeroportos se resumem a enormes galpões ao lado de uma pista. Em outros casos, é uma enorme faixa de asfalto no meio do nada. Em outros, é apenas uma pista de terra. Em Paranaíta, é uma pista de terra localizada ao lado de algumas chácaras. Os carros são estacionados do lado dos aviões e você espera nos bancos de uma das chácaras, em que uma mulher tem dezenas de cachorros. Os cães, aparentemente com leishmaniose, são largados por ali e criados pela mulher da maneira que dá. O dono da chácara chega e começa a organizar os carros, explicando de que maneira os aviões irão descer e onde as pessoas devêm ficar. Essa espécie de aeroporto amador/particular é outro dos meus locais inimagináveis, mas que existem.
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