Pular para o conteúdo principal

Pequenas/Grandes Emoções do Esporte

O Pontapé Inicial é um programa interessante da ESPN Brasil, que eu quase nunca assisto. Quase nunca assisto porque seu horário é proibitivo para mim, sempre estou no trabalho quando ele passa de manhã. Quando é feriado, geralmente estou dormindo durante sua exibição. Ele é reprisado toda noite, mas seu horário é proibitivo também, porque vejam pelo horário que eu escrevo: a reprise acabou de acabar.

Mas hoje estava aqui assistindo/ouvindo a reprise. O programa sempre conta com um bloco para os aniversariantes do dia e hoje dois atletas brasileiros foram lembrados, Fernando Meligeni e Marcelinho Machado. Como homenagem foram mostradas duas matérias antigas com momentos marcantes de suas carreiras - e diria que também da minha vida como telespectador esportivo.

Os jogos pan-americanos de 2003, em Santo Domingo, foram bem interessantes. Acho que foi o último Pan charmoso, com atletas brasileiros importantes suando por medalhas em um ambiente quase amador. A partir do Rio em 2007, tenho a impressão que o evento cresceu demais e o Brasil ficou grande para ele, com os principais atletas brasileiros muitas vezes se poupando.

Entre alguns momentos marcantes da competição, a vitória de Fernando Meligeni na final do tênis, conta o chileno ex-número 1 do mundo Marcelo Ríos, foi de longe o mais empolgante. Meligeni nunca foi um tenista brilhante, mas era capaz de deixar sua alma em quadra. O Fininho sempre terminava o jogo quase morto. Foi assim que ele chegou na semifinal de Roland Garros, em 1999.

O tênis brasileiro vivia seu período pós-auge, depois que Guga sofreu a contusão que abreviou sua carreira. Nesse período eu já era um iniciado no esporte, principalmente pelos jogos do Guga - outro que jogava com o coração, como diria seu treinador Larri Passos. E a final em Santo Domingo era especial, porque se tratava da aposentadoria, o último jogo de Meligeni. Até o momento, o último jogo em que um brasileiro vibrou no tênis.

Ríos era superior, apesar da marra e teve incontáveis match points ao longo do jogo. Poderia ter ganho no segundo set, no terceiro set, mas Meligeni resistia, mesmo pregado. Até que na primeira oportunidade que teve, o Fininho ganhou, com uma bola do chileno na rede. A torcida invadiu a quadra, uma várzea danada - mas que era o charme do pan. Foi um momento vibrante, emocionante e marcante do esporte brasileiro.
*
O dia 30 de agosto de 2002 é o dia em que eu me apaixonei por basquete. A ESPN Brasil exibia o campeonato mundial de Indianapólis com a dupla Milton Leite e Wlamir Marques e eu estava acompanhando alguns resultados por cima.

Até que nesta sexta-feira eu liguei a TV e Brasil e Turquia estavam jogando. Já era o finalzinho da partida, faltavam uns 2 minutos e o jogo estava ali, equilibrado. Faltando 14 segundos para o fim e a Turquia estava um ponto na frente, 86x85. A bola ficou na mão de Marcelinho Machado, melhor jogador de uma geração perdida do basquete nacional. Ele conduziu a bola pela quadra, prendeu e arremessou a bola de três no último segundo. Enquanto a bola estava no ar, o cronometro zerou. A bola caiu e o Brasil conquistou a vitória no último segundo.

A narração de Milton Leite garantiu uma dose de emoção extra. Ainda hoje, agora a pouco, ouvindo-a novamente, me arrepiei. Seu tradicional grito "de três!" saiu rouca, sem voz, embargado, emocionado. Poucas vezes um narrador narrou com tanta emoção, uma emoção genuína e incontrolável.

Depois disso, acompanhei os principais jogos, a campanha fraca do Brasil. A incrível seleção argentina, que derrotou os norte-americanos (jamais torcerei contra a Argentina no basquete, pelo o que vi eles jogando nesse mundial). O jovem Dirk Nowtizki barbarizando pela surpreendente Alemanha. E a incrível seleção da Iugoslávia, que eliminou os EUA em uma partida espetacular e fez o maior jogo da minha vida no basquete, na final contra a Argentina. Os argentinos ganhavam por 7 pontos de vantagem até que Bodiroga acertou uma bola de três a 50 segundos do fim. Enfim, tudo isso começou naquele narração rouca de Milton Leite.

Comentários

Postagens mais visitadas

Oasis e a Cápsula do Tempo

Não dá para entender o Oasis pensando apenas na relevância das suas músicas, nos discos vendidos, nos ingressos esgotados ou nas incontáveis exibições do videoclipe de Wonderwall na MTV. Além das influências musicais, das acusações de plágio e das brigas públicas, o Oasis faz parte de um fenômeno cultural (um pouco datado, claro), mas é uma banda que captou o espírito de uma época e transformou isso em arte, promovendo uma rara identificação com seus fãs. Os anos 1990 foram marcados por problemas econômicos no mundo inteiro. Uma juventude já desiludida não via muitas perspectivas de vida. A Guerra Fria havia acabado, uma nova revolução tecnológica começava, o Reino Unido vivia uma crise pós governo Thatcher e nesse cenário surge um grupo cantando letras incrivelmente ousadas para meros desconhecidos.  Definitely Maybe, primeiro disco do grupo, fala sobre curtir a vida de maneira meio sem propósito e sem juízo. A diversão que só vem com cigarros e álcool, o sentimento supersônico de...

Oasis de 1 a 7

Quando surgiu em 1994, o Oasis rapidamente se transformou em um fenômeno midiático. Tanto por suas canções radiofônicas, quanto pela personalidade dos irmãos Gallagher. Eles estiveram na linha frente do Britpop, movimento que redefiniu o orgulho britânico. As letras arrogantes, o espírito descolado, tudo contribuiu para o sucesso. A discografia da banda, no entanto, não chega a ser homogênea e passa a ser analisada logo abaixo, aproveitando o retorno do grupo aos palcos brasileiros após 16 anos.  Definitely Maybe (1994) O primeiro disco do Oasis foi durante muito tempo o álbum de estreia mais vendido da história do Reino Unido. Foi precedido por três singles, sendo que dois deles são clássicos absolutos - Supersonic e Live Forever . O vocalista Liam Gallagher cantava em algum lugar entre John Lennon e Ian Brown, enquanto o som da banda bebia de quase tudo o que o Reino Unido havia produzido nos 30 anos anteriores (Beatles, T. Rex, Sex Pistols, Smiths, Stone Roses). O disco começa c...

Somos todos Leicester

O que era inacreditável, o que parecia impossível agora é verdade. O Leicester é o campeão inglês da temporada 2015-16. Incrível que o título tenha vindo de maneira até confortável, com duas rodadas de antecedência. Incrível que mesmo com a folga na tabela e a liderança estável nas últimas rodadas, era impossível acreditar que o título realmente viria. Parecia que a qualquer momento os Foxes poderiam desabar. O que mais falar sobre esse time? Formado por uma série de refugos, jovens que jamais explodiram, uma ou outra promessa. Filho de goleiro, zagueiro jamaicano e zagueiro alemão grosso, atacante japonês, atacante que até outro dia jogava no futebol amador. Não há nada parecido com o que Leicester fez nesse ano na história do futebol. Talvez na história do esporte. O título do Leicester é uma das maiores façanhas da história da humanidade. Não há o que falar, o que teorizar. Só resta olhar esse momento histórico e aceitar que às vezes o impossível acontece. Que realmente nada é i...